quarta-feira, maio 11, 2011

ALON FEUERWERKE - A base, empoderada


A base, empoderada
ALON FEUERWERKER 
CORREIO BRAZILIENSE - 11/05/11

Os assim chamados ruralistas aprenderam nas últimas duas décadas a não se deixar isolar facilmente. O resultado está aí. Não dá para dizer, por exemplo, que PSB e PCdoB sejam siglas "ruralistas", signifique o que significar a expressão

O debate em torno do Código Florestal traz algumas lições. Uma delas é direta. Deve-se olhar com cautela quando a coisa no Congresso Nacional parece muito acirrada. Pois é possível que as diferenças no mérito não sejam tão diferentes assim, que o ambiente de polarização se deva mais a dificuldades políticas.
Nesta reta decisiva, a tensão no Código Florestal convergiu para pequenos detalhes, facilmente resolvíveis num ambiente de boa vontade. Detalhes importantes, mas localizados e suscetíveis de adaptação para o entendimento. O papel de atrapalhar restou para a política, e aí a coisa pega. Mesmo atravessando as turbulências na Câmara dos Deputados, restará ainda o Senado.
E nunca é inteligente subestimar o Senado, que pode trazer problemas para o governo em três situações. Quando a oposição está forte. Quando há equilíbrio e quando a base governista está forte. Ou seja, sempre.
Do ângulo da sociedade, o que interessa são as consequências da decisão. Mas para os políticos, para quem adotou um lado e identificou-se em público com ele, é preciso sair politicamente vitorioso. Ou pelo menos não derrotado.
No processo legislativo da mudança do Código Florestal, o governo deixou-se colher numa armadilha. Para usar uma expressão do universo cultural petista, empoderou a base parlamentar. Sem necessidade. É possível que no fim das contas a base aceite ser publicamente "conduzida" pelo governo, mas vai ser jogo de cena. O jogo em Brasília é sempre combinado. Combina-se principalmente quem vai aparecer como tendo vencido, e como tendo perdido. Desde que, naturalmente, todos ganhem.
Por descuido ou fatalidade, o PT acabou isolado, e precisou recorrer ao governo. O PT é o partido líder do governo, o partido da presidente da República. Não pode ser derrotado. Mas está isolado. Mais ou menos como os rebeldes de Bengazi, antes dos bombardeios da Otan. A diferença é que o governo do PT não tem a opção de se livrar da base, coisa que a aliança franco-anglo-americana anuncia fazer com Muamar Kadafi no menor tempo possível.
O isolamento do PT nos debates do Código Florestal decorre de um método. Que, como todo bom método, costuma dar certo até o dia em que dá errado. O método do PT é debater intramuros no partido e no governo, fechar uma posição e exigir a partir daí a fidelidade da base parlamentar. No máximo, abre-se algum espaço para a participação de organizações sociais, quando simpáticas ao PT. Ou às teses do PT.
O PT não enxerga a base parlamentar como expressão legítima de interesses sociais heterogêneos, e portanto como interlocutor essencial na busca de consensos, ou pelo menos posições majoritárias. É um bom método pois aumenta o poder da legenda. Até o dia em que ela se descobre cercada. Como agora no debate do Código Florestal.
Pois os assim chamados ruralistas aprenderam nas últimas duas décadas a não se deixar isolar facilmente. O resultado está aí. Não dá para dizer, por exemplo, que PSB e PCdoB sejam siglas "ruralistas", signifique o que significar a expressão.

Dilogo
A presidente da República tem o hábito de não se expor em excesso, e está no direito dela. Mas não é habitual esta impressão de alheamento. A palavra e a presença de quem comanda são importantes. Pode ser que as pesquisas digam o contrário, vai saber. Mas pesquisas não são tudo. Quem se torna escravo de pesquisas para de raciocinar. Quando o eleitor escolhe um presidente da República não escolhe só um gerente. Escolhe um líder. Cuja palavra serve de referência, de baliza. E que precisa, na democracia, ter alguma disposição para o diálogo.

Escolha
Só se fala na eleição para prefeito de São Paulo. Será um jogo de xadrez complexo. Em toda eleição os jogadores se movimentam não apenas com o objetivo de eleger alguém. Tão importante quanto é saber quem vão derrotar. Às vezes, como no caso da Prefeitura de São Paulo, pode até ser mais importante.

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