domingo, dezembro 04, 2011
O rei do gado - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 04/12/11
Daniel Dantas chegou a 600 mil cabeças de boi.
Gente do ramo diz que nem o lendário Tião Maia, brasileiro que foi um dos maiores pecuaristas da Austrália, atingiu esta marca.
JK flertou com EUA
Juscelino Kubitschek se alinhou mais aos EUA que os presidentes da ditadura.
Análise do professor Octavio Amorim Neto, da Ebape-FGV, sobre 5 mil votações na Assembleia da ONU, de 1946 a 2008, mostrou que JK apoiou Washington em 84% das vezes. Já Geisel, 32%. Lula, em 2007 e 2008, concordou em 8% das votações.
Brasil jurássico
Nas obras da ferrovia Transnordestina, que corta Pernambuco, Piauí e Ceará, já foram encontrados milhares de fragmentos de fósseis e peças arqueológicas.
Pesquisadores concentram a atenção na cidade de Missão Velha, CE, onde há indícios de fósseis do período jurássico superior, há cerca de 160 milhões de anos. Já foram achados até vestígios de celacanto, grupo de peixes com nadadeiras articuladas que indicam a evolução para os anfíbios.
Dilma contra o crack
Dilma lança quarta o programa Brasil Contra o Crack.
Eu apoio.
Pediu o boné
Aos 54 anos, o embaixador Marcos Caramuru solicitou aposentadoria.
No tucanato, Caramuru foi importante auxiliar do então ministro Pedro Malan.
Toca dos leões
Daniel Rezende e Wolney Attalla vão rodar o filme “Na toca dos leões”, que marca a estreia de ambos na direção de ficção de longa-metragem.
É baseado no livro homônimo de Fernando Morais sobre o publicitário Washington Olivetto.
TV Globo/Matheus Cabral
O DOMINGO É, em dose dupla, de Fernanda Torres, 46 anos, e Andréa Beltrão, 48, nossas talentosas atrizes que brilham, respectivamente, como Fátima e Sueli no seriado “Tapas & beijos”, da TV Globo. As duas personagens vão, finalmente, se casar com seus namorados, Armane (Vladimir Brichta) e Jorge (Fábio Assunção). O casório vai ao ar no último episódio de 2011, especial que promete fechar com chave de ouro a trama da dupla de vendedoras de vestidos de noivas
Tempos modernos
Marcílio Marques Moreira foi vítima de sofisticado golpe na internet. Invadiram seu e-mail e dispararam mensagens para a lista de contatos do ex-ministro.
Alguns receberam um e-mail em que o falso Marcílio pedia 1.580 libras (uns R$4,5 mil), pois “estava retido num hotel da Escócia, após ter tido dinheiro e documentos roubados”.
Segue...
Marcílio soube da história pela legião de amigos, inclusive do exterior, que queria notícias.
Um deles quase fez o depósito na conta do gatuno.
No mais...
Marcílio era da Comissão de Ética do governo à época da primeira censura do órgão a Carlos Lupi, em 2007. Saiu após Lula defender Lupi, dizendo que seu ministro era “republicano”.
Republicano, para o ex-ministro, assim como em Frei Paulo, é outra coisa.
Fábio Borges participa da mostra “Grupo Perigo-10 anos”, no Centro Cultural Justiça Federal, dia 6.
Fernando Rocha, da Sociedade de Psicanálise-RJ, lança amanhã “Entre-vistas preliminares em psicanálise”.
O subprocurador-geral do MP do Rio, Carlos Roberto Jatahy, recebe dia 8 o Colar do Mérito do TJ.
Márcio Alemany, da Apaferj, comandou a festa de fim de ano dos procuradores no Real Astoria.
Amanhã, Eliomar Coelho entrega a Rodrigo Ferrari Medalha Pedro Ernesto.
Teresa Bergher entrega título de cidade irmã a Ramat Gun, amanhã, na Câmara do Rio.
Dia 13, Marcos Arzua lança “Turismo no Rio, uma odisseia por espaços sustentáveis”, no Marimbás.
Cerveja pacificada
O Rio Botequim 2012 (Casa da Palavra) incluiu, pela primeira vez, bares em favelas com UPP.
São o Bar do David, no Chapéu Mangueira, e o Bar do Zequinha, no Dona Marta.
Sentaí metido à besta
O Sentaí, tradicional restaurante da Central do Brasil, vai abrir uma filial no Shopping Via Brasil, em Irajá, no Rio.
Guy in Rio
Buddy Guy, 75 anos, o grande guitarrista americano, fará show no Vivo Rio em maio de 2012.
Xuxa já era
Sabe aquele rapazola que se veste de Xuxa, dança e canta “Ilariê” em sinais do Rio em troca de moedas?
Sexta, garimpava trocados num sinal da Avenida Ayrton Sena, na Barra, vestido de... Amy Winehouse.
Loura na favela
Quinta, no “Cow Parade” (é o cacete) na Rocinha, a francesa Catherine Duvigneau, dona da exposição, levava uma escultura de vaca ao Ciep da favela quando... percebeu que era olhada de cima abaixo pela moçada.
Linda, loura, sexy, seguia a pé pela Rua 1 e, com medo, pediu ajuda a um sargento do Bope. Reação do PM: “Dona, a favela tá pacificada, mas não tá morta. É normal. Afinal, a senhora parece... a Gisele Bündchen!”
Segue...
A francesinha toda-toda sorriu e disse às amigas:
— A Rocinha é melhor do que Saint-Tropez!
Há testemunhas.
Sinatra derrotado pelo axé
O livro é sobre os bastidores da televisão no Brasil. Mas Boni, em seu relato autobiográfico (“Livro do Boni”, Casa da Palavra), também lembra histórias paralelas como a de uma escapada de Frank Sinatra (1915-1998) a Salvador, depois de seu show no Maracanã, em 1980.
Consta que o magnífico cantor americano, levado a conhecer Itaparica, foi assistir a uma apresentação de axé. A certa altura, incógnito, pediu para dar uma canja e mandou “My way”. Muito aplaudido, continuou e cantou “Strangers in the night”. Mas, ao tentar emendar na terceira canção... “uuuuu”... foi vaiado: “Chega! Queremos axé! Fora gringo!”
A gonorreia de Jango
O livro (“O espetáculo mais triste da Terra”, Companhia das Letras) do coleguinha Mauro Ventura é sobre o incêndio do circo de Niterói, há 50 anos. Mas tem uma curiosidade sobre a visita de João Goulart às vítimas.
O presidente parou diante do leito do menino Nilson Bispo Rodrigues, 9 anos, que tivera a perna esquerda amputada um palmo acima do joelho, e o consolou: “Esse negócio de perna não faz falta”, disse, levantando a calça. “Olhe aqui, eu também tenho um problema e sou presidente da República.” Por causa de uma gonorreia na juventude, Jango ficara com o joelho esquerdo paralisado, e não podia dobrar a perna. O clínico Geraldo Chini, que assistiu à cena, ficou impressionado com a atitude do presidente, que se expôs para confortar o garoto.
Censura e bandejão da UNB
O livro (“E a vida continua”, Ouro Sobre Azul) é sobre a trajetória profissional do coleguinha Wilson Figueiredo. Mas um dos capítulos é ilustrado com os textos de alguns dos famosos bilhetinhos da censura durante as trevas da ditadura.
Num deles, um tal de inspetor Costa Sena (3/1/1973), em pleno governo Médici, dizia: “Não se tocar em sucessão presidencial.” Outro, do general Nilo Caneca (8/11/1972), ordenava: “Nenhuma referência contra ou a favor do cardeal Helder Câmara.” Um terceiro, com a assinatura de um tal Saraiva (1/4/1973) mandava “minimizar a notícia sobre um protesto feito por estudantes da UNB contra a qualidade da comida”.
E o pior é que, até hoje, há viúvas da ditadura.
O Pires - LUIS FERNANDO VERISSIMO
Um homem é julgado por quem o substitui, argumentou Paulo
Márcia deixou Paulo por outro homem. Paulo não gostou, mas se resignou. Márcia era uma mulher livre. Uma mulher independente. E o namoro dos dois já estava mesmo na hora de acabar. As amigas comentaram que, para tirar a Márcia do Paulo, o outro teria que ser um homem e tanto.
O Paulo era bonito, inteligente, simpático, bem educado, bem-humorado, atencioso e elegante, além de compreensivo. Cozinhava bem, ajudava na decoração, tinha bom gosto, boa voz, bom ouvido e nisso todas concordavam era muito bom de cama.
A grande curiosidade de todos passou a ser quem era o outro. O que o outro tinha que o Paulo, que era perfeito, não tinha? Por isso houve um choque generalizado quando a Márcia apareceu com um gordinho chamado Pires e o apresentou como “meu namorado”, dando um tapinha na sua careca, que batia no seu ombro.
Ninguém ficou mais chocado do que o Paulo. Na primeira oportunidade, chamou Márcia para uma conversa.
– Marcinha, você não pode fazer isto comigo.
– O que eu fiz?
– Me trocou por esse Pires. Pense no que vão dizer.
– De quem? – De mim!
Um homem é julgado por quem o substitui, argumentou Paulo.
– Acho que eu tenho direito a uma explicação.
– Nós nos amamos. – O que ele tem que eu não tenho?
– Nada.
– É cama, acertei? Ele é um animal na cama. Quando apaga a luz, se transforma numa máquina de sexo. Melhor do que eu. É isso?
– Não sei. – Como, não sabe?
– Nós ainda não transamos. Ele diz que só depois do casamento.
– Vocês vão se casar?!
E aconteceu o seguinte. Paulo começou a espalhar informações falsas sobre o Pires. A caluniá-lo ao contrário, inventando qualidades que o tornavam irresistível às mulheres. Ele era uma máquina de sexo.
Também era uma potência intelectual, um nome respeitadíssimo no mundo da pesquisa molecular com vários trabalhos publicados, talvez o brasileiro com maiores possibilidades de ganhar o Nobel num futuro próximo. E era riquíssimo, embora não gostasse de ostentar sua riqueza. Um homem e tanto.
Pires perguntou para a Márcia se deveria processar o Paulo quando este sugeriu seu nome como candidato à Academia Brasileira de Letras e (por que não?) a um cargo eletivo, já que a politica nacional precisava de alguém com seus dotes extraordinários, talvez até na presidência.
Mas processar como, se ele não estava sendo difamado? Decidiram esperar que o ego do Paulo esfriasse.
Eduardo na pista - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 04/12/11
O presidente do PSB ingressou neste fim de semana na lista de presidenciáveis com um discurso que tira do PT a exclusividade do apoio de Lula
Pense rápido em nomes presidenciáveis: Dilma Rousseff, Aécio Neves, José Serra. Talvez, Lula e Ciro... E... Eduardo Campos. Sim, o governador de Pernambuco. Na abertura do Congresso do PSB, na noite de sexta-feira, o discurso de Eduardo deu aos socialistas a certeza de que o partido tem tudo para se apresentar ao eleitor com um nome próprio e novo no cenário nacional. E com um detalhe importante: o apoio de Lula.
O discurso de Eduardo Campos está, como dizem os políticos, redondinho. Caminha no sentido de conquistar o ex-presidente ou, no mínimo, neutralizar o poder de fogo de Lula em favor do PT. Se não em 2014, em 2018. A juventude e vários deputados viram assim. Lula tem dito a amigos que vê em Eduardo um filho. E o governador foi muito enfático ao dizer que é leal e esteve com Lula nos momentos mais difíceis, quando muitos fraquejaram. Enquanto isso, nos bastidores da plateia alguns citavam que nem os petistas defenderam tanto Lula em 2005, temporada em que surgiu o escândalo do mensalão, como Eduardo e o seu PSB.
O auditório foi abaixo quando o comandante Eduardo, depois de falar da participação do PSB no governo, pediu a todos que, de pé, fizessem “um ato de carinho” para homenagear Lula. Ouvia-se apenas o “Olê, olê, olé, olá... Lula, Lula”. O presidente do PT, Rui Falcão, sentado menos de um metro à direita de Eduardo, se remexeu na cadeira. Todos perceberam que começou ali a tentativa do PSB de colocar Lula com um pé em cada canoa, a do PT e a do PSB. O PT se remexeu na cadeira ainda quando Eduardo disse com todas as letras “temos alegria em apoiar” e falou da “virtude de quem sabe fazer frentes e ser parte da vitória dos outros”.
Como presidente do partido, Eduardo Campos lembrou que entre os governadores mais bem avaliados estão pelo menos três do PSB e, entre os prefeitos, dois (o de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e o de Curitiba, Luciano Ducci). Os dois governadores mais votados do país também são do PSB — o próprio Eduardo, em Pernambuco, e Renato Casagrande, no Espírito Santo. É bem verdade que ambos tiveram o apoio do PT na campanha. Casagrande contou ainda com o PMDB.
O comandante socialista sabe que não fará nada sozinho. Daí a proximidade com o PSD que tanto preocupa o PT e o PMDB. Afinal, uma aliança eleitoral com Gilberto Kassab — que fez questão de comparecer ao Congresso ontem — representa um passaporte para o PSB em São Paulo, onde o partido de Eduardo Campos sempre viveu na periferia do espectro político. Por isso, ainda que o atual prefeito tenha passado pelo constrangimento de ver seus bens bloqueados por causa das denúncias envolvendo inspeção veicular, seu apoio é importante, especialmente, diante da habilidade política que Kassab demonstrou ao montar o PSD. O prefeito paulistano soube aproveitar a onda, coisa que muitos às vezes não conseguem, e buscar o PSB foi uma forma de se colocar ao lado do governo Dilma servindo de contrapeso ao PMDB.
Por falar em PMDB…
A aliança entre Kassab e Eduardo Campos põe o PT na situação de se ver obrigado a fazer uma escolha difícil: a primeira delas diz respeito à escolha do parceiro prioritário para o futuro. O PSB não vê a hora de tomar o lugar dos peemedebistas e assumir a vaga de vice na chapa de Dilma, garantindo assim um lugar privilegiado para organizar o jogo rumo a 2018. Ocorre que a presidente não tem como dispensar os peemedebistas, que também estenderam a mão a Lula em momentos difíceis, mas em troca de ministérios importantes que hoje regressaram ao PT, caso de Comunicações e Saúde.
Por enquanto, o único a criticar abertamente a aliança PT-PMDB dentro do PSB é Ciro Gomes, que faz o papel daquele soldado que desembarca primeiro na praia, atirando para todos os lados. Eduardo tem se preservado. Internamente, há quem diga que uma divisão de poder futuro entre os partidos da base que deixem o PSB como “um resto” pode ser a senha para que a legenda antecipe o projeto de 2018 e repita o que fez em 2006 em Pernambuco, quando se lançou candidato a governador contra Humberto Costa, do PT , e venceu. O problema é que ele mesmo não está seguro de que esse é o melhor caminho. Ele não pretende deixar Dilma na mão a não ser que o PT o force a isso.
Como 2014 está longe, o PSB aproveita o tempo para reconhecer a pista, fazer seus movimentos, conquistar prefeituras e colocar Eduardo Campos na vitrine, como ocorreu com o discurso de ontem. Afinal, aos 46 anos, com uma estabilidade política, partidária e familiar, ele se mostrará como uma promessa para o futuro. Seja o distante 2018 ou o próximo 2014. Isso, o tempo dirá.
O recado - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 04/12/11
O líder do PMDB, deputado Henrique Alves (RN), recebeu uma ligação, na sexta-feira, do Palácio do Planalto. O ministro, que estava do outro lado da linha, disse-lhe que o governo estava muito incomodado com sua ação a favor das entidades do Poder Judiciário, que defendem um reajuste salarial de 56%, enquanto o Executivo está disposto a dar um aumento para os juízes de 5,2%. A mensagem foi clara, não dá para agir assim e ter o apoio da presidente
para comandar a Câmara.
Dirigir depois de beber vai ser crime
O governo Dilma conseguiu o apoio da oposição para proposta que transforma em crime, com pena de prisão, o ato de motorista que for flagrado dirigindo depois de ter consumido qualquer quantidade de bebida alcoólica. Os ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e José Eduardo Cardoso (Justiça) fizeram um acordo com o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO). A nova lei vai estabelecer que, além do bafômetro, o crime poderá ser comprovado com vídeos, imagens, testemunhos de policiais e de terceiros. "Só não chegamos a um acordo sobre o tamanho das penas", contou o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
ÚLTIMA ESPERANÇA.
Apesar das reiteradas negativas, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), confidenciou a tucanos que, segundo relatos que lhe chegam aos ouvidos, “já não é mais impossível, como era antes, que o (ex-governador José) Serra seja candidato” à prefeitura de São Paulo. Para o PSDB, assim como para o PSD de Kassab, vencer as eleições na capital paulista é decisivo para manter o partido competitivo.
Grife
Preterida nas eleições para a prefeitura de São Paulo, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) vai fazer campanha para candidatos do partido em várias capitais, e não só em São Paulo. Atenderá a pedido do presidente do PT, Rui Falcão.
Seguro
O governo Dilma vai anunciar, em breve, medidas para garantir a renda dos produtores rurais. Sua filosofia é a seguinte: quando o preço mínimo cai no mercado, abaixo do custo do produto, o governo federal vai pagar a diferença.
Governo dá prensa no Internacional
As obras do estádio do Internacional, o Beira-Rio, são as que mais preocupam para a Copa do Mundo de 2014. Um ministro do governo procurou conselheiros influentes do clube, entre os quais o governador Tarso Genro, cobrando um fim na disputa interna para a retomada da obra. Os conselheiros estão divididos. Uma ala está fechada com a construtora Andrade Gutierrez, e a outra prefere um consórcio de empreiteiras regionais.
Na contramão
À exceção do PDT, que vive crise interna, a presidente Dilma tem apoio no governo e nos partidos aliados para manter o ministro Carlos Lupi (Trabalho), a despeito da Comissão de Ética Pública. Alegam que o precedente é perigoso.
Em família
O ministro Garibaldi Alves Filho (Previdência) teve que ligar para seu suplente, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Acontece que ele tinha assinado uma emenda da oposição à DRU e recebeu apelo, do filho, para retirar a assinatura.
O GOVERNO vai decidir até terça-feira se mantém a urgência para a votação da Emenda 29, da Saúde. A dificuldade é que a retirada da urgência precisa ser votada em plenário, antecipando o debate do mérito.
NA BERLINDA. A avaliação dos caciques partidários é que a eleição para a prefeitura de São Paulo é decisiva para o PSD. Dizem que, se o prefeito Gilberto Kassab não fizer o sucessor, seu partido desanda.
SAINDO DO FORNO. O Ministério da Agricultura vai criar sete delegacias regionais. Elas serão técnicas e vão filtrar os pleitos das superintendências estaduais, que são comandadas por políticos.
Olhos em Durban - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 04/12/11
O grande tema da definição do futuro no planeta está de novo encontrando os mesmos impasses. A Conferência das Partes da Convenção do Clima de Durban, a COP-17, terá sucesso se desenhar alguma ponte para o futuro. O protocolo de Kioto está no fim, e uma convenção mais ampla não está garantida. A Rio+20 depende do que acontece nesta semana em Durban.
A primeira semana foi dos debates técnicos, a segunda será das decisões políticas. Ou não. Tudo parece extremamente difícil. No primeiro dia, a secretária-executiva da Convenção do Clima, Cristiana Figueres, invocou palavras do mito Nelson Mandela para reforçar o argumento de que impossíveis acontecem. Mas há pouca expectativa. O mundo voltou a ficar preso nas mesmas armadilhas.
O Brasil, os outros países emergentes, os países mais pobres da África fincam pé numa meta que, se atingida, pouco significará: a renovação do Protocolo de Kioto. Ele termina no final do ano que vem. Parece lógico que o caminho é lutar por mais um período de compromissos. Só que Kioto representa uma fração cada vez menor das emissões dos gases de efeito estufa.
A crise econômica e o fato de que os maiores poluidores estão fora do protocolo fazem de Kioto um documento de valor apenas simbólico. Como é o único que existe, não querem que ele acabe antes que haja alguma outra coisa para pôr no lugar. Nele, estão os países europeus, Japão, Canadá, Rússia, Nova Zelândia e Austrália. Já falaram em sair Japão, Canadá e Rússia. Os países europeus continuam fazendo seu esforço para atingir a meta - emitir em 2020 um volume 20% menor do que o que emitiam em 1990 - mas, com a crise, as emissões cairão mais pela falta de atividade econômica do que pela reconversão da economia.
Hoje, os países do Protocolo de Kioto e os Estados Unidos juntos emitem 20 gigatoneladas de carbono equivalente. Os outros países somados emitem 30 gigatoneladas, mas em alguns desses o volume dos gases cresce mais. Os Estados Unidos não estão e nunca estarão em Kioto, mas se cumprirem as metas que anunciaram em Copenhague podem estabilizar suas emissões. A China fez em Copenhague uma proposta cujos parâmetros ela inventou: reduzir em 50% a intensidade da emissão por unidade do PIB. Ela continuará aumentando fortemente a poluição ainda que num ritmo menor. Agora, em Durban, deu os primeiros sinais de que aceitará metas na forma como elas são calculadas no mundo todo.
Não há chance de se chegar ao objetivo de conter o aquecimento global sem que China, Índia, Brasil, Indonésia, México e Estados Unidos se comprometam com um acordo global. Com esses grandes poluidores de fora, com os desfalques no Protocolo de Kioto, não se chegará a lugar algum.
Países como o Brasil, China, Índia e outros menos desenvolvidos fincam o pé em "responsabilidades comuns porém diferenciadas", que é uma forma de diminuir as responsabilidades que têm por terem entrado no clube dos grandes poluentes. Dizem que esse princípio do acordo é imutável. O Brasil também coloca como centro das suas ambições a renovação do Protocolo de Kioto. Esse objetivo é medíocre. O Brasil pode e deve liderar uma visão renovada do problema.
Kioto fez seu papel e já se esgotou. Hoje, olhando-se as estatísticas é impossível não dar razão ao negociador da União Europeia. Os países signatários representam menos de 30% das emissões dos gases de efeito estufa e vão ser uma fatia cada vez menor. Os Estados Unidos não ratificaram o acordo, os grandes emissores emergentes não entraram nele, a crise econômica está no coração da Europa, que assinou o texto e tem feito um inegável esforço para uma economia de baixo carbono.
As negociações na ONU correm em dois trilhos: um tenta negociar um acordo global do clima e o outro tenta renovar os compromissos de Kioto. Os de fora do protocolo dizem que ele não pode acabar, os de dentro dizem que ele é injusto e limitado; todos falam de um acordo mais amplo. Mas ele não vira realidade.
Enquanto toda essa discussão revisita os mesmos pontos de estrangulamento e repete o mesmo enredo, os riscos do planeta aumentam. O objetivo de conter o aquecimento global em dois graus centígrados parece cada vez mais insuficiente, porque os cientistas falam há tempos em quatro graus ou mais de aquecimento determinados pelas emissões já ocorridas. Mesmo insuficiente, essa meta está distante do que se pode conseguir com os magros avanços das 17 conferências e esforços que o mundo fez desde a Rio 92, que reuniu a Cúpula da Terra. A Rio+20 poderia ser um grande evento. Dificilmente será. Mas se Durban fracassar será apenas uma reunião inútil. Durban tem que nos próximos dias desenhar um esboço que leve o mundo a 2015 e depois a 2020 com um acordo realmente global e com poder de lei. O Brasil pode jogar um papel importante, se ousar mudar o velho discurso de que esse é um confronto de ricos e pobres. O Brasil não é pobre, a China está virando potência, a Índia emite cada vez mais, a Europa não pode ficar sozinha em Kioto. Não basta renovar o protocolo, todos os grandes emissores têm que ter metas.
Democracia e riscos - MERVAL PEREIRA
Relatos graves de violência e pressão político-religiosa nas universidades tunisianas indicam uma ofensiva de grupos islâmicos radicais na tentativa de se impor na sociedade após a revolução, embora, ao contrário do Egito, esses grupos não tenham conseguido obter votação expressiva na eleição de outubro passado.
Um professor relatou para a assembleia da conferência da Academia da Latinidade, aqui em Hammamet, que foi obrigado, por coação física de um grupo de alunos, a não realizar uma prova.
Outra professora contou que, ao pedir que seus alunos fizessem uma interpretação de um quadro, que aludia à obra "Criação de Adão", de Michelangelo, na Capela Sistina, foi acusada de querer transmitir aos alunos a ideia de Deus, aos gritos surrealistas de "abaixo Michelangelo". Só foi liberada pelo bando de radicais depois de jurar que era muçulmana convicta.
Os relatos de agressões físicas são constantes, e as manifestações em frente ao prédio onde se reúnem os constituintes tunisianos pedem o fim "das violações das liberdades acadêmicas" e o fim "da violência nos estabelecimentos universitários".
Essa tentativa de radicalizar a situação política, embora não reflita a vontade da maioria expressa nas urnas em outubro, tende a ser recorrente enquanto os constituintes elaboram as futuras leis que regerão a democracia no país.
Encerrando o seminário da Academia da Latinidade ontem, duas conferências se destacaram ao analisar a situação atual da democracia no mundo moderno.
O secretário-geral da Academia, o sociólogo brasileiro Candido Mendes, falando sobre os novos meios de comunicação digital que se tornaram centrais nas modernas democracias, destacou o paradoxo de que, ao mesmo tempo em que eles permitem uma comunicação direta entre os indivíduos e grupos, sem intermediações, também exacerbam o individualismo, dificultando o diálogo.
Candido Mendes também analisou o papel da mídia moderna na reprodução da opinião pública, e chamou a atenção para a necessidade de garantir a voz das minorias, não apenas na representação partidária da democracia, mas também no aparelho midiático.
Ele destacou o movimento dos "indignados", que começou na Espanha e se espalhou pelo mundo, chegando a Wall Street, como exemplar de uma reação de representantes da minoria tentando sustentar o protesto permanente através de métodos alternativos que atendem ao inconsciente coletivo e reclamam a manifestação de seu inconformismo.
Também o sociólogo francês Alain Touraine, que encerrou o seminário com uma análise sobre os processos de democratização, afirmou que "nos tempos modernos, com a complexidade de sua organização, de sua rede de comunicação e seu aparato produtivo, a liberdade e a democracia só podem ser fundadas no reconhecimento do universalismo dos direitos individuais".
Para Touraine, falar de democracia social ou mesmo popular, em lugar de democracia política, não passa de um gesto de propaganda. "Uma ditadura política não pode criar uma democracia social ou econômica".
Como se ensinasse as bases da democracia em um país que se debate para sair de uma longa ditadura e encontrar seu próprio caminho, o francês Alain Touraine lembrou como condição essencial para a redemocratização "o desaparecimento dos poderes absolutos, e em consequência a existência da tolerância e da pluralidade política".
Nesse ponto, Touraine destacou um nível da democracia que considera essencial: o controle do Poder Executivo por um poder eleito, que pode até mesmo revogar o poder político.
Para ele, uma condição essencial da democracia é a possibilidade de o povo, através de seus representantes políticos, controlar e limitar os poderes do Estado, e mesmo destitui-los.
Alain Touraine deixou claro que é apenas pela modernização econômica que um país pode se tornar democrático, pois a modernização impõe a livre circulação de bens e de ideias e, em consequência, a submissão de um poder político à complexidade cambiante das relações entre grupos econômicos e sociais.
Dentro desse contexto, Touraine diz que é imprescindível numa democracia reconhecer a liberdade de imprensa e mais amplamente das mídias nos tempos modernos, e entender que todo esse conjunto de relações implica a separação do Estado e as autoridades religiosas "que por definição se consideram no direito de formular e impor normas de conduta e de expressão".
Um exemplo importante para Touraine - que certamente o escolheu especialmente para o caso atual da Primavera Árabe - é o da Turquia, que conservou desde Atatürk (fundador e primeiro presidente da República turca) sua natureza de república laica, e que, ao mesmo tempo, é um país fortemente islâmico e submetido à autoridade de um partido que detém o poder de Estado e que se define como islâmico.
Tão importante quanto seria "a interiorização da consciência de cidadania, a consciência da existência de direitos políticos reivindicados pelos cidadãos".
Essa situação faz com que os cidadãos se sintam os donos do poder em última instância, analisa Touraine. "A melhor defesa contra regimes totalitários é a afirmação da consciência moral e dos direitos de cada indivíduo e de cada coletividade".
O que acontece no meio - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 04/12/11
No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco, mas a que nos revela a nós mesmos
Vida é o que existe entre o nascimento e a morte. O que acontece no meio é o que importa.
No meio, a gente descobre que sexo sem amor também vale a pena, mas é ginástica, não tem transcendência nenhuma. Que tudo o que faz você voltar pra casa de mãos abanando (sem uma emoção, um conhecimento, uma surpresa, uma paz, uma ideia) foi perda de tempo.
Que a primeira metade da vida é muito boa, mas da metade pro fim pode ser ainda melhor, se a gente aprendeu alguma coisa com os tropeços lá do início. Que o pensamento é uma aventura sem igual. Que é preciso abrir a nossa caixa preta de vez em quando, apesar do medo do que vamos encontrar lá dentro. Que maduro é aquele que mata no peito as vertigens e os espantos.
No meio, a gente descobre que sofremos mais com as coisas que imaginamos que estejam acontecendo do que com as que acontecem de fato. Que amar é lapidação, e não destruição. Que certos riscos compensam – o difícil é saber previamente quais. Que subir na vida é algo para se fazer sem pressa.
Que é preciso dar uma colher de chá para o acaso. Que tudo que é muito rápido pode ser bem frustrante. Que Veneza, Mykonos, Bali e Patagônia são lugares excitantes, mas que incrível mesmo é se sentir feliz dentro da própria casa. Que a vontade é quase sempre mais forte que a razão. Quase? Ora, é sempre mais forte.
No meio, a gente descobre que reconhecer um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Que é muito narcisista ficar se consumindo consigo próprio. Que todas as escolhas geram dúvida, todas. Que depois de lutar pelo direito de ser diferente, chega a bendita hora de se permitir a indiferença.
Que adultos se divertem muito mais do que os adolescentes. Que uma perda, qualquer perda, é um aperitivo da morte – mas não é a morte, que essa só acontece no fim, e ainda estamos falando do meio.
No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco e da caixa postal, mas a senha que nos revela a nós mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo).
Que tocar na dor do outro exige delicadeza. Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma contingência. Que não é preciso se estressar tanto em busca do orgasmo, há outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo.
No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo.
Pior a emenda que o soneto - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 04/12/11
Num desses casos típicos em que a emenda sai pior do que o soneto, o deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo, meteu os pés pelas mãos ao tentar minimizar a importância da revelação feita pela Folha de S.Paulo, de que o ministro Carlos Lupi, de 2000 a 2006, na condição de assessor técnico do gabinete da liderança do PDT na Câmara dos Deputados, não dava expediente regular em Brasília, dedicando-se apenas ao trabalho partidário, principalmente no Rio de Janeiro, onde morava. Ou seja: Lupi passou seis anos recebendo dos cofres públicos para cuidar exclusivamente dos interesses do partido de que hoje é presidente licenciado. Para Vaccarezza, isso é perfeitamente normal, porque a maior parte dos funcionários dos gabinetes dos deputados jamais aparece em Brasília, já que trabalham nos escritórios políticos nos Estados.
"A maioria (dos funcionários dos gabinetes) jamais pisou na Câmara. Porque a maioria dos funcionários dos deputados fica nos Estados", explicou candidamente o deputado Vaccarezza. E emendou: "Quem prova que Lupi nunca apareceu para trabalhar? Por que o Lupi é fantasma? Porque existe uma campanha contra ele". Certamente se referia ao "denuncismo" orquestrado pelos inimigos do povo, que já obrigou Dilma Rousseff a demitir cinco ministros envolvidos em negócios mal explicados.
O homem que lidera a bancada governista na Câmara dos deputados devia saber que existe uma enorme diferença entre funcionário público, que trabalha para o governo e por ele é pago, e funcionário de partido político, entidade privada que, por isso mesmo, precisa assumir, ela própria, os salários de seus colaboradores. E para sua subsistência contam as agremiações com os recursos do Fundo Partidário, que pode ser usado nos casos claramente definidos pela lei. O que não pode é funcionário de legenda partidária receber diretamente dos cofres públicos, como era o caso de Carlos Lupi quando exercia cargo de natureza especial (CNE) no Parlamento.
Atualmente, o Regimento Interno da Câmara estabelece expressamente que assessores CNE são obrigados a dar expediente na Casa. Foi uma medida moralizadora adotada durante a gestão de Aldo Rebelo na presidência, entre 2005 e 2007. "No caso do Lupi", afirmou Vaccarezza, "temos que ver se a lei lhe dava permissão para trabalhar no Rio de Janeiro". Ou seja, o próprio líder do governo não tem certeza sobre a situação do ministro quando era funcionário CNE, mas não teve o menor constrangimento em garantir que o ocorrido "é correto e legal, não tem nenhum absurdo nisso". Já o presidente da Casa foi mais cauteloso, explicando que será aberta sindicância para apurar os fatos: "Se for constatada irregularidade, a Câmara pode pedir ressarcimento dos pagamentos feitos". Ver para crer.
O mais extraordinário, no caso de um parlamentar, com a responsabilidade de ser líder do governo, convalidar irregularidades no trato da coisa pública, é que ele está falando a mais absoluta verdade. De fato, boa parte, talvez a maioria, dos funcionários alocados nos gabinetes parlamentares - isso vale também para o Senado Federal - "jamais pisou" no Distrito Federal. Seus chefes garantirão, se questionados, que esses servidores permanecem nos Estados cuidando de questões relacionadas com as atividades legislativas; lá estão para dar atenção aos cidadãos e encaminhar seus pleitos a seu representante no Parlamento; que cumprem a generosa e patriótica missão de multiplicar a capacidade de atendimento do deputado que, por ser um só, não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Mas a descrição acima corresponde às típicas tarefas de um cabo eleitoral.
Embora não se possa descartar a possibilidade de que um ou outro abnegado funcionário dos gabinetes parlamentares de Brasília esteja em seu próprio Estado fazendo apenas o que é certo de acordo com a lei e os bons costumes, seria ingênuo supor que a maioria não é constituída de cabos eleitorais, pelos quais pagamos todos nós. E há ainda outra explicação para a existência de funcionários fantasmas da Câmara dos Deputados espalhados por todo o País: nepotismo ou compadrio. Mas, justiça seja feita, de nepotismo, até o momento, o ministro Lupi ainda não foi acusado.
O que será que será? - DANUZA LEÃO
Algum dia você largou seu freio de mão mental e deixou sua imaginação livre como deve ser?
Quando uma mulher e um homem se veem pela primeira vez, pode acontecer uma faísca; é quando bate.
Ela surge de uma imediata e inconsciente avaliação de parte a parte; pode ser com o cunhado, o feirante, o padre, o marido da maior amiga, e independe de beleza, charme ou classe social.
Essa estranha sensação pode não dar em nada, mas quanto mais intimidade você tiver com você mesma -e com seus pensamentos-, mais rapidamente vai perceber o que está acontecendo, o que, aliás, é raro; a maioria das pessoas não identifica o que sente, até porque essa avaliação passa por uma fina peneira de censuras mentais -morais e sociais.
Desde que a pessoa seja do outro sexo -ou do sexo que lhe interessa-, perigo existe. É difícil botar em palavras sensações, mas tudo parte dessa faísca ser positiva ou não.
Se ela não acontece, nem se pensa no assunto; mas se é positiva e se tem tempo e coragem para brincar, a fantasia pode ir longe. Se estiver tomando uma bebida, aí então ela é ilimitada.
Algum dia você largou seu freio de mão mental e deixou sua imaginação livre, como devem ser as imaginações? Vamos admitir: é difícil.
E as convenções sociais, e os preconceitos, e o medo? Como aprendemos que se peca até em pensamentos, brecamos a maioria deles e depois não sabemos por que nossa cabeça é um nó. Mas se deixarmos eles correrem soltos, será que as coisas ficam mais fáceis? Há quem diga que sim.
Logo no primeiro olhar fica definido se o outro é ou não possível. A sensação não precisa ser recíproca, mas quando acontece, é imediatamente percebida pelos dois. Estabelece-se então uma energia que faz com que esse momento seja diferente, especial; o corpo fica tenso, o olho brilha, e você sente o prazer supremo, que é o de se saber viva.
Para alguns isso nunca acontece, e existe quem nunca soube, nem nunca vai saber, do que se trata.
Já com outros, acontece até no leito de morte; basta entrar uma enfermeira gostosa, que a corrente se estabelece.
Atenção: essa eletricidade é contagiosa, por isso tantos passam a vida sendo desejados, enquanto outros sofrem de um incurável desinteresse do sexo oposto.
Os mais corajosos, quando têm consciência do que está acontecendo, se deixam levar; aí começa o perigo, que para a mulher é sempre maior. Um homem que segue seu impulso e arrasta com ele alguém de classe inferior, digamos, é sempre compreendido -até porque eles sabem até onde podem ir.
Já se a mulher tiver um caso com um motorista de caminhão, será um escândalo (fora que elas têm a mania de se apaixonar, o que faz toda a diferença).
Aliás, pense nas coisas que devem acontecer na vida de nossos amigos mais íntimos e que nem podemos imaginar.
O tema é interessante, aliás, interessantíssimo, e vale sempre a pena saber a quantas se anda; se está viva ou se respira ligada nos aparelhos, que são a educação, a moral, a religião e os bons costumes.
Sendo assim, por mais que uma mulher seja um poço de virtudes, é temerário que ela fique perto de qualquer homem, porque homem e mulher, quando se juntam, ninguém sabe o que pode acontecer.
Esse é o perigo, e a graça. É a pulsão da vida.
Ato de omissão - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 04/12/11
No caso da presidente da República, além de evidente, a autoridade é garantida pelo voto e expressa claramente na Constituição.
É dela a prerrogativa de nomear ou demitir ministros (artigo 84), assim como é dela a responsabilidade de zelar pelos preceitos que regem a administração pública (artigo 37), entre os quais os da legalidade e da moralidade.
No regime presidencialista as decisões atinentes ao ministério começam e terminam no poder do chefe do Estado e de governo, conforme atestou recentemente o ministro da secretaria geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
Fazia eco à constatação do deputado Miro Teixeira, do PDT, que apontara dias antes o equívoco do partido de pretender substituir- se à autoridade da presidente discutindo se as bancadas no Senado e na Câmara deveriam ou não "entregar" o cargo ocupado por Carlos Lupi.
Sendo assim, soa constitucionalmente dissonante a versão da assessoria presidencial de que Dilma Rousseff ainda não o demitiu para não ficar a reboque das circunstâncias: seja da grita registrada na imprensa ou da decisão da Comissão de Ética Pública de recomendar a saída do ministro.
Afinal, nada muda a realidade de que a responsabilidade é da presidente, dona da vontade e senhora do tempo e da razão. Como aponta Miro Teixeira, se Dilma não demite Lupi, "é porque não quer demitir".
Uma escolha aparentemente insensata, já que a solução imediata, em tese, evitaria que a presidente sofresse o desgaste decorrente da hesitação.
Em princípio seria a forma mais eficaz de guardar sua autoridade e de preservar a imagem de governante intransigente em relação a "malfeitos". Percepção que a fez cair nas graças do público descontente com a condescendência de Lula em relação a aliados e correligionários envolvidos em denúncias de corrupção.
Examinando o cenário mais detidamente, porém, nota-se que ao governo pode não ser totalmente desvantajosa a situação em que um ministro já sem poder nem função, um mero adereço, sangra em praça pública como protagonista da cena política que, não fosse ele, poderia estar sendo ocupada por outros fatos.
Por discussões mais relevantes - como o cotejo dos resultados das políticas públicas com as necessidades e a realidade do País e os fundamentos em que está baseada a coalizão governamental - ou por outros escândalos em ministérios.
Por essa ótica, antes a extensão da agonia de Lupi, cujo sangramento não rende prejuízos eleitorais senão ao partido dele, que a discussão, por exemplo, do desempenho de Fernando Haddad à frente do Ministério da Educação. Esta sim potencialmente prejudicial às pretensões eleitorais do PT em São Paulo.
E os malefícios à imagem da presidente? Pela tranquilidade exibida por ela, a indiferença docemente constrangida de seu entorno e a perda de tempo a comentar irrelevâncias, provavelmente existem pesquisas indicativas de que por ora não há motivo para preocupação, pois o terreno perdido poderia ser recuperado quando a dona do assento decidir acionar o botão ejetor.
O governo tem como aliados a memória curta e a visão turva da maioria.
Sem contar a sorte de não ter nos calcanhares uma oposição contundente nem viver numa sociedade mais exigente, onde a compreensão sobre o papel e as obrigações constitucionais do chefe já teria posto em relevo a questão principal que é o flerte da presidente com o crime de responsabilidade.
Penduricalho. Nesse momento em que se fala na extinção de ministérios desnecessários como uma das medidas a serem tomadas na prevista reforma, conviria não esquecer uma das grandes inutilidades da República: a transformação do Banco Central em ministério.
Por nenhum motivo administrativamente objetivo: apenas para dar ao então presidente, Henrique Meirelles, foro privilegiado na Justiça para responder a acusações de irregularidades junto à Receita Federal.
Sindicatos despreparados e acomodados - JORGE J. OKUBARO
O Estado de S.Paulo - 04/12/11
Novas formas de organização do trabalho, sempre voltadas para o aumento da produtividade; regras trabalhistas menos rígidas, que propiciam maior mobilidade da mão de obra; novas exigências de qualificação, que requerem cada vez mais trabalhadores polivalentes; o peso crescente do trabalho fora de seu local "natural", que é a sede da empresa; a gradual perda de importância do setor industrial e o aumento da participação do setor de serviços na economia contemporânea; a persistência, pelo menos no caso brasileiro, de um grande número de trabalhadores informais, sem nenhuma proteção legal. Essas são algumas das muitas mudanças e dos muitos novos problemas do mundo do trabalho que vieram se juntar aos que já existiam.
Por afetar de modo profundo a vida dos trabalhadores, tudo isso deveria estar no centro das preocupações dos sindicatos e dos sindicalistas. Mas, com poucas exceções, eles estão cada vez mais distantes de suas bases e seus problemas. Perdem representatividade, perdem poder de influência e de barganha, perdem importância. E muitos dirigentes parecem ter perdido o senso de seu papel, dedicando-se exclusivamente ao trato de seus interesses pessoais. Pior para os trabalhadores.
Para recuperar seu prestígio com os trabalhadores, as organizações sindicais (sindicatos, federações, confederações, centrais sindicais) não têm outro caminho a percorrer a não ser o que as leva a se aproximar daqueles que dizem representar. Precisam conhecer bem o ambiente em que seus representados trabalham, saber de suas necessidades, para poder fundamentar suas reivindicações. Defender adequadamente os interesses dos trabalhadores exige dos sindicalistas esforço, dedicação, persistência. Dá trabalho ser um dirigente sindical de verdade, efetivamente interessado em cumprir seu papel.
No entanto, o sistema sindical brasileiro permitiu o surgimento do sindicato de papel e do sindicalista que nem conhece sua base. Para formalizar um sindicato, basta ter o pedido de registro aprovado pelo Ministério do Trabalho. Com o registro, o sindicato passa a receber parte da arrecadação do imposto sindical. É o dinheiro retirado no mês de março do salário de todo trabalhador com carteira assinada, na base de um dia de trabalho. A quantia cai direto na conta do sindicato, que não precisa dizer para ninguém o que faz com o dinheiro. Assim, há sindicatos praticamente sem filiados, mas cuja diretoria trabalha muito, sem motivo aparente.
Por causa das distorções que esse sistema gerou, há tempos se discute o fim do imposto sindical (oficialmente chamado de contribuição sindical). Quanto mais se discute, porém, mais ferozes parecem se tornar as resistências dos que não querem abrir mão do dinheiro que lhes chega com tanta facilidade.
Nessa questão, dirigentes de centrais sindicais e confederações empresariais mostram uma rara identidade de opiniões. Em defesa de seus próprios interesses, que não são necessariamente os dos trabalhadores e das empresas que representam, eles defendem enfaticamente a manutenção do imposto sindical. Foi o que se viu na terça-feira passada, quando o tema foi debatido em audiência pública na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados.
O fim do imposto levaria à destruição do sistema sindical, disseram representantes de trabalhadores e de entidades empresariais. Trata-se de um exagero. O fim do imposto não destruiria as organizações sindicais, mas as obrigaria a encontrar fontes próprias de receita. Poderiam cobrar pelo serviço que prestam, na forma, por exemplo, da contribuição assistencial aprovada em assembleia de suas bases. Poderiam ampliar seu quadro de associados, aumentando suas receitas com mensalidades.
Há sindicatos que se sustentam apenas com receitas próprias e devolvem o imposto sindical aos trabalhadores, como o dos metalúrgicos do ABC. Mas, para chegar a essa situação, eles precisam mostrar que trabalham em favor de suas bases. Seus dirigentes precisam arregaçar as mangas. Isso não parece ser do agrado de boa parte dos sindicalistas.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 04/12/11
Laboratórios criam joint venture para entrar em novo mercado
Fabricantes de medicamentos se unirão em uma joint venture no próximo ano para colocar no mercado brasileiro remédios biossimilares ("genéricos" de drogas biológicas, criadas a partir de organismos vivos).
"Até o primeiro trimestre de 2012, [a joint venture] deve estar constituída e operando", diz o presidente do Aché Laboratórios, José Ricardo Mendes da Silva.
"Cada empresa continuará desenvolvendo seus produtos, mas estaremos juntos para suportar o volume de investimentos em pesquisa."
Com a queda da patente de três remédios biológicos até 2014, as empresas que produzirem os biossimilares passarão a competir por US$ 1,2 bilhão por ano, segundo a Pró Genéricos (associação da indústria de genéricos).
"A expectativa é conseguir 50% desse mercado", afirma o presidente da associação, Odnir Finotti.
A previsão da entidade é que, com concorrência, haja redução de até 20% no preço dos medicamentos. O governo federal deverá ser o maior beneficiado.
Essas três drogas comprometem cerca de 30% do orçamento do Ministério da Saúde para compra de remédios.
Quatro empresas já estão em fase de registro dos remédios, ainda segundo Finotti, que não revela quais são elas.
O presidente do Aché diz que, das três drogas que perderão patente, o laboratório trabalha em duas há três anos.
"Entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões são investidos [para desenvolver cada medicamento]", diz Silva.
A EMS afirma que também desenvolve biossimilares, mas não confirmou se fará parte da joint venture.
INTERIOR APERTADO
Sem espaço para novas instalações na cidade de São Paulo, as empresas também começam a ter problemas na busca por locais para galpões e parques industriais no interior do Estado.
Das regiões analisadas pela consultoria imobiliária Binswanger Brazil nos últimos 12 meses, apenas duas delas não apresentaram taxa de vacância inferior a 10% -índice considerado sob forte pressão da demanda.
"A situação menos crítica é a do Vale do Paraíba, que mantém taxa de vacância acima de 12% por apresentar muitos imóveis antigos", diz Rafael Camargo, diretor da companhia.
"A região ficou para trás neste trimestre com o desenvolvimento de Campinas, Sorocaba e Jundiaí."
O valor mais caro de locação do metro quadrado foi de R$ 28,00, registrado na região da Grande Campinas, que também engloba as cidades de Jaguariúna e Indaiatuba.
FINANCIAMENTO LOCAL
Os desembolsos dos FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) dedicados a fornecedores da Petrobras atingiram R$ 604 milhões na última quinta-feira.
Desde que a operação foi criada pela companhia, em 2009, 58 fornecedores já se utilizaram dessa forma de financiamento, que permite a antecipação de recebíveis contratuais sem pagamento de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Com a medida, a Petrobras pretende incentivar os investimentos da sua cadeia de fornecedores brasileiros para atingir a meta de comprar até 70% de conteúdo nacional.
Os recursos dos FIDCs são obtidos a partir da emissão de cotas de participação, compradas por investidores como fundos de pensão, seguradoras e outros segmentos do mercado de capitais.
Hoje, no Brasil, há cerca de 340 FIDCs com patrimônio líquido total de aproximadamente R$ 52 bilhões.
NEYMARZINHO
O craque Neymar, do Santos, deve entrar para a Turma da Mônica -reforçando o time de Pelezinho e Ronaldinho Gaúcho, que já foram parar nos quadrinhos.
Mauricio de Sousa, 76, criador dos personagens, está otimista com a possibilidade de lançar Neymarzinho.
O empresário, porém, tentou sem sucesso publicar histórias com o personagem
Ronaldo Fenômeno, em 2002. Não conseguiu porque o Real Madrid, dono dos direitos de imagem do craque à época, não aceitou.
"Se Neymar tivesse ido para o exterior [ele recebeu propostas de clubes espanhóis e ingleses], seria impossível. Os times de fora vetam", conta. "Mas, caso fique no Brasil, podemos até incluir o Santos no contrato." Procurada, a direção do clube não quis comentar as negociações.
COM QUE ROUPA
PARA ENCALORADOS
No verão dos europeus, muitas grifes apresentaram ternos leves sem gravatas e até sem camisas.
"Não é exatamente tendência, mas uma forma mais casual de se vestir. Vale lembrar que se deve atentar ao ambiente e à ocasião", afirma Mariana Nassralla, da Salvatore Ferragamo no Brasil. Novidades nas camisas: a gola "guru" (padre) substitui a gravata e pode entrar um lenço retrô no pescoço, segundo a direção da Zegna. Em pauta, peças sem forro e tecidos levíssimos. Como na alfaiataria do brasileiro Ivan Aguilar.
"Costume com camiseta confere uma leve modernidade ao jovem executivo", diz.
com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ
Ficha suja - CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 04/12/11
RIO DE JANEIRO - No início do século 20, o Rio permanecia o mesmo dos tempos derradeiros do império. A República mal completara sua primeira década -e na austeridade própria dos regimes que decidem instaurar uma nova era, quase nada ou nada se fazia pela cidade, ex-capital de um reino e do império e, sempre, uma aldeia de feição colonial, mesquinha, suja.
Tirante os primeiros momentos da vinda da corte de dom João 6º, quando alguma coisa foi feita para tornar a cidade mais habitável, o Rio progredia sem planejamento nem verbas.
Os visitantes ficavam duplamente espantados: com a beleza da natureza, montanha e mar formando um conjunto que não encontra equivalente em nenhuma outra parte do mundo, e a sujeira, a falta de higiene, de conforto, daquele mínimo de decência urbana.
Habitada por remanescentes da nobreza imperial, enriquecida pelos privilégios da corte de São Cristóvão e por senhores do café e dos engenhos de açúcar, o Rio continuava sendo "a corte", embora a República, numa de suas providências iniciais, tivesse rebaixado a cidade para o feio nome de "capital federal".
Uma nova classe sobrepunha-se à antiga, de feição feudal: surgia o funcionário, novos hábitos deslocavam o eixo social. São Cristóvão deixava de ser o bairro nobre, a nascente burguesia descobrira o litoral e o botafogano (morador de Botafogo) era o vértice da pirâmide urbana.
No seu centro propriamente dito, o Rio continuava com a rua do Ouvidor, empoeirada, mas esforçada, e o clima geral, tanto o da cidade como o de seus moradores, era o de tentar ser uma réplica de capital europeia.
Da mesma forma que a classe política copiava os padrões liberais dos EUA, o resto da sociedade copiava os padrões da moda e do estilo de vida de Paris. Complexo do Alemão, Rocinha e Vidigal estavam longe ainda.
Arroz de festa - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 04/12/11
O apresentador Amaury Jr. celebra 30 anos de carreira, diz que já entrevistou o 'país inteiro' e viu a 'elite quatrocentona desmoronar'
"Esse programa só vale pelas mulheres bonitas. Ó lá", aponta Amaury Jr., 61, para o seu time de repórteres. A câmera está ligada. O refletor ilumina o deck da piscina do Club A, em SP, balada que tem ele como um dos donos. O apresentador dá um gole no uísque e larga o copo em cima da mesa.
Passa a mão em volta da cintura de Denise Severo, vestido curto dourado. "As pessoas falam que eu fico agarrando as mulheres, mas é porque elas estão fora do campo de luz", diz. Em seguida, pede pra Denise tirar o salto alto. " Ai, Amaury, você vai me deixar descalça nesse chão gelado?", responde a repórter do "Programa Amaury Jr.", recentemente flagrada aos beijos com o sertanejo Luan Santana. "Vou parecer um anão perto dessas mulheres. Fica feio na TV."
É noite de uma quinta-feira e ele grava com Denise, Laura Wie e Heaven Delhaye os melhores momentos da semana do programa para ir ao ar no sábado, na RedeTV!.
Há 30 anos Amaury é o colunista social da televisão brasileira, apresentando no fim da noite uma atração com entrevistas feitas em festas do eixo SP-Rio - e até Punta del Este (Uruguai). Quase sempre com as músicas "Keep it Comin' Love" e "Nice and Slow" (aquela do "Ooô Oô Ooô"), que viraram marca de que ele está na telinha. "Faço uma revista eletrônica com moldura de coluna social", diz à repórter Lígia Mesquita. O começo foi na Gazeta. Depois, levou a atração para a Bandeirantes e a Record. Desde 2002, está na RedeTV!.
"Ando cansado de ir a muitas festas. Já entrevistei a cidade inteira, o país inteiro", diz. Um aviso na página principal do seu site bate bumbo: "Não há uma única celebridade no país que não tenha sido entrevistada ao menos uma vez por Amaury Jr. -desde presidente da República, empresários, esportistas e artistas". Mas falta uma pessoa, em suas contas: a cantora Marisa Monte. "As circunstâncias nunca bateram."
Admite que tinha medo de uma de suas entrevistadas, Dilma Rousseff. "Achava ela autoritária. E apesar de admirar o Lula, achá-lo um fenômeno, tinha medo do continuísmo. Mas estou me surpreendendo." A presidente e ele conversaram antes das eleições de 2010.
Muitas de suas entrevistas viram sucesso na internet. Caso da vez em que a socialite carioca Narciza Tamborindeguy (a que fala "Ai, que loucura!") deixou um seio escapar de seu Valentino vermelho enquanto pulava sem parar num baile de Carnaval do Rio, em 2008. No mês passado, a cantora Bebel Gilberto, também de vermelho, falou a Amaury. Virou um dos assuntos mais comentados do Twitter.
"Papai te adora, todo mundo te adora, Amaury. Você é uma peça rara. Te vejo desde os anos 80 com o Cazuza. A gente chegava de madrugada em casa e ligava a televisão pra te ver", disse ela, entregando que o pai, João Gilberto, é fã do apresentador. João, avesso a aparições, está na lista "do país inteiro" de entrevistados de Amaury.
"Estava internado no hospital [no mês passado, por causa de uma pneumonia] e os enfermeiros falaram: 'A Bebel bebeu, hein?' Eu não tinha visto. E eu que tenho fama de 'lubrificadinho'. Depois, assisti e achei ela maravilhosa, sincera. Ela tava um pouco 'lubrificadinha'", diz o apresentador.
Um produtor do programa segura uma dália, papel com informações sobre a pessoa com quem Amaury vai conversar. Lê-se: "Margareth Gonçalves, filha de Nelson Gonçalves". Acaba a gravação e o apresentador pede para o garçom: "Me traz outro uísque, por favor, que esse aqui tá virando água".
"Me divirto trabalhando, tomo um drinque. E quando a festa tá ruim, bebo um uísque", conta. Até o fim do mês passado, quando parou de fumar, recorria a um maço e meio de cigarro por dia.
O colunista mostra o Club A à Folha. O espaço fica no hotel Sheraton WTC e tem no meio do salão duas palmeiras feitas com cristais Swarovski. "Minha intenção aqui era, ingenuamente, fazer uma reedição do que foi o Gallery." A boate, surgida no fim dos anos 70, foi reduto da sociedade paulistana.
Hoje, segundo ele, "não existem mais festas gostosas e espontâneas" como as do Gallery. "As pessoas preferem fazer reuniões em casa. A noite de São Paulo é uma balada ensurdecedora."
Barulhenta e sem glamour, decreta. "As pessoas não são glamourosas nem têm ambientes favoráveis para defender o seu glamour. Tá todo mundo à vontade demais. Não têm mais rituais de elegância. As pessoas parecem que saíram da cama e foram direto pra festa."
Nessas três décadas em que Amaury circula pela sociedade paulistana, afirma ter presenciado a mudança de mão do dinheiro. "Vi a elite quatrocentona desmoronar. Perderam-se fortunas."
Acha positivo que mais pessoas tenham chegado à classe média e até entrado no clube dos ricos no Brasil. "Quem quer ficar estacionado?" Não gosta do rótulo de emergente. "Isso é pra quem fica preocupado em se pavonear." Já o termo perua, ele usa. "Mas hoje tem muita perua dura, sem conta bancária. Basta bater o olho e ver que tá mal pavoneada."
Mal "pavoneada", ou mal arrumada, diz, não significa brega. "O que é brega hoje? Como dizia o Zózimo [Barrozo do Amaral, colunista social morto em 1997], brega é perguntar o que é brega."
Um vento invade o deck. Amaury olha no monitor se o cabelo está desarrumado. "Já falaram que eu tenho implante de cabelo. Puxa aqui pra ver", diz. "Sou o único que não é careca na minha família toda." Admite ter feito plástica no pescoço e aplica botox na testa.
"Se eu não gostasse da noite, já tinha caído fora", diz. Toda segunda-feira, ele elege as festas em que irá. "As festas famosas desapareceram e apareceram mais eventos comerciais. Hoje tem que ter celebridade contratada, ou convidada. Antes, artistas não eram bem-vindos."
Muitos desses eventos comercias aparecem no "Programa Amaury Jr.". Subindo o tom de voz, ele desafia alguém a mostrar que já tenha recebido dos organizadores para fazer reportagens sobre essas festas. "Não faço isso e perco dinheiro pra caramba." O apresentador conta que não tem salário na RedeTV!. "Minha remuneração vem dos 'infomercials'." A expressão define comerciais que Amaury faz de produtos enquanto entrevista as pessoas. Ou seja, merchandising.
Um produtor aparece com uma sacola de óculos escuros para o 'infomercial' do momento. Amaury olha pra câmera e elogia os produtos. Minutos depois, faz o mesmo com uma marca de perfumes.
Com o dinheiro que ganha, afirma viver bem. Conta que gosta de aviação e que já pilotou helicóptero. Mas não tem um. "Falo sobre o mundo dos ricos, mas não sou um deles. Gostaria de sê-lo. Ganho bem, mas minhas ambições não são tão grandes."
com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY
Ueba! Timão estoura rojão vencido! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 04/12/11
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Cliente da Vivo terá que ser indenizada por receber torpedos eróticos, sentencia a juíza Celia MELIGA PESSOA"! Rará. Recebeu torpedos eróticos? MELIGA PESSOA!
E em Brasília teve a Capital Fashion Week. Que durou três dias. Igual semana de deputado. Week de três dias. Virou moda. Virou fashion!
E hoje! Quem é o campeão? Corinthians ou Vasco? Timão Sofredor ou Bacalhau Carioca? Diz que o Vasco vem com um time imbatível: Manuel, Joaquim, Joaquim Manuel e Manuel Joaquim. Bacalhau, Roberto Leal e Ovos Moles!
E quem usar a palavra sofrimento tem que pagar direito autoral pra corintiano. Sofrimento é de uso exclusivo de corintiano! Diz que os corintianos estão prontos pra estourar aquele estoque de rojão que eles guardam pra Libertadores. Chamado rojão vencido! Tão secando tanto o Corinthians que o Adriano vai emagrecer. Secar! Rarará! E a buemba da semana: Fátima Bernardes! Largou o marido na bancada! Mais uma dupla sertaneja desfeita! Acabou o Casal Nacional.
Agora é "breaking news" sem chapinha! O povo do meu Twitter não aceitou Patrícia Poeta. Eu lancei a enquete: "Quem devia ficar no lugar da Fátima Bernardes?". E a enxurrada de respostas: Geisy Arruda, Datena, Tiririca, Lucianta Gimenez, Daniela Albuquerque e o ET da Perna. A minha mãe, que é surda, tem artrite e acha o Bonner bonitão!
O PMDB tava de olho na vaga! E como disse uma amiga minha: "Eu não me saio muito bem com trigêmeos, mas do resto eu dou conta".
Acabou o Jogral Nacional. Cada um falava uma palavra. "Arrastão". "No". "Tú". "Nel". "Rebouças". "Agora", não pode esquecer o agora. "No". "Jornal". "Nacional".
E eu adorava a cara de indignada da Fátima. Cara de derrubar ministro! Vou ficar com síndrome de abstinência da Fátima Chapinha. Que não podia tomar chuva senão o cabelo virava macarrão parafuso!
E este é o mês da infernal e clássica pergunta: "Onde você vai passar o Réveillon?". Vou passar o Réveillon empurrando o cara na minha frente pulando onda. Aí você vai, empurra e grita: "Feliz Ano Novo!". Rarará!
E um amigo vai passar o Réveillon dando um giro pela Itália, Grécia e outros paisezinhos falidos. E o euro devia se chamar erro. Zona do erro. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! E vai indo que eu não vou!
O mau humor do PMDB - JOÃO BOSCO RABELLO
O ESTADÃO - 04/12/11
O mau humor do momento do PMDB com o governo está associado ao julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) do caso de Jader Barbalho (PA) que,como outros candidatos barrados pela Lei da Ficha Limpa, reivindicaram a posse no cargo depois de decidido que a regra não se aplica às eleições de 2010.
Alguns já foram empossados, como os senadores João Capiberibe (PSB-PA) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). O petista Paulo Rocha (PA), terceiro colocado nas eleições do Pará, já obteve aprovação do STF e aguarda apenas expedição de diploma pelo TRE para assumir em lugar da senadora Marinor Brito (PSOL). Se assumir, leva a última das três vagas do Estado excluindo Barbalho, segundo mais votado.
O PMDB, que já perdeu dois senadores (Wilson Santiago e Gilvam Borges) para eleitos barrados pela Ficha Limpa e, posteriormente empossados, está inconformado com a perspectiva de ver Rocha assumir na frente de Barbalho. E acusa publicamente o STF de negar ao seu filiado tratamento isonômico em relação à Ficha Limpa.
O julgamento de Jader terminou empatado porque cinco dos dez ministros que compõem hoje o Supremo recusaram o recurso por imperfeição técnica, sem entrar no mérito. O novo julgamento espera pela posse da ministra Rosa Weber, indicada pelo governo e à espera de sabatina no Senado para assumir. Ela é o voto de Minerva.
O PMDB avalia que a indicação de Rosa é sintoma de que a presidente Dilma trabalha pela vitória de Rocha, fiel à causa partidária do ex-presidente Lula de fortalecer o PT no Senado, reduzindo o poder de fogo do PMDB.
Manobra nos bastidores
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), protela a sabatina de Rosa Weber para ganhar tempo e trabalhar nos bastidores pela garantia de julgamento do mérito do caso Jader. Ele pediu ao líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), relator da indicação de Rosa Weber, que adiasse a leitura de seu parecer que estava agendada para dia 23 de novembro, o que contrariou o Planalto. Semana passada, num alerta ao governo, pôs subitamente na pauta de votação a Emenda 29, que amplia os gastos em Saúde, em detrimento da Desvinculação das Receitas da União (DRU), que dá ao governo liberdade para administrar à vontade R$ 62 bilhões do Orçamento de 2012. A decisão foi interpretada inicialmente como um descuido, mas o próprio Sarney a repeliu, dizendo que na sua idade não existe tal possibilidade.
Belém/Brasília
A leitura corrente no Congresso é a de que Jader influi no TRE do Pará, que protela a expedição do diploma de Paulo Rocha, enquanto o PT impede o avanço de seu caso no STF.
Os dólares na cueca
A liderança do PT na Câmara inaugura, nesta terça-feira, uma galeria com os retratos dos ex-líderes do partido. A pajelança abre a fase de articulações para a sucessão do atual líder, Paulo Teixeira (SP). O mais cotado é o vice-líder José Guimarães (CE). Sua eventual eleição, ressuscitará o escândalo dos “dólares na cueca”: ele até hoje responde ação de improbidade por envolvimento no episódio, segundo o Ministério Público Federal. Em julho de 2005, seu assessor, José Adalberto Vieira, foi preso com R$ 209 mil numa mala e US$ 100 mil na cueca. Com recursos protelatórios, arrasta o processo há seis anos.
Fazendo água
A reforma administrativa do Senado, porta de salvação de Sarney para os escândalos da Casa tem 100% de chance de acabar em nada. Deve ser aprovada em comissão e engavetada no plenário. Ou virar um parágrafo.
Alguns já foram empossados, como os senadores João Capiberibe (PSB-PA) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). O petista Paulo Rocha (PA), terceiro colocado nas eleições do Pará, já obteve aprovação do STF e aguarda apenas expedição de diploma pelo TRE para assumir em lugar da senadora Marinor Brito (PSOL). Se assumir, leva a última das três vagas do Estado excluindo Barbalho, segundo mais votado.
O PMDB, que já perdeu dois senadores (Wilson Santiago e Gilvam Borges) para eleitos barrados pela Ficha Limpa e, posteriormente empossados, está inconformado com a perspectiva de ver Rocha assumir na frente de Barbalho. E acusa publicamente o STF de negar ao seu filiado tratamento isonômico em relação à Ficha Limpa.
O julgamento de Jader terminou empatado porque cinco dos dez ministros que compõem hoje o Supremo recusaram o recurso por imperfeição técnica, sem entrar no mérito. O novo julgamento espera pela posse da ministra Rosa Weber, indicada pelo governo e à espera de sabatina no Senado para assumir. Ela é o voto de Minerva.
O PMDB avalia que a indicação de Rosa é sintoma de que a presidente Dilma trabalha pela vitória de Rocha, fiel à causa partidária do ex-presidente Lula de fortalecer o PT no Senado, reduzindo o poder de fogo do PMDB.
Manobra nos bastidores
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), protela a sabatina de Rosa Weber para ganhar tempo e trabalhar nos bastidores pela garantia de julgamento do mérito do caso Jader. Ele pediu ao líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), relator da indicação de Rosa Weber, que adiasse a leitura de seu parecer que estava agendada para dia 23 de novembro, o que contrariou o Planalto. Semana passada, num alerta ao governo, pôs subitamente na pauta de votação a Emenda 29, que amplia os gastos em Saúde, em detrimento da Desvinculação das Receitas da União (DRU), que dá ao governo liberdade para administrar à vontade R$ 62 bilhões do Orçamento de 2012. A decisão foi interpretada inicialmente como um descuido, mas o próprio Sarney a repeliu, dizendo que na sua idade não existe tal possibilidade.
Belém/Brasília
A leitura corrente no Congresso é a de que Jader influi no TRE do Pará, que protela a expedição do diploma de Paulo Rocha, enquanto o PT impede o avanço de seu caso no STF.
Os dólares na cueca
A liderança do PT na Câmara inaugura, nesta terça-feira, uma galeria com os retratos dos ex-líderes do partido. A pajelança abre a fase de articulações para a sucessão do atual líder, Paulo Teixeira (SP). O mais cotado é o vice-líder José Guimarães (CE). Sua eventual eleição, ressuscitará o escândalo dos “dólares na cueca”: ele até hoje responde ação de improbidade por envolvimento no episódio, segundo o Ministério Público Federal. Em julho de 2005, seu assessor, José Adalberto Vieira, foi preso com R$ 209 mil numa mala e US$ 100 mil na cueca. Com recursos protelatórios, arrasta o processo há seis anos.
Fazendo água
A reforma administrativa do Senado, porta de salvação de Sarney para os escândalos da Casa tem 100% de chance de acabar em nada. Deve ser aprovada em comissão e engavetada no plenário. Ou virar um parágrafo.
Encruzilhadas mundiais - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
O Estado de S.Paulo - 04/12/11
Diante dos horrores da 2.ª Guerra Mundial, os vencedores dispuseram-se a criar a Organização das Nações Unidas (ONU) e outras instituições internacionais para impedir as grandes conflagrações e regular, dentro do possível, certas matérias de interesse geral, como o comércio, com a Organização Mundial do Comércio (OMC), os desequilíbrios financeiros globais e o socorro a países endividados, com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Outras, ainda, para promover o desenvolvimento (Banco Mundial) ou para remediar as questões básicas dos povos em matéria de saúde (Organização Mundial da Saúde) e da educação (Unesco). Embora longe do ideal, é inegável que essas organizações alcançaram algum progresso. Em pelo menos um ponto crucial a ONU foi vitoriosa: apesar da guerra fria, não se deu um choque direto entre os Estados Unidos e a União Soviética. No período pós-guerra fria tampouco se veem riscos de confronto militar entre a China e as potências ocidentais.
Acontece, entretanto, que já se passaram mais de 50 anos da formação da ONU e os fundamentos econômicos e políticos da ordem mundial se transformaram enormemente. Pelo menos quatro fatos significativos impõem uma revisão dessas instituições internacionais: o fim da União Soviética, a incrível expansão econômica da China, a reaparição do mundo islâmico na cena internacional e a emergência de novos polos de poder econômico e político no mundo (não apenas o Bric, mas a Turquia, o Irã, a África do Sul, a Coreia do Sul e outros países asiáticos). Sem esquecer que o Japão e a Alemanha, que não têm assento no Conselho de Segurança, se colocaram no topo da economia mundial.
No mundo ocidental, a transformação de maior significado foi a construção da União Europeia, por seu alcance político-civilizatório. Esse movimento unificador foi consequência do mesmo impulso que levou à formação da ONU: cansadas de guerrear, a Alemanha e a França tornaram-se o sustentáculo da Comunidade Europeia, conjunto de nações cujas relações se devem basear na solidariedade entre a Europa mais rica e a mais pobre, num arranjo supranacional que busque a paz fundamentada na prosperidade comum.
Considerados em conjunto, os acontecimentos político-econômicos pós-Guerra Mundial foram capazes de substituir a guerra pela luta por melhores posições na produção, no comércio e nas finanças mundiais. Os conflitos refluíram para o âmbito regional e muito frequentemente tiveram, depois do desabamento da União Soviética e dos ideais comunistas, mais fundamentos culturais e religiosos do que propriamente econômicos. As transformações no sistema produtivo nos últimos 40 anos, com uma série de avanços tecnológicos, permitiram uma expansão econômica à escala global sem guerras nem anexações territoriais. A atual globalização difere, portanto, da anterior expansão capitalista, denominada geralmente de imperialismo, que supunha o poder dos Estados, com exércitos, guerras e ocupações coloniais.
Que modificações advirão do quadro de poder que se vai desenhando no mundo, somado à crise financeira iniciada em 2007, e que perdura? Uma coisa parece certa: o predomínio do Ocidente vê-se contestado pela emergência de fatores econômicos, demográficos, e mesmo culturais, sinocêntricos, ou, melhor, "asiáticocêntricos". Está reaberta a rota para o Extremo Oriente. Dominique Moïsi, analista francês da cena internacional, vem insistindo nessa tese, exposta no livro A Geopolítica da Emoção. Em artigo mais recente, mostrou que a América está tentando se adaptar ao que chama de "século da Ásia", formando uma comunidade econômica com países dessa região. Alguns países emergentes, como o próprio Brasil, desde a década de 1990 se vêm aproximando da China e da Ásia em geral - em nosso caso, as relações com o Japão são mais antigas e já foram mais próximas. Países africanos, mesmo não sendo "economias emergentes", do mesmo modo se vinculam crescentemente à China como exportadores de matérias-primas, tendência seguida por vários países da América Latina.
Com as consequências econômicas da crise financeira atual, é natural que a tendência a depender da Ásia se reforce. Dela escapa a Europa, embora não tenha sido capaz de tomar decisões que interrompam a débâcle econômico-financeira. Velhas tensões voltam a incandescer os corações europeus. Berlim quer se manter na ortodoxia financeira, não aceita que o Banco Central Europeu empreste aos Tesouros nacionais, teme que os eleitores reajam negativamente a ajudar países que, ao ver deles, não souberam ser previdentes. Por isso se recusa a emitir bônus salvadores em troca de títulos das dívidas dos bancos e países europeus. É como se, de alguma maneira, voltássemos, figurativamente, à linguagem das guerras. Em alguns países europeus se deu a falência da política: enquanto os povos protestam, indignados, os "mercados" indicam e conseguem impor primeiros-ministros, tal a desmoralização dos partidos e da classe dirigente.
Neste panorama, é premente que apareçam lideranças globais do calibre das que conseguiram criar a ONU e suas diferentes organizações e daquelas que construíram a velha-nova Europa. Os governos norte-americanos já erraram muito ao não perceberem o significado do mundo árabe e islâmico e tentarem impor-lhe o seu estilo de democracia, quando eles próprios já se retorciam em dificuldades econômicas e políticas. O mundo todo paga o preço da expansão do terrorismo e da quase impossibilidade de manter unidas comunidades religiosas, culturais e nacionais diversas sob o domínio de um mesmo Estado. Caiu o Iraque, mas a paz não veio. O Afeganistão padece entre a corrupção e os senhores da guerra e do ópio. Na Líbia, uma intervenção que tinha propósitos humanitários percorreu o caminho das atrocidades. E por aí vamos, sem mencionar as áreas mais quentes, como Palestina/Israel, Irã ou Paquistão.
Com realismo, mas sem perder de vista os ideais universais desenhados em 1948, é urgente que as potências dominantes reconheçam as novas realidades e convidem à mesa os que têm vez e voz no mundo. Tomara que Dominique Moïsi tenha razão e a liderança americana esteja mesmo construindo as bases para um relacionamento estável, de paz, prosperidade e respeito aos direitos humanos, com a Ásia, sem ambicionar difundir sua ideologia política, muito menos aceitar a generalização do modelo chinês.