BRUXA OU BICHO?
segunda-feira, março 08, 2010
NAS ENTRELINHAS
Esqueceram ela
Denise Rothenburg | ||||
Correio Braziliense - 08/03/2010 | ||||
Na homenagem às ambientalistas, feita pelo Ministério do Meio Ambiente, Marina Silva sequer é citada No Dia Internacional da Mulher, combinado com o ano eleitoral, não falta quem queira tirar uma casquinha de votos aqui e ali. O PT, por exemplo, vai agir em duas frentes. A primeira é colocar a ministra da Casa civil, Dilma Rousseff, como a estrela das comemorações da data no evento promovido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, na Estação Leopoldina, no Rio de Janeiro. A outra é uma homenagem que o Ministério do Meio Ambiente fará às mulheres que marcaram história no ambientalismo brasileiro. Quanto à primeira solenidade, a do Rio, já era de se esperar que viesse um evento de peso num grande colégio eleitoral para que a ministra tentasse conquistar o voto feminino. Mas, quanto ao segundo evento, aquele do Ministério do Meio Ambiente, vale uma reflexão. Quando se fala em mulher e defesa do Meio Ambiente, qual é um dos primeiros nomes que vem à sua mente, caro leitor? Na minha, com todo o respeito às demais ambientalistas e sem qualquer conotação eleitoral, é o da senadora Marina Silva, que saiu do PT no passado e se filiou ao PV. Assim como Dilma, Marina é pré-candidata a presidente da República. Talvez por isso, esteja fora da homenagem e do debate organizado dentro do ministério que ocupou e pelo qual lutou e ajudou a fortalecer. Ela saiu de lá em maio de 2008 justamente por causa de uma trombada com a ministra da Casa Civil, que queria pressa nas obras de infraestrutura e jogava no Ministério do Ambiente a culpa por atrasos de cronograma. A solenidade do ministério, organizada pela secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental, Samyra Crespo, colocará os holofotes sobre quatro mulheres que vão comandar o debate “A contribuição das mulheres brasileiras ao ambientalismo brasileiro”. Como mediadora, a secretária-executiva do ministério, Izabella Texeira. À mesa, estarão Bertha Becker, Tereza Urban e Isabel Cristina Moura de Carvalho, todas relacionadas com a causa. As homenageadas terão suas biografias resumidas em marcadores de páginas que o ministério lança amanhã. Além da geógrafa Bertha Becker e de Magda Renner, pioneira na defesa do meio ambiente no Brasil, haverá uma homenagem póstuma a irmã Dorothy Stang e a Judith Cortesão. Na homenagem às ambientalistas, feita pelo Ministério do Meio Ambiente, Marina Silva sequer é citada. É como se o PT quisesse sumir com a biografia daqueles que deixaram seus quadros. Nos bastidores, ela é vista como a “ameaça verde”. A homenagem de hoje, do Ministério, passou inclusive a alguns políticos a impressão de que o objetivo é mesmo levantar outras mulheres e colocar Marina no fundo do palco do ambientalismo nacional. O PT, entretanto, não terá muito como esconder a sua ex-musa do meio ambiente na terça-feira, quando da entrega do prêmio Bertha Lutz no Senado a mulheres que se destacaram na defesa da igualdade de gênero. A ministra Dilma deve ser chamada para compor a Mesa Diretora da sessão, como foi em 2008. No ano passado, ela não estava no evento. A dúvida entre os políticos ontem era se a senadora Marina terá o mesmo tratamento de ser convidada a participar da mesa, já que as duas são pré-candidatas e merecem tratamento igual. Afinal, se o objetivo é igualdade de gênero, seria incoerente discriminar uma das duas mulheres que hoje lutam pelo mesmo cargo. No mundo dos homens… Embora Dilma Rousseff esteja bombando nas pesquisas, o PSB começa a rever essa história de retirar a candidatura de Ciro Gomes. O partido fez as contas e descobriu que o PT só lhe apoia para valer em três estados: Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. No restante do país, a briga está feia. Os socialistas esperavam o apoio do PT, por exemplo, no Piauí. Lá, o PSB vai assumir o governo estadual no mês que vem, quando o governador Wellington Dias sair do cargo para concorrer ao Senado. O PT, no entanto, joga com o lançamento da candidatura do deputado federal Antonio José Medeiros para concorrer contra Wilson Martins. Como essa decisão ficou para abril, a aposta agora é a de que o PSB vai forçar a porta para ver se o PT cede cabeças de chapa em mais alguns estados para tentar alavancar ainda mais a candidatura de Dilma. O PSB já sonha inclusive com a hipótese de o PT ceder no Distrito Federal, onde o quadro eleitoral permanece completamente indefinido desde que José Roberto Arruda foi flagrado pelas câmeras de Durval Barbosa. Com Ciro na vitrine e no ataque, avalia o PSB, pelo menos, eles têm algum trunfo para tentar garantir do PT um tratamento melhor, diferente do que os petistas dão hoje a Marina, esquecida até mesmo nas mais singelas homenagens de sua antiga casa. Afinal, avaliam os políticos, as pessoas podem até mudar de casa, de bairro, de partido. Mas não podem nunca deixar de valorizar os parceiros antigos. Do jeito que vai a coisa, ela vai terminar jogada no campo da oposição. E não será surpresa se o mesmo ocorrer com setores do PSB. |
FRIEDMANN WENDPAP
Cuba libre
GAZETA DO POVO - 08/03/10
Sociedades plurais, abertas, produzem a modernidade e se modernizam. Sociedades monodóxicas, monárquicas, estagnam, estacionam no acostamento da história e se tornam museus
Fidel apostou na monocultura da cana, traçando metas de produção de açúcar sem levar em conta eventuais excessos de oferta e a economia foi se estiolando. A igualdade miserável se instalou. Investimento em ciência e tec nologia, para escapar das agruras da dependência de um único item para comerciar, não foi sequer cogitado porque as facilidades de comunicação ad vindas de rádios, televisores, com putadores, propiciariam a difusão da “con trarrevolução”. Na ver dade, Fidel pensou pe queno e a supressão manu militari da diversidade de ideias fez da sua pequenez o pensamento único. O país, transformado numa ha cienda do Comandante em Chefe, se tornou cada dia menor. A onisciência presunçosa de quem suprimiu a diversidade de pensamento foi acentuando a mediocridade usual da classe política. O século 20 foi passando e o castrismo, ficando. Sociedades plurais, abertas, produzem a modernidade e se modernizam. Sociedades monodóxicas, monárquicas, estagnam, estacionam no acostamento da história e se tornam museus. Cuba seria apenas nota de rodapé, peculiaridade curiosa, não fosse a violência real, pesada, sufocante, que rompe os limites do privado, oprimindo o espaço e o tempo dos indivíduos que são compelidos a se entregar a manifestações de apoio aos donos do Estado.
Orlando Zapata Tamayo, ho mem comum em qualquer so ciedade democrática, ameaçava a gerontocracia cubana porque pensava por conta própria e ou sou dizer não à polícia do pensamento. Mártir, como o foram Herzog e Manuel Fiel Filho, não recebeu da intelligentsia brasileira o mesmo apreço. Dignificá-lo é quase impossível para quem sucumbiu à atração mórbida do marxismo-leninismo e permanece acreditando que filosofa no nível de Marx. Reco nhe cer que Zapata foi vítima de persecução do Estado porque pen sava de modo di ferente do governo dos Castro significa dizer que Cuba é ditadura. Essa do se de realidade arrancaria os viciados em mitos do seu torpor e os obrigaria a enfrentar a dura realidade. Ah... deixa para lá, afinal, todo mundo tem problemas com direitos humanos! Za pata morreu em greve de fome! Culpa de quem? Claro, dos americanos. O governo revolucionário, amante do po vo, é perseguido pela águia imperialista. Za pata, um pedreiro pobre, pouco escolarizado, não foi vítima da intolerância da família real de Cuba; ele morreu por culpa do embargo à Ilha.
Raul, Fidel, podem falar tonterías à vontade; isso faz parte da autodeterminação dos cubanos. Gravíssimo é o silêncio das forças políticas brasileiras que creem, como fiéis religiosos, nas desculpas esfarrapadas. Qual será a conduta desses partidos se chegarem ao governo do Brasil? Oxa lá, as instituições e os eleitores nos livrem de algo parecido com Cuba; o Atlântico é muito largo para atravessar de balsa feita de pneus velhos.
ROBERTO ZENTGRAF
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A notícia que me fez ligar o alerta foi sobre a inflação, que em fevereiro bateu 1,18%, quando medida pelo IGP-M: já se fala em aumento de juros. Refletindo sobre isso, pensei em uma coluna com um viés mais feminino, e não devido ao gênero da palavra (a inflação), mas sim porque hoje se comemora o Dia Internacional da Mulher: parabéns! E, atenção leitores homens, sem ciúmes, por favor, mas convenhamos: elas ainda são maioria nos supermercados, investem de forma mais conservadora e, queiramos nós ou não, são mais previdentes, ao colocar o lar e a segurança familiar acima de tudo. Acompanhem as dicas! 1. A conta do supermercado vai subir? Sem dúvida e, mesmo que o aumento de preços não impeça nossa alimentação, é razoável olharmos as ofertas, substituindo marcas ou produtos, eliminando os mais financeiramente indigestos ou até mesmo compensando o acrés cimo nesta conta (alimentação) com a diminuição de algum outro item na lista de consumo. Mulheres atentas (e homens também!) que gastem R$ 500 nas compras, por exemplo, não se importarão em trocar os 2% de acréscimo na conta do supermercado — algo próximo de R$ 10 — por uma diária no estacionamento, indo de metrô para o trabalho em um único dia, não é mesmo? 2. O que fazer com as dívidas? Era o que faltava para bancos e administradoras de cartão justificarem a subida das taxas de juros que cobram pelo dinheiro de plástico ou pelos cheques especiais, empréstimos que têm características emergenciais. Mulheres previdentes (e homens também!) precisarão controlar mais as suas despesas se não quiserem entrar no vermelho dos cheques ou no rotativo dos cartões, que ficarão mais caros. Também não poderá haver descuido nas datas de vencimento ou na contratação de novas dívidas, principalmente as pós-fixadas, pois, com taxas possivelmente crescentes, o acréscimo será pago pelo devedor. 3. E a renda fixa, como fica? Com uma inflação de 1,18%, não serão os 0,5% da poupança, nem tampouco os 0,6% a 0,7% pagos pelas demais alternativas (CDB e fundos em geral) que irão conseguir proteger os investimentos da corrosão inflacionária. Mas cabem aqui dois alertas: (a) a inflação verificada em fevereiro não deverá se manter neste patamar, até mesmo porque o governo, atento, já prometeu o combate; (b) mesmo considerando o Imposto de Renda e a corretagem, a opção de compra dos títulos federais diretamente do Tesouro Nacional (por meio do Tesouro Direto) oferece excelentes rentabilidades. Por exemplo, em fevereiro, houve títulos que chegaram a pagar 2,86% em termos brutos (sem descontar corretagem e IR). Mulheres curiosas (e homens também!) no mínimo já passearam no site do Tesouro Direto... 4. E a renda variável? As perspectivas de crescimento continuam otimistas, justificando assim algum investimento na Bolsa, principalmente em setores com maiores chances de aproveitar a onda, a Copa e os Jogos Olímpicos. Mas achar que a Bolsa sobe apenas porque a renda fixa rende pouco é ser muito ingênuo. Mulheres bem informadas (e homens também!) diversificam parte do seu patrimônio — a parte não comprometida com despesas, presentes ou futuras — em ações por meio dos home brokers, fundos ou clubes de investimento. |
GEORGE VIDOR
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O maior desafio da economia brasileira nos próximos anos está na infraestrutura. O país precisará investir muito para ter uma capacidade de produção em condições de atender a demanda interna e ainda exportar um valor considerável, em bens e serviços. Os investimentos até que vêm sendo retomados, entre outras razões, devido à queda das taxas básicas de juros. Quando a Taxa Selic estava acima de 13% ao ano, pouquíssimos empreendedores manifestavam interesse em se aventurar nos projetos de infraestrutura, cujo retorno do capital geralmente é de médio e longo prazos. O recuo nos juros básicos para um patamar próximo de 10% tornou o mercado de capitais uma opção, de fato, tanto para investidores institucionais (fundos de previdência ou investimento, por exemplo) em busca de uma remuneração mais atraente, como para empresas interessadas em compartilhar seus projetos com novos sócios, em vez de apenas se endividarem. A Previ, assim como outros grandes fundos de pensão, passou a investir na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica e também em sistemas de transporte urbano (metrô, vias expressas com pedágio). Um dos maiores portos brasileiros (o Açu, no Estado do Rio) é um empreendimento inteiramente privado que foi viabilizado pelo mercado de capitais. Para a economia brasileira crescer com inflação sob controle e contas externas tendendo para o equilíbrio, a taxa de juros não pode ser, então, a única arma da política monetária. A curto prazo, os juros altos sem dúvida conseguem derrubar a inflação, asfixiando a demanda, mas no médio prazo inviabilizam o investimento, e assim caímos no círculo vicioso do baixo crescimento. Na atual fase da economia brasileira o ideal é que os juros básicos fossem mantidos abaixo de 10%. No entanto, diante dos índices recentes de inflação isso é improvável. Mas seria factível se a política fiscal desse uma contribuição mais substancial para atenuar a pressão sobre os preços domésticos. Se o déficit público fosse reduzido para menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), a política monetária se ajustaria mais facilmente sem elevar os juros básicos acima de 10%. Como os impostos são pesados demais no Brasil, a redução do déficit só poderá ocorrer pelo lado dos gastos. E sem sacrificar os investimentos públicos, pois nesse caso os objetivos de médio e longo prazos (expansão da capacidade de produção) ficariam comprometidos. Gunnar Myrdal, o economista sueco (laureado com o Premio Nobel na década de 70) comparou o desenvolvimento — ou a decadência — a uma espiral. Difícil encontrar uma imagem que sintetize melhor esse processo, e ela se aplica muito bem ao que aconteceu no Estado do Rio de Janeiro nas últimas décadas. O esvaziamento econômico do Estado do Rio se refletiu profundamente na qualidade da administração pública (realimentando o fenômeno circular, com a espiral no sentido negativo). Assim como a recuperação da economia fluminense tem motivado uma reviravolta na gestão da máquina estadual. Os computadores são mais novos, mas o sistema que roda a folha de pagamentos dos funcionários públicos estaduais, pasmem, ainda é do tempo da fusão da Guanabara com o Estado do Rio (os programas estão em linguagem Adabas, rarissimamente utilizada). Até o fim do ano esse sistema será substituído por ferramentas mais avançadas. A identificação de todos os servidores por biometria (impressão digital) também será concluída em 2010 — 40% dos funcionários foram cadastrados e somente depois disso o estado saberá direito com quem pode contar na sua burocracia. A folha salarial é a despesa principal do governo estadual, mas a compra de produtos também pesa muito nos gastos. O cadastro de materiais estava tão desatualizado que quase 50% dos itens adquiridos pelo Instituto Médico Legal, por exemplo, não estavam catalogados. A compra tinha de ser feita com especificação de outros produtos, o que tornava o controle do almoxarifado uma tarefa inglória e ineficiente. Não era por acaso que a toda hora surgiam denúncias de falta (ou desperdício) de material em diversos órgãos estaduais. A reforma mais contundente na administração estadual ocorreu nas empresas estatais remanescentes, a maioria delas já distante de suas funções originais (a companhia responsável pelo planejamento do metrô tinha até diretoria de operações, embora essa atividade esteja há 15 anos sob responsabilidade de uma concessionária privada...). Fora m dispensados 2.700 empregados dessas estatais. Mesmo com o pagamento das indenizações trabalhistas, tal liberação representará uma economia anual de R$ 170 milhões para os cofres estaduais. O mercado brasileiro de etanol virou uma briga de cachorro grande à medida que as distribuidoras de combustíveis se envolveram diretamente com a produção, a exemplo da Petrobras, que criou uma subsidiária para biocombustíveis e tem espaço para promover parcerias com a ETH/Brenco, por causa da sociedade que formou com o grupo Odebrecht na área petroquímica; ou da associação recém criada pela Cosan/Esso e a Shell. Fica uma pergunta no ar: com quem o grupo Ultra, dono da distribuidora Ipiranga (a segunda maior do país), vai se associar no etanol? Idem para a distribuidora Ale. |
MARINA SILVA
8 de março
Folha de S. Paulo - 08/03/2010 |
O DIA INTERNACIONAL da Mulher, celebrado hoje, é momento para colocar em foco não só as conquistas mas também as desigualdades que ainda afetam as mulheres. Essa comemoração, que completa cem anos, deve servir para reafirmar a busca pela igualdade entre os gêneros e o inestimável valor da contribuição feminina para a humanidade. Não se pode ter um mundo sustentável, justo e democrático se permanecem as várias formas de opressão sobre mais da metade da população do planeta, formada pelas mulheres. Nunca é demais lembrar que homens e mulheres se complementam, mas essa que deveria ser a principal qualidade das relações de gênero é muitas vezes deixada de lado pela prevalência da cultura masculina da dominação. Seria benéfico para todos se o olhar e a perspectiva feminina estivessem mais presentes na vida social e, especialmente, nos espaços públicos onde se tomam as decisões de interesse coletivo. O Ibase identificou, no ranking do Índice de Gênero (IEG), pesquisado em 150 países, conforme dados da PNAD 2006, que o Brasil ocupa uma posição intermediária entre os melhores e os piores países nessa questão. São várias as causas pelas quais permanecem os obstáculos enfrentados pelas mulheres. Apesar do avanço no plano educacional -hoje elas têm, em média, mais anos de estudos do que os homens, mas não existe ainda igualdade na renda, nos cargos e salários e na representação política. As desigualdades de gênero estão em todas as classes sociais, e se tornam mais dramáticas quando a renda diminui. Estudo recente realizado pelo economista André Urani mostra que, em 1993, havia 32,4 milhões de pessoas em condições de extrema pobreza no país, das quais 5,5 milhões viviam em domicílios chefiados por mulheres. Em 2008, o universo da extrema pobreza foi reduzido à metade (15,8 milhões), mas ficou praticamente inalterado (5,2 milhões) o número de pessoas nessa categoria em lares chefiados por mulheres. Isso ocorre porque elas enfrentam a miséria em condições ainda mais adversas do que as outras famílias. Sozinhas, têm o desafio de dar educação aos filhos e livrá-los da fome e da violência, enquanto se desdobram em sua jornada dupla, com salários baixos e pouca ajuda do Estado. As homenagens de hoje são justas e bem-vindas, mas o que todas as brasileiras esperam é, em primeiro lugar, uma vida digna, onde possam desenvolver suas potencialidades, bem como a de seus filhos e filhas, e, assim, construir um país melhor, mais justo, mais fraterno, mais feliz. |
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO
Estado empresarial
Folha de S. Paulo - 08/03/2010 |
Atuação conjunta do Tesouro, do BNDES e dos fundos de pensão traz riscos que estão sendo ignorados pelo governo O PATRIMÔNIO dos fundos de pensão fechados no Brasil cresceu rapidamente nos últimos anos e atingiu quase R$ 500 bilhões em fins de 2009. Há, além disso, uma forte concentração dos recursos em fundos patrocinados por empresas estatais -os três maiores do país (Previ, Funcef e Petros) detinham em novembro de 2009 um patrimônio de R$ 219 bilhões, equivalente a 45% do total do setor. É por meio deles -e do BNDES- que o governo vem aumentando sua influência nos principais setores da economia. Não há dúvida do papel relevante dos fundos de pensão e do BNDES como provedores de capital de longo prazo, tão essencial ao desenvolvimento. Eles podem e devem participar de projetos de infraestrutura e manter investimentos em empresas importantes. Essa atuação, todavia, tende a ser nociva ao país caso não esteja assentada em supervisão independente e em sólidos critérios de gestão financeira. Infelizmente estas condições não se acham asseguradas. Os fundos de pensão patrocinados por empresas públicas estão sendo metamorfoseados em instrumentos de poder político, a serviço do governo de plantão e da burocracia sindical que hoje domina as representações de empregados e empregadores. Aí não se trata de um problema de regulação. As regras são -como tantas no Brasil- bem feitas. O problema é o enfraquecimento dos freios e contrapesos institucionais que estão na base de uma fiscalização eficaz. Com isso, abre-se caminho para a fusão de interesses entre governo, sindicatos, fundos de pensão e empresários favoritos, que, se perenizada, pode vir a representar até uma ameaça ao bom funcionamento da democracia. O destino de bilhões de reais sob critérios obscuros é apenas uma das faces do problema. Além das questões de natureza política e institucional, é preciso considerar ainda os riscos financeiros incorridos pelo Estado -ou seja, pelo contribuinte- em operações bilionárias. O reforço da atuação do BNDES em 2009, possibilitado pela capitalização de R$ 100 bilhões feita pelo Tesouro, é um exemplo. A capitalização tem como contrapartida o endividamento público no mesmo montante. Ou seja, o governo federal se endivida para, em seguida, fazer aportes em empresas, junto com os fundos de pensão. A história do capitalismo brasileiro é marcada pela forte presença estatal, cujo auge, em parceria com o capital privado nacional e estrangeiro, aconteceu no período do presidente Ernesto Geisel (1974-1979), às vezes enaltecido por Lula. Mas os descaminhos da década de 1980, que tanto custaram ao país, são em parte consequência do modelo intervencionista anterior. Inebriado por sua voracidade empresarial, o governo não parece preocupado com os riscos de eventuais prejuízos -afinal a economia cresce e todos os projetos seriam rentáveis e muito sólidos "desta vez". Se o passado é um bom guia, há motivos de sobra para preocupação. |
ANTONIO PENTEADO MENDONÇA
O terremoto do Chile
O Estado de S. Paulo - 08/03/2010 |
Depois do Haiti, foi a vez do Chile. Um terremoto brutal, seguido das ondas de um tsunami, matou centenas de pessoas, além de destruir parte do patrimônio da região central do país. Se no Haiti a indústria seguradora, em valores totais, foi relativamente pouco afetada pelos prejuízos decorrentes do terremoto que arrasou Porto Príncipe, no Chile a situação é outra. O país tem uma das maiores taxas de contratação de seguros por habitante da América do Sul. E como é região sujeita a terremotos, esse tipo de evento, ainda que com prêmio elevado, faz parte das coberturas oferecidas. Apesar de o governo falar em perdas de até US$ 30 bilhões, ainda é cedo para se determinar qual o valor da conta para as seguradoras, mas, o número não será desprezível. A maior parte dos danos foi na cidade de Concepción, mas outras regiões foram afetadas, inclusive Santiago. Um terremoto de 8,8 graus na escala Richter, seguido de ondas gigantes como as que varreram a costa chilena, tem um potencial destrutivo inimaginável. E os tremores continuaram, com uma série de outros abalos, alguns acima de 6 graus de intensidade, atingiu o território chileno, aumentando o caos e a destruição. Num cenário de pesadelo, sem luz, sem água, com as autoridades tendo que enfrentar um cenário de 2 milhões de desabrigados e mais de 1,5 milhões de residências afetadas, o pânico e o desespero encontram terreno fértil para se expandir, gerando caos, violência e saques. Tipificando os danos, os sinistros decorrentes do cataclismo chileno podem ser divididos em três grandes grupos: danos corporais, danos materiais e danos patrimoniais. Os danos corporais são aqueles que atingem o corpo humano, causando morte, invalidez ou ferimentos. Suas coberturas incluem vida, acidentes pessoais e saúde, que são os seguros mais contratados pelos chilenos. Em seus vários graus de severidade, milhares de pessoas foram de alguma forma atingidas, e parte delas acionará o seguro para receber as indenizações por morte, invalidez por acidentes pessoais, e as despesas médico-hospitalares e suas consequências. Os danos a bens são aqueles que destroem o patrimônio material. Edifícios e seu conteúdo, obras de engenharia, veículos, embarcações, sistemas de comunicações, redes de energia, etc. foram destruídos pelos tremores e pelas ondas. Mais uma vez, parte destes bens está segurada. Já os danos patrimoniais são aqueles que afetam o patrimônio social em sua capacidade de agir e gerar riquezas. O mais conhecido destes danos é a interrupção da atividade normal da pessoa ou empresa. É o chamado lucro cessante, ou perda de renda. Num cenário de devastação como o do Chile, milhares de empresas estão paradas, milhares de veículos não podem trafegar, milhões de pessoas estão desabrigadas e sem condições de trabalhar. O Chile está entre as nações socialmente mais desenvolvidas da América do Sul. Lá, noções de solidariedade e proteção fazem parte do cotidiano das pessoas. Como os riscos de terremotos e tsunamis são concretos, os chilenos que podem buscam minimizar estes danos transferindo a obrigação de suportar os prejuízos para as companhias de seguros. Estas, por sua vez, em função de limite e capacidade de retenção de riscos, transferem os excedentes para as resseguradoras, pulverizando as responsabilidades através de um sofisticado sistema de vasos comunicantes, que divide os riscos dos terremotos chilenos entre toda a comunidade seguradora internacional. Seguro tem ligação direta com o estágio de desenvolvimento de uma sociedade. Quanto mais rica e mais instruída, mais ela se preocupa com suas necessidades de proteção. A sociedade chilena está entre as mais avançadas do continente, enquanto a haitiana é a mais pobre e atrasada. Se no Haiti os prejuízos suportados pelas resseguradoras atingiram algo próximo a US$ 100 milhões, fica fácil imaginar que a conta chilena terá forte impacto na atividade seguradora internacional. *Antonio Penteado Mendonça é advogado, sócio de Penteado Mendonça Advocacia, professor da FIA-FEA/USP e do PEC da Fundação Getúlio Vargas e comentarista da Rádio Eldorado. |
GILLES LAPOUGE
Militares turcos são desafio a poder islâmico
O Estado de S. Paulo - 08/03/2010 |
O Palácio da Justiça de Besiktas, em Istambul, Turquia, abriga acusados estranhos: ele está cheio de militares, a maioria de altas patentes, almirantes, generais e coronéis. Quantos são? Eram cerca de 80 há uma semana. Hoje, restam 35. A maioria está sob detenção provisória, aguardando processo. Trata-se de toda a hierarquia militar atingida pelo poder civil do islâmico moderado Recep Tayyip Erdogan. Por que Erdogan deu esse passo perigoso, atacando generais considerados intocáveis, quase acima da lei? As causas dessa prisão em massa de militares estão relacionadas às denúncias do jornal Taraf segundo as quais, em 2003, o Exército preparou um complô, sob o nome de código sugestivo de "Balyoz" (martelo da forja) para derrubar o governo legal islâmico. Uma série de provocações devia criar o caos: um avião turco seria abatido e a Grécia seria acusada. Ou então, bombas seriam detonadas em mesquitas. Pânico, terror, e o Exército tomaria o poder. Por que um plano desses? A questão é que o Exército turco continua ferozmente ligado a um ideal de Kemal Ataturk, o fundador da Turquia moderna, em 1923. Esse ideal é o laicismo: "O Islã, essa teologia absurda de um beduíno imoral, é um cadáver putrefato", dizia Ataturk. Ele havia expurgado a Turquia da religião, com a supressão dos tribunais religiosos e da poligamia, a adoção da escrita latina e das roupas ocidentais. Há um século, o Exército é o guardião desse dogma laico. Instituição respeitada e temida, o Exército turco jamais hesita em intervir se ocorre alguma ameaça religiosa. Por três vezes, ele assumiu o poder (1960, 1971, 1980). Em 1997, obrigou o primeiro-ministro islâmico, Necmettin Erbakan, a se demitir. Em 2002, teve de aceitar um presidente islâmico, Abdullah Gul, e, com isso, um premiê islâmico, Erdogan. Mas o Exército nunca relaxou a vigilância. Sua hostilidade ao religioso continua intacta. Desde 2002 os generais não comparecem a recepções oficiais para não ver mulheres cobertas com o lenço islâmico. No ano passado, o Tribunal de Cassação - outra instituição próxima dos militares e hostil ao islamismo - tentou tirar do poder o partido islâmico, chamado de Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco) por atividades "antilaicas". Quase deu certo. Essa foi a razão pela qual Erdogan aproveitou a revelação sobre os complôs militares de 2003 para desafiar o Exército, tentar colocá-lo sob "controle", e reforçar as "reformas democráticas" para acelerar a "europeização" do país e abrir as portas da União Europeia à Turquia. Aí temos um paradoxo: o Exército, ao sonhar com um golpe de Estado e um regime de força, agiu contra a entrada da Turquia na União Europeia e isso em memória de Kemal Ataturk que, há um século, arrancou a Turquia do obscurantismo religioso e fez dela um país moderno, civil e laico, ao molde das nações europeias. Inversamente, esse islâmico Erdogan quer controlar o Exército e empreender reformas democráticas para, justamente, fazer a Turquia muçulmana ser aceita pela União Europeia - essa UE composta por nações cristãs. Para complicar, se alguns países europeus desejam acolher a Turquia para arrimá-la à Europa democrática, outros se recusam a aceitá-la sob o pretexto de que quatro quintos de seu território ficam na Ásia e ela é muçulmana. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, dá "urros de furor" ante a perspectiva de ver a cristã Europa invadida, graças à UE, por multidões vindas da Ásia - e muçulmanas. Uma coisa é certa: do combate entre islâmicos moderados e generais laicos, uma das principais questões em jogo é justamente essa entrada - ou não - da poderosa Turquia e seus 70 milhões de habitantes na UE. |
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
Meirelles é eleito presidente do Conselho das Américas do BIS
Folha de S.Paulo - 08/03/2010
O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, deve anunciar hoje que foi eleito presidente do Conselho das Américas, do BIS (Banco de Compensações Internacionais), considerado o banqueiro central dos bancos centrais, com sede em Basileia (Suíça).
Meirelles tem declarado que ainda não decidiu se vai continuar no BC brasileiro, mas que se dedicará ao cargo pelo menos até o dia 2 de abril.
A presidência do Conselho das Américas não é considerada conflitante com o comando de um banco central, por não exigir dedicação integral. O mandato é de dois anos.
O conselho coordena as atividades do BIS nos EUA, Canadá e América Latina em vários âmbitos, da regulação à tecnologia e questões comerciais.
Entre as iniciativas do conselho na região está a criação de um fundo de títulos latino-americanos. A ideia é promover a consolidação nos mercados de capitais na América Latina. O Brasil tem a proposta de se tornar um centro financeiro da região, mas outros países pretendem ter maior financiamento, volume e ver seu mercado crescer em importância.
Outra função do conselho é levar a posição da região para o banco. Os asiáticos já se agruparam dessa maneira e os europeus têm no Banco Central Europeu essa coordenação.
Ratreabilidade dos remédios preocupa setor
Os atacadistas de medicamentos pleiteiam no governo medidas para desatar o setor de distribuição no país.
O rastreamento de remédios e os impostos são os principais problemas, segundo a Abradilan (associação dos distribuidores de Laboratórios Nacionais).
"O ICMS é um dos entraves que prejudicam a distribuição de medicamentos. Cada Estado tem uma regra diferente", diz Geraldo Monteiro, diretor da Abradilan.
A carga tributária aplicada aos remédios representa, em média, 35% do preço ao consumidor. O alto custo inibe novos investimentos e favorece a informalidade.
A proposta da associação é reduzir o ICMS em toda a cadeia farmacêutica para 12%.
Quanto à rastreabilidade, Monteiro diz que a medida não é efetiva. "Medicamento é o segundo produto mais roubado no país."
FLOR E ESSÊNCIA
A Kenzo lança hoje uma linha feminina de perfumes a "Essentielle" e, em outubro, uma linha de fragrâncias para homens. Para 2011, a grife já decidiu trazer de volta ao Brasil sua linha de tratamento de beleza, que foi retirada do mercado brasileiro. A "Flower" é a segunda linha do gênero mais vendida no Brasil, e é uma das cinco marcas mais comercializadas do mundo.
O bom dos produtos de beleza Kenzo Ki ( que significa "energia interior"), segundo a diretora da marca, é que "eles não fazem promessas. E são produzidos com matérias rigorosamente naturais, como lótus, arroz e bambu". As vendas vão bem, 2011 deverá ser igualmente promissor, mas a tributação continua a mesma. Só de IPI, os perfumes importados têm cerca de 42%, diz ela.
"Por isso, nossas peças são mais caras que no exterior", diz Rouillé.
A FILA ANDA
Marcos Quintela faz as primeiras grandes mudanças na Young&Rubicam, desde que assumiu a presidência da agência, neste ano. Sylvia Panico assume a vice-presidência-executiva e o francês David Laloum passa a comandar a vice-presidência de Planejamento. A agência tem sido líder do ranking brasileiro em volume anunciado, nos últimos oito anos consecutivos, de acordo com o Instituto Ibope Monitor. Para Quintela, o mercado vem se tornando cada vez mais competitivo. Não existem mais os longos e abrangentes contratos de outros tempos.
"Hoje, grande parte dos clientes tem mais de uma agência, divide as contas. É trabalho por trabalho", diz Quintela, que quer ter em sua carteira, clientes dos setores que ainda não estão na Y&R, como carros e bebidas. "Quem é líder, tem mais a perder. Se não correr, a fila anda."
NOVOS RUMOS 1
Dalva Fazzio, que agora dirige sozinha a Matisse, disse que um dos motivos para a saída de Paulo de Tarso Santos da sociedade na agência de comunicação foi a discordância em relação ao futuro da empresa.
NOVOS RUMOS 2
A Matisse acaba de renovar seu contrato com a Secom (Secretaria de Comunicação Estratégica da Presidência da República) por R$ 150 milhões. Clientes de vários governos representam, atualmente, cerca de 70% do faturamento da agência, e Fazzio deseja conquistar mais contas de companhias privadas daqui para a frente. "O Paulo tem toda uma história de trabalho na iniciativa pública", explica ela.
JUSTIÇA
A quarta edição do Anuário da Justiça 2010, publicação do Consultor Jurídico, com apoio da FAAP, traz as principais decisões tomadas pelo Poder Judiciário no ano passsado. A obra revela que o Distrito Federal é a unidade da Federação mais inconstitucional do Brasil. As seis leis produzidas pela Câmara Distrital foram revogadas.
O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, deve anunciar hoje que foi eleito presidente do Conselho das Américas, do BIS (Banco de Compensações Internacionais), considerado o banqueiro central dos bancos centrais, com sede em Basileia (Suíça).
Meirelles tem declarado que ainda não decidiu se vai continuar no BC brasileiro, mas que se dedicará ao cargo pelo menos até o dia 2 de abril.
A presidência do Conselho das Américas não é considerada conflitante com o comando de um banco central, por não exigir dedicação integral. O mandato é de dois anos.
O conselho coordena as atividades do BIS nos EUA, Canadá e América Latina em vários âmbitos, da regulação à tecnologia e questões comerciais.
Entre as iniciativas do conselho na região está a criação de um fundo de títulos latino-americanos. A ideia é promover a consolidação nos mercados de capitais na América Latina. O Brasil tem a proposta de se tornar um centro financeiro da região, mas outros países pretendem ter maior financiamento, volume e ver seu mercado crescer em importância.
Outra função do conselho é levar a posição da região para o banco. Os asiáticos já se agruparam dessa maneira e os europeus têm no Banco Central Europeu essa coordenação.
Ratreabilidade dos remédios preocupa setor
Os atacadistas de medicamentos pleiteiam no governo medidas para desatar o setor de distribuição no país.
O rastreamento de remédios e os impostos são os principais problemas, segundo a Abradilan (associação dos distribuidores de Laboratórios Nacionais).
"O ICMS é um dos entraves que prejudicam a distribuição de medicamentos. Cada Estado tem uma regra diferente", diz Geraldo Monteiro, diretor da Abradilan.
A carga tributária aplicada aos remédios representa, em média, 35% do preço ao consumidor. O alto custo inibe novos investimentos e favorece a informalidade.
A proposta da associação é reduzir o ICMS em toda a cadeia farmacêutica para 12%.
Quanto à rastreabilidade, Monteiro diz que a medida não é efetiva. "Medicamento é o segundo produto mais roubado no país."
FLOR E ESSÊNCIA
A Kenzo lança hoje uma linha feminina de perfumes a "Essentielle" e, em outubro, uma linha de fragrâncias para homens. Para 2011, a grife já decidiu trazer de volta ao Brasil sua linha de tratamento de beleza, que foi retirada do mercado brasileiro. A "Flower" é a segunda linha do gênero mais vendida no Brasil, e é uma das cinco marcas mais comercializadas do mundo.
O bom dos produtos de beleza Kenzo Ki ( que significa "energia interior"), segundo a diretora da marca, é que "eles não fazem promessas. E são produzidos com matérias rigorosamente naturais, como lótus, arroz e bambu". As vendas vão bem, 2011 deverá ser igualmente promissor, mas a tributação continua a mesma. Só de IPI, os perfumes importados têm cerca de 42%, diz ela.
"Por isso, nossas peças são mais caras que no exterior", diz Rouillé.
A FILA ANDA
Marcos Quintela faz as primeiras grandes mudanças na Young&Rubicam, desde que assumiu a presidência da agência, neste ano. Sylvia Panico assume a vice-presidência-executiva e o francês David Laloum passa a comandar a vice-presidência de Planejamento. A agência tem sido líder do ranking brasileiro em volume anunciado, nos últimos oito anos consecutivos, de acordo com o Instituto Ibope Monitor. Para Quintela, o mercado vem se tornando cada vez mais competitivo. Não existem mais os longos e abrangentes contratos de outros tempos.
"Hoje, grande parte dos clientes tem mais de uma agência, divide as contas. É trabalho por trabalho", diz Quintela, que quer ter em sua carteira, clientes dos setores que ainda não estão na Y&R, como carros e bebidas. "Quem é líder, tem mais a perder. Se não correr, a fila anda."
NOVOS RUMOS 1
Dalva Fazzio, que agora dirige sozinha a Matisse, disse que um dos motivos para a saída de Paulo de Tarso Santos da sociedade na agência de comunicação foi a discordância em relação ao futuro da empresa.
NOVOS RUMOS 2
A Matisse acaba de renovar seu contrato com a Secom (Secretaria de Comunicação Estratégica da Presidência da República) por R$ 150 milhões. Clientes de vários governos representam, atualmente, cerca de 70% do faturamento da agência, e Fazzio deseja conquistar mais contas de companhias privadas daqui para a frente. "O Paulo tem toda uma história de trabalho na iniciativa pública", explica ela.
JUSTIÇA
A quarta edição do Anuário da Justiça 2010, publicação do Consultor Jurídico, com apoio da FAAP, traz as principais decisões tomadas pelo Poder Judiciário no ano passsado. A obra revela que o Distrito Federal é a unidade da Federação mais inconstitucional do Brasil. As seis leis produzidas pela Câmara Distrital foram revogadas.
FERNANDO DE BARROS E SILVA
(Sub)Nudez castigada
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/03/10
SÃO PAULO - Parece até que essa gente nunca viu mulher pelada. A rigor, pelo que se noticiou, nem nua Sonia Francine está. A subprefeita da Lapa é na verdade uma "subpelada". A imagem é discreta, quase casta. Mas bastou para deflagrar uma onda pudibunda de indignação, insultos, baixarias. Estamos diante de um tribunal digno de uma farsa de Nelson Rodrigues.
Moralismo e o oportunismo político mais baixo se misturam na reação à foto para a "Playboy". Uma revista semanal filiada ao lulo-governismo estampou as imagens de Soninha e de Cicciolina lado a lado, comparando-as.
Sob o título "Eis outro plebiscito", a publicação diz que seu "voto" vai para a atriz pornô italiana. E conclui: "Se é para engrossar, engrossemos". Foram tão fieis a si mesmos que engrossaram até o vernáculo. Lemos ali que Soninha está em plena "ascenção política" -com C cedilha. Isso, sim, é ironia fina.
Por incrível que pareça, há coisas piores. Na internet, o blog de um jornalista a serviço de Dilma Rousseff, em torno do qual gravita o lúmpen do petismo, acolhe e estimula comentários francamente fascistas sobre a nudez, no intuito de atingir José Serra. Reuniu-se na rede uma horda de mercenários e linchadores -analfabetos morais que agem como filhotes de Mirian Cordeiro.
Mas há também uma reação à nudez genuinamente conservadora. Ela aparece em comentários do tipo: "Enquanto ela fica pelada, a praça continua imunda". Ora, é claro que a cidade não estaria em melhor estado se Soninha fosse uma freira. A subprefeita paga caro por ceder a uma vaidade frívola, embora inofensiva, quando os descalabros da administração Kassab vêm à tona e São Paulo afunda em águas sujas.
Sim, Soninha não poderia ter escolhido hora mais imprópria para atirar a roupa no Tietê. Mas, diante de tanta hipocrisia e cafajestada, poderia dizer, como o anjo pornográfico: "Não tenho culpa se o espectador resolve projetar em mim a sua própria obscenidade".
MIGUEL SROUGI
Mulheres, um mundo misturado
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/03/10
Para cada ano a mais de instrução da mãe, a taxa de mortalidade infantil diminuiu nove mortes em cada mil nascimentos
EMBARAÇADO PELAS minhas limitações, tentei compreender o sentido do Dia Internacional da Mulher. Lembrando as mulheres que conheço, concluí que elas seriam incapazes de criar uma data para sua autoexaltação sem contexto. Desviando o pensamento para os homens que conheço, suspeitei que eles pudessem ser os autores da obra, enfim, quem mais além delas lhes concede emoções tão incontidas? Rapidamente desisti. Acho que eles seriam incapazes de expressar gratidão.
Voltei a lembrar das mulheres que conheço e acho que compreendi. É delas mesmo que deve ter surgido a iniciativa, afinal, mais do que atuar como instrumento de perpetuação da espécie, acho que elas queriam ser lembradas pela sua participação, frequentemente desprezada, na construção de sociedades mais justas, dentro de um mundo confuso e misturado.
Não por acaso, a ONU estabeleceu em 2000 o Projeto do Milênio, em que foram definidas ações para, até 2015, reduzir pela metade a fome e a miséria no planeta. Planeta habitado por 800 milhões de pessoas que, vítimas da pobreza e da insensibilidade, vão dormir famintas ao final de cada dia e onde 29 mil crianças morrem diariamente atingidas por desnutrição ou doenças infecciosas já erradicadas nos países mais sérios. Tragédia que, apesar da exaltação oficial, não poupa o Brasil.
Designada a nona economia do mundo pelo seu PIB, nossa nação ostenta um aflitivo 75º lugar no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH. Parâmetro mais humano do que o PIB, já que agrega valores de saúde e de instrução de um povo. E reflete a brutal realidade que prevalece na nossa sociedade, povoada por 35 milhões de pobres e miseráveis e onde 1% dos mais ricos acumula a mesma renda que 50% de toda a população.
De forma emblemática, o projeto contemplou medidas de valorização e de proteção à mulher, por motivos fáceis de compreender. O ciclo de transmissão da fome e da miséria nas nações menos desenvolvidas só pode ser interrompido se os desprovidos tiverem acesso à educação, à saúde e ao trabalho. Nessas sociedades, as mulheres têm uma participação única e insubstituível. Elas são responsáveis por cerca de 70% do trabalho que sustenta as famílias e são provedoras quase exclusivas da assistência aos vulneráveis, crianças, doentes e idosos. Representam também, nas nações mais pobres, o principal elo, muitas vezes solitário, de agregação das famílias. Ademais, estudos da OMS e do Banco Mundial mostraram que, nos países pobres, a taxa de escolaridade dos filhos aumenta em quase 50% quando a mãe, ao contrário do pai, tem educação básica. Comprovaram ainda que, quando os proventos familiares são gerenciados pelo pai, e não pela mãe, as despesas com a alimentação dos filhos aumenta 15 vezes, devido ao desperdício e aos gastos inúteis. Além disso, para cada ano a mais de instrução da mãe, a taxa de mortalidade infantil diminuiu nove mortes em cada mil nascimentos.
Contrastando com a relevância do seu papel nas sociedades contemporâneas, as mulheres têm seus direitos restringidos ou ignorados na maioria delas. Por isso, combater as desigualdades de gênero é fundamental para produzir a prosperidade de uma nação e, principalmente, para respeitar a essência da condição humana. O que significa que é imprescindível que se conceda às mulheres os mesmo direitos desfrutados pelos homens no trabalho, na propriedade e na política, que se privilegie seu acesso à saúde e aos cuidados na maternidade, que se reduza sua vulnerabilidade à violência física, sexual e psicológica, que elas tenham a prerrogativa de comandar a sua vida sexual e reprodutora e, principalmente, que se conceda a elas o direito de controlar o próprio destino.
Termino dirigindo, neste dia, um olhar de reconhecimento a todas as mulheres. Mulheres que se confundem com a questão eterna da maternidade, com o manto de aconchego da condição humana e com a superação da miséria no mundo. E que têm sido afrontadas pela discriminação, pela injustiça, pela opressão e pela violência.
Como membro do outro gênero, aproveito também para pedir desculpas. E justifico socorrendo-me em Riobaldo, o jagunço-filósofo de Guimarães Rosa: "Eu careço de que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro lado o branco, que o feio fique apartado do bonito e a alegria longe da tristeza!
Quero todos os pastos demarcados...
Como é que posso com este mundo?
Este mundo é muito misturado".
MIGUEL SROUGI , 63, médico, pós-graduado em urologia pela Harvard Medical School (EUA), é professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP e presidente do conselho do Instituto Criança É Vida.
PAULO GUEDES
O que é necessário para lutar contra a corrupção
REVISTA ÉPOCA
Os investidores internacionais vêm sendo, mais uma vez, bombardeados pelos escândalos de corrupção na política brasileira. “O tamanho do Estado e seu alcance nos negócios no Brasil significam que os empresários precisam estar de bem com os políticos, por meio das doações de recursos financeiros a suas campanhas eleitorais”, afirma uma reportagem intitulada “Corrupção no Brasil: a trilha do dinheiro”, publicada na revista britânica The Economist.
O texto aborda a recente prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, o mensalão para a compra pelo governo Lula de apoio no Congresso em 2005, o aborto da candidatura de Roseana Sarney em 2002 e a renúncia do presidente Collor para evitar seu impeachment em 1992. Mas a revista refere-se também ao que considera uma bênção: o Brasil tem uma mídia agressiva e competitiva, bem como uma instituição tenaz que investiga esses escândalos: o Ministério Público.
O problema é que o combate a essa perversa associação entre a pirataria privada e as criaturas do pântano político parece restrito à imprensa e ao MP, essa exótica estrutura autônoma embutida no Estado brasileiro. Os repórteres e os procuradores incendeiam o sentimento de cidadania da população informada. Após a barragem de fogo inicial, porém, os escândalos se apagam, um a um, quer pela conivência entre Executivo e Legislativo, num pacto corporativo pela impunidade, quer por um Judiciário historicamente omisso ante os indecorosos rituais de nosso modo obsoleto de fazer política.
As acusações de corrupção já atingiram todo o espectro partidário, levaram ao enfraquecimento do Legislativo e tornaram a governabilidade um pretexto para manter a baixa qualidade da prática política. É, por isso, um rasgo de esperança o recente despertar do Poder Judiciário. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, diagnosticou a degeneração da administração pública do DF como um fenômeno de metástase institucional.
Para o funcionamento da democracia, precisamos
de imprensa livre e de um Judiciário independente
É fundamental, para a construção incipiente de uma grande sociedade aberta, que o episódio contra o esquema de transporte de dinheiro em meias, promovido pelo governo de Brasília, seja um marco para reafirmar a independência dos poderes, um dos princípios clássicos das modernas democracias liberais. Torna-se indispensável que essa revigorante e recuperada vitalidade do Judiciário se manifeste com maior frequência, não apenas em temporada eleitoral.
de imprensa livre e de um Judiciário independente
É fundamental, para a construção incipiente de uma grande sociedade aberta, que o episódio contra o esquema de transporte de dinheiro em meias, promovido pelo governo de Brasília, seja um marco para reafirmar a independência dos poderes, um dos princípios clássicos das modernas democracias liberais. Torna-se indispensável que essa revigorante e recuperada vitalidade do Judiciário se manifeste com maior frequência, não apenas em temporada eleitoral.
Sua credibilidade exige também a interdição de esquemas de transporte de dinheiro sujo em cuecas, pois há lideranças políticas, de quem esperaríamos reformas a favor da transparência, que consideram os mensalões “apenas” veículos usuais de financiamento de campanha com caixa dois das empresas.
Os oposicionistas certamente usariam o tema do mensalão na campanha deste ano, mas sofreram alguns golpes. A prisão de Arruda precisa representar algo mais importante que um lance oportuno para o governo federal, assim como a tentativa de impeachment contra a governadora oposicionista do Rio Grande do Sul, a cassação do governador oposicionista da Paraíba e a intervenção favorável aos situacionistas no Maranhão. Se Executivo e Legislativo silenciam pela impunidade, um Judiciário alerta e independente tornaria inevitável a reforma de nossas práticas políticas.
É também fundamental que se mantenha intacta a liberdade de imprensa no Brasil, como alertaram jornalistas, intelectuais e dirigentes de veículos de imprensa no I Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, realizado no início de março pelo Instituto Millenium (leia mais). Entre os extremos da inércia tolerante com a corrupção política e do radicalismo das tentativas totalitaristas de “controle social” da mídia, necessitamos, para o aperfeiçoamento da democracia, do funcionamento desta dobradinha: plena liberdade de imprensa e ação fulminante de um Judiciário independente.
NELSON DE SÁ - TODA MÍDIA
Em campanha
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/03/2010
Na revista "Veja" desta semana, "A mais de uma pessoa, Lula disse que foi sondado para se candidatar a secretário-geral da ONU em 2011".
No ano passado, seu nome foi levantado na revista "Foreign Policy" para presidente do Banco Mundial, um cargo indicado pelos EUA. E a revista "Exame" deu que representantes de Barack Obama teriam "consultado informalmente pessoas próximas a Lula para saber qual seria a reação a um convite".
No "Globo" de sábado, "o chanceler Celso Amorim vai ficar no posto até o fim do mandato de Lula". Ele "desistiu de disputar vaga" na Câmara.
"DECOLAGEM"
guardian.co.uk
Com patrocínio de empresas privadas, da Eletrobras e da Prefeitura do Rio, o britânico "Guardian" publicou caderno de dez páginas sobre o Brasil, "Pronto para a decolagem" (ao lado). Na capa, entre imagens de Carnaval e outras do Rio, Dilma Rousseff.
A reportagem de introdução destaca elogios ao país, do ex-ministro Luiz Furlan e do presidente da TAM, Líbano Barroso, e também críticas, do empresário João Dória. Entre os muitos textos, dois são dedicados ao Rio, outro cobra mais infraestrutura e um perfil destaca Lula como "herói da classe trabalhadora".
BRICS E O RESTO
Em meio à sessão anual do Congresso Nacional do Povo, em Pequim, o chanceler da China declarou em entrevista coletiva, como destacaram ontem sites estatais, da CCTV ao jornal "Global Times":
"Diante dos crescentes desafios globais, os países Bric ampliaram a cooperação entre si e com outros países de uma maneira ativa, pragmática, aberta e transparente. Eu acredito que isso é de interesse para o mundo... Nós esperamos que a segunda cúpula, a ser realizada no Brasil, em abril, tenha um êxito total".
A CHINA PODE
O "Washington Post" publicou que "o governo Obama está pressionando para obter uma isenção para a China e outros membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, nas leis em preparação no Congresso americano que ampliariam as sanções contra empresas que fazem negócios com o Irã". A proposta "irritou diversos aliados, como o Japão". Na última década, "empresas japonesas, sob pressão dos EUA, saíram do setor de petróleo e gás do Irã. Enquanto a China entrou".
O "Investor's Business Daily" já deu editorial dizendo ser "uma das piores ideias do governo Obama".
O BRASIL NÃO PODE
No texto "EUA enriquecem empresas que desafiam sua política no Irã", o "New York Times" questiona o Brasil e a Petrobras, entre outros que estariam "fora de linha com os objetivos americanos". Citando lista do Departamento de Estado, o jornal destaca que a empresa brasileira já recebeu recursos americanos para o pré-sal, mas o país negou apoio às sanções.
No quadro de grandes empresas com interesses no Irã, por outro lado, o "NYT" retrata a atividade da Petrobras como "suspensa" pela empresa, após pressão dos EUA -enquanto outras petroleiras, como a americana Conoco Philips e a francesa Total, ainda são dadas como "ativas" no país, porém sem questionamento.
"SHOWDOWN"
Sob o título "Brasil e EUA próximos de confronto final [showdown] no subsídio ao algodão", o "Financial Times" informa que hoje o governo brasileiro define 50 produtos que podem ser alvo de retaliação comercial permitida pela OMC. A secretária de Estado, Hillary Clinton, chegou a tratar da questão durante sua visita, porém o diplomata brasileiro Carlos Cozendey, que negocia com os EUA, diz que "até aqui tivemos indícios de que querem negociar, mas nenhuma proposta".
UM E OUTRO
Em coluna publicada por "Globo" e outros, "A hora é agora", FHC afirma que é preciso "conter a deterioração do balanço de pagamentos", mas "sem fechar a economia ou inventar mágicas para aumentar artificialmente a competitividade de nossos produtos".
Já no "Valor", economistas do "grupo de José Serra", opostos à "ala mais monetarista" do PSDB, defenderam "instrumentos para moderar" o câmbio.
No ano passado, seu nome foi levantado na revista "Foreign Policy" para presidente do Banco Mundial, um cargo indicado pelos EUA. E a revista "Exame" deu que representantes de Barack Obama teriam "consultado informalmente pessoas próximas a Lula para saber qual seria a reação a um convite".
No "Globo" de sábado, "o chanceler Celso Amorim vai ficar no posto até o fim do mandato de Lula". Ele "desistiu de disputar vaga" na Câmara.
"DECOLAGEM"
guardian.co.uk
Com patrocínio de empresas privadas, da Eletrobras e da Prefeitura do Rio, o britânico "Guardian" publicou caderno de dez páginas sobre o Brasil, "Pronto para a decolagem" (ao lado). Na capa, entre imagens de Carnaval e outras do Rio, Dilma Rousseff.
A reportagem de introdução destaca elogios ao país, do ex-ministro Luiz Furlan e do presidente da TAM, Líbano Barroso, e também críticas, do empresário João Dória. Entre os muitos textos, dois são dedicados ao Rio, outro cobra mais infraestrutura e um perfil destaca Lula como "herói da classe trabalhadora".
BRICS E O RESTO
Em meio à sessão anual do Congresso Nacional do Povo, em Pequim, o chanceler da China declarou em entrevista coletiva, como destacaram ontem sites estatais, da CCTV ao jornal "Global Times":
"Diante dos crescentes desafios globais, os países Bric ampliaram a cooperação entre si e com outros países de uma maneira ativa, pragmática, aberta e transparente. Eu acredito que isso é de interesse para o mundo... Nós esperamos que a segunda cúpula, a ser realizada no Brasil, em abril, tenha um êxito total".
A CHINA PODE
O "Washington Post" publicou que "o governo Obama está pressionando para obter uma isenção para a China e outros membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, nas leis em preparação no Congresso americano que ampliariam as sanções contra empresas que fazem negócios com o Irã". A proposta "irritou diversos aliados, como o Japão". Na última década, "empresas japonesas, sob pressão dos EUA, saíram do setor de petróleo e gás do Irã. Enquanto a China entrou".
O "Investor's Business Daily" já deu editorial dizendo ser "uma das piores ideias do governo Obama".
O BRASIL NÃO PODE
No texto "EUA enriquecem empresas que desafiam sua política no Irã", o "New York Times" questiona o Brasil e a Petrobras, entre outros que estariam "fora de linha com os objetivos americanos". Citando lista do Departamento de Estado, o jornal destaca que a empresa brasileira já recebeu recursos americanos para o pré-sal, mas o país negou apoio às sanções.
No quadro de grandes empresas com interesses no Irã, por outro lado, o "NYT" retrata a atividade da Petrobras como "suspensa" pela empresa, após pressão dos EUA -enquanto outras petroleiras, como a americana Conoco Philips e a francesa Total, ainda são dadas como "ativas" no país, porém sem questionamento.
"SHOWDOWN"
Sob o título "Brasil e EUA próximos de confronto final [showdown] no subsídio ao algodão", o "Financial Times" informa que hoje o governo brasileiro define 50 produtos que podem ser alvo de retaliação comercial permitida pela OMC. A secretária de Estado, Hillary Clinton, chegou a tratar da questão durante sua visita, porém o diplomata brasileiro Carlos Cozendey, que negocia com os EUA, diz que "até aqui tivemos indícios de que querem negociar, mas nenhuma proposta".
UM E OUTRO
Em coluna publicada por "Globo" e outros, "A hora é agora", FHC afirma que é preciso "conter a deterioração do balanço de pagamentos", mas "sem fechar a economia ou inventar mágicas para aumentar artificialmente a competitividade de nossos produtos".
Já no "Valor", economistas do "grupo de José Serra", opostos à "ala mais monetarista" do PSDB, defenderam "instrumentos para moderar" o câmbio.
CARLOS ALBERTO DI FRANCO
Jornalismo ? fraquezas que comprometem
O ESTADO DE SÃO PAULO - 08/03/10
Televisão e internet são, frequentemente, os bodes expiatórios para justificar a crise dos jornais. Os jovens estão "plugados" horas sem-fim. Já nascem de costas para a palavra impressa. Será? É evidente que a juventude de hoje lê muito menos. Mas não é só a moçada que foge dos jornais. Os representantes das classes A e B também têm aumentado a fileira dos navegantes do espaço virtual.
Os diários de sucesso são aqueles que sabem que o seu público, independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfã de jornais de qualidade. Num momento de ênfase no didatismo, na infografia e na prestação de serviços - estratégias convenientes e necessárias -, defendo a urgente necessidade de complicar as pautas. O leitor que devemos conquistar não quer, como é lógico, o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer informação de qualidade: a matéria aprofundada, a reportagem interessante, a análise que o ajude, de fato, a tomar decisões.
O noticiário de política, por exemplo, tradicionalmente forte nos segmentos qualificados do leitorado, perdeu vigor. Está, frequentemente, dominado pela fofoca e pelo declaratório. Não tem notícia, mas sobra suposição sem fundamento e documentação. O marketing político avançou além da conta. Estamos assistindo à morte da política e ao advento da era do declaratório e da inconsistência.
Recentemente, o presidente Lula escorregou. E escorregou feio. Ao lado dos irmãos Castro, representantes emblemáticos da mais longeva das ditaduras, o ex-metalúrgico Lula não condenou a morte de um dissidente do regime. Mandou para o espaço sua biografia e seu passado. E ninguém soube contextualizar minimamente. Ninguém repercutiu o episódio com a candidata de Lula ou até mesmo com o ministro Franklin Martins, afinal, um ex-jornalista, presumivelmente defensor dos direitos humanos e da liberdade. Ninguém fez uma matéria sobre os porões da ditadura cubana. Ficamos, no entanto, reféns daqueles que querem fazer uma revisão seletiva da História brasileira. Punir os militares e preservar os guerrilheiros.
A Venezuela é outro capítulo. Cansamos de dar espaço aos destemperos de Hugo Chávez. Declaratório e mais declaratório. Mas onde está a radiografia informativa do descalabro do governo Chávez? Fazemos pouco, muito pouco. Questionado pelo jornal O Estado de S. Paulo, Lula afirmou textualmente: "Eu acho que a Venezuela é uma democracia." Não estaria aqui o gancho para uma bela pauta? Não seria a ocasião para mostrar, com informação objetiva, o oportunismo ideológico de um presidente que costura uma estratégia de liderança do Terceiro Mundo com olhos postos numa aposentadoria internacional carregada de protagonismo? O leitor, que não é tonto, pula fora. Não quer ser conduzido. Ele quer informação, não quer controle gramsciano da notícia.
Por outro lado, políticos e partidos vendem uma bela embalagem, mas fogem da discussão das ideias e das políticas públicas. O prefeito Gilberto Kassab, por exemplo, triplica os gastos com publicidade. Mas foge da imprensa nos momentos em que uma liderança verdadeira exigiria o pé na lama, e não declarações no conforto de seu gabinete. Nós, jornalistas, somos (ou deveríamos ser) o contraponto a essa tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a embalagem e mostrar a realidade. Só nós, estou certo, podemos minorar os efeitos perniciosos do espetáculo audiovisual que, certamente, não contribui para o fortalecimento de uma democracia sólida e amadurecida.
Por isso, uma cobertura de qualidade é, antes de mais nada, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. O nosso papel é ouvir as pessoas, conhecer suas queixas, identificar suas carências e cobrar soluções dos governantes. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute o Brasil oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real. Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório.
O esforço de isenção não se confunde com a omissão. O leitor espera uma imprensa combativa, disposta a exercer o seu intransferível dever de denúncia. A sociedade quer um quadro claro, talvez um bom infográfico, que lhe permita formar um perfil dos homens públicos: seus antecedentes, sua evolução patrimonial, seu desempenho em cargos atuais e anteriores, etc. Impõe-se, também, um bom levantamento das promessas de campanha. É preciso mostrar os eventuais descompassos entre o discurso e a realidade. Trata-se, no fundo, de levar adiante um bom jornalismo de serviço.
Os políticos, pródigos em soluções de palanque, não costumam perder o sono com o rotineiro descumprimento da palavra empenhada. Afinal, para muitos deles, infelizmente, a política é a arte do engodo. Além disso, contam com a amnésia coletiva. O jornalismo de qualidade deve assumir o papel de memória da cidadania. Precisamos falar do futuro, dos projetos e dos planos de governo. Mas precisamos também falar do passado, das coerências e das ambiguidades.
A imprensa, sem precipitação e injustos prejulgamentos, tem o dever de desempenhar importante papel na recuperação da ética na vida pública. Transparência nos negócios públicos, ética e competência são importantes demandas da sociedade. Nosso compromisso não é com as celebridades, mas com a verdade, com a informação bem apurada e com os leitores. E nada mais.
Só uma séria retomada na qualidade informativa garantirá a fidelidade dos antigos leitores e a conquista de novos. Precisamos mostrar que o jornal continua sendo útil, importante, interessante.
Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com