quarta-feira, agosto 22, 2012

Dilma surpreende a Scotland Yard - ROSÂNGELA BITTAR

Valor Econômico - 22/08


Alguns, mais próximos, dizem que ela sempre foi assim e nada mudou, mas à distância a presidente Dilma Rousseff vem imprimindo uma nova conduta à sua vida em Brasília, saindo um pouco do isolamento imposto pelas paredes institucionais. Na última semana, a presidente, embora não tenha deixado de viajar, voltou a conter-se mais, o grevismo é irracional e os grevistas sem limites intimidam. Mas nota-se que ela vinha numa crescente renúncia à reclusão que deverá ser retomada logo.

Passou a aceitar um ou outro convite para jantar fora do Alvorada, onde reside com a mãe e uma tia, e onde recebe a visita esporádica da filha e do neto. Dilma hospeda ali também autoridades do governo que transformou em amigos, como a presidente da Petrobras, Graça Foster, e a sua advogada quando presa política e hoje integrante da comissão da verdade, Rosa Maria Cardoso da Cunha. Aos domingos, dia em que grava o programa semanal de rádio, recebe assessores e uma ou outra visita de ministro, sendo o mais assíduo o amigo Fernando Pimentel, que sempre passa por lá quando retorna à cidade antes do expediente da segunda-feira. É fato que passou a olhar mais porta afora e sair um pouco da programação oficial.

O mês de julho foi exemplar na ilustração do novo momento. A presidente compareceu a um jantar na residência do advogado e ex-deputado Sigmaringa Seixas, do PT, com não mais que uma dezena de amigos. Chegou com Giles Azevedo, seu fiel escudeiro e chefe de Gabinete, e o general Amaro, chefe da Segurança, único sinal da simbologia presidencial em todo o programa.

De um tipo de isolamento a presidente quer sair

Lá encontrou uma turma muito próxima a Sigmaringa, e também ao ex-presidente Lula, de quem o advogado é amigo, que frequentava o Alvorada e o Torto, residências oficiais, nos dias úteis e nos fins de semana: o assessor internacional Marco Aurélio Garcia, o Advogado Geral Luis Inácio Adams, o jornalista Franklin Martins, o governador de Sergipe Marcelo Déda, que disputa com Jaques Wagner, da Bahia, o privilégio da proximidade com a presidente. Como Wagner não estava em Brasília, não foi convidado. Estavam lá também o ex-deputado José Genoíno, agora assessor do Ministério da Defesa, o ex-presidente da Petrobras e um dos coordenadores de sua campanha presidencial, além de ex-presidente do PT, José Eduardo Dutra.

A presidente não ficou até a madrugada, mas conversou sobre assuntos variados, inclusive sobre política. Mas conversa social, nada de trabalho, desenho de estratégias para mensalão ou outros assuntos dramáticos daquele momento.

Do isolamento político, a presidente não se ressente tanto. É seu estilo e não consegue se divertir em roda parlamentar. Embora não tenha cortado definitivamente deputados e senadores de seu convívio, encontra-os em ocasiões raras. Aumentou, porém, os contatos com a sociedade, os empresários, os amigos, os artistas. A rotina continua sendo ir para casa, ver filmes, ler, às vezes ter um convidado para jantar, a rigidez do isolamento, porém, vem adquirindo flexibilidade.

A presidente sempre gostou de programas culturais, de aproveitar viagens ao exterior para ir a museus, ver exposições, conhecer novidades. Quis ver a exposição dos impressionistas do Museu D"Orsay, no CCBB, em São Paulo, há umas duas semanas, desistiu do programa à última hora mas a mostra ainda não acabou, poderá retomar o projeto.

Em Londres, no mês passado, deu um susto na Scotland Yard, responsável pela segurança dos chefes de governo que compareceram à sessão inaugural dos Jogos Olímpicos. O carro que a levava à Tate Modern Gallery ficou preso em um engarrafamento. Acostumada a viajar sozinha, saiu do automóvel, com a filha Paula, para entrar no metrô e saltar quatro estações depois. O aparato oficial foi encontrá-la no seu destino, onde já visitava uma exposição de arte contemporânea. Na Turquia foi ao museu, em Bruxelas também, em Nova York almoçou duas vezes no restaurante do Moma para não interromper a visita. Também nas viagens de julho foi a um espetáculo em que Plácido Domingo cantava árias famosas, tudo isso sem testemunho da imprensa, sem ser incomodada e, principalmente, sem incomodar, o que detesta e faz questão de evitar.

Dilma tem quebrado protocolo, deixado a segurança tonta e na última passagem por Paris conseguiu conhecer um charmoso museu, numa antiga casa de um milionário colecionador e sua mulher, artista: o Jacquemart-André, no Boulevard Haussmann, onde regalou-se com uma seleta coleção: Rembrandt, Tiepolo, Botticelli, Paolo Cello.

Chama-se Jarbas Vasconcelos, o sempre autêntico pemedebista, ex-deputado, ex-governador de Pernambuco e hoje senador, o motivo do estremecimento do ex-presidente Lula com o governador Eduardo Campos. Ao contrário do que diz o candidato do PT à prefeitura de Recife, senador Humberto Costa, Campos não caiu em desgraça só porque, não suportando a autofagia do PT, lançou próprio do PSB à prefeitura de Recife, rompendo uma aliança de anos.

As boas relações entre o ex-presidente e o governador, que sobreviviam apesar da pressão do PT pelo rompimento, se mantiveram ao longo de várias definições dramáticas das chapas eleitorais, entre elas a de São Paulo e até mesmo de Recife. Mas Lula, que dedicou sangue, suor e lágrimas a derrotar seus desafetos do Senado, trabalhando contra um por um dos adversários do DEM, do PSDB e até do PMDB não aliado, suportou com galhardia, e defendeu durante semanas, o direito de Campos partir para outra já que o PT em Recife não se acertava. Mas sucumbiu à aproximação com Jarbas, mesmo tendo sido depois que ele próprio foi buscar o apoio de Paulo Maluf para seu candidato em São Paulo. Considera que essa aliança pernambucana o atingiu no fígado, uma vez que Jarbas Vasconcelos é um de seus mais ácidos críticos.

Um gesto político considerado o mais espetacular de quantos Eduardo Campos vem sendo protagonista.

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