sábado, novembro 06, 2010

REGINA ALVAREZ

O futuro da balança
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 06/11/10


O derretimento do dólar só faz aumentar a preocupação dos exportadores e de alguns segmentos da indústria que competem com os produtos importados. As perguntas que estão colocadas é por quanto tempo teremos fôlego para sustentar o saldo positivo da balança comercial? E qual o estrago efetivo que o dólar barato está provocando na nossa indústria?

O economista Marcos Lélis, coordenador de Inteligência Comercial da ApexBrasil, analisou o comportamento da balança desde 2003, quando começou o crescimento do superávit ancorado nos produtos básicos.

Ele acredita que o resultado positivo está garantido pelo menos até meados de 2011, baseado em uma tendência sustentada desde fevereiro de 2009, que manteve praticamente constante um superávit mensal em torno de US$ 1,5 bilhão.

O que sustenta a balança é a venda de commodities para a Ásia. Minério de ferro para a China e açúcar para Índia, principalmente. Lélis prevê que a China deve crescer 8% ao ano, no mínimo, até 2012. A Índia também cresce a taxas robustas.

O Brasil teria um prazo de dois a três anos para se ajustar: melhorar a infraestrutura, a produtividade, a qualificação da mão de obra, a inovação tecnológica, tornando-se competitivo quando o mundo deixar de demandar com o mesmo apetite nossos produtos primários.

- Só assim encontraremos nosso rumo. É um caminho sem volta e a posição atual é muito incômoda, estamos no meio do caminho.

Não se consegue competir com os preços da China, nem com a qualidade da indústria europeia, japonesa e americana - destaca.

O efeito negativo do câmbio, na visão do economista, pode ser compensado com crédito, melhoria da infraestrutura e redução tributária.

José Augusto de Castro, da AEB, também não coloca o câmbio como vilão da balança comercial.

- O câmbio não é causa, é consequência. Com reforma tributária, melhoria da infraestrutura, menor custo financeiro e menos burocracia não estaríamos discutindo câmbio - afirma.

Mas não está tranquilo em relação ao superávit da balança. Considera que estamos passivos no comércio exterior e totalmente dependentes do humor da economia mundial.

- Se o mundo mudar um pouquinho de humor teremos déficit - afirma.

A explosão dos preços das commodities - 70% da nossa pauta de exportações - é artificial, na visão de Castro.

Há um componente especulativo que preocupa. O minério de ferro, que custava US$ 18,82 a tonelada em 2001, em outubro estava em US$ 114, quase sete vezes mais.

Golpe nos pequenos

Evento promovido pelo Sebrae e pela Direito GV, nesta terça-feira, em São Paulo, discutirá os estragos que a cobrança do ICMS via substituição tributária está causando nas micro e pequenas empresas inscritas no Simples Nacional. O aumento do imposto pode chegar a 700% quando o recolhimento é feito por esse sistema. A substituição tributária ocorre quando uma empresa - normalmente industrial ou atacadista - recolhe o ICMS devido pelos demais integrantes da cadeia produtiva. Quem decide quais empresas e produtos devem seguir a norma são os estados.

- Na prática, a substituição tributária anula a redução do ICMS prevista no Simples Nacional - afirma o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto.

Acomodação

Os números ainda mostram queda na inadimplência, mas o ritmo diminuiu em relação ao começo do ano. Dados da Equifax indicam que a inadimplência de pessoas jurídicas caiu 4% em setembro. Em janeiro, a redução foi de 24% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. O mesmo aconteceu com as pessoas físicas. Os protestos judicias caíram 2% em setembro, contra 16% de janeiro. Um dos fatores é a base de comparação com 2009, que não está mais tão alta.

- A melhora da inadimplência agora será em ritmo mais lento - prevê Alcides Leite, consultor da Equifax.

Bombas fiscais

Não é só o governo federal que está preocupado com projetos no Congresso propondo gastos. Olha o relato do ministro Paulo Bernardo: "Serra me ligou em março para falar de um outro assunto e eu disse: governador, sabe que estão votando aqui um negócio que equipara delegados a promotores e policiais federais a procuradores? Ele falou: é uma barbaridade.

Em São Paulo isso vai custar mais de R$ 8 bilhões."

Além-mar

UniRio e UFF estão no projeto Universidade Aberta do Brasil, que o presidente Lula leva a Moçambique na próxima terça-feira. É a primeira experiência fora do país do programa que oferece cursos de graduação à distância, pela internet. A ideia é começar com 600 alunos matriculados, mas a meta é atingir sete mil estudantes em outros países de língua portuguesa e da América Latina.

TUDO ONLINE: A GlobalWeb já fechou R$ 30 milhões em contratos no Brasil com foco em Cloud Computing, que usa a internet como suporte de dados para as empresas.

MIX DE PRODUTOS: Além dos vinhos, a vinícola gaúcha Perini aposta na venda de espumantes e suco natural para conseguir crescer 25% este ano.

COM ALVARO GRIBEL

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