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Fernando Abrucio é doutor em Ciência Política pela USP, professor da Fundação Getúlio Vargas (SP) e escreve quinzenalmente em ÉPOCA A discussão sobre o “escândalo do panetone” não tem tocado na verdadeira causa da tragédia política brasiliense. Todos aqueles vídeos não podem ser explicados apenas por falhas das instituições brasileiras. Brasília, com exceção da gestão de Cristovam Buarque, tem sido governada por uma máfia que a domina desde que a capital ganhou independência política. O pior é que esses “donos do poder” local têm sua força ligada a três fortes instrumentos de poder. |
segunda-feira, dezembro 14, 2009
FERNANDO ABRUCIO
MARIA CRISTINA FRIAS
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Termina na próxima sexta-feira, dia 18, a audiência pública realizada pelo Banco Central para o projeto da lei que vai estabelecer novas regras para a liquidação e a falência de instituições financeiras no país. Tal norma substituirá leis de 1974, 1987 e 1997 e representa um pleito antigo do setor. |
RAUL VELLOSO
Euforia arriscada
O Estado de S. Paulo - 14/12/2009 |
Reina total euforia sobre o estado e as perspectivas da economia brasileira. É um grande contraste com o que ocorria há bem pouco tempo. Em fins de 2002, chegávamos a uma encruzilhada. Mesmo tendo feito progressos importantes (inflação baixa, superávits fiscais recordes e câmbio flutuante), a dívida pública crescia mais que o PIB desde muito. Ali, era imperioso aumentar ainda mais os superávits fiscais. Só que as armas de sempre (aumento de impostos e corte de investimentos) estavam esgotadas. E predominava uma espécie de modelo de expansão dos gastos públicos correntes, que ainda hoje está de pé. Só se evitaria a volta da inflação se os juros caíssem por alguma razão que não um maior ajuste fiscal. |
PAULO GUEDES
O sertão vai virar mar
O GLOBO - 14/12/09
A Expo Management é um dos maiores eventos mundiais dedicados ao conhecimento da gestão empresarial. Neste início de dezembro, no encerramento do encontro anual de três dias realizado em São Paulo, tive a oportunidade de debater com Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, sua análise do panorama global.
O desalento de Krugman ante a contundência da crise nos Estados Unidos era indisfarçável. Sua perplexidade trouxe-me a inevitável lembrança de Alan Greenspan em uma conferência há cerca de um ano em Washington. Em minha palestra na ocasião, imediatamente anterior à sua fala, atribuí importante papel na construção da crise ao banco central americano. Greenspan parecia atordoado, suas explicações, pífias, seu espírito, alquebrado.
Para Krugman, a crise começou em 2008 tão mal quanto a Grande Depressão. A produção industrial caiu com a mesma intensidade, e o comércio mundial desabou ainda mais rapidamente do que em 1929. Mas, ao contrário do agravamento então ocorrido naquela crise, tivemos desta vez uma estabilização da produção e do comércio. O ano de 2009 trouxe certo alívio, ensaiando-se até mesmo uma recuperação econômica para 2010. E aqui chegamos a uma bifurcação: o possível descolamento entre as economias avançadas e os mercados emergentes.
Para os países mais ricos, Krugman teme uma recuperação apenas transitória, com sérios riscos de retrocesso. Considera mais provável uma desaceleração do crescimento em 2010, frustrando as projeções favoráveis de recuperação sustentável.
“A nossa munição acabou. As taxas de juros já estão próximas de zero, o impacto dos estímulos fiscais está passando e não haverá apoio político para as medidas ainda mais drásticas que seriam necessárias”, reclama em desespero ante o buraco negro que ameaça engolir a economia americana.
Aliás, o oportuno alerta de Ariano Suassuna de que à volta de um buraco tudo é beira foi a síntese que fiz das expectativas de Krugman para a economia americana nos próximos anos. Afirmando que só após a Segunda Guerra Mundial foram superados os efeitos da Grande Depressão, estimou uma recessão prolongada para os EUA.
A situação é bastante distinta para os emergentes, particularmente o Brasil. A perspectiva de gradual descolamento em relação à crise americana é real.
Os preços das commodities permanecem favoráveis, o contágio financeiro foi superado e são melhores os fundamentos fiscais e monetários. Teremos um agradável desafio: evitar a Bolha Brasil, uma imensa onda de liquidez capaz de derrubar o câmbio, ampliar o crédito e inflar as bolsas em excesso graças a nosso favoritismo nos mercados de capitais globais.
Como se vê, pelo menos para o futuro próximo, a visão de Krugman quanto ao desempenho assimétrico entre avançados e emergentes se assemelha à profecia de Antônio Conselheiro no clássico de Euclides da Cunha: o sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão...
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO
Cinismo hediondo
Folha de S. Paulo - 14/12/2009 |
Projeto do Executivo para agravar penas em casos de corrupção é inócuo, pois não enfrenta o problema da impunidade |
GEORGE VIDOR
Precipitados
O GLOBO - 14/12/09
A economia brasileira já está crescendo a um ritmo de 5% ao ano. Para sustentar essa expansão, sem depender de financiamentos externos em proporção que possa deixar o país mais vulnerável a crises vindas lá de fora, a economia precisa investir o equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB), pelo menos. O IBGE mostrou que devemos estar próximos a isso, no momento.
No terceiro trimestre do ano houve uma boa recuperação do investimento e tudo indica que a formação bruta de capital fixo continua se acelerando, impulsionada tanto pela compra de máquinas e equipamentos como pela construção civil. O ano pode fechar até com uma taxa de investimento em torno de 19% do PIB. Nesse caso, a torcida para que as taxas básicas de juros voltem a subir o quanto antes parece precipitada.
Alguns índices de preços, como os da Fundação Getulio Vargas, continuam registrando deflação. Pode-se até discutir a metodologia adotada pela FGV, mas o comportamento desses índices não merece ser desprezado.
Como o sistema financeiro brasileiro se habituou a juros excessivamente altos, taxas básicas abaixo de 10% ao ano é que são vistas como aberração.
No entanto, a aberração é exatamente essa perpetuação dos juros altos. A economia brasileira nunca esteve diante de uma oportunidade tão grande para se livrar de tal anomalia. E não pode deixar que ela escape.
Agora este mês será instalada a peça (um tipo de comporta) que controlará o enchimento e o esvaziamento do dique seco do estaleiro Atlântico Sul, em Suape. Com isso, foi mantida a previsão de lançamento ao mar, em fevereiro de 2010, do primeiro navio petroleiro encomendado pela Transpetro no seu programa de renovação e ampliação da frota. O segundo navio a ser lançado ao mar está previsto para abril, no Estaleiro Mauá, em Niterói.
Ao todo, em 2010, serão lançados ao mar seis navios (quatro no Atlântico Sul e dois no Mauá), dos quais quatro ou cinco serão imediatamente incorporados à frota da Transpetro depois de concluídos e testados — geralmente de dois a três meses após o lançamento da embarcação.
A extensa área onde está instalada a siderúrgica ThyssenKrupp CSA (equivalente aos bairros de Ipanema e Leblon juntos), em Santa Cruz, está preparada para a companhia duplicar sua capacidade de produção de placas de aço, chegando, um dia, a dez milhões de toneladas anuais.
Não existe definição de quando isso acontecerá, até porque o mercado mundial de aço foi um dos mais atingidos pela crise financeira que abalou o planeta no fim do ano passado. No entanto, a duplicação custará bem menos do que os C 5 bilhões previstos para o investimento inicial, pois parte da infraestrutura e algumas instalações (o terminal portuário, os descarregadores de minérios, o virador de vagões e o centro administrativo, por exemplo) atenderão também à expansão. A macrodrenagem foi feita e a ThyssenKrupp aprendeu muito com a obra, de modo que poderá encurtar etapas e obter ganhos de produtividade.
Mas, antes da duplicação, ou até juntamente com ela, faz sentido que a siderúrgica venha a ter um laminador que utilize uma parcela de suas placas de aço, cuja produção hoje está prevista para ser totalmente exportada.
Como o cenário do mercado mundial mudou, oportunidades na demanda interna de aço no Brasil se tornaram atraentes (exemplo: chapas para a construção de navios e plataformas de petróleo). Tais encomendas têm sido atendidas majoritariamente por importações, e um pouco pela Usiminas.
A hipótese de instalação desse laminador surgiu por aqui, mas os executivos da CSA desconhecem o projeto.
Só tomaram conhecimento do assunto pela imprensa.
Países de economia emergente, como o Brasil, optaram por assumir metas voluntárias de redução de emissão de gases apontados como causadores do efeito estufa porque assim não ficarão sujeitos a sanções se não conseguirem alcançar os objetivos. As metas compulsórias de redução, nos moldes que foram assumidas pelo Japão e por países europeus no Acordo de Kioto, envolvem sanções. Esses compromissos de redução são redistribuídos por setores econômicos, chegando-se a estipular quotas por empresa.
Na Alemanha, para cada tonelada de CO2, ou outro gás poluente, emitida além da quota, a empresa que não cumpre o objetivo tem de pagar o correspondente a US$ 100. Nesse caso, para a companhia é preferível comprar no mercado — por cerca de US$ 20 a tonelada — um crédito de carbono em igual volume, em projetos com certificados de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Embora as metas de Kioto tenham sido definidas até 2012, é bem provável que de Copenhague saia a decisão de se estimular a troca de créditos de carbono.
E o Brasil, que só terá metas voluntárias, espera que o esforço para manter florestas em pé e projetos de reflorestamento sejam recompensados com um novo tipo de MDL, conhecido pela sigla em inglês REDD.
Em boa hora foi suspenso o leilão de energia nova programado para dezembro.
Futuras hidrelétricas ficariam de fora.
VINICIUS TORRES FREIRE
Samuelson, morto ontem, foi mentor da economia moderna
Nobel fez síntese da economia moderna |
Folha de S. Paulo - 14/12/2009 |
OS MAIORES economistas da segunda metade do século 20, os americanos pelo menos, consideram Paul Samuelson um grande mentor disso que é hoje a economia moderna, na sua vertente dominante, "mainstream". Samuelson, é claro, não inventou as ideias básicas do que veio a ser a economia depois dos anos 1930. A partir de 1939, com 25 anos, deu "contribuições fundamentais a praticamente todos os ramos da teoria econômica", como escreveu Stanley Fischer. Mas quem inventou isso que se chama hoje de macroeconomia foi o britânico John Maynard Keynes. Samuelson foi na verdade um dos grandes elos da cadeia que liga as primeiras tentativas de formalizar o pensamento keynesiano ao que viria a ser a corrente principal do pensamento econômico. Esse elo foi a chamada "síntese neoclássica". |
FERNANDO RODRIGUES
Como nasce um coronel
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/12/09
BRASÍLIA - Há um elo entre os escândalos recentes e alguns personagens no Congresso. São os especialistas em minimizar danos de crises produzidas pela impostura própria ou de aliados.
O epítome desse agrupamento atende pelo nome de Antonio Carlos Magalhães Neto, o deputado ACM Neto, do Democratas (ex-PFL, ex-Arena) da Bahia.
Aos 30 anos, neto de ACM (1927-2007) e sobrinho de Luís Eduardo Magalhães (1955-1998), o jovem deputado descende de uma oligarquia de raiz antidemocrática. Honra seu passado como pode. Neto, como é chamado, trabalhou neste ano na operação-abafa de três grandes casos: o do deputado do castelo, o das verbas indenizatórias e o do mensalão do DEM.
Eleito corregedor da Câmara em fevereiro, sua primeira obra foi adotar medidas protelatórias para esfriar o caso Edmar Moreira (à época no DEM), cujo nome ficou atrelado a um castelo kitsch no interior de Minas Gerais. Acusado de usar dinheiro público de forma irregular, Moreira foi absolvido.
Mais adiante, Neto viu-se diante de dezenas de deputados usando verbas indenizatórias (R$ 15 mil mensais) de forma criminosa. Deram notas fiscais frias, pagaram serviços de suas próprias empresas ou torraram os recursos em campanhas eleitorais.Tudo ilegal.
Quando já ia fazendo o que mais aprecia -ou seja, nada-, o corregedor da Câmara beneficiou-se com o estouro do mensalão do DEM. Nada como um novo escândalo para encobrir o anterior. Neto mudou o foco. Passou a defender a não punição imediata do governador de Brasília, José Roberto Arruda, acusado de comandar um esquema de distribuição de propinas.
Arruda está rumo à salvação. Saiu do DEM sem ser expulso. E as verbas indenizatórias gastas de maneira ilegal? Esses crimes Neto engavetará no ano que vem.
TODA MÍDIA
Em destaque no UOL, ontem, "Brasil terá Comissão da Verdade sobre ditadura". Em entrevista a Haroldo Ceravolo Sereza, o ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, adiantou que o projeto de lei vai para o Congresso até abril, criando um órgão "como Chile, Argentina e Uruguai já tiveram". Vanucchi cita frase da chilena Michele Bachelet:
"Não queremos sangrar feridas antigas. Queremos que cicatrizem. E só feridas bem lavadas cicatrizam".
Ecoou já ontem por Associated Press, sob o título "Brasil investigará tortura durante ditadura", Efe, Ansa e outras agências.
"CÍNICO"
Tony Blair diz à BBC que, sem as "armas de destruição em massa", buscaria outro motivo para derrubar Saddam Hussein. A oposição diz que já é sua defesa no inquérito da guerra
GUERRA JUSTA
Ao longo da última semana, a britânica Shell fechou acordo de exploração de petróleo no Iraque, bem como a francesa Total e várias outras. Antes haviam fechado acordos a americana ExxonMobil e a também britânica BP. E assim, no título do "Financial Times", "Iraque está prestes a se tornar o segundo na liga do petróleo", com produção inferior à da Arábia Saudita e superior à do Irã.
A "Time" da última semana, em reportagem sobre os novos contratos, destacou que nas manifestações contra a invasão, em 2003 na Europa e nos Estados Unidos, a "acusação" era de que "a guerra servirá meramente à apropriação das vastas reservas de petróleo do país pelas companhias ocidentais".
DILMA E CHINA VS. EUA
Em destaque por Folha Online e outros no meio do dia, "Dilma diz que proposta dos EUA é decepcionante". Foi uma expressão da ministra em artigo no jornal "O Estado de S. Paulo", pouco antes de desembarcar em Copenhague para as negociações sobre mudança climática. "A proposta dos EUA equivale a cortar meros 4% de suas emissões. É decepcionante, para um país que responde por 29% das emissões globais."
Também por Folha Online e "China Daily", o enviado da China a Copenhague se declarou "chocado" com os EUA, contrário ao uso de recursos dos ricos no apoio ao corte de emissões dos emergentes.
AS USINAS
No alto das buscas de Brasil por Yahoo News, "Projetos na Amazônia enfraquecem novo caminho ambiental do Brasil", reportagem especial de Raymond Colitt para a Reuters, desde Porto Velho. Na foto, já com obras em andamento, a usina de Santo Antônio
"Para isso, ela tem de falar com a alma."
Do rapper MANO BROWN, que "diz ter vontade que Dilma Rousseff seja escolhida" em 2010, em entrevista à "Rolling Stone". Ele "admite votar em Dilma, mas não descarta Marina Silva".
A nova edição da "Veja" informa que Lula avisou que, "se na reta final a parada estiver muito complicada para Dilma, ele pedirá licença do cargo e rasgará o Brasil de ponta a ponta em campanha".
De outro lado, passado o programa do PT, a peruca fica, mas, "apesar de ceder no caso, Dilma anda sem paciência para cuidar da imagem" e diz:
"Desisti de mudar, agora serei eu mesma."
QUÉRCIA & SERRA
Na submanchete da Folha Online, "Orestes Quércia é reeleito presidente do PMDB de São Paulo e fortalece José Serra para 2010". Também no portal UOL, "Aliado de Serra, Quércia é reeleito".
E o presidente do PMDB nacional, Michel Temer, insinuou retirar seu apoio à candidata de Lula.
"SOLIDARIEDADE"
Os recados começaram quando seu nome surgiu em lista da construtora Camargo Corrêa, "citado 21 vezes como tendo recebido US$ 345 mil", e em uma das gravações do "mensalão do DEM".
No enunciado do Radar, com o primeiro recado, dia 4, "Temer: Serra ligou, Lula e Dilma, não".
NA ERA DIGITAL
O site Teletime fechou a semana com a programação da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, Confecom, que Lula abre hoje em Brasília com o tema "Meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital". Nos painéis, entre outros, a deputada Luiza Erundina fala pela "sociedade civil" e o superintendente da Telebrasil, César Rômulo, fala sobre "sociedade civil empresarial".
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Aos tucanos, as batatas
SÃO PAULO - Faltando 17 dias para acabar o ano, PT e PSDB esperam as últimas pesquisas de 2009 para conhecer o impacto eleitoral dos programas que ambos exibiram recentemente na TV. É possível que a dianteira de José Serra, até hoje uma constante, não tenha sido abalada, mas os tucanos devem ter muito com que se preocupar. Consolida-se no meio político a percepção de que o governo entra em 2010 muito fortalecido -como favorito?
São três, em resumo, os fatores que projetam uma sombra de dúvidas sobre a liderança tucana: a alta popularidade de Lula, as previsões de crescimento substantivo para o próximo ano e as realizações do governo na área social, contra as quais a oposição não terá muito o que dizer sem passar vexame.
No PT, as interrogações se voltam para a capacidade que terá a candidata Dilma Rousseff de associar sua imagem à do Papai Noel que Lula se tornou. Já entre os tucanos, a dúvida é de outra ordem: o que dizer? O que defender? Como enfrentar o lulismo?
Ao PSDB não falta candidato -aliás, há dois, o que a essa altura já se tornou um problema. Falta, antes, uma candidatura com pauta convincente. A troca de elogios entre Serra e Aécio no jogral da TV pode ser interpretada (psicanaliticamente) como sintoma de algo assim: toma, que essa batata é sua.
O que resta à oposição? Além de aplaudir Lula e repetir que Dilma não é Lula, talvez restem as bandeiras da direita: o medo da violência urbana, a grita contra os impostos, a defesa da eficiência administrativa, a crítica ao gasto público e ao aparelhamento do Estado e por aí vai. Não parece muito animador.
Em 2006, quando o mensalão ainda estava fresco, Alckmin iniciou cheio de energia, prometendo decência e choque de gestão. Acabou humilhado, vestindo uma jaqueta coalhada de símbolos de estatais. Agora, com o DEM nu, ficou ainda mais difícil encontrar um modelito udenista para vestir a oposição no baile de 2010.
CLÁUDIO HUMBERTO
RISCO ZERO
A lei distrital, tão generosa com as administradoras, transfere ao lojista os riscos do negócio. O risco agora é zero para os cartões, no DF
RELAÇÃO LEONINA
Lojistas pagam no mínimo 4% do valor da venda às administradoras a pretexto de "compensar o risco" de inadimplência e de cartão roubado.
PAGOU, LEVOU
Empresas de ônibus do DF compraram uma lei que obriga o governo a transferir R$ 8 milhões por mês ao setor pelo "passe-livre estudantil".
DENUNCIA
Quem denunciou a compra da "lei do passe-livre" foi o ex-senador Valmir Amaral, dono de uma empresa de ônibus em Brasília.
CAMARA CONTRATA FOTOGRAFO POR R$560 MIL
A Câmara dos Deputados contratou por R$560 mil uma micro empresa para serviços de "foto documentação jomalística" durante um ano. A assessoria da Casa enrolou· primeiro disse que o contrato não existia e depois explicou que o valor "será dividido entre dez profissionais". Ah, bom. Mas é assinado por um único pofissional que atua como micro-empresa". O piso salarial para fotógrafos é R$ 1.600 mensais no DE
ESTRANHO, é
A contratada pela Câmara vai ganhar R$560 mil para tirar fotografias, mas a lei limita o faturamento de microempresa em R$240 mil.
NÃO TÁ COMIGO
A Câmara dos Deputados fez questão de informar que o contrato com a micro empresa de fotógrafos "foi baseado na Lei de Licitações".
CONGESTIONADO
O Ministério Público Federal do Maranhão deve ser o mais operoso do País: quando desocupa, o telefone não atende ou cai no fax. Afe.
SUBSTITUTO
O presidente da Conab, Wagner Rossi, é o mais cotado para ser nomeado como o substituto de Reinhold Stephanes, no Ministério da Agricultura. O ministro já anunciou que deixa a pasta em março.
DIA D
O Tribunal de Justiça da Paraíba decide amanhã (15) se o ex-deputado federal e ex-governador Ronaldo Cunha Lima (PSDB) vai a júri popular pela tentativa de homicídio do também ex-governador Tarcísio Burity, em 1993. Ronaldo renunciou ao mandato em 2007.
BLOG DO BIGODE
O site do Senado virou uma espécie de diário oficial. Informação, só se for positiva, além de contestação de antigas notícias, agenda sem agenda" de quem está de licença, artigos de José Sarney etc.
NADA PRUDENTE
Pura maldade. Entre os democratas, o deputado da meia cheia de dinheiro, Leonardo Prudente (DF), é chamado de Delúbio. E aquele que todo mumdo tem coragem de expulsar do partido.
MAO DE VACA
Projeto na Câmara descriminaliza o "pendura" em hotéis, restaurantes e meios de transporte. Levará em conta a "presunção de inocência" de se descobrir "liso" na hora H. Só não dá para pedir carona na FAB...
DEVO, NAO NEGO
A Secretaria de Cultura do DF deve quase R$ 1 milhão para a Câmara do Livro. A verba iria para a Feira do Livro de Brasília, que foi realizada em novembro, mas até hoje os organizadores não viram sequer R$1.
MENSAGEM PARA VOCE
Rodapé nos e-mails do engenheiro paranaense Thomas Fendel, que luta para implantar no Brasil o carro movido a óleo vegetal, que criou sem qualquer ajuda:'trabalhe com vontade. Lembre-se: milhões de pessoas vivem de Bolsas-Voto-Familia e dependem de voce."
PENSAN DO BEM...
...a residência oficial do governador do DF é conhecida por Aguas Claras, mas pode chamá-la de Aguas Turvas.
"Só uma radical reforma será capaz de conter a corrupção"
Líder do PSDB na Câmara dos Deputados, José Aníbal, criticando a classe política
ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO
Mais engenheiros para o brasil
FOLHA DE SÃO PAULO 14/12/09
Seria importante que o governo adotasse política agressiva para incentivar a formação de engenheiros pelo setor privado
QUEM VIU o presidente Luiz Inácio Lula da Silva posar ao lado de grandes líderes mundiais em encontros do G10 e outros fóruns globais pode ter sido levado à falsa conclusão de que apenas esse movimento na mídia internacional pode ser suficiente para projetar o Brasil para a fase de desenvolvimento que o incluiu no Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Criada quase dez anos atrás pela equipe do economista-chefe do banco Goldman Sachs, Jim O'Neill, a sigla refere-se aos quatro maiores mercados emergentes e seu potencial de crescimento.
No mundo real, há indicadores de sobra que nos colocam abaixo da média dos demais países do Bric. Entre eles, o número de novos engenheiros formados por ano.
Inegável dizer que a força da engenharia num país está estreitamente ligada à capacidade de inovação tecnológica e à competitividade industrial. Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o número de engenheiros formados no Brasil em 2008, em todas as especialidades, é de 30 mil, quase 50% dos quais formados em instituições de ensino superior (IES) públicas -em outras áreas, dois terços se formam em particulares.
Os demais países do Bric formam muito mais engenheiros do que nós: a Rússia forma 120 mil, a Índia, 200 mil, e a China, 300 mil. Esses números, embora aproximados e condicionados ao conceito da formação profissional, à duração e à pertinência das especialidades, indicam nossa defasagem na formação de engenheiros.
Ainda que as populações desses países sejam diferentes, as discrepâncias aparecem claramente ao se comparar a vocação e o incentivo que cada país dá para a inovação tecnológica, sendo um bom indicador o percentual de engenheiros formados em relação ao total de concluintes no ensino superior. No Japão, 19% dos formados estão nas áreas de engenharia; na Coreia, 25%; na Rússia, 18%; no Brasil, só 5% (dados de 2007 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico -OCDE). A média da OCDE é de 14%, e dela não constam os números da China.
Outra informação relevante é a produção científica brasileira na área de engenharia, que se coloca em patamar bastante inferior ao dos demais Brics -em parte como consequência dessa defasagem no número de formados, como demonstra a estatística sobre trabalhos publicados em 2007.
Enquanto o Brasil publicou menos de 2.000 trabalhos, a Índia produziu 4.000, a Rússia, cerca de 3.500, a Coreia, 6.500, e a China, o número impressionante de 50 mil trabalhos. A disparidade é ainda mais gritante se observarmos que o Brasil está entre os países mais produtivos em trabalhos científicos na área de medicina.
O mesmo problema ocorre no Brasil em relação às patentes. Os principais centros internacionais apontam os registros de patentes brasileiras em patamares muito inferiores aos dos demais Brics.
Como explicar esse fenômeno? É simples. O custo da mensalidade é elevado por causa dos laboratórios e estágios, o que reduz a demanda do setor privado e tem levado ao fechamento de vários cursos.
Por isso, entendo que seria importante que o governo adotasse uma política agressiva para incentivar a formação de engenheiros pelo setor privado, utilizando o mecanismo de compra de vagas em bons cursos, desonerando IES e estudantes.
As instituições com bom desempenho em exames nacionais, como o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), seriam boas candidatas iniciais. Se houver dificuldade em financiar instituições com fins lucrativos, as instituições comunitárias poderiam ser escolhidas para dar início ao programa. O custo disso seria muito menor do que a alternativa de o próprio governo criar vagas de engenharia no setor público.
Uma solução assim nos faria diminuir um pouco a distância que nos separa, nesse item, de nossos parceiros no Bric, que formam muito mais engenheiros por ano do que o Brasil.
Calcula-se que, para cada milhão de dólares empregados em novos investimentos, é preciso agregar um novo engenheiro. Diante dos planos e das perspectivas de crescimento do país, milhares de novos engenheiros e técnicos serão necessários (cerca de 500 mil para a concretização do PAC).
Como vários outros educadores, temos procurado alertar as autoridades educacionais sobre essa situação, e é com esperança que vemos que o Ministério da Educação e outras instâncias estão se mobilizando para enfrentar esse problema com a prioridade que ele merece.
ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO, 71, professor titular aposentado e ex-reitor da USP (1990-1993) e da Universidade de Mogi das Cruzes (1996-1999), foi diretor do CNPq e é presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia.
ANCELMO GÓIS
Terça passada, o Conselho Nacional de Política Energética já ia sepultar o sonho das empresas vencedoras do leilão da ANP na frustrada oitava rodada quando o ministro Edison Lobão sugeriu que o assunto ficasse para uma próxima reunião. Em 2006, quando foi suspensa pela Justiça, a oitava rodada havia leiloado 38 dos 58 blocos.
Ufa!...
O gesto de Lobão deu, perto do Natal, esperança a empresas como a italiana Eni e a norueguesa Statoil, que arremataram, no leilão, blocos na franja ou até no pré-sal, ainda dentro do marco regulatório antigo, mais vantajoso para as multinacionais. A ANP quer anular o leilão. Na época, a Justiça considerou que algumas regras limitavam a participação da Petrobras.
Apagão político
Veja como político muda de opinião como quem muda de camisa. Eduardo Paes diz que agora sancionará a taxa de luz, embora tenha prometido, na posse, não aumentar impostos. Mas veja só. Esta contribuição resulta da Emenda Constitucional 39/2002, que contou na Câmara com o apoio de Paes, então deputado do PFL.
Segue...
Outro que votou a favor da emenda foi o deputado Fernando Gabeira, na época do PT. Mas aí é outra história.
No mais
Ponto para a polícia do governador Requião, que, com inteligência, prendeu os vândalos que barbarizaram no estádio do Coritiba no jogo contra o Flu.
"Monsieur Villá"
A Rádio France homenageia hoje o maestro Villa-Lobos pelos 50 anos de sua morte. Será um concerto, com o nosso Quinteto Villa-Lobos, que, após 23 anos, volta a Paris, onde o genial brasileiro iniciou sua carreira internacional.
MSC (MOVIMENTO dos Sem Calçada) flagrou esta cena, sexta, em frente ao restaurante Outback de Botafogo, no Rio. Mostra dois carros oficiais do Poder Judiciário estacionados sobre o sagrado espaço do pedestre. Abordados por um segurança, os motoristas se recusaram a retirar os veículos, sob a alegação de que cumpriam ordens. Uma grande pena
Eu sou feia?
Sábado, no Teatro Rival, no Rio, no show de Maria Gadu, revelação da MPB, um dos músicos que a acompanhavam, querendo elogiar a jovem chefe, comparou a cantora com... Ronaldo Fenômeno! Maria reagiu na hora: - E eu sou feia assim?!...
De Copenhague
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) anunciou nesta reunião do clima em Copenhague que vai ajudar os países africanos a monitorar o ambiente via satélite. O Gabão será o primeiro a ser monitorado.
Favela exportação
Veja como as favelas brasileiras, em especial as cariocas, atraem a curiosidade dos estrangeiros. Uma maquete de favela do artista plástico Sérgio Cezar, autor daquela da abertura da novela "Duas caras", da TV Globo, ficará um ano em turnê pelo Canadá.
ZONA FRANCA
Como faz há 59 anos, a Turma Gilda da Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil (atual UFRJ) festejou na Sociedade Germânia seus 60 anos de formatura.
O Shopping Tijuca diz que não foi segurança seu que constrangeu um atleta paraolímpico africano, mas PMs.
Bocayuva, Joel Birman e Vera Malaguti lançam amanhã livro na Argumento do Leblon, às 20h.
inscrições dos cursos de férias no Centro Musical Antonio Adolfo.
receberá a Medalha Pedro Ernesto de Clarissa Garotinho.
Sá dará moções de louvor a 100 pastores pelo Dia da Bíblia.
O presidente do TCM, Thiers Montebello, recebe hoje o Colar do Mérito do Ministério Público.
Beyoncé no Maraca
Sérgio Cabral fecha neste início de semana o show de Beyoncé no Maracanã para dia 7 de fevereiro. A ideia é que seja a comemoração antecipada dos 60 anos do estádio (dia 16 de junho).
A favor da morte
Quarta, numa reunião do conselho comunitário de segurança do Leblon, no 23oBPM, um representante da associação de moradores deu parabéns à polícia pela pesquisa de uma ONG gringa, segundo a qual os tiras do Rio são os que mais matam.
Pediu palmas e, sério, desejou que em 2010 "matem o dobro".
Segue...
Quando lembraram que muitos mortos são inocentes, o sujeito comentou: - É uma minoria. Em qualquer confronto, sempre alguém tem de pagar o preço. Meu Deus...
Mal-agradecido
A Cedae fez uma grande peça publicitária nos jornais do fim de semana para divulgar os resultados da despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Mas, que feio, não citou a EBX, empresa de Eike Sempre Ele Batista, que está dando uma mãozinha de alguns milhões para o projeto Lagoa Limpa.
Viva a Saara!
A Investe Rio, agência de fomento do governo do estado, vai criar uma linha de crédito só para financiar a revitalização da Saara, o shopping popular a céu aberto no Centro carioca. Serão R$ 20 milhões destinados para a reforma das lojas.
MARTINHO DA VILA dá um colinho à filha Mart"nália no camarim de show na Vila Isabel em tributo a Noel Rosa. Não é fofo?
NOSSO LEO Gandelman (direita) e o gaitista José Staneck abraçam o regente prodígio Gustavo Dudamel, 28 anos, em concerto em Caracas
CARLOS ALBERTO DI FRANCO
Pornopolítica
O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/12/09
A História mundial está repleta de exemplos inspiradores. E a saga brasileira, também. Os defeitos pessoais e as limitações humanas dos homens públicos, inevitáveis e recorrentes como as chuvas de verão, não matavam a política. Hoje, no entanto, assistimos ao advento da pornopolítica. A vida pública, com raras e contadas exceções, transformou-se num espaço mafioso, numa avenida transitada por governantes corruptos, políticos cínicos e gangues especializadas no assalto ao dinheiro público.
Quando se pensava que as denúncias de corrupção no Distrito Federal (DF) tinham alcançado um patamar intransponível nos governos de Joaquim Roriz, a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), revela um dos mais bem documentados e abjetos escândalos do gênero no País. O governador José Roberto Arruda, o mesmo que derramou lágrimas de crocodilo ao jurar inocência no caso da violação do sigilo do painel de votações do Senado, volta à cena em grande estilo. Arruda é acusado de chefiar um esquema sistemático de propinas a auxiliares diretos, membros do seu secretariado e deputado distritais.
A sociedade assiste, atônita, ao nascimento do mensalão do DEM. O filme lembra em tudo, até mesmo no uso de cuecas e meias como esconderijo da dinheirama, o até agora impune mensalão do PT. O PSDB, por outro lado, vive assombrado com o fantasma do seu próprio mensalão. Recentemente, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ex-governador de Minas, virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) e vai responder penalmente pela sua suposta participação no valerioduto mineiro.
Alguns, equivocadamente, minimizam a gravidade da corrupção. O Brasil está bombando. O desenvolvimento absolve todos os pecados. O crescimento da economia é uma viseira que impede um olhar mais profundo sobre o País que queremos construir. O custo humano e social da corrupção brasileira é assustador. O dinheiro que desaparece no ralo da corrupção é uma tremenda injustiça, uma bofetada na cidadania, um câncer que, aos poucos e insidiosamente, vai minando a República. As instituições perdem credibilidade numa velocidade assustadora. O fantasma do caudilhismo está aí. A imagem do presidente da República, construída numa impressionante operação de comunicação, não tem precedentes na História das democracias. Lembra, sim, esquemas clássicos de comunicação em regimes ditatoriais. E não se trata, por óbvio, de um plano de comunicação para quem está saindo, mas de uma estratégia de perpetuação no poder. O perigo não é o Lula, mas o lulismo. O culto ao presidente da República não combina com a democracia.
A corrupção, independentemente do seu colorido partidário, precisa ser duramente combatida. É ela que alimenta a fome que o presidente da República pretendeu, certamente com boa intenção, combater na alvorada idealista do seu governo. É ela que abandona os idosos que são maltratados nas filas da saúde pública. É ela que empurra a juventude desempregada para o consumo e o tráfico de drogas.
No ano passado, matéria da revista Megazine, suplemento para jovens do jornal O Globo, radiografou a imensa frustração da juventude com a política. Desencanto com política era uma das razões apontadas por jovens de 16 e 17 anos que optaram por não votar nas eleições de 2008. O voto aos 16 anos foi uma conquista do movimento estudantil, incorporada à Constituição de 1988. A renúncia ao exercício de um direito, tão imprópria do idealismo juvenil, mostra o grau da frustração adolescente. É um tiro na democracia e uma vitória dos demagogos, dos desonestos, dos oportunistas e dos que vivem de costas para a ética.
"Não quero sujar as mãos. Depois de eleito, o político só faz besteira e o povo se culpa por ter votado nele. Como posso escolher, vou tirar meu título quando for obrigado (aos 18)", dizia João Gabriel de Souza, então com 17 anos.
Há cinco anos havia no País 3,6 milhões de eleitores de 16 e 17 anos. Em 2008 o número chegou a 2,9 milhões, redução de 19%. No mesmo período, o eleitorado geral brasileiro aumentou de 121 milhões para 130,6 milhões. Quer dizer: a esperança juvenil encolheu. São dados preocupantes.
A imprensa, sem as mordaças que alguns defendem e livre de quaisquer tentativas de cooptação, tem um papel decisivo no processo de recuperação da ética. Denunciar a corrupção é um dever. Mas, ao mesmo tempo, devemos construir uma agenda positiva e apoiar ações afirmativas no campo da ética na política. A Conferência Nacional dos Bispo do Brasil (CNBB) e outras 40 entidades da sociedade civil se empenharam na coleta de mais de 1,3 milhão de assinaturas para apresentar no Congresso um projeto de lei de iniciativa popular que veta a candidatura às eleições de pessoas com ficha suja.
O projeto foi protocolado na Câmara dos Deputados no passado dia 29. Pelo texto, não poderão concorrer pessoas condenadas em primeira instância, ou com denúncia recebida por um tribunal, por crimes de racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas, além dos candidatos condenados por compra de votos ou uso eleitoral da máquina. Ficam ainda impedidos de concorrer os parlamentares que renunciaram ao cargo para evitar abertura de processo por quebra de decoro - caso, por exemplo, de alguns deputados envolvidos no escândalo do mensalão.
Tais iniciativas merecem destaque e apoio. O veto aos candidatos com ficha suja e o fim do foro privilegiado podem mudar o Brasil.
Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com) E-mail: difranco@iics.org.br
NAS ENTRELINHAS
As minas do PMDB
Denise Rothenburg
CORREIO BRAZILIENSE - 14/12/09
Enquanto a candidata Dilma Rousseff não tiver um percentual nas pesquisas que dê segurança aos aliados, é bom o PT ficar pianinho nas exigências quanto ao vice. Até porque, dizem alguns, quanto mais o presidente e o PT tentam se impor ao PMDB, mais os peemedebistas cobram a fatura. E têm tamanho suficiente para isso.
A cobrança de uma lista tríplice de peemedebistas para que a ministra Dilma Rousseff escolha quem melhor se encaixa no papel de candidato a vice na sua chapa à Presidência da República vai sair mais caro para Lula do que o palavrão que ele soltou num discurso no Maranhão. Desde quinta-feira à noite, quando os peemedebistas souberam da declaração do presidente, eles começaram a montar um verdadeiro campo minado para que Lula, sua candidata e o PT atravessem até a convenção em que o PMDB decidirá o que fazer na sucessão presidencial, em junho de 2010.
A primeira mina contra a aliança foi colocada ontem, quando os filiados ao PMDB paulista mantiveram o partido sob o comando de Orestes Quércia. Ele derrotou a chapa alternativa composta por Francisco Rossi. Quércia já declarou que seu candidato a presidente da República em 2010 é o governador de São Paulo, José Serra. Ontem, Quércia chegou a dizer que, se Roberto Requião vencer a convenção nacional de junho, terá o seu apoio. Mas nem de longe falou em se somar ao PT.
A próxima bomba que o PMDB pretende colocar na trilha da união com o PT também está bem pertinho no calendário: é atrasar a votação do projeto que prevê a partilha do petróleo extraído da camada pré-sal. O texto-base foi aprovado, mas faltaram algumas emendas que podem comprometer, por exemplo, a repartição dos royalties. Basta o PMDB fazer corpo mole — e ontem a disposição era essa — que a votação final fica para fevereiro.
Quanto mais minas políticas, o PMDB colocar no sentido de mostrar ao PT que os peemedebistas são independentes e necessários, mais força ganha a ala petista contrária à composição da chapa com o presidente da Câmara, Michel Temer, buzina outros nomes no ouvido de Lula. Já falaram, por exemplo, no governador do Rio, Sérgio Cabral, que traria à chapa a leveza do samba do avião. Essa semana, o grupo de petistas contrários a Temer já tem mais um argumento do tipo, se Temer não manda nem no seu quintal — o PMDB de São Paulo — como vai querer ampliar os votos nacionais para a campanha presidencial?
Esses petistas, no entanto, esquecem que a força do PMDB na aliança não está na relação de Temer com o povo. Essa quem tem é o presidente Lula — hoje, nem a ministra Dilma tem essa afinidade com a população. A força de Temer está no diretório nacional do partido. E se a ministra quiser mesmo o PMDB, terá que confiar nos grupos do Pará, capitaneado por Jader Barbalho; da Bahia, comandado por Geddel Vieira Lima; do Rio de Janeiro, do deputado Eduardo Cunha; do Ceará, de Eunício Oliveira, e, ainda dos grupos de Temer, Henrique Eduardo Alves e, os dos senadores Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá.
Esses nomes são hoje os baluartes da aliança nacional, quer a maioria do PT goste ou não. O PT pode até tentar usar o prestígio de Lula, como ocorreu com a declaração da semana passada, para forçar esse grupo a escolher o nome que os petistas quiserem para a vaga de vice. O problema é que, neste caso, o caldo da aliança vai ficando ralo como café aguado e o da desconfiança grosso como o de um feijão bem feito. Todos os peemedebistas que apoiam Lula hoje já estiveram em outros governos no passado e nada vai impedir que, insatisfeitos com o tratamento recebido, busquem outra hospedagem diferente daquela comandada pelo PT.
Enquanto a candidata Dilma Rousseff não tiver um percentual nas pesquisas que dê segurança aos aliados, é com o PT ficar pianinho nas exigências quanto ao vice. Até porque, dizem alguns, quanto mais o presidente e o PT tentam se impor ao PMDB, mais os peemedebistas cobram a fatura. E têm tamanho suficiente para isso.
O tamanho do PMDB referido aqui não é apenas na seara parlamentar. É também eleitoral. A história mostra que o PMDB é expert em deixar seus candidatos a presidente pelo caminho. Fez isso com Ulysses Guimarães, em 1989, em 1994, com Quércia. Em 2002, uma parte abandonou José Serra e ficou com Lula. Sempre para pegar a canoa vencedora. Isso só mostra que, daqui para frente, o PT tem que agir com o PMDB como diz a música: Pra satisfazer essa mulher/eu faço das tripas coração/para ela sempre digo sim/pra ela nunca digo não… Pelo menos, até Dilma ganhar — se é que vai ganhar — voo próprio nas pesquisas, é esse o embalo da aliança.