sábado, março 17, 2012
Política chinesa em resumo - CLAUDIA ANTUNES
FOLHA DE SP - 17/03/12
RIO DE JANEIRO - Parte da imprensa ocidental foi imprecisa ao caracterizar Bo Xilai, o dirigente cujo expurgo expôs as divisões no PC chinês, como um conservador.
Nas disputas internas do partido, conservador ou direitista é um rótulo mais aplicado a dirigentes favoráveis à liberalização econômica, com papel menor do Estado, e menos sensíveis às minirrevoltas provocadas pela desigualdade crescente no país.
Bo é benquisto pela minoritária corrente esquerdista, que mobiliza a população para grandes atos políticos, promove a ampliação da rede de assistência social e se aproveita do ressentimento contra os "tubarões" capitalistas, em especial os que se apropriam de terras coletivas.
O antigo chefe do PC na cidade de Chongqing começou a cair justamente quando surgiram denúncias de que usou a Justiça sumária, "revolucionária", contra máfias criminosas e de negócios.
Já os ditos reformistas, que podem ou não ser liberais na economia, nunca acenaram com a democratização segundo o modelo ocidental, com separação de Poderes e diferentes partidos que disputam votos no mercado eleitoral.
Essa facção, que inclui o premiê Wen Jiabao, defende uma espécie de aristocracia, em que a influência da opinião pública seria ampliada de modo controlado. Nos meios acadêmicos oficiais, fala-se em "democracia deliberativa", na qual a discussão aberta de grandes temas é incentivada em busca de um consenso.
Reformistas e direitistas temem os esquerdistas por dois motivos. O primeiro é que as "massas" na rua saiam do controle, como na época do maoismo ou em 1989. O segundo é que elas sejam usadas, como o foram sob Mao, para acertos de contas dentro do partido.
O expurgo à velha moda mostra que o PC não mudou muito, e que os dirigentes da segunda potência mundial equilibram-se na corda bamba.
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