GUILHERME FIUZA

A ditadura Dilma

Guilherme Fiuza
Revista Época

A opinião pública brasileira chegou a um estado inédito de letargia. Do alto de seus quase 80% de aprovação, Lula pode dizer qualquer coisa. O bom entendedor está arrepiado. Em sua excitação de Midas eleitoral, com a candidata fantasma disparando nas pesquisas, o presidente fala pelos cotovelos – e seus cotovelos andam dizendo barbaridades. A mais grave delas, para variar, passou despercebida. Reclamando do Senado Federal, que lhe foi menos servil do que ele desejava, Lula anunciou: “Penso em criar um organismo muito forte, juntando todas essas forças que nos apóiam, para que nunca mais a gente possa permitir que um presidente sofra o que eu sofri”. A declaração feita num palanque em Recife, onde o presidente tornou-se uma espécie de semideus, é um escândalo. Ou melhor: seria um escândalo, se o Brasil não vivesse nesse atual estado de democracia anestesiada. Lula está anunciando um“organismo” político para neutralizar o Congresso Nacional. É o presidente da República, de viva voz, avisando que as regras da democracia não servem mais. Quer usar a ligação direta com as massas para enquadrar o Senado. O mais famoso autor de uma idéia desse tipo foi o führer Adolf Hitler. Se o Brasil não estivesse imerso no sono populista, Lula teria que ser convocado imediatamente ao Congresso para explicar que“organismo” é esse. As cartas estão na mesa, e são claras. Todas as tentações autoritárias da esquerda S.A. estão fervilhando com a disparada de Dilma, a candidata de proveta, na corrida presidencial. Chegou a hora de submeter o Congresso, a imprensa e as leis à República dos companheiros. Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou: está sendo urdida uma força para-estatal para dar poderes especiais ao governo Dilma.A vitória no primeiro turno seria o passo inicial do arrastão. Depois viria a Constituinte petista, com a enxurrada de“controles sociais” e “correções democráticas” que o país já viu sair das conferências xiitas bancadas por Lula. Brasil, divirta-se com a brincadeira de votar na mamãe. Depois comporte-se, porque o organismo vem aí.

CHRISTIANE SAMARCO

Sem folga para o futuro presidente

Christiane Samarco
O Estado de S. Paulo - 30/08/2010
 
 A despeito do esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para eleger candidatos a senador de partidos da base governista, o cenário eleitoral indica que o futuro Senado não dará vida fácil ao próximo presidente. Nem mesmo na hipótese de vitória da petista Dilma Rousseff. 
A cúpula do PMDB não tem dúvida de que será dona da maior bancada de senadores e, na avaliação de um líder do partido, o perfil dessa nova bancada será o de "captura" do futuro governo. Cacife e experiência para isso não lhe faltarão. 

Em cena, à frente do futuro Senado, deverá estar o velho triunvirato formado pelo atual presidente da Casa, José Sarney (PMDB-MA), que não disputou a eleição porque tem mais quatro anos de mandato, o líder Renan Calheiros (AL) e o hoje deputado Jader Barbalho, que lidera as pesquisas de intenção de voto para senador no Pará. Também é dada como certa a reeleição do atual líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR). 

Com essa cúpula, o plano de ocupação do partido já inclui, nos bastidores, o comando da Casa e a liderança do governo, além das presidências das principais comissões técnicas e futuras Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), por onde passarão todos os interesses do Executivo. 

Nas projeções mais otimistas do PMDB, a legenda vai eleger 22 senadores. Se a realidade confirmar a hipótese mais pessimista; o partido deverá chegar ao Senado do mesmo tamanho que tem hoje, com 17 representantes. A aposta geral é que o status de maior bancada será mantido. 

Além de aliados influentes nesta e na futura administração, seja quem for o presidente, o PMDB também vai eleger senadores de perfil mais independente ou oposicionista, sugerindo que o governo deverá ter trabalho para aprovar propostas polêmicas ou impopulares. Alista dos independentes será encabeçada pelos senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS), que têm a metade do mandato pela frente. Mas a ala dos "contra" pode ser maior. As pesquisas eleitorais indicam que estão. no páreo os peemedebistas Orestes Quércia (SP), Germano Rigotto (RS), Luiz Henrique (SC) e Roberto Requião (PR).

MÔNICA BERGAMO

VILANIA SENSUAL 
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/08/10

O ator Reynaldo Gianecchini, o vilão Fred da novela "Passione" (TV Globo), foi eleito o homem mais sexy do ano pela revista "IstoÉ Gente", que lança hoje a edição das 50 pessoas mais sexy de 2010. Ele fotografou ao lado da modelo Winie. O título feminino ficou com a atriz Grazi Massafera. Os globais estarão na festa que a publicação arma nesta noite na Daslu. 

A CASA É SUA 
O jogador Robinho discute nesta semana um acordo com a seguradora responsável pelo vazamento de fotos da sua casa na internet. As imagens do imóvel, no Guarujá, haviam sido feitas durante avaliação para uma apólice e foram parar em um e-mail que se espalhou pela rede. O craque, que reforçou a segurança após o episódio, quer que a empresa se retrate e o indenize pelos gastos extras que teve com sua proteção. O acordo giraria em torno de R$ 5 milhões. 

NA BALANÇA 
Marisa Alija, advogada de Robinho, confirma a negociação, mas não o valor. A Bradesco Seguros diz que "prefere não comentar o assunto". Se não chegarem a um acordo, Robinho deve levar o caso à Justiça. 

VOLTA AO MUNDO 
As fotos da casa de Robinho rodaram o mundo. O atacante Deivid, recém-contratado pelo Flamengo, recebeu as imagens em sua caixa postal quando jogava no Fenerbahce, da Turquia. 

MAIS UM 
A convicção de que Roger Agnelli não sobreviverá na presidência da Vale caso Dilma Rousseff (PT) vença a eleição fez surgir mais uma candidatura, em setores do PT, para ocupar o cargo: Guido Mantega, atual ministro da Fazenda. 

XADREZ 
Outro nome já aventado para a Vale, o de Antonio Palocci, caiu na bolsa de apostas. Ele é considerado imprescindível para integrar a articulação política de Dilma. Ainda que ocupe outro cargo, longe da Casa Civil, seria o homem certo para fazer a ponte entre grandes empresários, governo, judiciário -algo como foi Sergio Motta para Fernando Henrique Cardoso e José Dirceu para Lula no primeiro mandato. 

HORA DO SHOW 
A São Paulo Turismo espera que o Grande Auditório do Anhembi, com capacidade para 2.553 pessoas, seja o novo polo de shows na zona norte da capital. No mês que vem, Ney Matogrosso se apresenta no local e, em outubro, Gal Costa e Rita Lee. A empresa, que administra o Anhembi, também quer que o auditório Elis Regina, reformado recentemente, abrigue peças de teatro. 

UM ÍNDIO DESCERÁ 
Em meio aos esforços do PSDB para estimular a militância nos Estados, o deputado Walter Feldman (PSDB-SP), candidato à reeleição, promete a presença de Índio da Costa (DEM), candidato a vice-presidente na chapa de José Serra, na reunião semanal de sua campanha, hoje, no teatro Bibi Ferreira. 

BEBÊ A BORDO 
O ator Thiago Fragoso, que estará em "Araguaia", próxima novela das 18h da TV Globo, vai ser pai pela primeira vez. A mulher dele, Mariana Vaz, está grávida. 

VISITA GUIADA 
Integrantes da American Society of São Paulo visitarão hoje a exposição "Keith Haring - Selected Works" tendo como guia a curadora Sharon Battat. A mostra recebeu 20 mil pessoas em 20 dias. 

FAZ PARTE DO MEU SHOW 
George Israel, do Kid Abelha, e a cantora Ana Cañas fizeram o show "Parcerias com Cazuza", no Club A. Antes da apresentação, houve leilão em prol da Sociedade Viva Cazuza, dirigida por Lucinha Araújo, mãe do músico. A foto "Máscara", de Luiz Tripolli, foi vendida por R$ 6.000. 

CURTO-CIRCUITO 

Alfredo Bosi, José Miguel Wisnik e Milton Hatoum participam do bate-papo "Os Clássicos que Eu Li", promovido pela editora Penguin-Companhia das Letras, hoje, às 19h. Na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. 
Claudia Matarazzo autografa hoje "Superdicas de Moda e Beleza" e "Superdicas de Etiqueta", às 19h, na Saraiva do shopping Higienópolis. 
Adriana Carranca e Marcia Camargos lançam hoje, às 19h, o livro "O Irã sob o Chador", no Cinesesc. 
Acontece hoje a festa de lançamento do novo espumante Freixenet, no restaurante NBox, na av. São Gabriel. A partir das 19h30. 
O novo CD de Phill Collins, "Going Back", com canções de Stevie Wonder, chega às lojas brasileiras no dia 14. 

com DIÓGENES CAMPANHA, LEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA (interinos) 

ROBERTO ZENTGRAF

Ninho vazio
Roberto Zentgraf 
O GLOBO - 30/08/10


Ter assistido ao excelente filmetítulo do artigo de hoje ("El nido vacio", produção argentina de 2008, de Daniel Burman) estimulou-me a abordar algo que entendo ser importante para quem se lança no projeto de morar em seu próprio canto: refiro-me aos custos envolvidos em tal empreitada, itens que nós, mais velhos, conhecemos bem, mas que os mais novos, por ânsia, pressa ou mesmo puro desconhecimento, acabam por desconsiderar, gerando desequilíbrios financeiros decerto evitáveis.

Por enquanto, tal preocupação não me incomoda pois meus filhos, Maria Luiza e Rodrigo, não têm idade suficiente para tais demandas; mas o que dizer ao amigoleitor que precisa de orientação para, em última análise, evitar que os custos esquecidos pelos seus rebentos não caiam em seu próprio colo? Passemos então uma lupa na questão da moradia, cujo custo não se restringe apenas ao aluguel, variável em função do tamanho e localização, e que deve ser considerado, mesmo que o imóvel seja de sua propriedade, não só porque você deixará de ter essa renda, mas também porque, um dia, o filhomorador precisará arcar com suas próprias despesas.

(1) IPTU: Assim como o aluguel, varia em função do tamanho e da localização do imóvel; para quem começa a vida, julgo prudente verificar com calma o valor do imposto, trocando uma localização melhor por uma área maior, ou vice-versa. Obviamente a escolha acompanhará o perfil do morador: é melhor morar um pouco mais longe e ter uma sala legal para receber amigos ou um sala-quarto apertado resolve, contanto que se esteja no centro da muvuca? (2) Condomínio: O tamanho influencia, mas o número de imóveis no prédio e a quantidade de mordomias contam mais: sauna, piscina e um monte de porteiros não saem de graça e, para quem começa a vida, talvez sequer façam diferença.

(3) Luz, gás, telefone: São proporcionais ao consumo e, assim, se o pimpolho é viciado em ar-condicionado, ou irá testar receitas mirabolantes ao fogão, valerá lembrálo de quanto esses hábitos irão pesar nas faturas mensais.

(4) TV a cabo, internet, videolocadora: Pelo que vejo aqui em casa, os meus não conseguem viver sem; chego até mesmo a imaginar que, se fossem morar sozinhos, talvez preferissem estes itens aos mais tradicionais, como banho quente ou cama feita! (5) Alimentação: Há uma tendência a economizarem neste item, mas mesmo os que almoçam fora, perto do trabalho, tomam café da manhã e eventualmente jantam em casa, mesmo que às custas de congelados e, não custa lembrar, a alimentação precária de hoje vira a gripe de amanhã! (6) Empregados: Diaristas ou mensalistas, irão precisar e, neste último caso, deve-se acrescentar também os custos de passagem e INSS, além do consumo que irão fazer na casa.

(7) Lavanderia: Para quem inicia a vida, é proporcionalmente um custo alto caso precise trabalhar de paletó e gravata, por exemplo.

(8) Reserva de segurança: Não fiz contas aqui por que entendo que cada caso seja um caso.

Entretanto, recomendo que, após somar todos os custos que listei, use, como reserva, 5% a 10% do total, já que emergências e pequenas manutenções sempre acontecem, pode acreditar! Um grande abraço e até a próxima semana!

Roberto Zentgraf é coordenador dos MBAs do Ibmec Rio.

GEORGE VIDOR

Barreira mental
GEORGE VIDOR
O GLOBO - 30/08/10


O comportamento da economia mundial está mexendo com a cabeça dos analistas financeiros no Brasil. Muitos deles, que meses atrás achavam inevitável um aperto monetário vigoroso para desaquecer a economia por aqui, jogando assim água fria na inflação, agora admitem que as taxas de juros de equilíbrio possivelmente seriam agora mais baixas do que as imaginadas anteriormente.

É crescente o número de renomados analistas que considera prudente o Comitê de Política Monetária (Copom) manter os juros básicos esta semana em 10,75% ao ano, pois estaríamos diante de uma situação nova no cenário mundial, para a qual a economia brasileira acabará se ajustando sem que o freio de mão do Banco Central se faça necessário. Se o aperto monetário for além da conta, em vez do crescimento esperado acima de 4% no ano que vem poderíamos caminhar para uma estagnação em 2011, hipótese que estava completamente fora de cogitação há pouco tempo.

Desse modo, como o ambiente é de “reversão de expectativas”, as taxas de juros pegaram uma carona na discussão, o que deve poupar a economia brasileira de fechar o ano na casa dos 11% ou mais.

Existem fatores concretos que levam o Brasil a ter juros ainda elevados. Mas passo a passo vão também surgindo condições para que o país conviva com taxas básicas ligeiramente mais baixas (embora sem chegar a se nivelar aos padrões internacionais, por enquanto). Um dos obstáculos crônicos à redução dos juros é a resistência à idéia pelos economistas especializados na avaliação de conjuntura. O comportamento da inflação realmente mostra que os índices deixam de recuar quando se aproximam da casa dos 4%. Os juros têm baixado então mais por tentativa e erro do Banco Central do que pelo humor dos analistas, porém é verdade que a resistência à idéia de que poderemos conviver com taxas menores vem diminuindo e, numa situação como a de agora, não deixa de ser animador que vários desses conceituados economistas estejam publicamente expressando a mudança de suas opiniões.

A Eletrobras avalia, no momento, 41 projetos de construção de hidrelétricas no exterior, a maior parte na América Latina. Com o Peru, as negociações têm prosperado e, por incrível que pareça, também vão bem com a Bolívia.

Uma usina nuclear como Angra 2 (1.360 megawatts de capacidade instalada) daria para atender a todo o consumo atual de eletricidade da Bolívia. Por isso, quase todo o investimento que o país vier a fazer na geração de energia elétrica será para vender o excedente a terceiros (no caso, Brasil, Argentina ou Chile).

Já que o Brasil precisa expandir anualmente a potência do seu parque gerador em cerca de 6 mil megawatts, o que os vizinhos quiserem nos oferecer será bem-vindo, diz o professor Nilvaldo de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O Gesel tem se dedicado ultimamente à avaliação dessa integração energética e até está promovendo um curso de pós-graduação em torno do tema (entre os alunos, a maioria este ano é de colombianos).

Há 175 anos o regente Francisco Lima e Silva (pai do futuro Duque de Caxias) assinou, em nome do imperador D. Pedro II, e por proposta do então ministro Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, o decreto que criava o MontePio Geral de Economia para os Servidores do Estado. Esse embrião de previdência privada para funcionários públicos hoje é o Mongeral Aegon, companhia de seguros e previdência, com sede no Rio.

A Mongeral tem em seus arquivos as atas originais que relatam os vários momentos da empresa, o que a inspirou a produzir um livro que mescla sua história com a do próprio país nesses 175 anos. O agradável texto de Oswaldo Miranda faz com que o livro entre no rol daqueles que retratam muito bem o nosso passado.

Sitawi no idioma suahili, falado na África, quer dizer florescer ou desenvolver. A palavra acabou então batizando uma experiência ainda inédita no Brasil, a de um fundo sem fins lucrativos que empresta recursos para associações, cooperativas ou até pequenas empresas com motivação social. “O Brasil movimenta mais de R$ 5 bilhões a R$ 10 bilhões em doações, dispersados por programas de uma série de organizações não governamentais. Mas não tinha nada capaz de aproximar o crédito de iniciativas com motivação social que se apoiam na atividade econômica”, explica Leonardo Letelier, idealizador do projeto.

A proposta do Sitawi não é a mesma do microcrédito, pois não se destina a pessoas físicas, mas sim a iniciativas formais. Em um ano e meio foram concedidos oito empréstimos, com valores médios de R$ 120 mil e prazos variando de três a 18 meses.

Serviram para financiar desde uma associação de Curitiba, que forneceu 30 mil sacolas feitas a partir de reciclagem de garrafas PET, para uma grande rede de supermercados, até a abertura de novas lojas de roupas de uma entidade que ampara, temporariamente, crianças convalescentes muito pobres. Ou a grife Daspu, criada pela organização que leva cidadania a prostitutas.

“O fundo não tem fins lucrativos e gere recursos de doações. O retorno de um empréstimo serve para concessão de um outro. Não se trata de caridade, pois cobra juros mensais de 1% a 1,5%”.

“Não houve até agora qualquer inadimplência ou necessidade de reestruturação das dívidas nos oito empréstimos”, garante Letelier. A experiência piloto deve se estender para um portfólio de US$ 1,5 milhão. “O importante será difundir a metodologia e abrir as portas do crédito para um trabalho com motivação social que não tem acesso hoje ao mercado financeiro.

Na Inglaterra, existe até um banco comercial com essa finalidade.

Nos EUA uma instituição opera com essas características”, diz Letelier.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O Brasil deles é melhor
Carlos Alberto Sardenberg

O ESTADO DE SÃO PAULO - 30/08/10

A agricultura brasileira, incluindo a criação de gado, sofre dois tipos de crítica por aqui: 1) destrói o meio ambiente, especialmente a Amazônia; e 2) por seu caráter capitalista-global, concentra renda, não emprega nem garante comida para os brasileiros.

A exportação de alimentos, em especial, é vista não como uma virtude, mas como um tipo de atraso econômico. Neste ponto de vista, o País não poderia ou não deveria ocupar no mundo o papel de "mero" exportador de comida e de matérias-primas (commodities) como o minério de ferro.

Tratados no exterior, esses temas viram de ponta-cabeça. Na edição desta semana, a revista The Economist não mede palavras. Em editorial e reportagem, observa que a agricultura brasileira é um milagre e sugere que outros países adotem o mesmo modelo para "alimentar" o mundo.

Ou seja, o caráter exportador de alimentos aparece como uma virtude global, especialmente neste momento em que, diz a revista, prolifera mundo afora um "agropessimismo" - a sensação de que não há como, a humanidade não consegue se alimentar a não ser destruindo o planeta. O Brasil, diz a respeitada publicação, seria a alternativa: como produzir sem destruir.

Ter comida para exportar é, pois, um fator extremamente positivo neste ambiente global. O Brasil poderia alimentar o mundo pelas próximas décadas.

O mesmo tema, com abordagem parecida, surgiu durante um debate promovido na semana passada pelo HSBC brasileiro. O banco trouxe seus principais executivos da Ásia e um representante do governo chinês para debater as perspectivas de negócios Brasil-China, nas duas direções. Todos os participantes trataram de uma "complementaridade": a China desesperadamente em busca de recursos naturais e o Brasil com abundância desses recursos.

Obviamente, a questão seguinte do debate estava posta: mas é essa a posição brasileira esperada, de fornecedor de alimentos e minério de ferro e importador de manufaturados e máquinas?

O representante do governo chinês Chen Lin, diretor do Ministério do Comércio, não entendeu. Mas qual problema existe aí? - foi sua primeira reação.

Explicados os contornos do tema, respondeu com franqueza. O ponto principal: recursos naturais estão escassos, especialmente para um país de 1,35 bilhão de habitantes que desejam produzir e enriquecer. Ter esses recursos é uma vantagem estratégica espetacular no mundo de hoje. E a prova disso, acrescentou, é que os preços dos produtos exportados pelo Brasil subiram extraordinariamente nos últimos anos. (Lembram-se dos reajustes de até 100% que a Vale conseguiu para seu minério de maior qualidade, o de Carajás?) E os produtos industrializados chineses, ao contrário, tiveram quedas de preços.

Executivos do HSBC da Ásia, Anita Fung e Che-Ning Liu observaram ainda que o Brasil simplesmente deveria aproveitar a bonança, os preços elevados de alimentos e commodities, em boa parte puxados pela voracidade da China. É um bônus do momento, notou Che-Ning Liu. E se o País acha melhor para o futuro produzir máquinas e tecnologias, o.k., exporte commodities hoje e junte os recursos para desenvolver novos setores.

Pagamos mais caro. Sobre o artigo da semana passada, Pagamos mais caro. E agora?, recebi esta colaboração do professor Carlos Pio, da Universidade de Brasília:

"1) A excessiva proteção comercial do Mercosul foi uma imposição brasileira aos parceiros menores e tradicionalmente mais liberais. Ela é a maior responsável pelas diferenças de preços de produtos globais. No Peru, por exemplo, um Honda Civic custa US$ 20 mil, enquanto custa o dobro aqui.

2) Os formuladores de políticas de desenvolvimento e os políticos professam uma crença enganosa de que a proteção comercial gera empregos no Brasil... Ora, a proteção encarece o produto produzido localmente (pela falta de concorrência, falta de liberdade para importar tecnologia e insumos), que acaba sendo vendido quase que exclusivamente aqui mesmo (salvo quando o empresário leva um subsídio à exportação). Pois bem, os consumidores locais (família e empresas) têm de comprar mais caro o que existe disponível na economia internacional por preço muito mais em conta e, com isso, perdem bem-estar (as famílias) e competitividade internacional (as empresas). A acumulação de capital sai prejudicada. No conjunto, empobrecemos.

As empresas de aluguel de veículos têm de optar entre adquirir carros baratos e de má qualidade e os carros "nacionais" de luxo mais caros do que no resto do mundo. Com a impossibilidade de importar, elas oferecem a seus clientes carros ruins e caros a preços internacionais e empregam menos pessoas do que poderiam se os carros tivessem preços competitivos e elas pudessem ter uma frota mais ampla em todo o território nacional. O resultado é que o emprego gerado nas cidades onde se instalam as montadoras é compensado pelo desemprego de potenciais trabalhadores de empresas que deixam de adquirir automóveis em quantidade maior e que se espalham por todo o território nacional.

O burocrata acaba decidindo onde haverá demanda por emprego e por qual tipo de emprego, mas não é capaz de determinar um aumento geral do nível de emprego do País por meio da proteção comercial à indústria.

3) Câmbio flutuante e metas de inflação em nível internacional eliminam a possibilidade de crise cambial em decorrência da decisão de unilateralmente abrir a economia nacional às importações. Quanto mais se importar, mais o real se desvalorizará automaticamente, encarecendo as importações. Da mesma forma, se nenhum outro país comprar produtos e serviços de empresas brasileiras, não entram dólares aqui e o real fica muito barato, barateando os preços do que se exporta daqui e encarecendo os produtos estrangeiros. Que não há crise cambial em economias abertas ao comércio e com regime de câmbio flutuante e inflação baixa é um fato que poucos brasileiros reconhecem."

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Braskem e Solvay podem perder proteção antidumping até fim do ano 
MARIA CRISTINA FRIAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/08/10

Uma proteção comercial em favor das indústrias petroquímicas Braskem e Solvay pode enfim cair após 18 anos. Parte da produção brasileira de PVC (policloreto de vinila) pode perder a proteção antidumping. Essa é a segunda ação antidumping mais antiga no Brasil. 
A sobretaxa mais longeva recai sobre a importação de sacos de juta da República Popular de Bangladesh, medida que já supera 20 anos. 
A Camex (Câmara de Comércio Exterior) deve decidir o destino da restrição em relação ao PVC em dezembro. Hoje, as importações dos Estados Unidos e do México do PVC-S (um dos três tipos de PVC) são sobretaxadas. 
Uma reunião, no dia 9, deve, pela primeira vez, colocar frente-a-frente as petroquímicas e os clientes nacionais. 
O objetivo dos transformadores (que usam resina na produção de tubos, conexões, calçados ou peças automobilísticas) é impedir que o terceiro pedido de renovação da medida antidumping seja referendado pelas autoridades brasileiras. 
Cada renovação garante cinco anos de sobretaxa. Neste caso, o importador do insumo paga, além dos 14% do imposto de importação, uma alíquota adicional de 16%, diz a Associação das Indústrias de Laminados Plásticos. A entidade tenta convencer o departamento de defesa comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio a encerrar a proteção. 
Na avaliação dos transformadores, o fim dessa medida antidumping ampliará a competição interna e permitirá ao setor enfrentar a crescente importação de produtos acabados. 

Setor diz que demanda supera produção local 

Além de pagar sobretaxa na importação, a capacidade de produção de PVC no Brasil já não atende a demanda. Demanda que tem avançado com a expansão do financiamento habitacional e da concessão de crédito usado na compra de bens de consumo das classes de renda inferior. 
Com isso, a previsão do setor é que o país importe 400 mil toneladas dessa resina neste ano, uma parte dela exatamente a matéria-prima usada pela indústria de laminação de plásticos protegida pela ação antidumping, que agora é questionada. 
A Braskem, por outro lado, ao ser procurada, defendeu que a medida seja mantida. 
A companhia respondeu que a ação antidumping está "prevista no ordenamento jurídico comercial brasileiro" e que é importante para assegurar a "competitividade relativa entre o produto importado e o nacional". 
A empresa afirma que a medida não impede a importação. Ela apenas restabelece a "isonomia competitiva". Para os transformadores, há anos essa isonomia já não existe mais. 

"É uma proteção que não cabe mais. Enquanto o direito antidumping protege os produtores do plástico, prejudica outros segmentos da cadeia industrial. Há importação de produto acabado da Ásia com preço menor que o nosso. Essa medida antidumping virou aberração" 
JOSÉ CARLOS SOARES FREIRE 
presidente da Abrapla 

DO NORDESTE PARA SÃO PAULO 
A pernambucana Hebron Farmacêutica estreia na capital paulista na próxima semana. "São Paulo representa 35% do mercado farmacêutico brasileiro. É a nossa última grande barreira", diz Josimar Henrique da Silva, presidente do laboratório, que já atua nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e no interior de São Paulo. 
A ideia é chegar ao Sul até julho de 2011. 
Para atender o aumento da demanda, a empresa destinou R$ 30 milhões na ampliação da capacidade de produção, além de investir em pesquisa. 
"Vamos ter o primeiro antibiótico 100% brasileiro até o fim de 2012", diz Silva. A meta é faturar R$ 200 milhões a partir de 2012 e investir 10% desse valor em pesquisa. "Hoje aplicamos R$ 7 milhões nessa área. Mas é pouco", afirma. 

SABER DISPONÍVEL 
A quebra da patente do Lipitor, o remédio mais vendido da Pfizer, decidida na semana passada, pelo Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro, abriu um imenso mercado. Outros laboratórios poderão produzir o medicamento para combate ao colesterol, desde que tenham registro para comercializar a sua versão genérica, que é 35% mais barata que o remédio de marca. Para o advogado Pierre Moreau, que atuou em casos de patentes, "assim como se disponibilizou o conhecimento do Lipitor para todos, empresários, precisam ter um olhar para seu negócio na busca de soluções, com troca entre empresas, de forma mais eficiente". Da mesma forma, "há oportunidades que se abrem para outros setores", acrescenta Moreau que, além de empresário é também sócio-fundador da Casa do Saber. 

TOBOGà
O Wet'n Wild irá investir R$ 8,5 milhões na ampliação do parque. 
A obra receberá 20% de recursos próprios e o restante virá de financiamento do Fungetur (Fundo Geral do Turismo), linha do Ministério do Turismo operada pela Caixa Econômica. 
A expansão será realizada em três frentes: implantação de nova atração, área aquática aquecida e construção de espaço para eventos corporativos. 
A taxa de juros dessa linha é de 6,9% ao ano para contratos com prazo de até 12 anos e de 7,9% ao ano para contratos com prazo acima de 12 anos. 

OBRA GARANTIDA 
A ampliação das obras de infraestrutura no país tem impulsionado o mercado de seguro garantia -aquele que tem o objetivo de garantir o cumprimento das obrigações contratuais, como o prazo de entrega. 
De olho nesse crescimento, a Chubb Seguros constituiu uma equipe para atuar nesse segmento. "O mercado de seguro garantia cresceu 17% no país no primeiro semestre, estimulado pelo aumento das obras de infraestrutura e por ser mais barato que uma carta de fiança", diz Acacio Queiroz, presidente da companhia. 
A carteira total da empresa movimentou R$ 497 milhões neste ano até julho, com aumento de 13,5%, e a projeção é superar R$ 900 milhões até o fim do ano. 

com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, FLÁVIA MARCONDES e AGNALDO BRITO