segunda-feira, abril 11, 2011

PAULO - GUEDES - O fascismo do bem


O fascismo do bem 
PAULO GUEDES

O GLOBO - 11/04/11

O jornalista Ricardo Noblat trouxe à superfície algumas pérolas de nossas práticas democráticas em sua coluna "O fascismo do bem", no GLOBO da segunda-feira passada. Em defesa da tolerância com as opiniões antagônicas, e também com a própria intolerância de seus antagonistas, Noblat faz uma impecável defesa do verdadeiro sentido da liberdade e da democracia.

E, a propósito dos linchadores do "bem", da patrulha dos "progressistas" e do "politicamente correto", comparando opiniões preconceituosas e intolerantes tanto de Lula quanto de Bolsonaro, denuncia Noblat: "Assim estamos: não importa o que se pensa, o que se diz e o que se faz, mas quem pensa, quem diz e quem faz. Décadas de ditaduras e governos autoritários atrasaram o enraizamento de uma genuína cultura de liberdade e democracia entre nós."

Concordo e dou um passo adiante. Regimes autoritários deformam e embrutecem até mesmo seus opositores. Moldam seus antagonistas, que se tornam também intolerantes. Com isso, perdem-se as nuances e a riqueza trazidas pela diversidade de opiniões, típicas das democracias liberais. Substituídas por simplificações grosseiras e obsoletas, como "esquerda e direita", rótulos cada vez menos adequados para a compreensão dos fenômenos sociais.

O "fascismo do bem" explica nossa tolerância com Fidel, Chávez, Ahmadinejad e até recentemente Kadafi. Pois ousaram todos enfrentar o Grande Satã de nossas elites de "esquerda". É, portanto, um extraordinário avanço promovido por Dilma Rousseff o realinhamento de nossa política externa com os princípios dos direitos humanos. Afinal, temos de ajudar nossos "amigos" a mudar em busca de um futuro melhor.

Noblat sugere também revermos nossa "capacidade seletiva de tolerância". "Exercitamos nossa intolerância contra quem pensa e diz coisas execráveis. No entanto, em nome da liberdade e da democracia, somos um dos povos mais tolerantes com ladrões e corruptos." Collor teria sofrido um impeachment se fosse de "esquerda"? Ou se fosse um político "convencional", mais "experiente" e "conciliador"? E mensalão de "esquerda", é do "bem"?

A cena política brasileira é patética. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que conheci como jovem auxiliar do candidato "liberal-democrata" Guilherme Afif Domingos às primeiras eleições presidenciais diretas, em 1989, acaba de fundar mais um partido "social-democrata"! A plataforma do Noblat é melhor. 

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