segunda-feira, dezembro 14, 2009

GEORGE VIDOR

Precipitados

O GLOBO - 14/12/09


A economia brasileira já está crescendo a um ritmo de 5% ao ano. Para sustentar essa expansão, sem depender de financiamentos externos em proporção que possa deixar o país mais vulnerável a crises vindas lá de fora, a economia precisa investir o equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB), pelo menos. O IBGE mostrou que devemos estar próximos a isso, no momento.

No terceiro trimestre do ano houve uma boa recuperação do investimento e tudo indica que a formação bruta de capital fixo continua se acelerando, impulsionada tanto pela compra de máquinas e equipamentos como pela construção civil. O ano pode fechar até com uma taxa de investimento em torno de 19% do PIB. Nesse caso, a torcida para que as taxas básicas de juros voltem a subir o quanto antes parece precipitada.

Alguns índices de preços, como os da Fundação Getulio Vargas, continuam registrando deflação. Pode-se até discutir a metodologia adotada pela FGV, mas o comportamento desses índices não merece ser desprezado.

Como o sistema financeiro brasileiro se habituou a juros excessivamente altos, taxas básicas abaixo de 10% ao ano é que são vistas como aberração.

No entanto, a aberração é exatamente essa perpetuação dos juros altos. A economia brasileira nunca esteve diante de uma oportunidade tão grande para se livrar de tal anomalia. E não pode deixar que ela escape.

Agora este mês será instalada a peça (um tipo de comporta) que controlará o enchimento e o esvaziamento do dique seco do estaleiro Atlântico Sul, em Suape. Com isso, foi mantida a previsão de lançamento ao mar, em fevereiro de 2010, do primeiro navio petroleiro encomendado pela Transpetro no seu programa de renovação e ampliação da frota. O segundo navio a ser lançado ao mar está previsto para abril, no Estaleiro Mauá, em Niterói.

Ao todo, em 2010, serão lançados ao mar seis navios (quatro no Atlântico Sul e dois no Mauá), dos quais quatro ou cinco serão imediatamente incorporados à frota da Transpetro depois de concluídos e testados — geralmente de dois a três meses após o lançamento da embarcação.

A extensa área onde está instalada a siderúrgica ThyssenKrupp CSA (equivalente aos bairros de Ipanema e Leblon juntos), em Santa Cruz, está preparada para a companhia duplicar sua capacidade de produção de placas de aço, chegando, um dia, a dez milhões de toneladas anuais.

Não existe definição de quando isso acontecerá, até porque o mercado mundial de aço foi um dos mais atingidos pela crise financeira que abalou o planeta no fim do ano passado. No entanto, a duplicação custará bem menos do que os C 5 bilhões previstos para o investimento inicial, pois parte da infraestrutura e algumas instalações (o terminal portuário, os descarregadores de minérios, o virador de vagões e o centro administrativo, por exemplo) atenderão também à expansão. A macrodrenagem foi feita e a ThyssenKrupp aprendeu muito com a obra, de modo que poderá encurtar etapas e obter ganhos de produtividade.

Mas, antes da duplicação, ou até juntamente com ela, faz sentido que a siderúrgica venha a ter um laminador que utilize uma parcela de suas placas de aço, cuja produção hoje está prevista para ser totalmente exportada.

Como o cenário do mercado mundial mudou, oportunidades na demanda interna de aço no Brasil se tornaram atraentes (exemplo: chapas para a construção de navios e plataformas de petróleo). Tais encomendas têm sido atendidas majoritariamente por importações, e um pouco pela Usiminas.

A hipótese de instalação desse laminador surgiu por aqui, mas os executivos da CSA desconhecem o projeto.

Só tomaram conhecimento do assunto pela imprensa.

Países de economia emergente, como o Brasil, optaram por assumir metas voluntárias de redução de emissão de gases apontados como causadores do efeito estufa porque assim não ficarão sujeitos a sanções se não conseguirem alcançar os objetivos. As metas compulsórias de redução, nos moldes que foram assumidas pelo Japão e por países europeus no Acordo de Kioto, envolvem sanções. Esses compromissos de redução são redistribuídos por setores econômicos, chegando-se a estipular quotas por empresa.

Na Alemanha, para cada tonelada de CO2, ou outro gás poluente, emitida além da quota, a empresa que não cumpre o objetivo tem de pagar o correspondente a US$ 100. Nesse caso, para a companhia é preferível comprar no mercado — por cerca de US$ 20 a tonelada — um crédito de carbono em igual volume, em projetos com certificados de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL).

Embora as metas de Kioto tenham sido definidas até 2012, é bem provável que de Copenhague saia a decisão de se estimular a troca de créditos de carbono.

E o Brasil, que só terá metas voluntárias, espera que o esforço para manter florestas em pé e projetos de reflorestamento sejam recompensados com um novo tipo de MDL, conhecido pela sigla em inglês REDD.

Em boa hora foi suspenso o leilão de energia nova programado para dezembro.

Futuras hidrelétricas ficariam de fora.

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