sábado, dezembro 18, 2010

MARIO CESAR FLORES

Governo por cotas
Mário Cesar Flores 


O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/12/10
A formação da maioria de apoio aos governos federal e estaduais no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas, necessária à governabilidade tranquila, é um calcanhar de Aquiles do regime democrático instituído em 1988. Para construí-la os governos dependem de ene partidos, que podem complicar a governabilidade se não forem atendidos em suas pretensões de participação no poder.
A razão é simples: esse esquema viciado é facilitado pelo fato de que a construção da maioria se resume à barganha de cargos, não se estende à conciliação de divergências conceituais entre governos e partidos, que praticamente inexistem, ao menos com força consistente.
Os atores políticos da democracia brasileira distribuem-se em quase 30 partidos, ideológica, doutrinária e programaticamente semiamorfos - salvo num ou noutro tema tópico -, até porque é inviável a existência de tantas ideologias, doutrinas e programas, com concepções, objetivos, prioridades e metodologia distintos (evidentemente, não se trata aqui de distinções radicais à Marx ou Hayek, mas de variações intermediárias que tampouco podem existir às dezenas com autenticidade). Alguns são praticamente guarda-chuvas de legenda e para eles é natural que os programas sejam secundários ou irrelevantes. Mesmo os que se pretendem consistentes comumente ajustam a suposta consistência, em geral mais retórica do que efetiva realidade, aos conluios da conveniência conjuntural da participação na partilha do poder, condicionante do apoio à governabilidade.
Em suma, nossos partidos são agrupamentos sem cuidados rigorosos quanto à coerência ideológico-programática. Partidos que, em vez de sistematizarem perspectivas, interesses e valores de setores da sociedade - o que é inerente à democracia -, sujeitando filiação e candidatura à concordância com suas ideias básicas, acolhem descompromissadamente quem possa carrear votos ou recursos com vista à ascensão ao poder e seu usufruto, nem sempre rigorosamente ético - comumente, o verdadeiro projeto partidário, hierarquizado acima das ideias, quando existem...
O funcionamento do sistema mais parece um jogo pautado pelo oportunismo conjuntural, em que valores de natureza programática e ideológica ou doutrinária pesam pouco, se tanto. A filiação do presidente da Fiesp ao Partido Socialista Brasileiro (nome de passado respeitável) e sua candidatura por esse partido são emblemáticas: ou o partido nada tem de socialista ou a Fiesp, órgão maior do capitalismo industrial brasileiro, era presidida por socialista...! Em cenário assim caracterizado, é compreensível a tendência à cooptação dos conluios da participação no poder.
O processo dessa cooptação tem ensejado situações e atuações nocivas à credibilidade da virtude da democracia, bem refletidas em manifestações desse jaez, publicadas à época, na mídia - "como aliado importante do governo, o senador xis precisa ter mais do que um carguinho na direção dos Correios..."- e, na reforma da administração de março de 2005, prócer de partido expressivo no apoio ao governo declarou que seu partido queria "coisa mais recheada" - demonstração explícita de que o apoio devia ter, por contrapartida, presença compensadora no poder; dada a expressão usada, presença de, no mínimo, discutível conteúdo ético.
Houve também, na mesma época, a afirmação de que bastaria o presidente dizer qual seria o Ministério alocado ao partido que, em 30 minutos (!), o partido diria o nome do ministro.
Insere-se nessa psicodélica montagem de sustentação da governabilidade a criação de Ministérios, inexpressivos e até mesmo sem sentido objetivo concreto, com justa razão menoscabados pela mídia e pelo povo (poucos brasileiros saberão o nome e as atribuições de boa parte dos 30 e tantos Ministérios). Criam-se Ministérios (com seus custos decorrentes) mais para atender aos partidos e políticos da coalizão governamental do que porque o País realmente precise deles!
As declarações de líderes partidários de que essa ou aquela escolha pessoal (do presidente ou governador) de correligionário seu para cargo de relevância no governo não seria da "cota do partido", e sim da "cota pessoal" do presidente ou governador, são consonantes com a lógica do butim-conluio fisiológico descomprometido com a competência objetiva, mas opostas à lógica presidencialista, que confere ao presidente (aos governadores) a responsabilidade pela escolha. O povo elegeu o presidente e o governador para governá-lo, não elegeu um governo por cotas: é, portanto, dele(s) a cota integral, embora possa(m) e deva(m) ouvir correntes políticas! O nível deprimente a que chegou esse problema no pós-eleição de 2010 descredibiliza nossa democracia, compromete o desempenho futuro do(s) governo(s) e é uma indicação de política de qualidade precária.
No cenário político atual é praticamente inexorável ser a construção do apoio congressual marcada pela cooptação - construção potencialmente comprometedora da condução política e administrativa porque vem sendo marcada mais pela surrealista distribuição de cargos pelo critério das cotas do que pela competência e pelo mérito avalizados pelo titular eleito, que não são requisitos fundamentais (na verdade, na dinâmica do processo, todos os possíveis postulantes partidários seriam ecleticamente aptos para quaisquer cargos...).
Vivemos à mercê de coalizões cuja segurança depende menos (ou nada...) da conciliação entre concepções díspares (improváveis, na homogeneidade do vazio ideológico e programático dos partidos) e mais do sucesso na disputa pela participação no poder. Vale repetir aqui frase recente de líder partidário, que exala fisiologia aética e reflete essa realidade: "... a gente vale quanto pesa..." (na sustentação da governabilidade). E o preço do "quanto pesa" tem de ser pago, por qualquer governo, enquanto mantida a sistemática política vigente.
ALMIRANTE DE ESQUADRA REFORMADO

RUTH DE AQUINO

A mente de nossos filhos
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA
Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
“Uma refeição por dia em família pode diminuir em até 80% o consumo de drogas entre os filhos – e também ajuda a combater a violência na rua, na escola e em casa.” A afirmação é do psiquiatra infantil Fábio Barbirato, autor do livro A mente do seu filho. Se as crianças aprendem por imitação, que modelos nós, os pais e mães modernos do século XXI, fornecemos em casa? O que ensinamos a nossos filhos? Temos tempo de transmitir algum valor ou de escutá-los?
Nunca foi fácil educar. A fronteira entre a autoridade e a compreensão é um aprendizado. Impor regras pode descambar para a repressão, a violência verbal, moral e física. Ser amigo pode descambar para a condescendência, a tolerância excessiva, a falta de limites. Qualquer dos extremos ajuda a formar crianças e adolescentes desequilibrados, inseguros, arrogantes e antissociais. Jovens batem nos colegas da escola, matam a pauladas torcedores de times de futebol adversários, espancam prostitutas, agridem homossexuais com lâmpadas fluorescentes, incendeiam mendigos, suicidam-se no trânsito. Ou mergulham em drogas que incapacitam para sempre, como o crack. “Infelizmente, de duas décadas para cá, os pais, para tentar se aproximar dos filhos, resolveram se tornar amiguinhos. Saem para a noite com os filhos, sentam em uma mesa de bar e bebem todas com eles”, diz Barbirato. Mães se vestem e falam como se tivessem a idade das filhas.
Você é daqueles que ensinam a seu filho que só os fortes sobrevivem? Quando seu filho é irresponsável, você suborna o policial que o flagrou? Minimiza e diz “Tadinho dele, não queria fazer aquilo”, ou pior, “Os outros mereciam mesmo”? Ser amigo é uma coisa. Ser cúmplice é outra. O bullying é apenas uma expressão de violência juvenil. O nome vem de bully, algo como valentão, na tradução do inglês. Nos episódios de bullying, há sempre um desequilíbrio de poder, que pode ter começado em casa, com a sensação de impunidade.
Por que dar um carro superpotente a alguém que acaba de fazer 18 anos? Sua prudência ainda está se desenvolvendo, diz Barbirato. “O menino pensa: meu pai bebe um pouquinho quando saímos e dirige – por que eu também não posso beber um pouquinho, como ele?” Nos anos 60, o jovem buscava nas drogas ilícitas algo para transcender. Hoje, sem causa ou ideologia, o jovem quer é ficar doidão para reduzir a ansiedade ou a melancolia, e por isso submerge no crack. É a crença da onipotência. E ele não consegue mais sair.
Se as crianças aprendem por imitação, que modelo os pais e mães modernos fornecem em casa?
Culpar o aumento de divórcios é uma saída simplista e preconceituosa. “Não são as separações amigáveis que concorrem para a violência. Falo sempre dos filhos daqueles casais que não sabem mais conversar, numa casa onde tudo acontece aos berros ou agressões. Atribuir a culpa à mãe que hoje precisa trabalhar fora é outra visão ultrapassada e machista demais.” Construir um senso de família vai além. Para educar, é preciso ter educação.
Já se tornou clichê valorizar a qualidade, e não a quantidade, de tempo com os filhos. Não há base estritamente científica para se afirmar que uma refeição por dia em família contribua para reduzir o desajuste dos filhos. Mas tendo a concordar com Barbirato. O convívio perdido à mesa é irreparável.
Sou mãe de dois filhos, separada, e lembro quando o mais velho, aos 18 anos, reclamou abertamente: “Mãe, nós não fazemos juntos nenhuma refeição por dia durante a semana”. Isso foi há uma década. Tive sorte, porque ele me chamou a atenção e porque desejava a minha companhia. Antecipei a hora de chegar do trabalho para poder jantar com os dois. É um momento para conversar sobre o dia. Confidências emergem. O diálogo se mantém olho no olho, e não por SMS ou e-mail. Temas polêmicos são discutidos. É hora de falar de valores, compartilhar verdades, mesmo incômodas. De preferência, com o celular desligado! Sem tuitar, sem dispersar. A indiferença com o outro me parece hoje um grande desagregador familiar. O vício da conexão nos desconecta uns dos outros dentro do que um dia se chamou de lar.
Em 2011, jante ou almoce com seus filhos em casa – e não só aos domingos.

MÔNICA BERGAMO

SILVIO SANTOS MANDA URSO E CARTA A SANDOVAL 
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/10

No mesmo dia em que a Polícia Federal invadia a sua casa numa operação de busca e apreensão, Luiz Sandoval, que deixou a presidência do Grupo Silvio Santos na esteira do escândalo do rombo do banco PanAmericano, recebeu do ex-patrão, na quinta, um presente de Natal que o deixou "de alma lavada". 
Silvio Santos enviou a ele um urso de pelúcia cheio de suvenires e guloseimas dentro. E um cartão repleto de elogios. "Veja o que ele diz da minha competência..." O apresentador define o ex-auxiliar como brilhante e eficiente. "E ainda diz "conte sempre com esse amigo e admirador agradecido". Depois dessa confusão toda, quer carta de referência melhor do que essa?", diz Sandoval. 
No cartão, Silvio confirma o que muitos suspeitavam: o grupo terá "o seu tamanho muito diminuído". Sandoval afirma que se posicionou contra a decisão de Silvio de enxugar os negócios e que essa foi a razão de seu desligamento da holding. 
Ele começou a escrever um livro sobre administração de empresas em que conta histórias dos 40 anos em que trabalhou com Silvio. Quer terminar a obra em "três ou quatro meses" e só então pensará em procurar um novo emprego. 
Anteontem, Sandoval procurou "informalmente" o delegado da Polícia Federal que investiga eventuais desvios no PanAmericano. Ele era presidente do conselho do banco na época do rombo. Diz que "estão misturando joio com trigo" e que disse aos policiais que conselheiros "não descem aos detalhes da contabilidade e aprovam os números baseados em auditorias". Ele afirma que o homem de sua confiança na instituição era Wilson de Aro, ex-diretor financeiro do banco. "Mas ele se deixou levar", diz.

RECOMPENSA 
A modelo Gianne Albertoni foi mestre de cerimônia da entrega do "Cool Awards", premiação da revista "Cool Magazine", no hotel Unique. A top Izabel Goulart foi a venceu na categoria Melhor Modelo.

PRESTÍSSIMO 
A quatro dias de encerrar o prazo para as assinaturas da temporada de 2011, a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) batia ontem seu recorde: 10.985 pessoas já tinham garantido seus ingressos para o próximo ano, contra 10.897 de 2010. A expectativa é que, até segunda, o número de assinantes ultrapasse a marca de 11 mil. 

O ADEUS 
E hoje a Osesp faz concerto em homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que deixa o conselho da orquestra em junho. 

ESTAÇÃO MORUMBI 
Uma ala do PSDB trabalhava até ontem para que o governador Alberto Goldman assumisse a presidência do Metrô de SP em 2011. 

SONHO MEU 
Já a expectativa no PPS era de que o deputado estadual Davi Zaia, da cota do partido, fosse oficializado como secretário do Trabalho. O nome de Airton Sandoval (PMDB) circulava para a Agricultura. 

NA CONTA 
A UNE acaba de receber em sua conta corrente R$ 30 milhões como indenização pela destruição de seu prédio em 1964, no período da ditadura militar. É a primeira reparação coletiva concedida pelo Estado brasileiro. O presidente Lula desembarca no Rio de Janeiro na segunda-feira para o ato simbólico de inauguração da pedra fundamental da reconstrução do prédio, no aterro do Flamengo. O projeto foi doado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. 

QUEM TEM FAMA 
Depois de jantar na lanchonete Frevinho da rua Oscar Freire, em São Paulo, há alguns dias, Dan Stulbach ouviu de uma mulher que estava em uma das mesas: "Nossa, tratou mal sua mulher, hein, Dan? Coitada!". Ela se referia ao personagem do ator no longa-metragem "A Suprema Felicidade", do cineasta Arnaldo Jabor. Dan, que na novela "Mulheres Apaixonadas" interpretou um homem que batia na mulher, respondeu: "Tenho histórico nisso." 

PARA O MUNDO 
Daniela Mercury conta que cantará "Aquele Abraço", "Aquarela do Brasil" e "Mais que Nada" no anúncio mundial da logomarca da Olimpíada 2016, no Réveillon em Copacabana. "Quero reverenciar o Rio de Janeiro, o Brasil", diz. A cantora, que está se mudando para o bairro paulistano do Panamby, terá um estúdio profissional em casa e já encomendou duas esculturas para Bia Doria, mulher do empresário João Doria. A artista fará uma obra de parede e outra que "lembre a Bahia". 

RIO, O FILME 
O documentário "São Sebastião do Rio de Janeiro -Com Quantas Curvas se Faz uma Cidade" será rodado no começo do ano que vem pela diretora Juliana de Carvalho. A ideia é mostrar o lado arquitetônico e urbanístico da capital fluminense. 
Juliana também filmará "A Turma do Pererê", documentário sobre os cinquenta anos dos personagens criados pelo cartunista Ziraldo. 

PARABÉNS DAS LULUZINHAS 
Maythe Birman, mulher de Anderson Birman, da Arezzo, reuniu as amigas para um almoço de aniversário no espaço Manioca, em Pinheiros. Entre as presentes, a enteada Patricia, Renata Castro, Ana Tereza Bardella e Jeniffer Bresser. Antes de cortar o bolo, Maythe recebeu a visita surpresa do marido e dos filhos Alan, André e Augusto. 

CURTO-CIRCUITO

Gilberto Gil apresenta o show do CD e DVD "Fé na Festa", amanhã, a partir das 15h, no Sesc Itaquera. Classificação etária: livre. 

O crítico gastronômico Josimar Melo lança o "Guia Josimar 2011" na segunda, às 19h, no hotel Sofitel. 

A Jardineira Grill, uma das mantenedoras da creche São José, de Osasco, recebe amanhã as crianças da entidade para a festa de Natal. 

O ator Lázaro Ramos lança amanhã, às 13h30, seu livro "A Velha Sentada", no parque da Juventude. O músico Galo, da Trupe Chá de Boldo, se apresenta amanhã, às 21h, no Centro Cultural Rio Verde. Livre. 

O ilustrador Samuel Casal lança hoje, a partir das 15h, a série de gravuras "Cordel from Hell", na galeria Choque Cultural, em Pinheiros. 

com DIÓGENES CAMPANHALÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Peru mole e marido duro!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/10

Médico recomenda que, depois dos 40, a única coisa com gordura que pode comer é a sua mulher


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Ueba! Amy Winehouse no Brasil em janeiro.
E a manchete do Sensacionalista: "Amy Winehouse quer conhecer a Rocinha antes que acabe". Melhor, antes que ELA acabe. Rarará!
Ela vai se acabar na Rocinha! É verdade. Me contaram que a Amy quer passar uns dias no Rio. Mas antes ou depois do show? Porque, se for antes do show, vou passar meu ingresso para a frente. Rarará.
Meu ingresso para o show da Amy: fila do gargarejo com uma garrafa de Dreher na mão! Rarará! Comprar ingresso para o show da Amy é investimento de alto risco. É como jogar na Bolsa!
E sabe por que a popularidade do Lula continua lá em cima? Porque ele vive alto! Aliás, o Lula parou de beber. Não aguentava mais ver duas Dilmas! Rarará!
E a melhor manchete de 2010: "Brasileiro troca feijão e arroz por biscoito e bebida". É a minha autobiografia, gritou um amigo meu!
E as duas melhores declarações políticas de 2010! "Eu seria deputado até de graça", Maluf. "Eu acredito na Justiça brasileira", Maluf. Eu adoro o Maluf. Queria ser o Maluf.
E o Natal? Neste ano, só quero ver shopping pela televisão. Já imaginou a escada rolante do shopping? Precisa senha para subir!
E sabe o que o Papai Noel de shopping pediu para o Papai Noel? Um emprego fixo! Rarará! E já saiu o corno Papai Noel: aquele que vai embora, mas volta por causa das crianças! E a pior coisa do Natal: peru mole e Papai Noel duro!
E você está com problemas para a ceia de Natal? Sugiro o buffet AH MULEKE! O site Manourbano lança a pechincha de Natal: "80% de desconto no buffet AH MULEKE, completo para matar sua larica e de toda a parentada: pão com ovo, xachicha no môio e sanduíche-iche de carne louca. Grátis copão de 200 ml de Ki-Suco. De R$ 19 por R$ 5,90!".
Ou então faz como uma amiga minha: bandeja de tostex! E, nesta época de festas, um médico recomenda que, depois dos 40 anos, a única coisa com gordura que você pode comer é a sua mulher. Rarará.
O brasileiro é cordial! Penúltimo cartaz do Gervásio na empresa em São Bernardo: "Se eu souber que algum cabrunco galanteou alguma mulher do escritório ou aqui da vizinhança, vou fazer ele virar donzela, falar fino e sentar de lado. Conto com todos. Assinado: Gervásio". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MÍRIAM LEITÃO

Retorno salgado
MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 18/12/10

Os acionistas da Petrobras chegarão ao final do ano com uma perda de cerca de 30% no valor de seus ativos. Desde a capitalização, os papéis recuaram 4,5%. Já estavam caindo antes. Esta semana, a empresa anunciou que vai pagar US$ 850 milhões por 30% de uma refinaria que ela mesma vendeu por um preço menor, e que o mercado e a empresa vendedora avaliam por menos do que foi pago.

A Petrobras tem todas as refinarias do país. Só na Alberto Pasqualini é que a Repsol tinha 30%. Qual a importância estratégica de ter essas ações da refinaria? Difícil entender. O jornal Valor Econômico registrou que em relatório a corretora Itaú BBA considera que a Petrobras pagou caro. Em compras deste tipo, calcula-de o valor pago pela capacidade de refino de barris de petróleo. Em média, o comprador pagou, nos últimos dois anos, US$ 4,7 mil por barril. A Petrobras pagou US$ 14,9 mil por barril. O argumento do diretor de distribuição da Petrobras, Paulo Roberto Costa, é um espanto: ´agora o petróleo vai ser 100% nosso.`

Já era. Um dos motivos que fez com que a Repsol considerasse um mau negócio deter aquela participação acionária na empresa é que a Petrobras manipula os preços dos produtos, de tal forma que as refinarias viram centros de prejuízo ou de ganhos abaixo do potencial. Desta forma se cria barreira à entrada de qualquer investidor neste setor. O refino vai ser sempre 100% da Petrobras. Só que no mundo inteiro esse é o negócio que tem atraído menos investimento.

Para os acionistas da empresa, pode-se dizer que não foi um ano bom. Os papéis PN que valiam R$ 35,7 no dia 30 de dezembro, ontem estavam cotados em R$ 26. Uma queda de 27,3%, deixando a Petrobras descolada do Ibovespa, que no mesmo período teve redução de 0,9%. Para o analista da Planner Corretora Victor de Figueiredo, que cobre o setor de petróleo, a condução da capitalização da empresa foi crucial para o mau desempenho:

- A queda nas ações é reflexo basicamente da capitalização. Primeiro, demorou para sair. E, quando foi anunciada, foi feita de forma rápida, com pouco tempo para análise e tomada de decisões. A Petrobras tinha pressa porque precisava concluir o processo antes da divulgação do resultado do 3º trimestre. O endividamento da companhia estava alto e ela precisava se capitalizar. Da forma como foi feita, os estrangeiros ficaram de fora.

O analista Max Bueno, da Spinelli corretora, lembra que a capitalização aumentou a quantidade de papéis da empresa no mercado, ou seja, houve diluição. Além disso, o plano de negócios da companhia foi muito criticado pelos investimentos na área de refino, que tem uma margem de lucro mais apertada:

- O aumento das ações no mercado diminuiu o ganho de geração de caixa por ação, por exemplo. Então a Petrobras, que sempre teve margem superior a de outras companhias, perdeu vantagem comparativa. Também houve pareceres negativos da capitalização, redução do preço-alvo das ações, críticas ao plano de negócios e piora no cenário internacional. Tudo contribuiu para que as ações não recuperassem.

Os investimentos em refino desagradam os investidores não só porque a margem de lucro é menor, se comparado às áreas de exploração e produção. O problema também está nos projetos que a Petrobras se envolve. A construção da refinaria Abreu e Lima, por exemplo, custará US$ 12 bilhões, para um refino de 230 mil barris por dia. Isso significa que cada barril terá um custo médio de US$ 50 mil. Pelo cálculo do Itaú BBA - de que o custo médio de projetos desse tipo é US$ 4,7 mil por barril - a refinaria que está sendo construída no Nordeste terá um custo mais de 10 vezes superior.

- Comparada a Abreu e Lima, qualquer refinaria é barata. Ela vai trabalhar com óleos pesados de Venezuela e Brasil, que não podem ser misturados. Será criado um sistema para o óleo venezuelano e outro para o brasileiro, encarecendo custos, disse Victor de Figueiredo.

Esses mesmos 30% da refinaria Refap, no Rio Grande do Sul, e mais 10% do campo de Albacora Leste, foram vendidos pela Petrobras, em 2001, à espanhola Repsol por US$ 500 milhões. Grande negócio fizeram os espanhóis aoagora revender apenas um dos ativos por um preço 70% maior. A própria Repsol havia registrado o ativo por valor menor em seu balanço. Ninguém entendeu o negócio.

´Alguém pode argumentar que o investimento é neutro para a Petrobras, diante do pequeno tamanho da aquisição. Mas acreditamos que é outro custoso movimento na área de baixo retorno de refino`, disse o Itaú BBA.

Para uma empresa que teve duas refinarias invadidas pelo Exército boliviano em 2006, a compra de mais um campo de gás na Bolívia só poderia ter sido feito com garantias de que não haverá outro episódio de quebra de contratos. O negócio foi entendido como proteção aos outros investimentos lá:

- O campo de Itaú fica ao lado de dois outros campos que a Petrobras já possui. Então, como eles podem estar interligados, a Petrobras não correrá o risco de ser acusada pelo governo boliviano de estar roubando gás do Itaú, explicou Adriano Pires, do CBIE.

Seja como for, as decisões da companhia estão cada vez menos compreensíveis. A produção de gás no Brasil bateu recorde pelo segundo mês seguido em outubro, com alta de 9,3% em relação a 2009, como anunciou a ANP.

Mesmo assim, uma volta da empresa ao mercado é esperada e deve ter compradores diante da falta de alternativas, explicou Osmar Camilo, da Socopa:

- Por enquanto, não falta liquidez no mundo para a empresa. Um título de dívida da Petrobras com certeza tem muito menos risco do que título de países com problemas, por exemplo.

A mudança de governo aumenta a incerteza sobre como ficará a governança da empresa. Até por que permanece o mesmo grupo que tomou as decisões que derrubaram o valor da empresa. 

MERVAL PEREIRA

Novas relações de poder
 Merval Pereira
O GLOBO - 18/12/10

O ponto central dos estudos do sociólogo Manuel Castells, professor da Universidade Southern California, sempre foram as relações de poder. No seu novo livro, "Comunicação e poder", ele chega à conclusão de que as redes de comunicação social mudam a lógica do poder na sociedade atual, e já não se pode fazer política se não se levam em conta a crescente autonomia e o dinamismo da sociedade, utilizando a desintermediação dos meios de comunicação.

Com o caso WikiLeaks em plena evolução, provocando discussões sobre o papel dos novos meios de comunicação, o livro de Castells torna-se fundamental para entender o que se passa.

Ele ensina que, como as redes organizam o mundo das finanças, da produção, da comunicação, da política, das relações interpessoais, só uma teoria que parta da relação nessas redes de poder pode chegar a entender a prática social e política da sociedade atual.

"Cheguei à conclusão de que o poder era fundamentalmente o hábito da comunicação e necessitava entender a transformação da comunicação para entender a transformação do poder", disse ele em recente palestra no Instituto Fernando Henrique Cardoso.

Ele revelou que, durante seus estudos de neurociência para o livro, teve acesso a trabalhos que indicam que as pessoas não buscam informações para se informar, mas, sim, para confirmar o que já pensam.

E também que o medo é a emoção primária fundamental, a mais importante de nossa vida a influenciar as informações que alguém recebe.

Escrevendo sobre o episódio WikiLeaks para o jornal espanhol "La Vanguardia", artigo que já citei em coluna passada, Castells afirma que a ciberguerra começou.

"Não uma ciberguerra entre Estados como se esperava, mas entre os Estados e a sociedade civil internauta."

Para ele, não está em jogo a segurança dos Estados, pois considera que nada do revelado põe em perigo a paz mundial, nem era ignorado nos círculos de poder. O que se debate, segundo ele, é o direito do cidadão de saber o que fazem e pensam seus governantes. E a liberdade de informação nas novas condições da era da internet.

Castells cita um comentário da secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, em janeiro deste ano: "A internet é a infraestrutura icônica da nossa era? Como acontecia com as ditaduras do passado, há governos que se voltam contra os que pensam de forma independente usando esses instrumentos." E questiona: "Agora (depois dos vazamentos do WikiLeaks que colocaram a diplomacia americana em polvorosa) ela aplica a si mesma essa reflexão?"

Castells diz que a questão fundamental é que os governos podem espionar, legal ou ilegalmente, os seus cidadãos, mas os cidadãos não têm direito à informação sobre aqueles que atuam em seu nome, a não ser na versão censurada que os governos constroem.

Nesse grande debate, diz ele, vai se ver quem realmente são as empresas de internet autoproclamadas plataformas de livre comunicação e os meios de comunicação tradicionais tão zelosos de sua própria liberdade.

Para Rosental Calmon Alves, professor brasileiro da Universidade do Texas, em Austin, especializado em novas mídias, o caso é muito mais complexo do que parece, pois "marca o início de uma nova era".

Ele historia: vivemos em uma sociedade calcada em bases de dados. Nossos rastros digitais vão sendo deixados por toda parte, armazenados em computadores e vão desde as imagens capturadas pelas câmeras que se espalham pelas ruas, pelos nossos locais de trabalho, pelos elevadores, por todas as partes nas cidades mais modernas, até mesmo os documentos oficiais que se criam aos milhões e milhões em todos os governos do mundo.

Guardar todos esses dados em segredo torna-se um desafio cada vez mais difícil. E, quando há um vazamento, o volume de dados pode ser tão imenso quanto os desses últimos atraídos pelo WikiLeaks.

Segundo Rosental, são muitos os desafios novos para os governos e as corporações, que tentam erguer defesas e criar fortalezas cibernéticas. "Não foi à toa que o presidente Obama criou um comando militar cibernético e toda uma assessoria de segurança nacional nesta área", lembra.

Fala-se abertamente de uma futura guerra cibernética mundial.

Nunca mais "o mundo não será o mesmo". E Rosental teme que muitas coisas poderão piorar, como o surgimento de leis mais estritas nos Estados Unidos sobre a publicação de segredos, "que podem afetar liberdades essenciais que estão nas bases da democracia americana".

Rosental lembra que essas liberdades "ajudam nos pesos e contrapesos (checks and balances) que fazem o sistema democrático funcionar mais eficientemente aqui que em outros lugares".

Os funcionários aqui, destaca Rosental, sabem que trabalham num ambiente relativamente aberto, que suas ações, mesmo quando secretas, serão públicas um dia, por motivos históricos ou porque algum cidadão pediu satisfações. "O funcionário sabe que trabalha para o publico e não para o governo".

Mas o problema é que os vazamentos mostram que qualquer coisa pode se tornar pública a qualquer momento, quase de imediato e de forma anônima.

Como parte deste contexto, as reações exacerbadas chegam a ponto de haver políticos republicanos que falam até mesmo de uma "necessidade" de matar Julian Assange (criador do WikiLeaks), até da formulação de um processo contra o WikiLeaks, o que, na opinião de Rosental, "seria um precedente extremamente daninho para a liberdade de expressão no país e no mundo.

"Tomara que os mais exaltados se acalmem e que a democracia americana saiba responder aos desafios criados por esta situação, sem abrir mão de seus princípios mais fundamentais", espera Rosental Calmon Alves.

CELSO MING

É o pleno emprego
CELSO MING 

O Estado de S.Paulo - 18/12/10

Até agora não se viu nada parecido. O desemprego no País caiu em novembro a níveis recordes. De cada mil brasileiros em atividade econômica em novembro, apenas 57 estavam sem trabalho. É uma situação muito próxima do pleno emprego.

Em inúmeros setores começa a faltar mão de obra até mesmo não especializada. Domingo, na rede de TV americana CBS, o empresário brasileiro Eike Batista contou que está importando soldadores dos Estados Unidos para trabalhar na montagem de plataformas de petróleo. Esse exemplo dá uma boa ideia do aquecimento do mercado de trabalho por aqui.

Nesse mundo globalizado carregado de contrastes, essa é uma situação quase paradoxal, que acontece enquanto os países ricos estão mergulhados no desemprego profundo. Na terça-feira o Fed (banco central dos Estados Unidos) lamentava, no comunicado emitido logo após sua reunião destinada à revisão dos juros, que não há nenhuma reação visível no mercado de trabalho americano, onde o desemprego é de 9,8% da força de trabalho. E esse é também o grande problema da área do euro, onde 10,3% da população ativa não encontra colocação. Na Espanha, o desemprego é de 20,7%; na Grécia, de 12,2%; e na França, de 9,8%.

Quinta-feira, o Ministério do Trabalho revelou que foram criados aqui no Brasil 2,5 milhões de empregos com carteira assinada nos primeiros 11 meses deste ano. Como mais de 50% do mercado de trabalho ainda opera na informalidade, é de supor que a contratação de pessoal em outras condições tenha sido ainda maior.

O pleno emprego é um dos principais objetivos da política econômica. Portanto é uma notícia que merece comemoração. Mas, como toda goiaba boa tem bicho dentro, esse fato positivo também apresenta problemas. O primeiro é o de que essa situação foi obtida com excessiva expansão das despesas públicas, que cresceram 15,7%, com o objetivo de facilitar a vitória da candidata oficial à Presidência da República. A gastança produziu renda e salário e, consequentemente, emprego. Portanto, essa expansão do mercado de trabalho tem um componente artificial.

O segundo problema é o aumento de custos. O nível de desemprego que no Brasil pode ser considerado "neutro", ou seja, aquele que não produz inflação, é de cerca de 7%. Abaixo disso, crescem as pressões salariais, especialmente no setor de serviços, e, a partir daí, a inflação tende a avançar. Como em ambiente de escassez de mão de obra o recrutamento tem de alcançar pessoal de baixa qualificação, elevam-se também os gastos com treinamento.

O aumento da inflação, por sua vez, exige corretivos para que não desestabilize a economia. E aí os juros terão de ser acionados, num momento em que se pretende o contrário, não só para desarmar a atração de capitais especulativos, mas também porque o governo pretende criar mercado de títulos de longo prazo para incentivar os investimentos.

Por falar em investimentos, ainda que o próximo governo trate de desacelerar o crescimento econômico, a simples agenda de novos projetos deverá manter relativamente aquecido o mercado de trabalho. A Petrobrás, por exemplo, está anunciando para os próximos 3 anos a contratação de mais 14 mil funcionários.

Salva-vidas

Os dirigentes da área do euro decidiram ontem em Bruxelas institucionalizar o fundo de socorro para países encrencados. Foi um passo decisivo para definir condições para enfrentar as crises de pagamento como os que estão derrubando Grécia, Irlanda e possivelmente Portugal. Mas a novidade, arrancada depois de complicado processo político, não empolgou o mercado financeiro.

Perigo de calote?

Teve mais impacto a decisão da Moody"s, principal agência de classificação de risco, de rebaixar os títulos de dívida da Irlanda em cinco níveis do seu ranking. Isso significa que esse país vai pagar ainda mais juros para rolar sua dívida.

Risco de contágio

Mais impacto ainda tiveram as declarações do diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que advertiu para o aumento do risco de contágio na área do euro. Ele argumentou que os problemas que afligem a Irlanda não são muito diferentes dos que atacam Espanha e Portugal.

ARTHUR VIRGÍLIO NETO

A essência será a mesma
Arthur Virgílio Neto
FOLHA DE S. PAULO - 18/12/10

Não mudará! As linhas fundamentais da política externa certamente serão mantidas, a começar pela priorização das relações Sul-Sul, em detrimento de entendimentos mais amplos, que alçassem a patamar nobre o diálogo com os Estados Unidos e a União Europeia.

A íntima ligação com Chávez e a ditatorial política "bolivariana" persistirá, bem como a identidade com os governos Morales, da Bolívia; Correa, do Equador; Lugo, do Paraguai; e Kirchner, da Argentina.

Que fique claro: considero salutar uma política de boa vizinhança que possa ser executada pelo Itamaraty; discordo é do atrelamento ideológico que, no período Lula, redundou inclusive em desnecessárias concessões, prejudiciais aos interesses brasileiros.

Critico a distância regulamentar mantida em relação ao Chile e ao Uruguai, países que praticam políticas econômicas afins com as nossas, em troca do mergulho no atraso, na confraternização com o "socialismo" retrógrado, que tem em Cuba e nos irmãos Castro a bandeira máxima.

Como esperar mudanças significativas se o professor Marco Aurélio Garcia será mantido como assessor especial da Presidência para assuntos internacionais?

Afinal, ele, que converge com as ideias do ministro Celso Amorim e do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, foi, de fato e sem maiores traumas no diálogo com o Itamaraty, o formulador da política exterior do governo Lula. O Ministério das Relações Exteriores, o diligente executor.

O substituto de Amorim, embaixador Antonio Patriota, diplomata de bela trajetória profissional, vem da escola do seu antecessor, com quem trabalhou em diversas ocasiões e por quem foi agraciado com a chefia da missão em Washington já em seu primeiro posto de comando. Logo, não vejo que por aí se processe alteração substantiva de rumos. É continuidade, não ruptura.

Repito que a essência será a mesma, embora registre com agrado certos gestos adotados pela presidente eleita, como a condenação à bárbara prática de assassinar, "legalmente", mulheres, ainda que viúvas, consideradas adúlteras pela ditadura de Ahmadinejad.

Do mesmo modo, fez reparos ao voto brasileiro de abstenção nas Nações Unidas, quando lá se aprovou censura ao governo iraniano por violação a direitos humanos.

São bons sinais, quando se leva em conta a atração que o presidente Lula parecia sentir por ditaduras e ditadores sanguinários: vistas grossas ao genocídio no Sudão; foto sorridente com Fidel e Raúl Castro no dia em que o preso político Zapata morria após 89 dias de greve de fome; votos sistemáticos na ONU protegendo regimes autoritários e governantes acusados de desrespeitar direitos civis; simpatia inexplicável, que culminou com a encenação com a Turquia, pelo regime odioso de Ahmadinejad.

Claro que Dilma terá de escolher entre firmar uma marca própria à frente da Presidência ou aceitar o papel de tutelada e "cumprir" o terceiro mandato que Lula tanto almejou. E os choques entre criatura e criador são, quase sempre, inevitáveis e até drásticos. Mas não creio que nossa política exterior sofra alterações bruscas.

Dilma, afinal, parece concordar com a formulação de Marco Aurélio, com as ideias de Amorim e Pinheiro Guimarães. E com o entendimento do homem que a retirou do anonimato político e a guindou, a peso de prestígio político e com (ab)uso da máquina pública, ao mais elevado cargo da República.

Não! Não mudará!

Arthur Virgílio Neto, senador pelo Amazonas (PSDB), é líder da minoria no Senado. Foi ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República (governo FHC) e prefeito de Manaus.

ROBERTO ABDENUR

É preciso corrigir erros crassos
ROBERTO ABDENUR

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/10

A política externa não "pode" mudar. "Deve" mudar -no sentido de que "precisa" mudar.
De uma parte, para corrigir desvios e distorções e deixar para trás posturas e ações que constituíram, nesses últimos anos, crassos erros, lesivos aos interesses do país.
Em outro plano, mudar para melhor responder a novos tempos e circunstâncias, em quadro externo marcado por acelerada mutação nas posições relativas de poder e por sérios desequilíbrios, volatilidade e incerteza na economia.
No primeiro caso, cabe superar atitudes e gestos que, paradoxalmente, estiveram em aberta contraposição aos desígnios da própria política externa, minando ou mesmo inviabilizando o logro de objetivos importantes para o país.
Como resgatar o Mercosul e avançar na integração da América do Sul quando se força, por idiossincrasias ideológicas, a entrada no grupo da Venezuela de Chávez, autocrata em aberta oposição ao que deveria o Mercosul representar como fator de sustentação da democracia representativa e de estímulo à economia de mercado, ao livre-comércio e ao regionalismo aberto?
Como fazer avançar nossos interesses na vizinhança se pecamos por excesso de protagonismo e canhestra busca de liderança, e preferências ideológicas nos levam a esquecer os votos de altivez, substituindo-os por postura de tibieza diante de atos danosos a nossos interesses, sob o manto de exagerada "diplomacia da generosidade"?
Como ganhar prestígio e respeitabilidade, inclusive para a obtenção de assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, quando nos solidarizamos fraternalmente, às cegas, com o regime iraniano?
Ou quando deixamos de expressar para fora os valores ocidentais de nossa democracia e de seu compromisso com a universalidade dos direitos humanos? No plano internacional mais amplo, precisamos ter em mente que o governo Dilma Rousseff se instala quando termina a primeira década do novo século e no justo dia em que se abre a segunda década do novo milênio.
Neste momento, urge termos plena consciência do impacto que terão, sobre os próximos anos e décadas, acontecimentos ocorridos no passado recente e novas tendências que, às vezes mal percebidas, vão mais e mais ganhando força.
O novo século começou com uns tantos cataclismas: os atentados terroristas contra os EUA em 11 de setembro de 2001; a desastrosa invasão do Iraque e a malograda intervenção no Afeganistão; e, abalo ainda maior, a grande recessão iniciada em 2008, cujos efeitos ainda estarão conosco por longos anos.
Mas houve também o período de ouro de inédito crescimento econômico global entre 2003 e 2008, e se desdobra a velas soltas o processo de ascensão da China, hoje parceiro expressivo -e mesmo determinante- para muitos de nossos interesses. A globalização da economia sofre abalos, perde ímpeto.
Contudo, o surgimento de graves problemas globais -em finanças, comércio, meio ambiente, recursos naturais e segurança- abre novas perspectivas para um país como o Brasil, que há quase duas décadas avança em seu desenvolvimento, ganhando solidez e credibilidade no plano econômico.
O próximo governo conta com condições favoráveis para realizar ajustes e correções de rumo. São nesse sentido animadores alguns dos sinais até agora dados pela presidente eleita.
Que assim seja, para que o país possa proceder a um verdadeiro relançamento de sua atuação no plano externo, melhor aproveitando as oportunidades que, malgrado todas as turbulências presentes mundo afora, nos oferece esse panorama internacional em vertiginoso e radical processo de reconfiguração.
ROBERTO ABDENUR, diplomata de carreira aposentado, foi embaixador do Brasil na China (1989-1993), na Alemanha (1996-2001) e nos EUA (2004-2006), entre outros países, além de secretário-geral do Itamaraty (1993-1994). É membro do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais).

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Rastilho de pólvora 
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/10

O aceno da equipe de transição com a possibilidade de um segundo ministério para o PC do B -o pequeno partido emplacaria Luciana Santos no Esporte e Orlando Silva, atual titular dessa pasta, numa nova, dedicada exclusivamente à Olimpíada- atiçou a ira das demais siglas aliadas, que já vinham insatisfeitas.
Os queixosos argumentam que o tamanho do PC do B -15 deputados eleitos- não justifica tal concessão. O clima tende a piorar se Dilma Rousseff mantiver o comando da Anatel, conquistado no governo Lula. Os mais experientes vaticinam: se resolver levar adiante a ideia, a petista poderá ter dificuldade para aprovar no Congresso a criação da pasta olímpica.

Listinha Mais um motivo a causar irritação no PMDB: o partido manifestou a Dilma o interesse em assumir uma pasta que unisse a administração de Portos e Aeroportos, mas Dilma desconversou, dizendo não saber se faria ou não a junção. Dias depois, o PSB fez pedido semelhante. E pode levar. 

Closet O conjunto azul com detalhes bordados em vermelho usado por Dilma ontem na diplomação é assinado por uma estilista gaúcha. A aposta é que a responsável seja Luísa Stadtlander, que já costura para a petista. 

Bola da vez Enquanto Celso Amorim circulava com discrição no coquetel após a diplomação de Dilma, no Itamaraty, Antonio Patriota, o futuro chanceler, não teve sossego: era requisitado por todos no local. 

Presente Assessores de Lula afirmam que o presidente decidirá, provavelmente na próxima semana, o destino do italiano Cesare Batistti. Devido à proximidade do desfecho do caso com as festas natalinas, a piada é de que será concedido a Batistti um "indulto" de Natal. 

Navalha afiada Em sintonia com o aumento salarial recém-aprovado pelos congressistas, a barbearia do Senado reajustou seus preços em nada menos que 45%.

Melhor... De Gabriel Chalita (PSB), ex-secretário da Educação de Geraldo Alckmin (PSDB), sobre Herman Voorwald, reitor da Unesp escolhido para ocupar a pasta no futuro governo do tucano: "Ele tem currículo, é bom gestor e conhece profundamente a área". 

...impossível Continua o deputado federal eleito: "São Paulo tem três universidades públicas de excelência. Levar para a secretaria o reitor de uma delas indica a disposição de fazer com que essa qualidade chegue a todo o ensino no Estado". 

Os nerds Três secretários indicados por Alckmin saíram do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), que tem um dos vestibulares mais disputados do país: além de Voorwald, Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) e Emanuel Fernandes (Planejamento). 

Novo rumo Escolhida para a Secretaria de Justiça, a procuradora Eloísa de Sousa Arruda construiu carreira e chegou ao comando da Escola Superior do Ministério Público em ala oposta à do ex-titular da pasta e atual chefe da Casa Civil, Luiz Antonio Guimarães Marrey. 

Assim não Diante do impasse entre as centrais sobre o rateio das dez cadeiras que terão no recém-criado Conselho de Relações do Trabalho, decidiu-se que uma será dada a representante do Dieese. Embora a Força tenha participado do acordo, seu secretário-geral, João Carlos Gonçalves, o Juruna, protesta: "O Dieese assessora todas as centrais. É um desvirtuamento torná-lo parte desse conselho". 
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Agora, todo mundo está articulando muito, mas quem vota mesmo nessa eleição só vai tomar posse no dia 1º de fevereiro."DO MINISTRO DO TRABALHO, CARLOS LUPI (PDT), sobre a agitação de partidos governistas e de oposição diante da possibilidade de surgimento de uma candidatura alternativa -e perigosa para o PT- à presidência da Câmara. 

Contraponto

Chumbo trocado 

Durante discussão em plenário na Assembleia de São Paulo, Major Olímpio (PDT) interveio no discurso de Vitor Sapienza (PPS). Queria contar ao colega, fiscal de rendas aposentado, que almoçara no restaurante da Casa e na saída, ao pedir uma nota fiscal, ouviu em resposta que ali não se emitia tal comprovante.
No dia seguinte, Sapienza deu o troco:
-Major, vi um veículo passar em alta velocidade na frente da Assembleia e furar o sinal fechado. Os PMs que fazem a guarda nem a placa anotaram...

CLÓVIS ROSSI

Mercosul ganha voz. Falta falar
CLOVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/10

Novo cargo de Alto Representante do bloco faz parte da institucionalização, marca de Dilma Rousseff
ERA UMA VEZ um tempo em que Henry Kissinger, então secretário de Estado americano, ironizava: "Se eu quiser falar com a Europa, que número de telefone devo discar?".
Alusão ao fato de que não havia no conglomerado europeu uma voz que falasse por todos.
Qualquer interessado em falar com o Mercosul poderia repetir a ironia de Kissinger porque também não há quem fale pelo bloco de quatro países sul-americanos mais seus associados Bolívia e Chile mais a Venezuela, prestes a se tornar membro pleno.
Não havia até ontem. Acaba de ser criado o cargo de Alto Representante do Mercosul, com a missão justamente de ser a voz do bloco ante terceiros.
Aliás, vale ressaltar que a União Europeia, anos depois da brincadeira de Kissinger, criou o seu Alto Representante e mais recentemente dotou-se de um presidente permanente e de uma comissária que é uma espécie de chanceler também permanente.
Em tese, um ou ambos falam em nome dos 27 países da UE. Mas só em tese. Na prática, quem continua falando pela Europa são os chefes de governo de cada país, especialmente da Alemanha e da França.
É claro que é cedo para dizer se ocorrerá o mesmo com o Alto Representante do Mercosul. Os antecedentes não são favoráveis: já houve não um representante mas uma comissão deles, entre 2003 e 2007. Não deixou rastro.
Mais importante pois do que a eficácia ou não do novo funcionário é o fato de que a sua criação se encaixa na palavra-chave da diplomacia brasileira com Dilma Rousseff.
Trata-se de "institucionalização", que figura como prioridade no memorando de 10 páginas que Marco Aurélio Garcia, hoje como amanhã assessor diplomático do Planalto, encaminhou à sua futura chefa.
Traduzindo: a era da agitação (no bom sentido), das iniciativas seguidas, da criação, será substituída pela consolidação do criado. Ou, ao menos, a tentativa de fazê-lo.
Institucionalização é, por exemplo, criar o cargo de Alto Representante. Ou transformar a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) em uma instituição que funcione organicamente e não espasmodicamente como até agora (por mais que alguns espasmos tenham sido úteis como ao apagar incêndios primeiro na Bolívia e depois no Equador).
Admito que "institucionalização" é uma palavrinha que provocará bocejos principalmente nos jornalistas, viciados como somos em emoções fortes. Mas é necessária para que a diplomacia sul-americana não fique girando em falso.
A consolidação institucional vai, na opinião de Marco Aurélio, além do subcontinente. "Não é possível que o Bric se resuma a uma cúpula anual", diz ele.
Minha opinião: cúpula anual é até muito porque o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) não é um grupo, mas uma invenção de uma instituição financeira, que só tem em comum o tamanho (grande) de seus membros e o fato de estarem em expansão econômica.
No principal -história, geografia, cultura, regimes políticos-, não têm o mais remoto parentesco que lhes permita desenvolver interesses comuns.

ANCELMO GÓIS

ELTON JOHN NO RIO
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 18/12/10
 
Elton John voltará ao Rio em 2011 para o Rock in Rio. O show do cantor inglês será no dia 23 de setembro. Na mesma noite, vão se apresentar Rihanna e Kate Perry.

EXECUTIVO DE PESO 
Não está descartado ainda o nome de Henrique Meirelles, que deixa o Banco Central, para a Secretaria Nacional de Aeroportos de Dilma.

O FILHO DE GARANHUNS 
Dia 28, três antes de deixar o governo, Lula vai se despedir como presidente de sua terra natal, Garanhuns, Pernambuco.

CASO MÉDICO 
Fernando Lugo, presidente do Paraguai, disse a vários amigos brasileiros nessa reunião do Mercosul, em Foz do Iguaçu, Paraná, que está curado do linfoma.

ALIÁS... 
Esse encontro do Mercosul foi o último evento internacional de Celso Amorim como chanceler.

LOGO ELE QUE... 
Como ministro de Itamar e Lula, Amorim foi quem mais tempo ocupou a chefia do Itamaraty — mais até que o Barão do Rio Branco (1902 a 1912).

CONTAGEM REGRESSIVA 
Faltam 13 dias para o Brasil substituir um presidente pernambucano-paulista por uma mineira-gaúcha...paulista.

JOÃO GOULART 
O livro “Jango: uma biografia”, do historiador Jorge Ferreira, será lançado em abril pela Civilização Brasileira. Conta a trajetória do gaúcho desde a infância em São Borja até se tornar o 24 presidente do Brasil.

PARADA DE SUCESSOS 
O superblog americano All Music (blog.allmusic.com), considerado a enciclopédia mundial da música na internet, incluiu quatro CDs brasileiros entre os 27 melhores de 2010. Estão lá “Banda 2”, de Gil, “Seu Jorge and Almaz”, de Seu Jorge, “Estática”, de Marcos Valle, e “Estudando a bossa: Nordeste Plaza”, de Tom Zé.

ALIÁS... 
Veja como alguns músicos brasileiros são mais reverenciados lá do que cá. O CD de Marcos Valle eleito nem saiu no Brasil ainda. A previsão é 2011.

VILLANOVA 2016 
O diplomata Carlos Villanova, atual secretário de Imprensa Internacional da Presidência, será diretor de Comunicação do Comitê Organizador dos Jogos de 2016.

GRANDE FAMÍLIA 
Da lista sêxtupla de advogados que disputam uma das vagas para desembargador no Rio consta o nome de Wallace Salgado de Oliveira. Irmão do ex-senador Wellington Salgado, acusado de agredir um membro da família Fuscaldo que lhe foi cobrar uma dívida.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA 
O Ministério da Justiça vai prorrogar por mais 40 dias as discussões no território livre da internet iniciadas sobre uma nova regulamentação para a classificação indicativa de 
filmes, jogos, programas de TV. O debate vai até o dia 28 de janeiro de 2011. As opiniões podem ser dadas no site http://culturadigital.br/classind. 

CONTROLADORA 
Circula na rádio controle da CGU que o novo ministro da Controladoria Geral da União será ministra. Nos bastidores, o que se diz é que como Dilma Rousseff quer ter mais mulheres no seu ministério estaria cotada para o cargo a ministra Maria Elizabeth Rocha, a primeira mulher a ser nomeada no Superior Tribunal Militar. A conferir 

MAURO CHAVES

Desmoralizando a cultura
Mauro Chaves 


O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/12/10
É incompreensível que a classe artística e cultural brasileira ainda não se tenha mobilizado para lançar o lema "não somos ladrões". Ela ainda não percebeu que, afora os valores materiais roubados do contribuinte, a fraude que se descobriu no sistema de incentivos fiscais para produções artísticas e culturais criou uma desconfiança geral entre os patrocinadores sérios - aqueles que não pertencem à categoria de cupinchas instalados nas estatais, que dão mais valor às ligações pessoais que à qualidade artístico-cultural dos projetos.
Discutiram-se até demais as mudanças na Lei Rouanet, chegando-se a algumas alterações positivas e a outras negativas - assunto que aqui não cabe tratar. O problema é que o esforço exibido pelo Ministério da Cultura (MinC) no campo legislativo não se refletiu em sua fiscalização administrativa. No Ministério criou-se uma vergonhosa válvula de escoamento de recursos públicos, destinados ao patrocínio de projetos artísticos e culturais, para entidades fantasmas, falsos produtores culturais, laranjas de todo gênero, empresas inexistentes - tendo como sede vidraçarias ou residências de humildes e enganados laranjas - e aberrações semelhantes.
Além da corrupção interna, o governo tinha indícios, mas deixou que prosperasse um festival de falcatruas praticadas por parlamentares federais, tendo como pretexto as verbas do Orçamento destinadas ao "fomento a projetos de arte e cultura". A previsão de gastos com a cultura e a arte no Brasil, que no Orçamento de 2010 era de R$ 116,9 milhões, passou para R$ 391,5 milhões - aumento, portanto, de 235%, graças a 258 emendas parlamentares. Na verdade, muito foi alardeado esse aumento, levando a crer que se passava a dar maior valor ao que representa a melhor expressão do talento brasileiro. Tais recursos públicos, no entanto, foram jogados fora ou roubados por meio de empresas de fachada.
Outros escândalos podem ter implicado valores muito maiores, mas este é muito mais deletério para a sociedade brasileira, pela insegurança que causa a empresas que se dispõem a dar sua importante colaboração ao desenvolvimento artístico e cultural da população, incentivando-a tanto à produção quanto ao consumo de cultura e arte em nosso país.
Quantos espetáculos de qualidade poderiam ter sido levados às periferias das grande cidades e a lugares carentes e quantos grupos de jovens talentosos poderiam obter o importantíssimo apoio com uma pequena parte dessa verba surrupiada? É que se descobriu na cultura uma nova fronteira para a corrupção - propícia à prática de fraudes, falsificação de documentos, recebimento e pagamento de propinas, tráfico de influência, formação de quadrilha e muitos outros crimes praticados na administração pública e por delinquentes com ela mancomunados. É aberrante, por outro lado, que a aceleração ou o retardamento dos projetos culturais que se iriam beneficiar dos incentivos fiscais da Lei Rouanet tenham dependido do pagamento de subornos. O que se julgava serem apenas entraves da burocracia eram, na verdade, atrasos nas operações de roubalheira.
Também se está desmoralizando a cultura e a arte brasileiras por motivo bem diferente. Para escolher o que concorrerá ao Oscar de melhor filme estrangeiro e demonstrar seu espírito "democrático" o MinC abriu uma enquete em seu site. A votação deu em primeiro lugar o filme Nosso Lar, com 88.894 votos, correspondendo a 70% das preferências; em segundo, Chico Xavier, com 14.881 votos, correspondendo a 12%; em terceiro, Os Famosos e os Duendes da Morte, com 10.437 votos ou 8%; em quarto, O Grão, com 2. 431 votos, ou 2%; em quinto, Antes que o Mundo Acabe, com 2.035 votos, ou 2%; e em sexto, Lula, o Filho do Brasil, com 1.646 votos, isto é, apenas 1% da preferência do público.
Adivinhem, agora, qual foi o escolhido? O que recebeu apenas 1% dos votos! Um filme medíocre, que em relação a seus custo e pretensões se tornou um retumbante fracasso, de público e crítica. Tantos filmes excelentes foram produzidos, marcando uma fase de grande evolução da cinematografia brasileira, os quais nos poderiam representar por suas notórias qualidades, mas deu-se preferência a uma obra político-bajulatória sem nenhuma inovação técnica ou artística, sem criatividade - enfim, um abacaxi embrulhado em papel dourado que não conseguiu engabelar o público. O MinC traiu completamente o espírito "democrático" que pretendeu exibir, na escolha. E na justificativa dessa escolha alegou que "Lula é uma estrela daqui e fora daqui, internacionalmente conhecida". Essa explicação é até ofensiva a um criador de arte, pois o prestígio da personagem nada tem que ver com a qualidade de uma obra. Esta deve ser avaliada por seus próprios méritos, pois um filme ruim sobre personagem importante é pior para seu criador do que uma obra fraca sobre desconhecidos.
Mas vejamos um exemplo da opinião internacional sobre o filme: a crítica do jornal argentino La Nación escreveu que "a incrível história de vida de Lula da Silva merecia um filme melhor, mais interessante e mais profundo do que Lula, el Hijo del Brasil". Ela também afirmou que, no filme, "cada episódio da vida do presidente do Brasil é mostrado como se fosse um manual de História escrito por seu biógrafo oficial", o que o torna "limitado e superficial". Outras críticas nacionais e internacionais estão no mesmo tom, correspondendo, exatamente, à frieza com que o público recebeu o filme, mesmo que se tenham inventado formas inéditas de exibi-lo em lugares improvisados em todo o território nacional - afora o grande circuito de cinemas em que passou.
A classe artística e cultural brasileira é uma que se tem mobilizado muito não só em defesa de seus próprios direitos, como categoria profissional, mas também pela sensibilidade ante problemas que dizem respeito à cidadania. Então, contra a corrupção e a politicagem que invadiram a arte e a cultura em nosso país, onde está a mobilização de nossos verdadeiros intelectuais e artistas?
JORNALISTA, ADVOGADO, ESCRITOR, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS E PINTOR.