quarta-feira, maio 11, 2011

ROGÉRIO MORI - Inflação e desindexação


Inflação e desindexação 
ROGÉRIO MORI
BRASIL ECONÔMICO - 11/05/11

Recentemente ressurgiu o debate sobre a necessidade de novos avanços em torno da desindexação da economia brasileira. De fato, pouco se avançou nesse sentido nos últimos anos.
Sob essa perspectiva, vale lembrar que até o sucesso da estabilização da inflação em patamar baixo, a partir da implementação do Plano Real em 1994, a economia brasileira era altamente indexada. Isso era um claro reflexo do período de inflação alta com o qual o país conviveu ao longo de décadas, quando o sistema criou dispositivos automáticos de reajustes de preços e salários pela inflação passada.Os dispositivos contribuíampara retroalimentar o processo inflacionário e, conjugados com os equívocos econômicos do passado, tornavam inúteis a utilização de instrumentos convencionais de política econômica para controlar a inflação. Os programas de estabilização da década de 1980 e do início da década seguinte não conseguiram lidar de forma adequada com a problemática da indexação, o que contribuiu para que estes fracassassem e a inflação voltasse com mais vigor. O Plano Real e suas medidas complementares foram relativamente bem-sucedidos em lidar com a indexação, não permitindo reajustes nos contratos comperiodicidade inferior a 12 meses.
No entanto, passados mais de 15 anos, ainda persistem resquícios do período de inflação alta na nossa economia. Inúmeros contratos possuem dispositivos de reajuste automático pela inflação passada, ainda que emperiodicidade anual. Esse tipo de instrumento só temsentido se os agentes não confiarem inteiramente na manutenção da inflação em patamar baixo e desejarem uma espécie de defesa automática contra a aceleração da inflação. Do ponto de vista econômico, porém, a existência de algum grau de indexação na nossa economia impõe um esforço maior do governo no sentido de trazer a inflação a um patamar mais baixo. Nesse contexto, a indexação promove uma espécie de rigidez da inflação, uma vez que uma parcela significativa dos preços e contratos são reajustados pela inflação passada. Fica claro, nesse sentido, que para se reduzir o patamar inflacionário, os preços dos itens não sujeitos à indexação devem variar a um nível mais baixo em relação à inflação passada. Nessa lógica, a comparação relativa com um ambiente econômico onde a indexação não está presente é digna de nota. Na ausência de indexação, o comportamento dos preços reflete de maneira mais clara as condições do mercado (oferta e demanda). Isso significa que, caso o Banco Central deseje derrubar a inflação, uma política monetária contracionista tem efeito sobre o conjunto de preços da economia e não apenas sobre aqueles não indexados (ou conhecidos como livres). Em outras palavras, na ausência de indexação, a tendência é que a inflação caia mais rapidamente e que a políticamonetária não tenha que ser tão contracionista para reduzir o ritmo de alta dos preços (ou pelomenos não por umprazo tão prolongado). O governo reintroduziu o tema da desindexação nas últimas semanas e se move na direção correta. A questão, nesse sentido, é saber se o ressurgimento desse tema é oportuno em um momento em que a inflação medida pelo IPCA em12 meses superou o limite superior dameta estabelecida.

Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas

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