sábado, maio 01, 2010

FERNANDO RODRIGUES


Ideologia zero

FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/05/10

BRASÍLIA - Está aberta a temporada de leilão dos tempos de TV e de rádio no horário eleitoral. O partido mais cobiçado do momento é o PP (ex-Arena, ex-PDS). É a legenda que sustentou a ditadura militar (1964-1985) e hoje abriga Francisco Dornelles e Paulo Maluf.
Quando começar a propaganda para presidente, o PP terá perto de um minuto e meio na TV e outro tanto equivalente no rádio durante os blocos mais longos. Além disso, poderá veicular cerca de três comerciais diários de 30 segundos cada. Esses spots, como se diz no jargão da publicidade, são um canhão. Passam em todas as emissoras de TV e rádio do país ao longo de 45 dias, sem interrupção.
Nem Casas Bahia ou Petrobras têm tantos comerciais assim. Vale ouro esse benefício. Ocorre que várias legendas não terão candidato a presidente. O Brasil tem 27 agremiações e bem menos de 15 vão se aventurar na corrida ao Planalto.
No caso do PP, o episódio tem uma peculiaridade. A sigla é hoje aliada do governo Lula no plano federal. Comanda o Ministério das Cidades. Ainda assim, seus dirigentes saem por aí afirmando terem dúvida sobre se apoiam Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB) para presidente. Por que um partido estaria dentro de um governo e apoiaria o candidato de oposição? Simples: para obter vantagens.
Não há ideologia envolvida nesse processo. É só um escambo de caráter utilitário. Primeiro, o PP verificará se elegerá mais deputados, senadores e governadores apoiando o candidato a presidente do PT ou o do PSDB. Em seguida, avaliará qual dos dois tem mais chance de vitória. Por fim, dará seu apoio jurando fidelidade ao escolhido -que receberá os preciosos minutos na TV.
Esse horário eleitoral custa dinheiro. As emissoras têm compensação fiscal para ceder o tempo aos políticos. Quem paga, portanto, é o eleitor. Mas quem faz a festa da ideologia zero são os partidos.

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