quarta-feira, agosto 24, 2011

DENISE ROTHENBURG - Choque de gerações


Choque de gerações
DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 24/08/2011

Volta e meia, a política tem estremecimentos entre aqueles que insistem em continuar na crista da onda e aqueles que, recém-chegados ou com alguns anos na "fila", cansam de esperar pacientemente por um lugar no primeiro escalão. É o que ocorre hoje no PMDB.

A turma que mora na cobertura insiste em permanecer onde está e não cede um milímetro de seu espaço ou projetos futuros. Henrique Eduardo Alves, um dos deputados mais antigos, exerce a liderança do PMDB há cinco anos e sonha em ser presidente da Câmara. Não esconde isso de ninguém. E tem se aproximado daqueles que melhor podem ajudá-lo nesse projeto.

No Senado, o líder Renan Calheiros (AL), outro que está por ali há tempos, tem o mesmo plano: presidir do Senado. Romero Jucá (RR), líder do governo desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso, também não deseja abrir mão da ribalta. Nesse grupo, o presidente do Senado, José Sarney (AP), foi o único peemedebista até agora a dizer que este é seu último mandato.

Depois de mais de uma década com esse grupo no comando, começa a surgir um andar intermediário, que insiste em ocupar parte da cobertura do edifício PMDB. No Senado, oito parlamentares brigam por um lugar no conjunto de suítes privativas de Sarney, Renan, Jucá e Valdir Raupp (RO). Querem redecorar a Casa com um programa de governo. Na Câmara, surgiu o Movimento dos 35, com muitos deputados novos, cheios de vontade de trabalhar e de balançar o coreto do vice-presidente da República, Michel Temer, de Henrique Alves e de Eduardo Cunha — o deputado do Rio de Janeiro que levou Anthony Garotinho para o PMDB no passado e de quem o líder se aproximou. O objetivo é muito semelhante ao do grupo de senadores, ou seja, refrigerar o PMDB.

Essa turma nova quer espaço num clube onde hoje só entra quem diz amém aos comandantes. Três ministros — Pedro Novais, Garibaldi Alves e Moreira Franco — são ligados à cúpula do partido e não foram escolhidos pelas bancadas. Mendes Ribeiro, empossado na Agricultura, é daqueles que ganhou ingresso nesse clube agora e conseguiu mais por ser amigo de Dilma Rousseff do que por fazer juras de fidelidade aos generais. Na Câmara, Rose de Freitas virou vice-presidente mais por um gesto de apreço à igualdade de gênero defendida por Dilma, algo que o PMDB raramente exerceu.

Mendes já foi preterido no passado para dar lugar a Eduardo Cunha. Na Legislatura passada, o deputado fluminense presidiu a Comissão de Constituição e Justiça, quando o nome da fila era o de Mendes Ribeiro. Depois, Mendes, mais uma vez, perdeu a indicação para um menino novo do PMDB do Rio de Janeiro, Leonardo Picciani.

Os tenentes do PMDB aguentaram ver um soldado raso como Picciani assumir a CCJ, algo que chegou a arrancar protestos em outros partidos. Mas, agora, Eduardo Cunha relatar o Código de Processo Civil (CPC), que muitos pretendiam ver nas mãos de um jurista, foi demais. Essa indicação fez com que um grupo do PMDB passasse a chutar com mais força a porta de Henrique Eduardo Alves, pedindo a troca do relator e outras mudanças, inclusive o ministro do Turismo.

Embora sejam poucos os que vão ao líder expor o que pensam abertamente — caso de Rose de Freitas —, os que criticam nos bastidores são muitos. E, por mais que Alves se esforce em dizer que não tem nada demais fazer de Eduardo Cunha relator do CPC, ao sugerir quatro relatores adjuntos, passa a impressão de que colocou algumas "babás" para tomar conta do relator-geral. Ele alegou ainda que Cunha foi escolhido porque pediu primeiro. Ora, por esse raciocínio, se Tiririca tivesse pedido para ser relator e fosse do PMDB, então ele seria o indicado.

Essa operação não soou bem para a pré-candidatura de Alves à Presidência da Câmara, uma vez que há parlamentares espalhando nos bastidores alegando que quem não sabe ouvir o clamor da sociedade não pode presidir a Casa do povo. Referiam-se aos protestos da OAB e entidades do Ministério Público reclamando contra um relator não jurista para o CPC e a insistência do líder em mantê-lo.

Pode-se dizer, sem medo de errar, que Renan Calheiros e Alves estão hoje numa encruzilhada. Ou cedem espaço aos tenentes do PMDB, ou podem ver comprometidos seus projetos futuros. Nunca é demais lembrar que um pode atrapalhar o outro. Afinal, se Alves presidir a Câmara, o PT dificilmente permitirá Renan comandando o Senado. Talvez não seja por acaso a presença de Renan Filho no grupo dos deputados rebeldes do PMDB, fazendo coro às cobranças ao líder. Quanto mais enfraquecida a pré-candidatura de Alves, mais forte pode ficar Renan. Essa novela está apenas começando. Novos capítulos virão com reflexos no governo, no Congresso e nas eleições de 2012. É só esperar para ver.

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