terça-feira, setembro 27, 2011

PAULO CÉSAR DE OLIVEIRA - Lula quer poder absoluto


Lula quer poder absoluto
PAULO CÉSAR DE OLIVEIRA
JORNAL DE BRASILIA - 27/09/11


Bem ao contrário do que muitos pensam, a busca do poder é sim uma atividade nobre em política. Desde, claro, que o objetivo também seja nobre, ou seja, de chegar ao poder para, nele, implantar um modelo de administração sustentado pelo pensamento político de um determinado grupo. O poder pelo poder, a busca do poder como forma de satisfação pessoal em nada ajuda o País.

Vencer, com o objetivo de demonstrar prestígio pessoal, tem como consequência a radicalização política. Esta, ao que parece, é a situação da sucessão na cidade de São Paulo.

Lula tomou para si o desafio de fazer o seu PT, com o candidato que escolheu, chegar novamente à prefeitura paulistana onde já esteve duas vezes, com Luiza Erundina e Marta Suplicy. A justificativa é a necessidade de se quebrar a hegemonia "tucana" na cidade, preparando o caminho para as eleições de 2014.

Esta é a explicação pública para uma questão de natureza pessoal. Tanto que Lula decidiu pelo, aparentemente, caminho mais longo. Despreza a candidatura Marta para impor Fernando Haddad, alguém que, como Dilma, nunca disputou eleições. Com a agravante de que Haddad, como ministro da Educação, esteve na vitrine muito mais pela incompetência de realizar um Enem e pelas polêmicas dos livros didáticos de conteúdo duvidosos.

Vencer com um candidato assim seria a consagração de quem, historicamente, teve a rejeição da população paulistana.

Lula, parece, quer mais é vencer a sociedade, impondo a candidatura de um neófito numa situação que em nada se assemelha à candidatura de Dilma. A presidente, mesmo fazendo sua estreia nas urnas, tinha um passado de militância política e construiu um conceito de boa administradora. Era, portanto, uma candidatura mais leve, que em alguns momentos caminhou sem a muleta de Lula embora, não se possa negar, tenha sido eleita pelo prestígio dele.

Mas, se elegeu Dilma, ele não pode se esquecer de que legou a ela situações, políticas e econômicas, muito complicadas.

São da cota dele todos os ministros que caíram, inclusive Nelson Jobim, o único que não saiu por corrupção, mas que deixou o cargo sinalizando sérias divergências políticas com o grupo político da presidente. Na economia deixou um descontrole nos gastos públicos que ficam mais evidentes na medida em que a nova crise - ou seria o prolongamento da velha - recrudesce Radicalizar a disputa em nada contribui.

Dilma, diga-se, tem se mostrado mais madura do que Lula. Seus movimentos buscam manter um diálogo de alto nível com o que de melhor existe na oposição. Com isto busca se proteger do que há de pior em sua base, caso as dificuldades aumentem com a crise. Lula precisa entender a necessidade de se preservar. Sua liderança no país, e não apenas sobre determinadas camadas sociais, pode ser fundamental no caso de um anunciado agravamento da crise mundial. Não se trata de pedir que abra mão das disputas eleitorais. Que seu partido entregue prefeituras, que não se esforce no embate com seus adversários. Não é isto. Pede-se apenas que ele desça do palanque agora e suba no momento certo.

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