sábado, novembro 06, 2010

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Onde pega
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/11/10

Antes mesmo de Lula recolocar a CPMF na pauta da "agenda federativa", Geraldo Alckmin manifestava a aliados a avaliação de que o financiamento da saúde será um dos nós da próxima gestão. Ainda durante a campanha, o tucano recebeu relatos segundo os quais o gargalo no custeio do setor já representa ameaça ao caixa paulista, na esteira da expansão da rede de AMEs, ambulatórios médicos de especialidades expostos na vitrine eleitoral de José Serra.
Por ora publicamente refratário à criação de novos impostos, o tucano vai insistir na defesa da regulamentação, pelo Congresso, da emenda 29, que ajudaria a lastrear a execução de seu plano de governo.

Anotado O vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB), conta aos mais próximos que apenas dois tucanos graúdos telefonaram para cumprimentá-lo pela vitória: Alckmin e Aécio Neves. 



Descolada Ao acompanhar Lula na reunião do G20, Dilma Rousseff fará sua primeira viagem de fôlego sem levar a tiracolo nenhum dos "três porquinhos": José Eduardo Dutra, Antonio Palocci e Eduardo Cardozo.

No Aerolula A convite do presidente, o governador reeleito Cid Gomes (PSB-CE) integrará a comitiva brasileira em Maputo e Seul.

Festivo Depois de atritos públicos com o PT, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), investe em agenda mais "light": quer convencer Temer a organizar um jantar do partido em homenagem a Lula no dia 23.

Figurino Diplomatas estrangeiros que conversam com o secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota, saem com a impressão de que ele "já está" ministro.

Razões Ao andar de um lado para outro no palco do debate da Globo, sempre "marcando" José Serra de perto, Dilma seguiu não só o exemplo de Lula em 2006, mas também um conselho do governador Jaques Wagner (PT-BA): como ela é filha de Ogum, foi orientada a se movimentar como o orixá.


Fica pra outra Tarso Genro frustrou quem tentava emplacar o deputado Henrique Fontana na Casa Civil gaúcha. Escolheu o secretário-geral do PT estadual, Carlos Pestana, pois não quer "primeiro-ministro".

100% de acordo FHC endossa a posição, manifestada por Aécio Neves em entrevista à Folha, de que o PSDB deve se dedicar agora à reestruturação interna. O ex-presidente da República também concorda com a ideia de que ele, Serra e Tasso Jereissati devem coordenar esse processo, conforme sugeriu o senador eleito.


Meu candidato Em seu blog, o governador Alberto Goldman (PSDB) diz que Dilma terá de governar com a minoria, em número "bem superior aos 3% pretendidos pelo presidente Lula", e escala Serra, seu antecessor, como o nome de maior estatura para liderar a oposição.


Romaria Instalado desde quarta-feira no 12º andar do Edifício Cidade, no centro de SP, o gabinete de transição de Geraldo Alckmin atrai diariamente prefeitos, deputados eleitos e derrotados e dirigentes de partidos aliados de olho na composição do novo governo.

Calculadora Na contabilidade dos tucanos, o Bandeirantes tem 6.000 cargos comissionados na administração direta, mas só a metade deles poderá ser objeto de livre nomeação na mudança de gestão. Pelo menos 3.000 vagas em funções de confiança estão hoje preenchidas por funcionários de carreira promovidos.

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI
Tiroteio


"Fica claro que o projeto, em vez de revelar, contribui para manter em segredo capítulos da história do país que a sociedade tem todo o direito de conhecer a fundo."
DO DEPUTADO FEDERAL CARLOS SAMPAIO (PSDB-SP), sobre o desmonte do projeto "Memórias Reveladas", criado pela Casa Civil com o anunciado propósito de facilitar o acesso aos arquivos do regime militar.
contraponto

Adivinha...

A ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt respondia perguntas do público no Teatro Folha, quando a mediadora da sabatina leu a seguinte questão:
-Acha que, entre as políticas de combate às Farc, seria possível incluir uma renda básica incondicional?
Embora os autores das perguntas não fossem identificados, neste caso não houve dúvida: todos olharam para o senador Eduardo Suplicy, sentado na primeira fileira da plateia, enquanto a ex-refém respondia que "definitivamente sim", discorrendo em seguida sobre experiência adotada no passado em seu país.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O que faltou na fala de Lula
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 06/11/10


Pode ter soado como uma manifestação de grandeza - ou de cavalheirismo em relação à sua sucessora Dilma Rousseff - o apelo que o presidente Lula fez à oposição na entrevista conjunta de ambos, esta semana. A coletiva, aliás, foi convocada às pressas, na tentativa de pôr um freio de arrumação nas especulações sobre o futuro Ministério e a interferência do presidente na sua formação. Daí o seu empenho em avisar aos interessados que "somente ela pode dizer quem quer e não quer".

Perguntado sobre o que espera de agora em diante da oposição, Lula pediu que ela virasse a página. "A Dilma é uma outra pessoa", assinalou. Contra ele mesmo, "não tem problema, podem continuar raivosos do jeito que sempre foram". Mas, depois que ela assumir, aconselhou, a oposição deveria ter a compreensão de não fazer o que chamou "política do estômago, da vingança, do trabalhar para não dar certo". E completou com uma referência ao imperativo de ser "a mais harmoniosa possível" a relação entre a União e os governos estaduais, 10 deles em mãos oposicionistas.

Tomada pelo seu valor de face, a exortação seria convincente ou, melhor ainda, prova de que Lula completou o percurso da atitude de confrontação furiosa, com que ingressou na vida pública, à aceitação da civilidade como ideal a ser buscado no relacionamento entre as forças de cada lado da divisa política. Pena que não tenha aproveitado o momento para reconhecer que ninguém superou o seu partido, sob o seu inconteste comando, em matéria do que agora diz condenar. Movido a vingança, o PT de Lula fez tudo, durante 8 anos, para que o governo Fernando Henrique não desse certo.

À omissão, ele adicionou uma contrafação. A história da era Lula está aí para que se esqueça que a oposição sofreu não poucas críticas pela falta de contundência com que se comportou diante do primeiro homem do povo a dirigir o País. Quaisquer que tenham sido os seus motivos, o PSDB e o então PFL ensarilharam as armas - a rogo de interlocutores do Planalto - quando o marqueteiro Duda Mendonça contou na CPI dos Correios, em agosto de 2005, que os R$ 10,5 milhões que cobrou por seus serviços na campanha petista de três anos antes foram pagos com dinheiro de caixa 2 em conta secreta no exterior.

Das evidências surgidas no escândalo do mensalão, nenhuma outra atingiu Lula tão frontalmente, e, ainda assim, a oposição "maneirou". Talvez tenha até feito a coisa certa, para evitar uma crise que no limite seria institucional. Seja como for, falta ao presidente autoridade política, que dirá moral, para pôr o dedo no nariz da oposição, acusando-a de uma conduta que foi, isso sim, dele, dos seus companheiros de legenda e das organizações a ela vinculadas. "A oposição que Lula teve é a que todo presidente pede a Deus", resume o vice-líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias.

Como diria a então candidata Dilma antes de ser advertida para não falar difícil, o presidente tergiversou também quando lhe perguntaram se a ampliada maioria governista no Congresso deixará a sucessora menos refém de "oligarquias do Nordeste". Diante dessa alusão à fraternal relação de Lula com o soba maranhense José Sarney, ele deitou falação sobre o que seria "a lógica do jogo" - as servidões da política que obrigam os governantes a se entender com quem o eleitorado mandou para o Legislativo e não com quem eles gostariam que tivessem mandado.

Pondo a mão no ombro de Dilma, disse que "ela vai ter que conversar com o companheiro do PC do B e com o Tiririca", como se exemplificassem os oligarcas a que se associou gostosamente, a pretexto da "governabilidade", para consolidar o seu poder e fazer a sucessora. Outra falácia conveniente a que recorreu foi a de que "o Congresso é a cara, a síntese da sociedade". Todo Parlamento é uma das caras possíveis de uma nação. A face que prevalece resulta em ampla medida do sistema eleitoral. As suas regras podem ampliar ou, como no Brasil, restringir a representatividade - só 35 dos 513 novos deputados federais se elegeram com os próprios votos.

Se assim não fosse, a reforma política que Lula defende seria desnecessária. Mas cobrar coerência dele já é demais.

JOSÉ SIMÃO

Ui! Mostrando a Chana no Salão! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/11/10


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Amanhã é dia de o Galvão transmitir a Fórmula 1! Transmitir é modo de dizer, o Galvão vai GRITAR a corrida! Rarará! E um amigo acha que o Galvão devia transmitir atentado terrorista!
A Dilma tá na Bahia. E eu também. Só que ela tem um corpinho de teen. Tim Maia. E eu tenho um corpinho de jogador de tranca! Rarará! Eu quero foto da Dilma de maiô! Aliás, se vocês receberem um e-mail com o assunto "Dilma de maiô", não abram. Pode ser verdade. Rarará!
Será que ela vai estar com maiô igual ao da dona Marisa? Branco com estrela vermelha? Bomba da Texaco! Rarará! De repente não. Ela aparece de maiô preto incrível e saída Valentino. E a Dilma tem bíceps, tríceps e panceps!
E o Serra? Diz que o Serra é tão fofoqueiro que não serve nem pra vizinho. E eu tenho um novo slogan: "Serra pra 2.200". Ele ainda vai estar vivo. Mas a gente NÃO! Rarará!
E o Salão do Automóvel? Só tem carrão e gostosa. O Salão do Automóvel só serve pra duas coisas: sentir cheiro de couro novo e lembrar de como a muher da gente é feia. Rarará!
E atenção frequentadores e babadores do Salão do Automóvel: ter carrão não é tudo na vida! Na internet tem a foto de uma clínica com três Ferraris e quatro Porches estacionados na frente. E a clínica? Clínica de Aumento de Pênis! Rarará!
E aquela minivan chinesa, a Chana? Eu tenho a foto duma gostosa fazendo propaganda com a camiseta: "Mostrando a Chana no Salão". Minivan bom pra mulheres: "Quer dar uma volta na minha Chana?". E para homens: "Já imaginou comprar uma Chana zerinho?". E ainda leva sete! Rarará! E a namorada pro namorado: "Quer dar uma voltinha na minha Chana?".
E aquele tuíte racista da Mayara Petruso: "Faça um favor pra São Paulo, afogue um nordestino". E um nordestino: "Simão, tô preocupado. Sou nordestino e não sei nadar, o que eu faço?". Grita "ô xente" e mata no peito. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MERVAL PEREIRA

A anatomia dos votos
Merval Pereira
O GLOBO - 06/11/10



A polêmica sobre a importância do voto nordestino para a eleição de Dilma Rousseff como presidente do país não resiste a uma análise dos mapas eleitorais. O cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, acostumado a analisar esses mapas para definir o que chama de "a geografia dos votos", explica com objetividade: Dilma foi eleita porque ganhou de muito nas áreas que lhe eram favoráveis, como no Norte e Nordeste, mas perdeu de pouco onde o ambiente político favorecia seu adversário tucano, José Serra.

Mesmo sem os votos do Norte e Nordeste, Dilma venceria Serra na soma dos votos do Centro-Oeste, Sul e Sudeste por míseros 275.124 votos, ou 0,25%. Já no Norte e Nordeste, Dilma tirou uma vantagem sobre Serra de espetaculares 11.777.817 de votos.

Na Região Sul, onde a oposição predomina, a diferença a favor de Serra foi de apenas 6 pontos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, Serra perdeu no primeiro turno e ganhou de pouco no segundo.

Em Santa Catarina, o Oeste do estado sempre tende a votar mais à esquerda; Serra ganha bem, com a média nacional invertida - 56% a 44% a seu favor -, mas o estado não é dos maiores colégios eleitorais, o mesmo acontecendo no Paraná e no Mato Grosso do Sul.

No Centro-Oeste, a diferença foi de 2 pontos para Serra, com empates técnicos em Mato Grosso e em Goiás.

No Sudeste, a vantagem de Dilma foi de 4 pontos. A diferença entre PT e PSDB na Região Sudeste vem se reduzindo desde 2002.

Anteriormente, em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso havia ficado à frente de Lula nas vitórias no primeiro turno em até 5 milhões de votos em São Paulo, o que garantia a supremacia no Sudeste.

Embora Alckmin tenha vencido no primeiro turno de 2006 por uma pequena margem de cerca de 700 mil votos, graças à vantagem que tirou em São Paulo de 3,8 milhões de votos, no segundo turno Lula venceu por 12 pontos. Metade do que tivera em 2002 (25 pontos), e Dilma venceu agora por 4 pontos.

A média nacional invertida a favor de Serra em São Paulo, apesar de se tratar do maior colégio eleitoral do país, não foi suficiente para compensar Minas Gerais (11% do eleitorado) e Rio de Janeiro (9%), que juntos dão praticamente o estado de São Paulo (22%), destaca Romero Jacob.

Mesmo que, no conjunto de três estados do Sudeste (Rio, Minas e Espírito Santo), Dilma tenha tido uma redução de 8,5 pontos em relação à votação de Lula em 2006.

Ainda na Região Sudeste, a metade Norte do Rio foi a favor do Serra por causa da atuação do Garotinho. No Espírito Santo, houve também empate.

A vantagem final de Dilma se deveu à diferença obtida no Nordeste (38 pontos) e Norte (15 pontos). Mas, como destaca outro cientista político, Jairo Nicolau, a votação final de Dilma foi menor do que a obtida por Lula em 2006 em todas as regiões do país, com exceção da Região Sul, onde ela manteve o mesmo patamar de Lula em 2006: 44% dos votos.

Dilma perdeu 4 pontos percentuais no Centro-Oeste; 8 pontos no Norte; 6 pontos no Nordeste e 5 pontos no Sudeste.

No Nordeste, Lula em 2006 teve 77,2%, e Dilma obteve 70,6%; no Norte, Lula teve 65,5% e Dilma, 57,4%.

Romero Jacob analisa que, como estratégia para ganhar a eleição, o PT foi eficaz por que perdeu de pouco no Sul e Centro-Oeste e venceu no Sudeste.

Em uma análise do Brasil como um todo, lembra Romero Jacob, dá para ver nos mapas eleitorais que, no Nordeste, os pontos azuis (locais onde Serra venceu) são muito poucos, e no Sul e Centro-Oeste os pontos vermelhos são muitos (onde Dilma teve mais votos).

As eleições do segundo turno de 2010 praticamente repetiram o padrão territorial que começou no primeiro turno de 2006, manteve-se no segundo turno de 2006 e no primeiro turno de 2010.

Segundo Jairo Nicolau, comparativamente a Alckmin em 2006, Serra cresceu em quatro regiões: 3 pontos percentuais no Centro-Oeste (onde o PSDB passou a vencer); 9 pontos no Norte; 3 pontos no Sudeste. Na Região Sul, Serra obteve (51%) e repetiu a votação de Alckmin em 2006 (50%).

Dilma perdeu, no total, em 11 estados. "Nunca um presidente eleito perdeu em tantos estados", destaca Nicolau em seu blog.

O cientista político fez comparações entre as eleições de 2006 e 2010 e chegou a conclusões interessantes.

Quando comparado a Alckmin (2006), Serra obteve mais votos (em pontos percentuais) em 24 estados; manteve-se no mesmo patamar em dois (São Paulo e Mato Grosso do Sul) e diminuiu apenas em um (Rio Grande do Sul).

Quando comparada a Lula (2006), Dilma obteve menos votos (em termos percentuais) em 25 estados; e aumentou apenas em dois (Rio Grande do Sul e Pernambuco).

As eleições foram bastante competitivas (menos de 10 pontos de diferença) em 11 estados (São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Pará, Goiás, Espírito Santo, Mato Grosso, Alagoas, Mato Grosso do Sul, Sergipe e Rondônia) e no Distrito Federal.

Nos outros 15, um dos d o i s c a n d i d a t o s a b r i u uma grande diferença sobre o outro.

Cesar Romero Jacob, da PUC, considera que os mapas eleitorais deixam claro que não existe uma disputa ideológica, nem mesmo uma disputa de classes, mas uma votação movida muito mais por interesses econômicos, seja das classes mais abastadas - que votaram em Dilma em todo o Nordeste - ou dos eleitores das classes C, D e E que, embora tenham ascendido socialmente nos últimos anos, só votaram em massa na candidata do governo no Nordeste.

Em muitos casos, o apelo do candidato tucano José Serra pela melhoria dos serviços públicos atingiu esse eleitor, que agora quer mais do governo além da pura distribuição de renda. Quer melhor educação, melhores hospitais, maior eficiência da máquina pública.

PAULO MOREIRA LEITE

Lobato, Emília e a banalidade do mal
PAULO MOREIRA LEITE  
REVISTA ÉPOCA

(Caro leitor: fiquei empolgado na discussão sobre racismo na obra de Monteiro Lobato. Admiro o escritor deste a infancia mas as passagens racistas de sua obra me incomodam desde a primeira leitura. Em função disso, escrevi uma das notas mais compridas da história deste blogue. Espero que você tenha ânimo para ler até o fim.)

Queria agradecer ao Conselho Nacional de Educação pela oportunidade de
pensar Monteiro Lobato mais uma vez.

Vou confessar uma coisa. Não lembro a data, não posso dizer a circunstância exata mas aqueles trechos de Caçadas de Pedrinho que se tornaram alvo de
discussão em função de uma decisão do Conselho Nacional de Educação sobre o conteúdo racista de determinadas fala de Emília, a boneca de pano, estavam adormecidos em minha memória durante décadas.

Eu era criança e tinha aprendido, naquele Brasil dos anos 50, que ser racista não era só errado. Era inaceitável, porque imoral. Meu pai e minha mãe, que eram cidadãos conscientes, socialistas, ocupados em dar uma formação democrática aos filhos, me falavam sobre estes e outros assuntos sérios.

Eu não fazia idéia, mas foi naquela época que racismo começou a ser considerado crime no Brasil, em função da lei Afonso Arinos. Até então, nada.

Eu adorava Lobato, achava aqueles personagens maravilhosos, ficava envolvido com suas histórias — mas as frases agressivas de Emília me deixaram chocado e traumatizado. Eu morria de pena de tia Anastácia. Em minha família nós tivemos uma certa Nhantoninha, que nascera escrava, ficara em casa de tias do interior — e morreu ali, entre elas, cuidada e, até onde posso me lembrar, querida.

Apesar da preocupações de meus pais com o racismo, numa visão que não
deveria ser apenas deles, mas refletia um debate que começava a ocorrer até na Universidade de São Paulo, eu vivia num país onde o racismo se praticava às escondidas, como um disfarce. Nunca poderei esquecer no dia em que um colega negro apareceu em casa, numa festa. Seu apelido na escola pública onde ambos estudávamos era Branquinho. Isso já queria dizer alguma coisa. A reação familiar não foi igual às outras vezes. Ninguém falou nada. Mas havia uma certa tensão. Meu colega nunca mais voltou. Sem melodrama, tenho a impressão de que ele era um habitual de primeiras e últimas vezes.

Na visita de Branquinho, eu recebi nossa lição número 1 sobre a hipocrisia
nacional. Tive outras. Eu também aprendi sobre os crimes contra judeus na
Segunda Guerra Mundial. O assunto ganhou importância quando Eichmann foi preso e julgado em Jerusalém, assunto não saiu dos jornais por um tempo. Em minha casa, lia-se dois jornais por dia. Em certa época, meu pai aumentou a cota para três. Resumindo, ele achava que TV nos escravizava e que os jornais nos fazia emancipados.

Eu não sabia que o julgamento de Eichman iria inspirar Anna Harendt a escrever um dos livros fundamentais de qualquer época nem a cunhar um dos diagnósticos básicos sobre ditaduras, aquele que se refere à “banalidade do mal.”

Mas já ouvia — em conversas em tom de susurro — que os judeus não gostavam de casar com quem não era judeu. Eram frases ditas com ressentimento, uma certa mágoa.

Levei décadas e muitas viagens ao exterior, inclusive uma prolongada residência na França, para entender que a banalidade do mal equivale a hipocrisia. Essa foi a lição definitiva da minha vida e só lamento que nem sempre tenha sido capaz de entendê-la.

A hipocrisia não é uma idéia, nem uma opção. É uma atitude de vida. Você enxerga o que é errado mas finge que não o vê. Simula concordar do fundo do coração com uma idéia, uma proposição, ou mesmo uma decisão em seu local de trabalho ou numa roda de amigos — mas só está agindo de acordo com aquilo que é conveniente para sua vida profissional ou até para começar a namorar uma menina interessante. A base de tudo é tratar a consciência como moeda de troca.

A hipocrisia é aquela postura que nos faz fracos, que esconde nossa estranha
capacidade de esconder convicções e valores pelo esforço de agradar e receber algum benefício. Quanto mais disfarçada, mais eficiente.

Digo isso para lembrar que ninguém vive em laboratórios de valores claros e
atitudes luminosas. Como proclamava-se em 68, nem os maiores gênios habitam torres de marfim.

Cada época cobra seu preço sobre homens e mulheres, que estão condenados a conviver com preconceitos, dramas e atrasos. O próprio Monteiro Lobato
chegou a reconhecer isso — a respeito de outro de seus personagens
inesquecíveis, o Jeca Tatu. Como lembrou Sergio Leo em seu blogue, Lobato
chegou a desculpar-se perante os leitores em função do tratamento preconceituoso que dispensou ao caboclo Jeca Tatu, apontando-o como um tipo indolente e preguiçoso, incapaz de reagir diante das dificuldades da vida — em vez de perceber as condições materiais que tornavam a vida daqueles brasileiros simples do interior do país tão difíceis e tão precárias. Sim. Aquele escritor genial, que hoje é tratado como intocável, admitiu que poderia ser tocado, discutido, revisto.

Falando sobre outro gênio do século XX, Joseph Conrad, autor de Coração nas Trevas e outros livros inesquecíveis, o professor Edward Said, autor de
Orientalismo recorda um limite intransponível da atividade cultural. A visão é assim: se um homem genial é aquele que avança a consciência de seu tempo, seria uma utopia imaginar que é possível superar todos os limites — inclusive as barreiras definidas pelo conhecimento científico de determinada época. Homens comuns ou geniais, estamos todos submetidos às verdades estabelecidas de um lugar e de uma época.

Os grandes autores são aqueles que forçam barreiras, abrem janelas, escancaram portas — mas ninguém escancara todas as janelas e todas as portas de uma só vez.

Caçadas de Pedrinho foi escrito em 1933, um ano terrível na história da humanidade. Foi em 1933 que o Partido Nazista de Adolf Hitler conquistou o poder na Alemanha, na esperança de estabelecer um Reich que, embora não tenha durado 1000 anos, como pretendiam seus patronos, produziu tragédias e crimes equivalentes a muito mais do que isso. Entre outras coisas, era um período de idéias eugenistas, em que se procurava explicar o avanço e o progresso de povos e pessoas a partir de sua herança genética. O racismo não era considerado um crime — mas uma teoria científica. As idéias de hierarquia racial estavam no ar e não só na Alemanha mas no mundo inteiro.

Na mesma época, o grande Gilberto Freyre, um dos mais corajosos advogados da integração do negro na sociedade brasileira, que enxergava a democracia racial como meta a ser alcançada e não como realidade já vivida, produzia Casa Grande & Senzala. Ali deixou vários parágrafos em que se dedica a definir os predicados e incapacidades dos escravos trazido ao país em função de seu local de nascimento, chegando a associar o desenho do nariz, o formato da boca, a musculatura das pernas e até o tamanho da bunda para explicar a vocação de cada um.

Como Gilberto Freyre, Lobato era uma consciência e um produto de seu tempo. Foi assim que chegou a mim, naqueles dias infantis em que eu lia Caçadas de Pedrinho e não conseguia entender por que um escritor tão bom — apesar das sombrancelhas de taturana que lhe davam um ar maligno –, tão recomendado por meus pais, que por sua vez eram cidadãos tão otimistas sobre o futuro da humanidade, era capaz de escrever palavras tão feias, que machucavam tanto Tia Nastácia, cujas descendentes, muito mais magrinhas, vieram morar em minha casa, para fazer almoços e jantares e cuidar da limpeza, atendendo pelo nome de Lola, Iraci, Carmen, Iracema e tantas outras, até que hoje estou sob cuidados de Neuza, que ainda por cima é branca.

Aquelas palavras de Emília doiam, porque já dava para saber que ela é que dizia o que Lobato pensava — e não Dona Benta, aquela vovó boazinha mas fora dos combates da vida real. Não sou nenhum estudioso de literatura mas, no contexto do Sitio do Picapau Amarelo, as palavras de Dona Benta são o contraponto necessário, a escada para o diálogo. A protagonista é Emília, porém. Suas palavras ficam na memória, reverberam. Por isso chocam, doem, abrem feridas.
Todos nós fomos educados com a noção de que o Brasil é um país onde o racismo não existe. Vejamos, então, a contradição: o mais popular autor infantil brasileiro autoriza a protagonista da obra a chamar uma empregada negra de macaca, chama seus lábios de beiços…num trabalho frequente de desumanização.

É claro que não se deve proibir a obra de Lobato e basta ler as recomendações do Conselho de Educação para perceber que este não é o espírito da decisão. Mas não dá para ser hipócrita e, banalizando o mal, fingir que é tudo normal e vamos em frente que não queremos ser chamados de autoritários por quem nunca levou essa noção de liberdade e democracia muito a sério, concorda?

Eichmann, que supervisionava o envio de judeus aos campos de concentração, dizia que não tinha nada de pessoal contra suas vítimas, não é mesmo? Por que ficar incomodado com uma negra na obra de Lobato?

Na verdade, o que se quer é orientar uma discussão delicada e necessária. Eu acho que este debate pode ser útil, além de corajoso.

Educação é cultura organizada e é para isso que existem escolas, professores, diretores, pedagogos, conselhos de Educação e até ministros.

A função de localizar um autor, situá-lo em seu tempo e trazer sua obra para nosso mundo exige preparo, conhecimento e capacidade intelectual. É um serviço ambicioso, delicado, mas necessário. Uma nota explicativa, como quer o Conselho, pode ser um bom estímulo à discussão.

Não podemos esquecer. No Brasil de 1933, os brasileiros negros não estudavam, não tinham trabalho fixo nem perspectiva na vida. Eram basicamente ex-escravos sem chegar a ser homens livres de fato.

Hoje, eles estão na sala de aula, entram na faculdade e, considerando seu ponto de partida, constituem o grupo que exibe o maior desempenho em matéria de melhoria social. Não dá para fingir que o racismo não existe. Nem para dizer que fiquem em silêncio quando dizem que se sentem constrangidos.

Lembrando aquele menino que lia Lobato num pequeno apartamento do Paraíso, em São Paulo, muito mais próximo do samba do Bixiga do que se admitia em casa, eu acho que o Brasil precisa desta redescoberta.

Lobato ficará maior e a cultura brasileira também. Afinal, o criador de Emília nunca teve medo de chamar as coisas por seu nome.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Medidas sem efeito para conter o fluxo de dólares
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo


O fluxo cambial no mês de outubro apresentou saldo positivo de US$ 6,917 bilhões, com fluxo comercial de US$ 1,777 bilhão e financeiro de US$ 5,147 bilhões, resultado que mostra que, até agora, as medidas do início de outubro para conter a entrada de dólares não tiveram grande efeito.

Podia-se pensar que as medidas afetariam de modo positivo as exportações. E, de fato, o total das operações de câmbio (que não se confunde com o resultado das exportações na balança comercial) cresceu US$ 2,448 bilhões, enquanto as exportações registradas na alfândega apresentaram redução de US$ 452 milhões. Foi o maior resultado registrado em dois anos, dando a impressão de que os exportadores acreditaram numa provável desvalorização do real, repatriando receitas que haviam deixado no exterior e que, na conjuntura internacional atual, têm rendimentos muito reduzidos. Convém assinalar que a desvalorização do dólar se está traduzindo em aumento do preço das commodities, o que ajudou a aumentar as receitas em dólar.

As importações baixaram ligeiramente, efeito, talvez, da desvalorização do real que ocorreu logo depois das medidas do Conselho Monetário Nacional (CMN), mas que na sequência não se consolidou.

O saldo das operações financeiras, as mais sensíveis às medidas das autoridades monetárias, foi positivo em US$ 5,141 bilhões, um dos maiores registrados em dois anos, com a exceção de outubro de 2008, com a emissão do Banco Santander de US$ 14,5 bilhões, e de setembro deste ano, com a emissão da Petrobrás de US$ 16,7 bilhões.

As compras de divisas somaram US$ 34,5 bilhões, ante US$ 49,1 bilhões no mês anterior; as vendas atingiram US$ 29,4 bilhões, ante US$ 32,4 bilhões. É um quadro que leva a concluir que as medidas restritivas à entrada de capital estrangeiro não surtiram grande efeito (excluindo o aumento de capital da Petrobrás), ainda mais quando se registram apenas sete dias no mês em que o movimento financeiro ficou negativo.

Tudo indica que os investidores estrangeiros conseguiram compensar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 4% sobre suas operações; estimaram que as operações de arbitragem, com a Selic de 10,75%, são ainda atraentes; e que as aplicações em Bolsa, com a política monetária norte-americana, tendem a favorecê-los.

Verifica-se que, no caso de operações de crédito, os bancos procuraram compensar o IOF com elevação da taxa de juros, um fato paradoxal num mundo em que a liquidez está aumentando.

RUTH DE AQUINO

O preconceito das Mayaras
RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
“Nordestino não é gente. faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado”, escreveu a estudante de Direito Mayara Petruso em seu perfil no Twitter. O show de preconceito de Mayara foi uma reação irritada e burra à vitória de Dilma Rousseff no Nordeste. Além de perder seu estágio e ser processada pela OAB de Pernambuco, Mayara conseguiu outra façanha. Despertou uma onda de comentários de ódio e preconceito contra os paulistas. O que não falta hoje na rede é gente como a gente, intolerante e racista.
Euclides da Cunha em Os sertões escreveu que “o nordestino é antes de tudo um forte”. Alguém duvida disso? A seca, a separação de parentes pela migração, a falta de terra, a renda menor, a oportunidade cavada à base de luta e provação, tudo isso faz deles resistentes. Não estão apenas no Nordeste. Os nordestinos estão nas portarias, construções e nos restaurantes do Rio de Janeiro e de São Paulo. A convivência no “Sul maravilha” é intensa e enriquecedora. Música, comida, festas, danças, crenças, literatura, quantas trocas podem ser feitas entre o povo de cá e de lá, todos brasileiros falando a mesma língua?
Do Nordeste veio o baiano Jorge Amado. O alagoano Graciliano Ramos. O pernambucano João Cabral de Melo Neto. A cearense Rachel de Queiroz. O paraibano José Lins do Rego. Vieram Caetano, Gal e Bethânia. É sem fim a contribuição cultural dos nordestinos.
Mas o preconceito existe na cabeça de muitas Mayaras por aí. Um sentimento escondido que essa moça escancarou. Numa eleição em que o presidente Lula estimulou a rixa e a animosidade entre ricos e pobres, sul e norte, é normal que os ânimos continuem acirrados. Anormal é todo esse ódio e desprezo de uma estudante, e logo de Direito. Em seu perfil no Twitter, ela escreveu: “Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho pra ganhar o bolsa 171”. É ofensivo, triste e dá vergonha.
Mesmo assim, muitos outros internautas se animaram com Mayara e pediram “câmaras de gás no Nordeste matando geral” ou então sugeriram “separar o Nordeste e os bolsas vadio do Brasil”. É xenofobia em alto grau. O significado original de “xenofobia” é preconceito com estrangeiros, mas se aplica a esse caso. Essa turma parece considerar os nordestinos um povo estranho e inferior.
Os comentários da estudante de Direito no Twitter são um crime contra os nordestinos
Mayara tampouco sabe fazer conta. Mesmo sem os votos do Nordeste, Dilma seria a nova presidente do Brasil. Entre os paulistas, ela teve uma votação expressiva e ganhou no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Para os tucanos fanáticos, porém, o recado do Nordeste nesta eleição foi um acinte: Dilma teve mais de 70% dos votos, uma vantagem de 10,7 milhões somente nessa região. E isso representa quase toda a diferença obtida no país. Por isso, Mayara partiu para cima dos nordestinos e virou a antiestrela da maior diversão atual na rede: achincalhar, caluniar, difamar (leia mais).
O lado bom é que o gesto parece não ter ficado impune. A estudante responderá por crime de racismo e de incitação a homicídio, segundo a OAB de Pernambuco. E a pena é de dois a cinco anos de prisão, mais multa. Mayara talvez precise ser advogada em outro país. Na Inglaterra pode ficar difícil, pois o caso foi parar em detalhe num dos jornais mais importantes de Londres, o Daily Telegraph.
O lado ruim é que detonou uma campanha de ódio contra os paulistas. Não sei até que ponto a Justiça reage com a mesma presteza contra quem demonstra preconceito contra ricos e brancos. Mas os paulistas estão sendo chamados de “bestas” e “gente que não trabalha” e “vota em palhaço”. Chega desse besteirol étnico. A eleição terminou.
Vamos deixar que o espetáculo pobre fique por conta dos políticos, em sua guerra por cargos e boquinhas. Tão excitados estão os parlamentares – paulistas, cariocas, nordestinos, nortistas e sulistas – que deixaram às moscas e sem quorum, na semana passada, os salões do Congresso Nacional. Isso sim vale uma campanha no Twitter. Voltem ao trabalho, congressistas
!

CELSO MING

Alívio precário
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 06/11/10


Ontem, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos espalhou uma brisa de alívio nos mercados ao divulgar o primeiro aumento mensal do emprego desde maio, ocorrido em outubro. Mas, por enquanto, trata-se de um progresso com baixo nível de sustentação, por um punhado de razões.
A mais importante delas tem a ver com o mega-arranjo que vem prevalecendo na economia. Os Estados Unidos mantêm o privilégio de emitir a quase única moeda de reserva do planeta e, nessas condições, recebem capitais de baixo custo de outros países. É o que permite que os americanos consumam uma enormidade a baixos preços. Para ter capitais a despachar para os Estados Unidos, o resto do mundo tem de exportar. A contrapartida disso é a de que a produção e os empregos americanos vêm sendo transferidos para outros lugares, especialmente a China. Não se sabe de nenhuma iniciativa eficaz destinada a mudar esse jogo.
A esse fator de longo prazo, se pode acrescentar outro. Em apenas uma ou duas gerações, o mercado internacional de trabalho está incorporando quase metade da população global (os asiáticos e outros contingentes do mundo mais pobre), que aceita salários mais baixos do que os prevalecentes nos países de alta renda. É por isso, também, que tantas empresas estabelecidas nos grandes centros estão sendo transferidas para a periferia do setor produtivo.
Há outras razões conjunturais que explicam o baixo crescimento do emprego nos Estados Unidos. Uma delas é a de que o empresário americano não confia na recuperação. Praticamente todas as projeções, a começar pelas do Fed (banco central), são de que a baixa atividade econômica persistirá por muito tempo e, assim, o empregador não está disposto a contratar pessoal. Afora isso, o próprio consumidor, endividado e com medo do futuro, evita comprometer-se com ainda mais dívidas e mais compras.
A segunda é a de que as finanças públicas dos Estados Unidos continuam se deteriorando. Isso significa aumento das demissões de funcionários públicos.
A terceira razão é a de que a crise mostrou ao empresário americano que investimentos de custo relativamente baixo em Tecnologia da Informação podem dispensar a contratação de pessoal.
Essa baixa propensão à queda do desemprego por lá, que vai para 10% da força de trabalho (14,8 milhões de americanos), leva alguns analistas, como o Prêmio Nobel Paul Krugman, a recomendar, sem considerar os efeitos colaterais perversos para os emergentes, um despejo ainda maior de dólares na economia pelo Fed.
Nenhuma autoridade global responsável deseja o prolongamento da prostração da economia americana que, mal ou bem, continua sendo a locomotiva do mundo. O problema é que, até agora, não surgiu nenhuma proposta aceitável de solução para os atuais impasses. Os países ricos estão endividados e a única iniciativa que vai sendo colocada em prática é a impressão de moeda pelo Fed, de resultados altamente duvidosos.
Tampouco apareceu entre as esquerdas tradicionais (socialistas e social-democratas) uma única ideia aproveitável para a saída desta crise do capitalismo e da dramática situação do emprego.

Sucesso
O gráfico mostra a evolução dos saldos da caderneta: crescimento de 20,5% em 12 meses, resultado que tem uma explicação principal: o avanço de renda da população, que deixou uma sobrinha para aplicação. O aumento da renda, por sua vez, tem a ver com a elevação dos gastos públicos neste ano eleitoral.
Deixou pra lá
O Japão foi o único país vítima do despejo de dólares pelo Fed que não reclamou da queda do dólar. Em setembro, o Banco do Japão interveio para evitar a valorização do iene. 

ROBERTO ROMANO

Últimos dos bárbaros
Roberto Romano 
O Estado de S.Paulo - 06/11/10


O trote mancha a ética universitária. Nele surge o fascismo que jaz nas camadas urbanas. País que viveu o século anterior sob tiranias, o Brasil ainda não se adequou ao convívio sob a lei. Getúlio Vargas, com polícia e censura unidas à propaganda do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), e o regime de 1964, com suas câmaras de tortura aliadas aos censores da imprensa, muito fizeram para corroer o caráter dos governados. Como o poder oposto à democracia tem origem direta na força não mediada por ordens jurídicas liberais, parte da sociedade nele enxerga a única forma correta de existência.

Acostumados a obedecer a dirigentes truculentos e arbitrários, os supostos cidadãos ignoram direitos dos mais fracos e os transgridem sempre que possível. Linchamentos, trotes, intimidações hoje marcadas como bullying na internet reiteram os mais baixos padrões éticos. Na sarjeta, tais formas de agir são intoleráveis. Nos câmpus, elas arruínam a essência institucional, põem abaixo todo o labor heroico para gerar saberes e técnicas que favoreçam o povo, o pagador de impostos.

Quando um brasileiro compra alguma coisa, nem que seja uma simples caixa de fósforos, o Estado cobra-lhe taxas, que seguem para os estudos de jovens cientistas ou eruditos em literatura, humanidades, artes. Se o ensino é gratuito, imperativo deve ser o respeito a quem assegura o acesso ao conhecimento. Estudante que acha engraçado ferir o corpo e a alma de cidadãos externos à escola, ou de seus colegas - digamos as coisas sem mascar palavras -, é ladrão.

Em vez de aproveitar o dinheiro público nas formas dignas e belas do currículo acadêmico, ele suga verbas como parasita. Temos o costume de invectivar a corrupção dos Executivos e Legislativos. No entanto, a fraude ética, ao se manifestar no espaço universitário, atinge uma das matrizes de transmissão e invenção de valores científicos e morais. Universidade que tolera trotes ruma para o rebaixamento axiológico. Quem fere colegas e não é punido será legislador corrupto, profissional sem escrúpulos, médico contrário ao juramento de Hipócrates: "Nunca causar dano ou mal a alguém."

O trote universitário surgiu nas primeiras escolas superiores europeias. Ainda vigorava naquele continente o sistema feudal. Os camponeses, embrutecidos pelo domínio dos nobres, para fugir do inferno usavam as peregrinações (como a São Tiago de Compostela). Massas consideráveis, escapando do tacão, seguiram para as periferias urbanas. Naquelas multidões, os estudantes que vinham do campo eram caracterizados como "bichos" pelos colegas citadinos (existiam embates para definir se camponeses e mulheres tinham alma, donde ser "natural" julgar que lavradores embrutecidos eram animais, não humanos). Daí os ritos de "passagem" impostos aos pobres no vestíbulo da universidade. Todos os atos cruéis se justificavam para forçar os "bichos" rumo à "humanidade".

Semelhantes proezas mostram o quanto existiu (existe...), nos câmpus, em matéria de preconceito criminoso em face dos mais fracos, animais ou humanos. Os estudantes que merecem o nome encontrarão notícias sobre a prática hedionda em dois livros distintos. O primeiro, do grande historiador Jacques Le Goff (18 Essais sur le Moyen-Âge), e o segundo, da filósofa E. de Fontenay (Le Silence des Bêtes).

O elo entre os dois livros é fornecido por Claude Lévi-Strauss: "A única esperança, para cada um de nós, de não ser tratado como animal pelos semelhantes, é que todos os semelhantes e cada um deles se experimente como seres que sofrem, cultivando em seu foro íntimo a aptidão interna da piedade que, no estado de natureza, assume o lugar das "leis, costumes e virtude" e sem cujo exercício começamos a compreender que, no estado da sociedade, não pode existir nem lei, nem costume, nem virtude." A passagem encontra-se no magnífico volume da Antropologia Estrutural, Dois.

Uma universidade que não ensina o modo piedoso, a compaixão no trato dos semelhantes, é teratologia ética. Não reprimir trotes significa acatar a via da cumplicidade com o fascismo. Não foi por carência de informações científicas e técnicas que os universitários alemães, italianos, franceses e outros colaboraram nos piores crimes consubstanciados no Holocausto. A causa reside, além da propaganda sobre a "superioridade" etnocêntrica, na absoluta pravidade em relação aos mais fracos.

O caso da Unesp, de agora, não é único na história negra de nossa triste vida acadêmica. Para a leniência muito colaboram doutrinas "libertárias" que buscam apagar as noções de lei e de Estado de Direito. Entre tais doutrinas, a de Michel Foucault. Denunciar o autoritarismo das instituições sem maiores cuidados é esquecer que elas foram produzidas para atenuar a lei do mais forte.

Termino com algo real na própria biografia de Foucault. O autor da História da Loucura, ainda na ditadura, deu palestras na USP sobre o seu tema predileto. O Centro Acadêmico de Filosofia abrigava um ex-aluno acometido de perturbações mentais e que incomodou o filósofo. Este, rápido, pediu ajuda para retirar a pessoa da sala. Repressão...

A Unesp merece todo o respeito, tanto pela pesquisa científica quanto pela integridade dos seus docentes, alunos, funcionários. Mas se estudantes, nos câmpus, agem como pura massa de perseguição, é tempo de exigir a sua retirada.

Spinoza não hesitou em erguer um cartaz contra impiedosos inimigos da lei: "Ultimi barbarorum." Na violência cometida contra "as gordas da Unesp", não seguir a ética spinozana é assumir coautoria.


FILÓSOFO, PROFESSOR DE ÉTICA E FILOSOFIA NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP), É AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ''O CALDEIRÃO DE MEDEIA'' (PERSPECTIVA)

REGINA ALVAREZ

O futuro da balança
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 06/11/10


O derretimento do dólar só faz aumentar a preocupação dos exportadores e de alguns segmentos da indústria que competem com os produtos importados. As perguntas que estão colocadas é por quanto tempo teremos fôlego para sustentar o saldo positivo da balança comercial? E qual o estrago efetivo que o dólar barato está provocando na nossa indústria?

O economista Marcos Lélis, coordenador de Inteligência Comercial da ApexBrasil, analisou o comportamento da balança desde 2003, quando começou o crescimento do superávit ancorado nos produtos básicos.

Ele acredita que o resultado positivo está garantido pelo menos até meados de 2011, baseado em uma tendência sustentada desde fevereiro de 2009, que manteve praticamente constante um superávit mensal em torno de US$ 1,5 bilhão.

O que sustenta a balança é a venda de commodities para a Ásia. Minério de ferro para a China e açúcar para Índia, principalmente. Lélis prevê que a China deve crescer 8% ao ano, no mínimo, até 2012. A Índia também cresce a taxas robustas.

O Brasil teria um prazo de dois a três anos para se ajustar: melhorar a infraestrutura, a produtividade, a qualificação da mão de obra, a inovação tecnológica, tornando-se competitivo quando o mundo deixar de demandar com o mesmo apetite nossos produtos primários.

- Só assim encontraremos nosso rumo. É um caminho sem volta e a posição atual é muito incômoda, estamos no meio do caminho.

Não se consegue competir com os preços da China, nem com a qualidade da indústria europeia, japonesa e americana - destaca.

O efeito negativo do câmbio, na visão do economista, pode ser compensado com crédito, melhoria da infraestrutura e redução tributária.

José Augusto de Castro, da AEB, também não coloca o câmbio como vilão da balança comercial.

- O câmbio não é causa, é consequência. Com reforma tributária, melhoria da infraestrutura, menor custo financeiro e menos burocracia não estaríamos discutindo câmbio - afirma.

Mas não está tranquilo em relação ao superávit da balança. Considera que estamos passivos no comércio exterior e totalmente dependentes do humor da economia mundial.

- Se o mundo mudar um pouquinho de humor teremos déficit - afirma.

A explosão dos preços das commodities - 70% da nossa pauta de exportações - é artificial, na visão de Castro.

Há um componente especulativo que preocupa. O minério de ferro, que custava US$ 18,82 a tonelada em 2001, em outubro estava em US$ 114, quase sete vezes mais.

Golpe nos pequenos

Evento promovido pelo Sebrae e pela Direito GV, nesta terça-feira, em São Paulo, discutirá os estragos que a cobrança do ICMS via substituição tributária está causando nas micro e pequenas empresas inscritas no Simples Nacional. O aumento do imposto pode chegar a 700% quando o recolhimento é feito por esse sistema. A substituição tributária ocorre quando uma empresa - normalmente industrial ou atacadista - recolhe o ICMS devido pelos demais integrantes da cadeia produtiva. Quem decide quais empresas e produtos devem seguir a norma são os estados.

- Na prática, a substituição tributária anula a redução do ICMS prevista no Simples Nacional - afirma o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto.

Acomodação

Os números ainda mostram queda na inadimplência, mas o ritmo diminuiu em relação ao começo do ano. Dados da Equifax indicam que a inadimplência de pessoas jurídicas caiu 4% em setembro. Em janeiro, a redução foi de 24% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. O mesmo aconteceu com as pessoas físicas. Os protestos judicias caíram 2% em setembro, contra 16% de janeiro. Um dos fatores é a base de comparação com 2009, que não está mais tão alta.

- A melhora da inadimplência agora será em ritmo mais lento - prevê Alcides Leite, consultor da Equifax.

Bombas fiscais

Não é só o governo federal que está preocupado com projetos no Congresso propondo gastos. Olha o relato do ministro Paulo Bernardo: "Serra me ligou em março para falar de um outro assunto e eu disse: governador, sabe que estão votando aqui um negócio que equipara delegados a promotores e policiais federais a procuradores? Ele falou: é uma barbaridade.

Em São Paulo isso vai custar mais de R$ 8 bilhões."

Além-mar

UniRio e UFF estão no projeto Universidade Aberta do Brasil, que o presidente Lula leva a Moçambique na próxima terça-feira. É a primeira experiência fora do país do programa que oferece cursos de graduação à distância, pela internet. A ideia é começar com 600 alunos matriculados, mas a meta é atingir sete mil estudantes em outros países de língua portuguesa e da América Latina.

TUDO ONLINE: A GlobalWeb já fechou R$ 30 milhões em contratos no Brasil com foco em Cloud Computing, que usa a internet como suporte de dados para as empresas.

MIX DE PRODUTOS: Além dos vinhos, a vinícola gaúcha Perini aposta na venda de espumantes e suco natural para conseguir crescer 25% este ano.

COM ALVARO GRIBEL

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

99% certo
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/11/10
Se não entrar areia pelo caminho, será Maria da Graça Foster a ministra-chefe da Casa Civil de Dilma.
Saco de bondades
Ao sentar-se quinta-feira diante do juiz eleitoral para provar que sabe ler e escrever, Tiririca terá alternativas. Caso não consiga pegar no lápis, poderá ler, soletrar e até digitar no computador local.
A Justiça não quer dificultar a vida do palhaço, que alegou problemas motores na mão como justificativa para não ter escrito, de próprio punho, sua declaração eleitoral.
Mata-mata
Luiz Felipe Scolari entrou com processo contra o Bunyodkor, do Usbequistão. O técnico apelou para o Tribunal Arbitral de Esporte, com sede na Suíça, que cuida, entre outras, de disputas referentes a transferências internacionais.
O técnico havia rescindido o contrato amigavelmente, visto que o clube passava por problemas financeiros.
Indagada, a assessoria de imprensa de Felipão não quis se manifestar.
Home, sweet
Dilma decidiu: no período de transição, vai morar na Granja do Torto.
Enquanto ela descansa em Itacaré até amanhã, sua assessoria encaixota seus pertences da casa do Lago Sul. A residência, alugada pelo PT, não era do agrado da presidente eleita pela falta de privacidade.
Assim Dilma repete o gesto de Lula, em 2002, quando também usou o local no período da transição.
Cafezinho
Chegou ontem ao Planalto pedido de audiência de Rudolph Murdoch. Vem discutir com Lula futuros investimentos no Brasil na área de comunicação. O mega empresário da mídia será recebido até o fim do mês.
Menos mal
Será um amigo muito próximo do ex-senador Tasso Jereissati a ocupar sua sala no Senado. Ninguém menos que Aécio Neves.
Eu fico
Paulo Renato permanece como secretário de Educação do governo do Estado de São Paulo. Decisão de Alckmin.
Imensidão azul
Luciano Huck mergulhou em um aquário. Mais precisamente dentro do site de compras coletivas Peixe Urbano.
Santa gula
Depois de arrematar o Jabuti de melhor romance por Leite Derramado, Chico Buarque foi jantar no Emiliano. Na mesa, Luiz Schwarcz, Lilia Schwarcz e André Botelho - que também levaram o prêmio por Um Enigma Chamado Brasil.
Hippopotamus
Ricardo Amaral, rei da noite paulistana e carioca nos anos 70 e 80, terá uma biografia para chamar de sua.
Escrita pelo próprio, com mais de 500 páginas, contará "causos" do jet set internacional. Pela Leya.

Regência a quatro mãos

Organizador da prova há 30 anos, Tamas Rohonyi, da International Promotions, está dividindo, pela primeira vez, as responsabilidades do GP Brasil com Claudia Ito. A coluna conversou com ele.
O que mudou com a entrada de Cláudia Ito?
A Claudia e eu trabalhamos em parceria há duas décadas. Hoje discutimos tudo mas decisão final é dela.
Para os negócios, faz falta um brasileiro na liderança?
Não. Tanto o público como nossos patrocinadores entenderam que a prova é sempre empolgante. Não é por acaso que o GP Brasil está entre os três eventos esportivos de maior audiência televisiva no mundo.
Quem teve a ideia de homenagear o Emerson Fittipaldi?
Partiu do Bernie Ecclestone. Ele admira muito os pilotos brasileiros. Três passaram pelas suas mãos: José Carlos Pace, Wilsinho Fittipaldi e Nelson Piquet.
Gostou da mudança das regras na F1?
Vieram para melhor. A nova pontuação permite grande equilíbrio na classificação. Prova disso é que o campeão sairá da penúltima ou da última prova do ano. E mais: o fim do reabastecimento tornou as corridas mais imprevisíveis e seguras.
Novos projetos para 2011?
Esperamos avanço no Plano Diretor do Autódromo de Interlagos, cuja pista está entre as três melhores do mundo.
Na frente

Por essa nem João Santana esperava... Os moços do Black Eyed Peas rasgaram elogios ao governo Lula e à Dilma.
Ivete Rizkallah estreia hoje a unidade Itaim do Sírio-Libanês.
Irineu Loturco comanda a palestra Dança, Hobby ou Atividade Física, no Anacã. Terça.
Ricardo Kotscho comanda as caçarolas hoje na Tabacaria Ranieri. Foi desafiado a preparar um...goulash.
Marina Silva abre o Exame Fórum de Sustentabilidade. Quarta, no Sheraton.
Quem fica mais velho amanhã é Geraldo Alckmin.
Antonio Prata lança o livro Meio Intelectual, Meio de Esquerda. Terça-feira, no Centro Cultural Rio Verde.
É segunda-feira a festa de abertura da exposição L"Officiel 90 anos de História de Moda. No Shopping Iguatemi.
O livro Bistrô & Trattoria - Cozinhas da Alma sai do forno segunda. No Valentina.
A orquestra do Theatro São Pedro faz concerto em homenagem a Rossini. Hoje e amanhã.
Esquiadores brasileiros: começou a nevar no Colorado. 

TUTTY VASQUES

...E nem lápis pode mais
Tutty Vasques 
O Estado de S.Paulo - 06/11/10

Nessas horas, que não são poucas, eu penso sempre no Anísio Teixeira, o célebre educador que empresta seu santo nome ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo Enem. O que ele diria sobre a proibição do uso de lápis, borracha, apontador e relógio analógico em locais de prova? No tempo em que o professor brigava pelo raciocínio em detrimento da memorização, isso era tudo que um candidato precisava para ser examinado.
A justificativa do combate à prática da cola de informações, com o perdão do trocadilho, não cola! Afinal, que diabos cabe num apontador ou numa borrachinha que não entra na cueca ou no sutiã de um(a) adolescente em final do Ensino Médio? Ou será que, no futuro, todos farão vestibular nus? Talvez seja até mais seguro - e menos despudorado - vendar-lhes os olhos durante as provas.

Até o fechamento deste comentário, o Ministério Público do Espírito Santo - amém! - falava sozinho contra a desmedida paranoia do Inep. Ineptos, os 4,6 milhões de inscritos no Enem desperdiçaram uma ótima chance de mobilização: 1968, pelo visto, terminou! Vou já avisar o Zuenir.

Fim do mundo

Os intelectuais cariocas estão se pintando para a guerra. Também, pudera! A Império Serrano trocou Quitéria Chagas por Vânia Love no posto de rainha de bateria da escola de samba. Só se fala disso até na Academia Brasileira de Letras."É o fim da poesia!" - protestava o imortal Arnaldo Niskier no chá de ontem.

Olha o passarinho!

Os fotógrafos estão a postos desde quinta-feira na Praia de Itacaré, na Bahia. É grande a expectativa em todo o País pela estreia de Dilma Rousseff de maiô no noticiário.

Papa essa, Brasil!

Os aloprados estão exportando know-how técnico. Deu no El País, da Espanha, que foi encontrado na rua um dossiê de 11 páginas sobre Bento XVI e o esquema de segurança de sua visita a Barcelona neste fim de semana. Precisa ver se não aproveitaram o embalo para quebrar o sigilo fiscal do papa na Receita Federal de Mauá (SP).

Minivirada cultural

Uma dica para a senhora paulistana, cujo marido a trocou neste fim de semana pelo amor aos carros da Fórmula 1 e do Salão do Automóvel: tem um arrasta-pé comendo solto no Largo do Arouche. Pinta lá! Às 11h de domingo, quando os motores já estiverem roncando em Interlagos, vai rolar uma aula de chá-chá-chá imperdível.

Peralá!

Depois da cólera, um furacão: o fim do mundo, definitivamente, cismou com o Haiti. Assim, também, já é perseguição!

Dúvida cruel

Tiririca vai poder usar lápis, borracha e apontador no teste de alfabetização a que será submetido na próxima quinta-feira? Precisa ver se ele não vai colar!

ANCELMO GÓIS

GISELE NA VILA
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 06/11/10
 
Roberto Carlos, enredo da Beija-Flor, não vai brilhar sozinho na Sapucaí em 2011. Gisele Bündchen, nossa supermodelo, confirmou presença no desfile da Vila Isabel.
Sairá no último carro, construído especialmente para ela.

LULA EM CAMPO 
Lula será homenageado na festa da CBF para premiar os melhores do Campeonato Brasileiro, dia 6 de dezembro, no Theatro Municipal do Rio. Receberá o troféu de Torcedor N 1 do Corinthians, que completou 100 anos em 2010.

CAMARADAS NO AR 
A companhia russa Trans Aero vai começar a operar voos regulares Moscou-Rio a partir de 3 de janeiro.

BOLETIM MÉDICO 
Fernando Henrique Chateaubriand Bandeira de Mello, 47 anos, neto de Assis Chateaubriand, foi baleado por um assaltante, quinta de manhã, ao sair de casa, no Pacaembu.
Foi operado duas vezes e está internado no CTI do Hospital Samaritano, em São Paulo.

NO MAIS 
Durante breve período, no início de 2011, o deputado Michel Temer lembrará, se não em carisma, pelo menos em cargos, a trajetória de Ulysses Guimarães. É que, como o velho timoneiro, Temer será, ao mesmo tempo, presidente da Câmara, do PMDB e vice da República.
A diferença é que a Câmara não é mais a mesma, o PMDB, muito menos, e a República, bem, essa é melhor nem falar...

ALCEU & GERALDO 
Geraldo Azevedo, apesar dos pedidos desesperados para ter de volta seu violão, furtado há um mês, não teve resposta.
Seu bom amigo Alceu Valença teve de emprestar o instrumento que Geraldo usará hoje num show no Teatro Rival, no Rio.

NO AR 
Veja como passageiro sofre. Os juizados dos aeroportos no Rio receberam, só em outubro, 1.228 queixas de usuários.
As voadoras campeãs de reclamações foram Gol (307), TAM (201) e a Webjet (191).

AGENDA VERDE 
O BNDES vai bancar um projeto de recuperação de 200ha de Mata Atlântica.
Serão R$ 3,6 milhões para o Instituto Ipê aplicar em reflorestamento de trechos do Parque do Morro do Diabo, da Estação Ecológica do Mico-Leão-Preto e em áreas de preservação em assentamentos no Pontal do Paranapanema, SP, região de conflitos com o MST.

BANDEIRA DA FOME 
Lula, antes de deixar o governo, deve lançar um candidato brasileiro a secretário-geral da FAO, a entidade da ONU dedicada ao combate à fome.
O nome não foi escolhido.

DIÁRIO DE JUSTIÇA 
O TJ-RJ homologou ontem acordo entre o MP e o Itaú, pelo qual o banco terá de depositar R$ 10 milhões num fundo público de defesa do consumidor, que será criado pela prefeitura.
Em troca, o MP vai retirar ação em que se queixa de cobranças indevidas a clientes.

SAMBA DE BREQUE 
Dudu Nobre entrou na Justiça contra o Canecão.
Diz que se cansou de esperar pelo dinheiro referente a um show feito na casa carioca em novembro de 2009.