segunda-feira, abril 09, 2012

Olho nos banqueiros e nos políticos! - PAULO GUEDES

REVISTA ÉPOCA


É o aumento de produtividade que garante os ganhos salariais dos trabalhadores, a competitividade das empresas e a prosperidade de um país. A produtividade crescente, resultado de investimentos públicos e privados nas mais diversas dimensões, é a própria síntese de uma dinâmica de crescimento econômico com base na ampliação do mercado interno.

Essa perspectiva de que o crescimento é indissociável da produtividade foi perdida em meio à grande crise contemporânea. Macroeconomistas e financistas afogaram-se no tsunami de liquidez que ajudaram a promover. Insistem na receita de crédito fácil e dinheiro barato, na vã tentativa de reverter o declínio econômico estrutural. "Aumentar a produtividade de uma economia a longo prazo deveria ser o principal objetivo da política econômica", afirma Michael Porter, especialista em estratégia competitiva e gestão empresarial, em recente artigo sobre a perda de competitividade da economia americana, publicado na Harvard Business Review (março de 2012). "Esforços do governo para estimular a demanda não garantem a prosperidade de um país. Criar empregos sem melhorar a produtividade não aumenta o padrão de vida dos trabalhadores e a competitividade das empresas a longo prazo." De acordo com Porter, precisamos de instituições políticas eficazes; um regime fiscal sensato; um ambiente de negócios que estimule o empreendedorismo e a inovação; investimentos na infraestrutura de transporte, comunicação, logística e informação; mercados de capitais eficientes e educação de qualidade em todos os níveis.

Ele compreende que, com a globalização, ampliaram-se os horizontes geográficos e os incentivos das empresas americanas para segmentar suas cadeias produtivas e redistribuir a localização de suas fábricas em diversos países. "Em princípio, pode ser melhor para os Estados Unidos quando um estágio de baixo valor adicionado na produção de manufaturas é transferido do Meio-Oeste americano para o Brasil, e o crescimento brasileiro então cria demanda para produtos americanos de alto valor adicionado", diz Porter.

Não é bem isso o que está ocorrendo. Não estamos recebendo transferências em massa de parques produtivos americanos. Enfrentamos, ao contrário, uma ameaça concreta de desindustrialização. A disponibilidade abundante de recursos naturais sempre assegurou ao Brasil uma vantagem comparativa clássica na exportação de commodities. Exportamos, na verdade, terra, água e sol, em forma de produtos minerais e agrícolas. Temos matérias-primas essenciais à formação de cadeias produtivas industriais de amplo alcance, da agroindústria aos manufaturados, dos petroquímicos ao aço.

Mas começam aí as dificuldades das empresas brasileiras. Estão ameaçadas mesmo indústrias convencionais de baixo valor adicionado: têxtil, de sapatos, de móveis, de brinquedos, de construção e outras mais que empregam mão de obra pouco qualificada. Isso porque as vantagens competitivas numa economia moderna dependem, fundamentalmente, da qualidade das políticas públicas.

O regime fiscal, expansionista há décadas, trouxe uma trajetória de juros explosivos e câmbio sobrevalorizado. O manicômio tributário aumentou a taxa de mortalidade das pequenas e médias empresas. Excessivos encargos sociais e trabalhistas condenaram ao desemprego a mão de obra menos qualificada. A insuficiência de investimentos públicos e a regulamentação inadequada tornaram deficientes a infraestrutura e a logística, emperrando as cadeias produtivas. As fontes de capital de risco e a qualificação do capital humano são insatisfatórias para setores mais especializados.

Um alerta ao Brasil: cuidado com o que eles fazem! O importante para o crescimento é a produtividade

"A decisão de onde instalar suas fábricas é, sob muitos aspectos, um verdadeiro referendo sobre a competitividade do país", afirma Porter. "Quando uma empresa construir sua fábrica na China ou na Polônia, em vez de fazê-lo nos Estados Unidos ou no Brasil, está na prática respondendo a uma questão: que país pode torná-la mais capaz de ter sucesso nos mercados globais? Essa decisão quanto ao local de instalação das fábricas se traduz em melhores empregos, mais investimentos, mais arrecadação de impostos e mais desenvolvimento econômico. Os governos dos países mais dinâmicos competem ferozmente pela atração desses negócios. E os Estados Unidos não estão conseguindo atrair decisões de investimento em volume suficiente para sustentar a criação de empregos e o aumento dos salários."

Se a mais dinâmica economia do mundo está preocupada com a possibilidade de não se tornar suficientemente atraente para os investimentos que aumentam a produtividade e trazem a prosperidade a longo prazo, o que devíamos nós, brasileiros, estar pensando? Temos de aproveitar que o mundo parou para conserto. Devido aos excessos dos financistas anglo-saxões e aos abusos da social-democracia europeia, ganhamos uma janela de oportunidade, um prazo de alguns anos para reduzir nossa distância em relação às economias avançadas.

Com poucas, mas fundamentais, reformas, podemos criar um ambiente propício a uma reindustrialização acelerada à base de capitais de risco. Mas não apenas atraindo investimentos nacionais e estrangeiros para empresas nas indústrias convencionais, como as manufaturas. Elas podem certamente recuperar sua vantagem competitiva com rapidez, pois os encargos sociais e trabalhistas eliminaram os benefícios da mão de obra barata. Um bom ambiente de negócios e a melhoria do capital humano por meio da educação atraem também novas tecnologias e investimentos em setores de alto valor adicionado.

Temos de evitar as armadilhas que aprisionaram a civilização ocidental nos dois lados do Atlântico Norte. "Desde os anos 1990, os americanos mascararam seu problema de estagnação da produtividade por meio de uma maciça ampliação de crédito, contribuindo para a bolha imobiliária e a crise financeira de 2008-2009", afirma Porter. Os europeus disfarçaram sua estagnação produtiva nas promessas demagógicas e financeiramente irresponsáveis de uma despreparada social-democracia hegemônica. Alerta aos brasileiros: cuidado com os banqueiros e os social-democratas. O importante é a produtividade.

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