sexta-feira, março 30, 2012

Movimentos casados - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 30/03/12


A deputada Rose de Freitas começa a ser vista com olhos de promessa por parte de quem não é lá muito chegado ao projeto de Henrique Eduardo Alves para presidente da Câmara



A sucessão do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), só se dará no ano que vem, mas, por incrível que pareça, já corre solta. Marcou presença até mesmo na retomada das votações ontem, depois de duas semanas de brigas na base aliada do governo. E colocou luz sobre potenciais pré-candidatos que podem engrossar a fila encabeçada pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN).

Nos dias em que permaneceu no comando da Câmara dos Deputados, a primeira-vice-presidente, Rose de Freitas (PMDB-ES), por exemplo, reabriu o diálogo com a bancada ruralista, de forma a tentar sair do impasse. Procurou os líderes da frente parlamentar de Agricultura, chamou o Ministério do Desenvolvimento Agrário para participar das conversas. Como chefe de um Poder da República que vive do diálogo, não fez nada além de cumprir a obrigação. Mas, para muitos, demonstrou uma capacidade de aproximar diferentes — no parlamento, esse atributo vale ouro.

A movimentação de Rose foi vista por ministros de Dilma Rousseff como um ponto em seu favor, que contou também, é claro, com a participação do presidente Marco Maia. Afinal, o clima reinante na base aliada, antes das conversas de Rose e Maia com oposição e aliados, indicava que as votações não ocorreriam nem mesmo com a promessa de pagamento das emendas individuais ao Orçamento — apresentado como uma das moedas que fez valer a segura margem do governo na votação de ontem. Esta coluna, por exemplo, flagrou o deputado Lincoln Portela (PR-MG) saindo do Palácio do Planalto na noite de quarta-feira com a notícia de que o governo prometia empenhar algo em torno de R$ 3 milhões em emendas individuais.

Por falar em empenho...
Diante de tantas ações num único dia, Henrique Eduardo Alves também decidiu se mexer. Horas antes da votação, cabalava votos entre os deputados do PMDB a favor do texto pretendido pelo governo. Na noite de quarta-feira, no plenário, discursou em defesa da imagem da Câmara. Afirmou que a Casa não é do toma lá dá cá e que deveria ser respeitada. Ao plenário, soou como uma tentativa de segurar votos entre seus pares rumo à Presidência da Casa.

Henrique Alves sabe que Rose de Freitas não concorrerá contra ele pelo direito de ser candidata a presidente da Casa, embora a deputada comece a ser vista com olhos de promessa por parte de quem não é lá muito chegado ao projeto do líder peemedebista de presidir a Câmara. Mas, pelo sim, pelo não, Alves prefere seguir à risca o ditado "seguro morreu de velho".

Muitos deputados aliados de Alves não esquecem o precedente criado por Marco Maia. O atual presidente da Câmara nunca foi o nome mais forte do PT para presidir a Casa. Tampouco era o preferido do próprio grupo, o Construindo um Novo Brasil (CNB). Mas, diante das divisões internas do PT e das insatisfações da bancada com o clube fechado que apoiava Cândido Vaccarezza (PT-SP) para presidir a Câmara e outro que seguia Arlindo Chinaglia (PT-SP), a candidatura de Maia ganhou fôlego, como forma de tirar lastro dos caciques partidários. Chinaglia desistiu em favor de Maia e Vaccarezza terminou seguindo pelo mesmo caminho.

Por falar em Chinaglia...
Pegou mal ontem a briga dele com Rose de Freitas por causa da retirada de pedidos de urgência. Ela já se preparava para encerrar a sessão da Casa quando ele entrou exaltado no plenário, fazendo cobranças. Pelo visto, a calmaria que permitiu a votação da Lei Geral da Copa foi uma pequena estiagem prevista para terminar depois da Páscoa.

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