terça-feira, abril 12, 2011

LUIZ GARCIA - Caminhos


Caminhos 
LUIZ GARCIA

GOLBO - 12/04/11

Se o criminoso morreu no local do crime, podemos dizer que, fora chorar os mortos, nada mais é necessário fazer? O horrível episódio se encerra, com grande tristeza e nenhuma providência? Nenhuma dívida com o futuro?
Assim parece ser, pelo que lemos e ouvimos. Mas não está certo, nem é prudente. Pode-se dizer, com resignada tristeza, que a loucura de uns poucos sempre será inevitável. Que estaremos, aqui como em outras sociedades, sempre vulneráveis à violência súbita, sem qualquer causa identificada, de cidadãos aparentemente pacatos e conformados.
Como acontece, por exemplo, nos Estados Unidos. Lá, razões históricas, associadas à história da independência do país, agravam o problema. O direito a posse e porte de armas individuais está determinado na Bill of Rights, um adendo à Constituição que especifica condições e limites para a subordinação dos cidadãos ao poder do Estado.
O que produz, na opinião de muitos, contestada por outros tantos, a facilidade com que, de tempos em tempos, uns cidadãos - quase sempre, jovens sem passado criminoso, ninguém ainda explicou direito por que - saiam de casa para fuzilar o maior número possível de pessoas e morrer em seguida.
Se acontece no país mais rico do mundo - onde, por isso mesmo, espera-se ingenuamente que as pessoas sejam mais equilibradas - por que não aqui? Pode-se usar o argumento banalíssimo de que riqueza não é garantia de felicidade.
Mas o que interessa mesmo talvez seja reconhecer honestamente que a sociedade moderna, em qualquer lugar, não dispõe de instrumentos para se proteger da loucura inesperada. Com o adendo comodista de que ela se manifesta tão raramente que não vale a pena enfrentar esse problema agora. Adiante, com mais calma, a gente trata disso, não é mesmo?
Na verdade, não é mesmo, não. A tragédia da semana passada no Rio merece mais do que tristeza e indignação: merece respeito. Se não é possível, aqui como em qualquer país, identificar o potencial psicótico de alguns cidadãos, vale a pena reabrir a discussão sobre a posse e o porte de armas. Se não há como acabar com o seu comércio, sempre é possível regulamentá-lo e limitá-lo severamente, além dos limites legais que existem hoje.
Para começo de conversa, vale um esforço para descobrir como o revólver do crime chegou às mãos do assassino louco de terça-feira passada. Ele deve ter um número de registro indelevelmente gravado. Pode ser o ponto de partida para reconstituir a sua história e, quem sabe, ensinar-nos a tornar mais severo e eficaz o controle sobre o comércio de armas no país.
Não será a primeira vez que tragédias nos mostrarão melhores caminhos para tornar a nossa sociedade um pouco menos vulnerável à violência. 

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