domingo, janeiro 15, 2012

O aparelho dos Coelho antecedeu o do PT - ELIO GASPARI

O GLOBO - 15/01/12
Não se deve cometer a injustiça de atribuir uma obsessão nepotista ao doutor Fernando Bezerra Coelho. Isso é coisa de pobre que precisa arrumar uma boquinha para familiares. É verdade que seu irmão Clementino ocupou a presidência da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, e o tio Osvaldo teve uma cadeira no Conselho Consultivo da Economia Irrigada. O tio da mulher de seu filho, deputado e tesoureiro de sua campanha, representava o ministério em Pernambuco. Já o pai da senhora dirigiu o escritório do Departamento Nacional de Obras contra a Seca em Recife. Seu tio, Nilo Coelho, foi governador de Pernambuco e senador. Fez fama em Brasília pela qualidade dos jantares que oferecia. Outro Nilo Coelho governou a Bahia. O sucesso da família está no poder, não nos empregos.

O primeiro Coelho a governar Petrolina assumiu a prefeitura em 1895. Pela medida do coronelismo político, a parentela (com suas dissidências) produziu oito prefeitos e mais de 20 mandatos parlamentares. Pela medida do coronelismo fundiário, em 1996 tinha 120 mil hectares irrigados, produzindo frutas no vale. Pela medida do coronelismo eletrônico, tem nove emissoras de rádio e uma de televisão. Isso tudo e mais 30 empresas industriais e comerciais. O atual ministro da Integração Nacional foi duas vezes deputado e prefeito, dirigiu a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e presidiu a estatal do Porto de Suape.

Nada a ver com nepotismo. Tudo a ver com o controle do aparelho do Estado, de verbas, terras e águas. Petrolina tem diversos títulos, e o mais vistoso é "Califórnia Brasileira". Olhada só pela produção de frutas no semiárido, o paralelo procede. No início do século passado, quando os Coelho prosperavam em Petrolina, o Sul da Califórnia estava nas mãos de grandes famílias. Fizeram-se fortunas controlando os programas de irrigação e obras contra a seca, quase sempre com dinheiro federal. A partir da segunda metade do século, quando os Coelho tomaram conta do Vale do São Francisco, as oligarquias endinheiradas da Califórnia viraram nome de museus (Getty) ou de personagens da História (Patton). A última delas foi a dos Chandler, dona do "Los Angeles Times". A sociedade mudou, e durante 20 anos, de 1973 a 1993, Los Angeles foi governada por um negro.

Em 1891, um magnata fundou em Pasadena uma escola técnica com uma doação de US$ 2,5 milhões em dinheiro de hoje. Com mais apoios e muita ajuda oficial, tornou-se o Instituto de Tecnologia da Califórnia. Produziu 31 prêmios Nobel e, no ano passado, foi considerado a melhor universidade do mundo, desbancando Harvard. Até hoje o MEC não conseguiu saber o que a Prefeitura de Petrolina fez com uma verba de R$ 2,5 milhões destinada à educação de jovens que abandonaram as escolas.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota e defende o fechamento do Conselho Nacional de Justiça, substituindo-o por uma programa de isonomia para a patuleia.

Justificando os ervanários que sacaram na Bolsa da Viúva, alguns desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo explicaram que apressaram o pagamento por conta de necessidades especiais.

Segundo o presidente da Corte, um desembargador estava deprimido, e outro, doente. Um terceiro recebeu R$ 150 mil porque a chuva inundou sua cobertura. Outro cobrou mais de R$ 500 mil porque tinha dívidas. O desembargador Roberto Bellocchi, que teria recebido R$ 1,5 milhão entre 2008 e 2009, explicou que "há situações pessoais que devem ser compreendidas".

Eremildo, que é capaz de compreender tudo, propõe que sejam listadas as situações pessoais dos doutores, e, em seguida, o critério seja estendido à patuleia que está na fila para receber precatórios. Em São Paulo, essa dívida está em mais de R$ 20 bilhões.

Detalhe

Os dois aparelhos de ar-refrigerado que estão no gabinete do ministro Fernando Pimentel são chineses, mas não foram comprados por ele.

As máquinas foram negociadas em pregões eletrônicos entre 2006 e 2007, quando o ministério era chefiado pelos doutores Luis Fernando Furlan e Miguel Jorge.

Decadência militar

Em 1945, ao atravessar com seus blindados o Rio Reno, o general George Patton deixou-se fotografar urinando nas águas do Reich.

Passados 67 anos, o mundo vê soldados americanos urinando em cadáveres de afegãos.

A grande companheira Marian

Marian Robinson tem 74 anos, sua tataravó foi escrava e, no testamento do dono, valeu 450 dólares. Seu pai foi pintor de paredes, seu marido trabalhou toda a vida como zelador e morreu em 1991, quando mal podia andar. Os dois criaram um casal de filhos num apartamento de quarto e sala. Ambos conseguiram chegar à Universidade de Princeton.

Em novembro de 2008, seu genro acompanhou a apuração da eleição presidencial segurando-lhe a mão. Acaba de sair nos Estados Unidos o livro "The Obamas", contando a vida de Barack e Michelle no palácio-museu-escritório de Washington. (A edição eletrônica está a US$ 17,45.) Nele se aprende que, naquela noite, quando Barack Obama foi para o palco de um parque, de onde falou ao mundo, sua sogra desdenhou os cercadinhos e juntou-se à festa da patuleia. A filha achava que poderia morar em Chicago até o fim do ano escolar das crianças. Ela decidira continuar lá.

A companheira Marian concordou em ir para Washington quando lhe pediram que ajudasse a cuidar das netas. Topou, com ilusão de que ficaria só por três meses. Na Casa Branca, faz a sua própria lavanderia.

(Só os camareiros militares de Obama mexem nas suas roupas. As de Michelle ficam por conta dos serviçais da Casa Branca. Durante uma permanência no seu refúgio do Maine, Barbara Bush, mulher de George I, ofereceu-se para botar na máquina as roupas dos guarda-costas que acompanhavam o casal.)

Marian Anderson nunca deu entrevista, evita fotógrafos e sai para as compras sozinha, a pé. Quando alguém pergunta se ela é a mãe de Michelle Obama, responde: "Muita gente pensa isso". Num supermercado próximo, acreditam que ela trabalha na vizinhança.

"The Obamas" revela que a Casa Branca teve trabalho para obter da presidência da França um desmentido de que Michelle tivesse dito a Carla Bruni-Sarkozy que viver na Casa Branca era um "inferno". O desmentido saiu, mas a história tem um forte cheiro de verdade. Quando o jornalista americano Jonathan Alter escreveu que Carla contou a Michelle que um chefe de Estado estrangeiro tomou um chá de cadeira porque ela e o marido estavam ocupados numa sessão amorosa, o Eliseu não pediu desmentido. Michelle não leu e não gostou de "The Obamas".

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