sábado, março 17, 2012
Perfuradores por natureza - PAUL KRUGMAN
FOLHA DE SP - 17/03/12
Dar carta branca para as empresas petroleiras não é um programa sério de criação de emprego
Para ser um republicano respeitado, você precisa acreditar, ou fingir que acredita, em duas curas mágicas para o que quer que esteja prejudicando a economia: mais cortes de impostos para os ricos e mais prospecção de petróleo.
E, com os preços da gasolina em alta, o coro de "vamos perfurar" também vem ganhando volume. Mais e mais, os republicanos nos dizem que a gasolina seria barata e haveria emprego de sobra se deixássemos de proteger o ambiente e permitíssemos que as companhias de energia façam tudo que quiserem.
A ironia aqui é que essas alegações surgem no momento em que os fatos vêm confirmando que a política energética dos EUA pouco afeta os preços do petróleo e o emprego.
Pois a verdade é que já estamos vivendo um boom no setor, com alta na produção de petróleo e gás natural e queda nas importações.
Se o cântico do "perfure aqui, perfure agora" fizesse algum sentido, esse boom já teria resultado em preços mais baixos para a gasolina e em grande número de empregos.
Embora os preços do gás natural tenham caído, a alta na produção de petróleo e a redução acentuada na compra de óleo importado não impediram que o preço da gasolina passasse de US$ 1 por litro.
E o boom do petróleo e do gás tampouco estimulou muito uma recuperação econômica, que, a despeito das notícias recentes um pouco melhores, continua decepcionante no que tange a criar empregos.
Para começar, os preços do petróleo. Ao contrário do gás natural, cujo transporte marítimo custa caro, ele é negociado em um mercado mundial -e os grandes desdobramentos que movimentam os preços nesse mercado em geral pouco se relacionam ao que ocorre nos EUA.
O petróleo subiu porque a demanda da China e de outros emergentes cresceu e, mais recentemente, devido ao medo de uma guerra no Oriente Médio. Essas forças superam facilmente qualquer pressão de baixa de preços propiciada pela alta na produção interna norte-americana.
Mas e o emprego? Tenho de admitir que comecei a rir quando li o "Wall Street Journal" oferecendo Dakota do Norte como modelo. Sim, o boom do petróleo reduziu o desemprego local a 3,2%, mas isso só aconteceu porque a população estadual é menor que a da cidade de Albany -são tão poucos moradores que a criação de alguns milhares de empregos faz diferença.
E isso nos revela que dar carta branca às empresas petroleiras não é um programa sério de criação de emprego. O número de vagas na extração de petróleo e gás natural subiu em mais de 50% desde a metade da década passada, mas isso só representa 70 mil empregos, ou 0,05% do desemprego americano.
Logo, a ideia de que perfurar à vontade sanaria nosso deficit de empregos é basicamente uma piada.
Por que os republicanos gostam de fingir o contrário? Parte da resposta é que querem recompensar quem os banca: o setor de gás e petróleo gasta muito dinheiro com lobby e contribuições de campanha.
O resto da resposta é que eles simplesmente não têm outras ideias a oferecer sobre emprego. E a bancarrota intelectual, lamento dizer, é problema que não pode ser sanado por meio de perfuração.Tradução de PAULO MIGLIACCI
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