quinta-feira, março 24, 2011

CELSO MING

Reservas, pra que te quero
CELSO MING

O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/03/11

Em seu depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tropeçou várias vezes na lógica ao defender a expansão das reservas externas, hoje de US$ 316,3 bilhões.
Tombini reconhece que "não existe na literatura (econômica) e na experiência internacional algo como nível ótimo de reservas". Mas as justifica, em primeiro lugar, como "colchão de segurança" contra crises.
Mas, se, em 2008, reservas de US$ 205 bilhões foram suficientes para enfrentar a maior crise desde os anos 30, é preciso encontrar outra justificativa não só para os níveis atuais, mas para que continuem aumentando.
Em seguida, argumenta que "o fluxo de capitais para o Brasil é mais intenso, em ambas as direções". E, com base nesse novo dado, avisa que "a perspectiva é de que o volume de reservas internacionais continue crescendo".
Não faz muito sentido. O fluxo de capitais ficou mais intenso para quase todos os países do mundo e, no entanto, poucos deles se sentem obrigados a amontoar reservas. Se a tendência é entrar mais capitais do que saem, como no Brasil, menos necessidade há - e não mais - de se fazer reservas, como parece sugerir Tombini.
Nenhum dos emergentes citados faz reservas por segurança, mas por terem de aplicar sua enorme sobra de dólares em conta corrente. O Brasil tem 15% do PIB em reservas, enquanto a China tem 49%; Hong Kong, 116%; e Cingapura, 105% (Veja o Confira). A partir daí, Tombini conclui que as reservas brasileiras têm de crescer para níveis equivalentes aos desses emergentes. Não faz sentido.
Um bom motivo para isso seria o de reduzir lá fora a percepção de risco. No entanto, o documento de Stephen Cecchetti, citado por Tombini, mostra que toda a zona do euro, atolada em dívidas como está, não detém mais do que 2% do seu PIB em reservas e não vê motivo especial para entrar nesse jogo.
O volume global de reservas externas em 2009 não passava de US$ 8,1 trilhões, ou seja, 15% do PIB do mundo. Reservas são títulos de dívida de outros países. Para que alguns ostentem montanhas de reservas, como o Brasil, outros têm de se afundar em dívidas. Nessas condições, o calote poderia ser inevitável e o risco passaria a ser de quem detivesse essas reservas.
Uma das propostas em estudo no G-20 para acabar com os enormes desequilíbrios da economia global é limitar o crescimento das reservas onde existem. Para os defensores dessa proposta, as reservas dos países emergentes têm de parar por aí, já que os ricos, com exceção do Japão (que detém 20% do PIB), as dispensam.
Tombini também argumenta que um bom nível de reservas reduz os prêmios de risco, ou seja, o custo do endividamento externo. Corretíssimo. O alto nível de reservas foi o argumento decisivo que garantiu o grau de investimento para o Brasil em 2007.
Tombini seria mais sincero se reconhecesse de uma vez duas coisas: (1) que o carregamento de reservas custa o olho da cara (mais de R$ 50 bilhões por ano, o equivalente aos cortes orçamentários anunciados pelo governo) e que essa despesa, por si só, deveria ser fator limitador do seu crescimento. E (2) que, hoje, a única razão pela qual o Banco Central amontoa reservas é evitar uma ainda maior valorização do real. Só que tem uma coisa: reservas atraem ainda mais dólares e a sua entrada em profusão (como agora) produz a indesejada valorização do real.

Investimento especulativo?
O governo suspeita de que certos investimentos estrangeiros entram apenas para ganhar com os juros altos pagos no Brasil. O problema é que controlar esse capital aumentaria o risco de faltar investimentos quando o País mais precisa deles. 

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