sábado, novembro 06, 2010

CELSO MING

Alívio precário
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 06/11/10


Ontem, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos espalhou uma brisa de alívio nos mercados ao divulgar o primeiro aumento mensal do emprego desde maio, ocorrido em outubro. Mas, por enquanto, trata-se de um progresso com baixo nível de sustentação, por um punhado de razões.
A mais importante delas tem a ver com o mega-arranjo que vem prevalecendo na economia. Os Estados Unidos mantêm o privilégio de emitir a quase única moeda de reserva do planeta e, nessas condições, recebem capitais de baixo custo de outros países. É o que permite que os americanos consumam uma enormidade a baixos preços. Para ter capitais a despachar para os Estados Unidos, o resto do mundo tem de exportar. A contrapartida disso é a de que a produção e os empregos americanos vêm sendo transferidos para outros lugares, especialmente a China. Não se sabe de nenhuma iniciativa eficaz destinada a mudar esse jogo.
A esse fator de longo prazo, se pode acrescentar outro. Em apenas uma ou duas gerações, o mercado internacional de trabalho está incorporando quase metade da população global (os asiáticos e outros contingentes do mundo mais pobre), que aceita salários mais baixos do que os prevalecentes nos países de alta renda. É por isso, também, que tantas empresas estabelecidas nos grandes centros estão sendo transferidas para a periferia do setor produtivo.
Há outras razões conjunturais que explicam o baixo crescimento do emprego nos Estados Unidos. Uma delas é a de que o empresário americano não confia na recuperação. Praticamente todas as projeções, a começar pelas do Fed (banco central), são de que a baixa atividade econômica persistirá por muito tempo e, assim, o empregador não está disposto a contratar pessoal. Afora isso, o próprio consumidor, endividado e com medo do futuro, evita comprometer-se com ainda mais dívidas e mais compras.
A segunda é a de que as finanças públicas dos Estados Unidos continuam se deteriorando. Isso significa aumento das demissões de funcionários públicos.
A terceira razão é a de que a crise mostrou ao empresário americano que investimentos de custo relativamente baixo em Tecnologia da Informação podem dispensar a contratação de pessoal.
Essa baixa propensão à queda do desemprego por lá, que vai para 10% da força de trabalho (14,8 milhões de americanos), leva alguns analistas, como o Prêmio Nobel Paul Krugman, a recomendar, sem considerar os efeitos colaterais perversos para os emergentes, um despejo ainda maior de dólares na economia pelo Fed.
Nenhuma autoridade global responsável deseja o prolongamento da prostração da economia americana que, mal ou bem, continua sendo a locomotiva do mundo. O problema é que, até agora, não surgiu nenhuma proposta aceitável de solução para os atuais impasses. Os países ricos estão endividados e a única iniciativa que vai sendo colocada em prática é a impressão de moeda pelo Fed, de resultados altamente duvidosos.
Tampouco apareceu entre as esquerdas tradicionais (socialistas e social-democratas) uma única ideia aproveitável para a saída desta crise do capitalismo e da dramática situação do emprego.

Sucesso
O gráfico mostra a evolução dos saldos da caderneta: crescimento de 20,5% em 12 meses, resultado que tem uma explicação principal: o avanço de renda da população, que deixou uma sobrinha para aplicação. O aumento da renda, por sua vez, tem a ver com a elevação dos gastos públicos neste ano eleitoral.
Deixou pra lá
O Japão foi o único país vítima do despejo de dólares pelo Fed que não reclamou da queda do dólar. Em setembro, o Banco do Japão interveio para evitar a valorização do iene. 

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