quarta-feira, abril 25, 2012
Antenada - ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE S. PAULO - 25/04/12
Quando se olha a economia mundial, é difícil deixar de reconhecer que estamos em situação relativamente confortável e que, não sem motivo, somos uma das sociedades onde são maiores o otimismo e a esperança de melhoria. Mas temos crescido pouco.
Entre 1988, quando aprovamos a Constituição, até 2011, o crescimento do PIB tem se realizado à medíocre taxa de 2,7% ao ano e da renda per capita apenas a 1,3% ao ano. Significa que a renda per capita consome 55 longos anos -2,2 gerações para dobrar.
Talvez por conta disso, manobramos com algum sucesso na construção do processo civilizatório sugerido na Constituição de 1988:
1º) Republicano -todos sujeitos, inclusive o governo, às mesmas leis sob o "garante" do Supremo Tribunal Federal;
2º) Democrático -com eleições absolutamente livres e competitivas;
3º) Acompanhado de um aumento persistente das políticas públicas que deem a todo cidadão maior "igualdade de oportunidades", basicamente saúde e educação universais e gratuitas para enfrentar uma economia de mercado altamente competitiva.
O desenvolvimento econômico e social é um processo que só é bem-sucedido quando a solução de um problema gera outros dois para serem resolvidos. Os problemas são, ao mesmo tempo, o que retarda e o que estimula a realização do desenvolvimento.
Pois bem. Apesar da situação relativamente confortável e do aumento de nossa esperança sobre o futuro do Brasil, é cada vez mais claro que a continuidade do nosso desenvolvimento está ameaçada pela acumulação de problemas sérios, alguns decorrentes do próprio sucesso civilizatório.
O sucesso começou com a Constituição e prosseguiu com a estabilização monetária, a consolidação da política fiscal e a adoção do regime de câmbio flexível que, ao longo das últimas duas décadas, permitiram uma ampliação do consumo global, da inclusão social e da redução das disparidades regionais.
Isso ocorreu sem perturbar fortemente nem o equilíbrio interno -aumento da inflação- nem o equilíbrio externo -apesar do aumento do deficit em conta-corrente. Por outro lado, o modelo de ampliação do consumo e da inclusão social parece ter encontrado o seu limite no descaso com a oferta interna por falta de estímulo ao investimento.
Foi mais do que confortador, portanto, ouvir a presidente Dilma dizer aos novos diplomatas, na última sexta-feira, que "temos de equacionar três amarras do país e construir o caminho, o chamado quarto caminho. As três amarras são: taxa de juro, taxa de câmbio e impostos altos. E o caminho é a educação de qualidade". Isso revela o quanto ela está antenada com as necessidades nacionais.
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