sexta-feira, dezembro 04, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ONLINE

O conselheiro do mundo

4 de dezembro de 2009

A distância que separa a civilização da caverna, e a modernidade democrática do primitivismo populista, escancarou-se quando o Irã atômico entrou em pauta na entrevista coletiva em Berlim. Com clareza, concisão e sobriedade. a primeira-ministra da Alemanha informou que as molecagens cada vez mais atrevidas de Mahmoud Ahmadinejad esgotaram a paciência das grandes nações. À advertência da Alemanha seguiram-se os acordes da Aquarela do Brasil e o enredo mal costurado pelo visitante.

Na primeira parte do falatório, Lula pediu que a criatura dos aiatolás fosse contemplada com mais paciência e um voto de confiança. Se o amigo iraniano já disse que não pensa em bomba, não há por que duvidar. Na segunda parte, o monoglota que ama a própria voz engatou uma ré e desandou: e os Estados Unidos? E a Rússia? Enquanto todos não desativarem seu arsenal, decolou, ninguém terá autoridade para exigir que o Irã deixe de fazer o que o orador acabara de garantir que não fará.

Ignorante em geografia, Lula mal sabe onde ficam os países cujo destino pretende influenciar. Analfabeto em geopolítica, incapaz de gaguejar a palavra realpolitik, flutua na estratosfera com a placidez de quem passeia num carrossel ─ e passou a berrar enormidades que nem os napoleões de hospício e os doidos de pedra ousariam sussurrar.

Lula acha mesmo que é o cara, reafirmou a patética performance em Berlim. Já virou conselheiro do mundo. Antes que se candidate à presidência da Terra, alguém poderia soprar-lhe que não há esperança de salvação para quem não sabe rir de si próprio, olhar-se com ironia, reconhecer os próprios limites e proibir-se de brincar de onisciente.

O Lula sindicalista e o Lula do PT ainda no berço pareciam saber. Se é que sabiam, o presidente não sabe mais. O Brasil que se cuide.

TODA MÍDIA

Mensalão do PSDB

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/11/09


Nos sites e telejornais, há dias, "mensalão do PT" e "mensalão do DEM".
O ex-presidente do PSDB virou réu por esquema que precedeu os dois e foi destacado em manchetes, ontem nos portais UOL, Terra e G1, como "mensalão mineiro". Na Globo propriamente, nem "mensalão". Fátima Bernardes descreveu um "esquema que ficou conhecido como valerioduto de Minas".
Já o site do jornal "O Estado de S. Paulo" postou a manchete "Supremo decide processar Azeredo por mensalão tucano".

MENSALÃO? QUE MENSALÃO?
A newsletter de Cesar Maia, pai do presidente do DEM, abordou o escândalo que envolve o único governador do partido sem citar uma única vez a expressão "mensalão". No final, após notas sobre outros assuntos, mencionou o "mensalão" do PT.
José Dirceu reagiu postando que o adversário "escreve como se não fosse com ele". No título, "Nunca vi tamanho cinismo e hipocrisia!".

INIMIGOS...
Cesar Maia recorreu a Churchill para questionar o PSDB ou parte dele:
"A Câmara dos Comuns dispõe governo e oposição de forma confrontante. Um estreante sentou ao lado de Churchill: "Ali na frente, nossos inimigos". Churchill sorriu: "Ali na frente, nossos adversários. Aqui atrás, nossos inimigos"."

SOLIDÁRIOS
A BBC Brasil ouviu o filho de Maia, Rodrigo, e o UOL deu submanchete para a cobrança de solidariedade do PSDB: "A impressão é que faltou um pouco de solidariedade, no momento de crise do aliado, que vivemos hoje e o PSDB viveu no passado".
Quanto à aliança, lembrou que "o tempo de TV deles é igual ao nosso".

FILA
O "Sueddeustsche Zeitung" apresentou Lula destacando que "Os brasileiros amam seu presidente, os poderosos do planeta fazem fila e agora o "político mais popular do mundo" visita a chanceler Merkel"

SEM SONHOS
No alto das buscas via Yahoo News, "Brasil e Alemanha esperam passo à frente nas conversas de Copenhague". Porém na manchete da Reuters Brasil ao longo da tarde, "Brasil e Alemanha não veem "acordo dos sonhos" em Copenhague", que abre segunda.
Na escalada do "Jornal Nacional", nada de Copenhague, só as divergências sobre o Irã.

RICOS & POBRES
Com a ilustração ao lado, a nova edição da "Economist" dá capa para o encontro sobre mudança climática e cobra, em suma, que "países ricos e pobres precisam ceder terreno para conseguir acordo em Copenhague"

NEM EUA NEM BRASIL
A "Economist" dá o episódio do "golpe" hondurenho por encerrado, sob o título "Honduras desafia o mundo" e, logo abaixo, "Reconheçam o vencedor das eleições -e repensem como defender a democracia". Avalia que "ninguém se salva no pântano hondurenho". Obama "poderia ter acertado as coisas se tivesse agido com força desde o início". E o "Brasil também agiu mal", ao "deixar Zelaya transformar a embaixada em sede de campanha e ao fracassar em obter sua reinstalação".
Diz que o problema maior é a "autocracia" representada por Hugo Chávez, que polariza a região e inviabiliza as ações dos EUA e do Brasil.


JARDINS
No "Jornal Nacional", a imagem do cruzamento da avenida Rebouças com a avenida Brasil (acima) foi o destaque, mas os noticiosos populares de Record e Band se concentraram nas crianças mortas do Jardim Ângela

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Diplomacia incoerente

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/11/09


O veredicto do Congresso de Honduras foi eloquente: por 111 votos, contra 14, a proposta de restituir a Presidência a Manuel Zelaya até o fim do mandato, em 27 de janeiro, foi rejeitada. Três dias depois do pleito que elegeu o conservador Porfirio Lobo, a decisão dos legisladores hondurenhos consuma a transição do governo interino de Roberto Micheletti.

Confirma-se, de um lado, a ampla rejeição da sociedade e das instituições hondurenhas ao presidente deposto em 28 de junho. Acentua-se, do outro, a imaturidade da diplomacia brasileira, que se atrelou a um dos lados da disputa, perdeu sua capacidade de mediação e não enxergou numa eleição presidencial livre e competitiva o único caminho para a resolução do impasse.

Chega a ser espantoso o contraste entre o principismo pueril demonstrado pelo Itamaraty no caso de Honduras e o pragmatismo, maduro e bem modulado, com que o presidente Lula recebeu o líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em Brasília. A quem não conhecesse nada de política internacional, pareceria que o regime que censura, reprime e mata dissidentes é o centro-americano, e não o iraniano.

A razão militante de alguns operadores da política externa de Lula produziu uma incoerência profunda, estranha à tradição diplomática brasileira. Pelo critério aplicado a Honduras, seriam ilegítimos quaisquer pleitos realizados sob regimes não democráticos, o que resultaria numa aberração -eleições nos estertores seja de ditaduras como a cubana, seja de governos de fato como o hondurenho, são formas clássicas de transição pacífica rumo à democracia.

Além de Manuel Zelaya hospedado (até quando?) na embaixada de Tegucigalpa, o Brasil herda desse episódio mais que o desgaste de uma derrota pontual. Fica exposta a fragilidade de uma política externa que vem sendo usada para agradar uma facção militante da base do governo.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

A Copa dos mensalões de 2010


Folha de S. Paulo - 04/12/2009

Excesso de corruptos, debate político vazio e programas indistintos devem favorecer mais personalismo na eleição

A NOTÍCIA mais importante de hoje, em especial no Brasil, é o sorteio dos grupos da Copa de 2010, com a decorrente definição da tabela dos jogos.
Os brasileiros começaremos a organizar "bolões", os milhares de grupos de apostas ilegais que reforçam nosso senso de comunidade e identidade e revelam que tipo de sapiência é socialmente reconhecida (entender de futebol e faturar uns trocados fáceis). A Copa será disputada entre junho e julho.
Até lá, refletiremos sobre as dificuldades do grupo do Brasil. A Eslovênia é pior que a Dinamarca? A Austrália parece fraca, mas não costuma encrencar com o Brasil? E se a França cair no nosso grupo? Teremos vingança ou a França do gol de mão nos derrubará outra vez?
Em junho de 2010, também teremos conhecido os candidatos a presidente, suas alianças, seus vices e a quantidade e variedade de desclassificados que estarão a apoiar cada chapa. De quantos bandalheiros nos lembraremos? Quem estava no mensalão do DEM? Do tucanato mineiro? Na lista da empreiteira? Do velho mensalão do PT?
Dos programas dos candidatos não nos lembraremos, pois eles nem devem estar prontos, como tem sido a praxe. Caso estejam, tendem a ser inanidades vagas, que de resto poderão ser renegadas ainda na campanha, como o fizeram o PT em 2002 e o PSDB em 2006. É provável que saibamos mais das manhas de Costa do Marfim e das táticas da Sérvia.
Os escândalos recentes, o mensalão do DEM e o listão da empreiteira, e outros sob juízo, como mensalão do tucanato mineiro, parecem dar pistas sobre quem ficará morto e ferido no caminho para a campanha de 2010. Parecem, mas de fato darão? Em 2002, a fotografia de pacotes de dinheiro empilhado numa mesa derrubou a candidatura de Roseana Sarney a presidente pelo PFL, agora DEM. Agora, o DEM faz pelo menos o esforço de expulsar o quanto antes José Arruda, que governa o Distrito Federal das pacoteiras de dinheiro.
Mas quem da maioria do povo saberá distinguir a pacoteira brasiliense das bandalhas do Senado de José Sarney (PMDB) e da deputalhada que embolsa dinheiros indevidos? Quem vai se lembrar da velha matriz do valerioduto, de origem tucano-mineira, dos talvez candidatos a vices que aparecem em supostos listões de propinas?
A mensalagem do PT foi quase toda eleita, no voto popular, e volta a comandar o partido. Será mais provável lembrarmos que o Brasil costuma passar melhor pela Inglaterra do que pela França.
Nem se trata de dizer que a ocorrência de bandalhas em toda parte torna os partidos iguais, que "zera o jogo" das acusações de mensalagem e enfraquece o "debate ético", sempre uma piada escarninha. Talvez o problema seja o de dificuldade de processar tanta informação ruidosa, pois mesmo para quem lê jornais tornou-se difícil lembrar-se de tantas folhas corridas.
De resto, mas importante, nem há distinções programáticas essenciais ou identificação de políticos com algum movimento social ou de opinião pública relevantes (que aliás inexistem). Os eleitores não vão votar a esmo. Ao menos não devem escolher a esmo o candidato a presidente. Mas, mais do que de costume, dada a destruição adicional da política, o personalismo deve dar o tom de 2010.

ELIANE CANTANHÊDE

O tamanho do estrago

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/12/09


BRASÍLIA - Jorge Bornhausen e Gilberto Kassab sobrevoaram o DF nesta semana para tentar avaliar o desastre "in loco". Concluíram o que já era "concluível" com base em imagens gravadas e reportagens: o estrago é de bom tamanho. Só que não só no DEM, pois avança pela oposição inteira e já chega à cúpula lulista do PMDB.
O maior empenho dos demo é para jogar Arruda ao mar e lançar uma boia para o vice, Paulo Octávio, desde, claro, que não surjam outros vídeos vo
adores por aí contra ele. PO, como é chamado, seria uma forma de segurar o governo agora, não de mantê-lo em 2011. Do jeito que a coisa vai, o grande vitorioso em Brasília é a esquerda, PT à frente, PDT logo em seguida. Se os dois se juntarem, podem decidir de véspera a eleição em 2010 na capital.
Na eleição presidencial, a avaliação é de que a oposição não tem para onde correr no DF: o que é pior, ficar sem nada ou ir com Roriz? É mais um vácuo, pois Serra e Aécio não terão como pisar no Rio Grande do Sul sem vaias e vão se deparar com uma penca de palanques para Dilma e nenhum para si no Rio.
Além disso, a oposição está naturalmente em maus lençóis no Norte e não está lá essas coisas no Nordeste, onde Lula tem uma força enorme, apesar de algumas brechas -na Bahia, por exemplo.
É por essas e muitas outras que Bornhausen deve estar louco da vida com o DEM do Paraná, que prefere se aliar ao PDT de Osmar Dias do que ao PSDB do popular Beto Richa, rachando a aliança num reduto favorável. Ele acha que não dá para desperdiçar nada.
Com a chegada de dezembro, da crise na capital e, ontem, do processo no STF contra o ex-presidente do PSDB Eduardo Azeredo, cresce a certeza de que são precisos "grandes lances". O principal seria a chapa Serra-Aécio, somando os decisivos São Paulo e Minas e salvando PSDB, DEM, PPS e até os próprios Serra e Aécio de um longo limbo. Em alguns casos, sem volta.

NELSON MOTTA

Sócios, parceiros e companheiros

O Globo - 04/12/2009


É incrível, mas o nosso Senado ainda considera a possibilidade de aceitar a Venezuela no Mercosul. Porque a Venezuela não é Chávez, é uma grande compradora do Brasil, traz divisas e empregos, diz o governo, tentando parecer pragmático, mas movido pelo esquerdismo terceiromundista que (des)orienta nossa politica externa e tantas vergonhas e derrotas nos tem custado, as últimas em Honduras. Argumentam que Chávez passa e a Venezuela fica, mas do jeito que as coisas vão quem está passando é a Venezuela, Chávez ficará hasta la vitória final, gritando pátria o muerte sobre montanhas de cadáveres de inimigos da revolução bolivariana.

Mas o homem não ajuda. Sem que ninguém lhe perguntasse, defendeu ardorosamente a libertação do terrorista venezuelano Carlos Ramirez, o Chacal, que cumpre prisão perpétua na França por diversos atentados e assassinatos, como um heróico militante da causa palestina. Depois dessa, só faltava elogiar o Idi Amin.

Pois não falta mais nada. Chávez disse que o monstro carniceiro de Uganda era um nacionalista lutando por seu povo contra o imperialismo, vítima de conspiração da mídia internacional, dominada pelo capitalismo.

Claro, o grande guru de Chávez é o feiticeiro Fidel Castro, que em 50 anos fez de Cuba a prova irrefutável do fracasso do seu modelo. O sonho de Chávez é fazer da Venezuela uma grande Cuba. E, depois, toda a America Latina. Fidel deve pensar: “Ah, se eu tivesse o petróleo desse bobalhão teria dominado o mundo …” Com Chávez no Mercosul, além das bravatas habituais, teremos como bônus um representante de Fidel participando das decisões do bloco. Tudo pelo comércio? Alguém acredita que nossas exportações vão ser afetadas se a Venezuela não entrar no Mercosul? Eles não produzem nada além de petróleo e compram tudo barato do Brasil. Se Chávez se ofender e bravatear um boicote, o tiro será no pé, nos quatro.

Vão comprar comida de quem? Do Evo, do Correa ou do Ortega? Por que ele não para de vender petróleo para os Estados Unidos? É este sócio que Brasília quer no Mercosul? Ou quem sabe os nossos socialistas prefiram o Brasil na ALBA?

FERNANDO DE BARROS E SILVA

"Peixe ensaboado"

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/12/09


SÃO PAULO - Márcio Thomaz Bastos era um jovem vereador em Cruzeiro, sua cidade natal no Vale do Paraíba, quando participou da Marcha da Família com Deus pela Liberdade -ato contra o governo João Goulart realizado em São Paulo, dias antes do golpe de 1964. Em 1º de abril, o advogado registrou na Câmara local o apoio aos militares.
O episódio, quase desconhecido, consta de um longo perfil do ex-ministro da Justiça de Lula, escrito pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho para a edição da revista "Piauí" que circula a partir de amanhã.
Bastos conheceu Lula em 1979, nas greves do ABC. Havia iniciado o desembarque da ditadura no começo dos anos 70, quando se projetou na OAB. Ele era "Arena no interior e MDB na capital", brinca José Carlos Dias, também criminalista e ex-ministro da Justiça, mas de FHC.
"O Márcio é bagre de barriga ensaboada", provoca Dias, para quem o colega seria menos um petista do que um "advogado do PT" -ou um "petista atucanado". Cheia de veneno, a definição fisga o âmago de uma personalidade anfíbia, sedutora e sempre bem-sucedida. O talento profissional de Thomaz Bastos brilhou quando o ministro na prática atuou como advogado de defesa do governo: ao evitar a expulsão de Larry Rother do país, ao forjar a teoria do caixa dois para explicar o mensalão, ao ajudar Palocci a se safar da violação do sigilo do caseiro.
São águas passadas. O estilo jeitoso, "atucanado", do mestre da redução de danos foi substituído no segundo mandato pelo "bateu, levou".
A advocacia criminal para empresas fez de Thomaz Bastos um homem rico. Ele "só fica triste quando acha que cobrou pouco", diz uma ex-sócia. Segundo a "Piauí", Bastos exigiu R$ 15 milhões para defender a Camargo Corrêa, alvo da Operação Castelo de Areia da PF, que, até março de 2007, se subordinava à sua pessoa. Sim, é espantoso, mas não é ilegal. Entre seus clientes atuais estão o empresário Eike Batista, que tenta se aproximar do governo, e o famoso doutor Roger Abdelmassih.

BRASÍLIA - DF

Fora de controle


Correio Braziliense - 04/12/2009


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta desfazer o acordo firmado por líderes governistas na Câmara, para a partilha dos royalties do petróleo, pelo qual a participação dos estados não produtores seria ampliada graças à redução da parte que caberia ao Ministério de Ciência e Tecnologia, à Marinha do Brasil e aos municípios produtores, principalmente de Campos (RJ). O acordo anteciparia a vigência do novo marco regulatório do petróleo ao incluir lotes já licitados da camada pré-sal. Foi fruto de uma negociação conduzida pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e pelo líder da bancada do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, relator do projeto.

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A proposta não desfaz o trato do presidente Lula com o governador fluminense Sérgio Cabral, mas alveja de morte o ex-governador Anthony Garotinho (PR), ao reduzir drasticamente a arrecadação da Prefeitura de Campos, administrada por Rosinha Matheus, sua mulher. O casal apoia a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Por isso, o acordo inviabiliza a estratégia de dois palanques governistas no Rio de Janeiro em 2010.


Sigilo// A Operação Caixa de Pandora é assunto proibido dos dirigentes da Polícia Federal. Ninguém pode falar nada sobre o tema, para não politizar a ação policial em inquérito aberto pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O próprio ministro da Justiça, Tarso Genro, evita falar do escândalo que abala o Distrito Federal.

Arreado

A crise do governo de José Roberto Arruda (DEM) acirrou a disputa interna no PT pela vaga de candidato ao Palácio do Buriti. Cristão novo na legenda, Agnelo Queiroz (ex-PC do B), candidato apoiado pelo novo presidente do diretório, Roberto Policarpo, enfrenta crescente oposição do deputado federal Geraldo Magela, atual relator da Comissão Mista de Orçamento. A disputa preocupa o Palácio do Planalto, que vê a crise do Governo do Distrito Federal como um cavalo arreado para a volta do PT ao GDF.

Toalha



O prefeito de Goiânia, Iris Rezende (foto), jogou a toalha e não pretende disputar o governo do estado. Agora, torce para que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, seja mesmo candidato pelo PMDB. A razão da desistência é o favoritismo do senador tucano Marconi Perillo, candidato ao governo de Goiás.

Pirataria

A Receita Federal destruiu, ontem, no Porto do Rio de Janeiro, 20 toneladas de produtos falsificados, a maior parte óculos, relógios, CDs, DVDs e material de informática. Segundo a superintendente do órgão, Eliana Pólo Pereira, os produtores serão reciclados. Em todo o Brasil, mais de 3,1 mil toneladas de mercadorias pirateadas já foram destruídas. E as apreensões de mercadorias chegam a R$ 1,2 bilhão

Desgaste

O ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci não desistiu da candidatura a governador em São Paulo. Continua as articulações com os líderes da legenda, confiante de que o ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, não pretende se candidatar ao Palácio dos Bandeirantes. Só não é mais ostensivo na candidatura porque aguarda o fracasso da estratégia do presidente Lula. Palocci acredita que os tucanos estão desgastados após 15 anos de poder e que essa situação emergirá se Serra for candidato a presidente da República.

Demais



A estratégia eleitoral de Lula para o Rio de Janeiro também faz água por conta da disputa pelo comando regional do PT. O candidato do Palácio do Planalto, deputado Luiz Sérgio, corre sério risco de perder o segundo turno. Os demais candidatos se uniram em torno de Lourival Casula, candidato do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (foto). As pesquisas mostram que o ex-presidente da UNE, com forte apoio na Baixada Fluminense, é cada vez mais competitivo na disputa pelo governo do estado.

Aliados/ O deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) critica o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) pela demora na condução da escolha do candidato tucano no Pará. Simão Jatene e Mário Couto disputam a vaga. Em seu blog, Pires acusa o senador de falta de pulso na liderança da oposição.

Agora vai/ Escaldado, o ministro da Educação, Fernando Haddad, cumpriu todas as exigências de segurança feitas pela Polícia Federal para realização do Enem. Com a participação das polícias militares das 27 unidades federativas, Exército, Marinha, Aeronáutica e Polícia Federal, provas serão aplicadas a 4,1 milhões de candidatos. O exame foi adiado porque a prova anterior vazou. O prejuízo foi de R$ 30 milhões.

Renovação/ O Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) elegeu seu novo presidente, desembargador Manoel Alves Rabelo. Pôs fim à crise em que mergulhou depois da Operação Naufrágio da Polícia Federal, em dezembro do ano passado, que investigou venda de sentenças e nepotismo por integrantes do tribunal que foram afastados.

JOÃO MELLÃO NETO

Dilma no Céu


O Estado de S. Paulo - 04/12/2009

Caiu um forte raio em Brasília. Desses que o governo afirma que são capazes de causar um blecaute. Ele caiu justamente no Palácio do Planalto. Para espanto de alguns e alívio de outros, o raio deu de cair exatamente na cabeça da ministra Dilma Rousseff, que foi literalmente torrada. Sem nada o que fazer, ela se dirigiu ao Além.

Ela tinha certeza de que iria para o Inferno. Mas, como o capeta não veio buscá-la, resolveu tentar a sorte no Céu.

Já no portal, encontrou São Pedro com uma meia dúzia de assessores.

"Antes de entrar aqui, a senhora precisa passar por um julgamento", disse-lhe o guardião do Paraíso.

"Eu quero um advogado!"

"Não temos. Os advogados do tipo que a senhora precisa foram todos para o outro lado. A senhora vai ter de se defender sozinha."

"Está bem. Eu sei me virar!"

"Comecemos pela sua juventude. É verdade que a senhora foi guerrilheira?"

"Fui! Do Colina e da VAR-Palmares! E era líder! Pode perguntar lá embaixo que tem um montão de gente que confirma!"

"Eu não entendo. A senhora tem orgulho de ter sido terrorista?"

"No Brasil isso pega bem. Tem até um órgão do governo que paga indenizações."

"Consta aqui na sua ficha que a senhora se dedicava a tarefas que não têm nada que ver com uma guerra revolucionária. Roubar cofres, por exemplo."

"É, vai fazer o quê...? Nós expropriamos um que tinha nada menos que US$ 2 milhões!"

"E o que vocês fizeram com o dinheiro?"

"Uma parte nós repartimos com os companheiros dos outros grupos."

"E o resto?"

"Não tinha resto. Era para as nossas despesas. Era eu mesma que cuidava do dinheiro."

"Bom, vamos passar adiante. A senhora ficou alguns anos presa, depois tratou de estudar."

"Eu me graduei, depois fiz o mestrado e o doutorado. Pode ler na minha página na internet."

"Tem gente que diz que a senhora não fez nem uma coisa nem outra..."

"Eu vou lhe dar a mesma resposta que dei para a imprensa: fiz o curso de mestrado, mas não o concluí. Depois eu voltei para a escola, a Unicamp, para fazer o doutorado. Também não me formei porque virei ministra..."

"A Unicamp informou que a senhora nunca se matriculou lá..."

"Isso é mentira!"

"Hum, trata-se de uma carreira bem peculiar... Aqui, na sua ficha, consta também que em 1989 a senhora foi nomeada diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre e foi demitida pelo presidente da Casa porque chegava tarde ao trabalho."

"Isso é mentira!"

"A senhora é conhecida como a mãe do PAC. E há quem diga que é, também, madrinha do apagão."

"Isso é mentira! Só porque eu fui ministra da área energética por alguns anos, eu sou agora responsabilizada por tudo!"

"Dizem que foi a senhora que formulou o atual modelo de energia."

"Isso é mentira! Quando eu assumi, todas as usinas hidrelétricas já estavam lá!"

"A que a senhora - que entende do assunto - atribui o apagão?"

"Vou-lhe dar a versão oficial do governo: eram três linhões. Acontece que caíram três raios ao mesmo tempo, um em cada um. Os três entraram em curto-circuito e deu no que deu."

"É uma visão, no mínimo, curiosa... No governo passado houve racionamento de energia porque as chuvas não vieram e os reservatórios de água das usinas hidrelétricas ficaram vazios. Vocês eram da oposição na época e exploraram eleitoralmente o fato. E agora?"

"O apagão do FHC se deu por incompetência. Já o nosso foi devido ao clima, conforme eu já expliquei..."

"Já sei, três raios caíram simultaneamente nas três linhas... E vai por aí afora. Há quem diga que houve sobrecarga do sistema e ele caiu..."

"Isso é mentira! Os raios caíram nos linhões e o assunto está encerrado. Não se fala mais nisso."

"Escute, para a senhora, tudo é mentira."

"Isso também é mentira!"

"Vamos mudar de assunto. A ex-secretária da Receita Federal depôs no Congresso afirmando, com todas as letras, que esteve em seu gabinete, no Palácio do Planalto, e que a senhora lhe pediu para aliviar a barra num processo..."

"Isso é mentira! Nunca estive com essa mulher!"

"Ela disse, recentemente, que tem como provar o que falou... Além do mais, o prédio é inteiramente monitorado. Basta procurar a gravação que a questão fica resolvida."

"Vamos encontrar uma versão conciliatória. Eu admito que a recebi no meu gabinete, mas foi para tratar de outros assuntos."

"Quais?"

"Não me lembro mais. Como canta o Roberto Carlos, "são tantas emoções..."

"Bom, dona Dilma, sinto muito, mas a senhora não preenche os requisitos mínimos para entrar no Céu. Eu não entendi porque Satanás não se dispôs a recebê-la. Aguarde um momento que eu vou telefonar para ele."

São Pedro saiu da sala, pegou o seu celular e ligou diretamente para o "coisa ruim".

"Oi, Lúcifer, porque é que você não foi receber a Dilma Rousseff?"

"Eu não quero nem saber dessa mulher!", explicou o príncipe das trevas. "Se ela vier para cá, em dois minutos vai estar mandando em todo mundo. Essa mulher tem cabelo na venta, é nervosa, irritadiça e impaciente. Estou fora!"

"E o que é que eu faço com ela?!", desesperou-se São Pedro.

"Eu sei que foge dos regulamentos, não deixe o Chefão saber disso, mas o que se pode fazer é pedir desculpas e devolvê-la para o Ministério do Lula. Os dois se entendem bem porque, no fundo, se merecem..."

PAINEL DA FOLHA

A ficha que cai

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/12/09

Os mais próximos percebem os primeiros sinais de mudança na disposição de José Roberto Arruda. Colhido em cheio pela revelação do propinoduto no Distrito Federal, o governador agora alterna momentos de resistência com outros em que se mostra deprimido e choroso. "Eu perdi. O Paulo Octávio conseguiu me derrubar dentro do partido", admitiu ontem a um colaborador. Em seguida, acrescentou que, mesmo com a opção preferencial do DEM pela preservação do vice, vai brigar para permanecer no cargo.
O movimento de Arruda para tentar postergar a decisão do partido, marcada para quinta, divide os "demos". Os mais temerosos de represália contemporizam. Outra ala defende expulsão sem mais demora.


Rede. Quem acompanha os bastidores da política candanga conta que a aproximação do deputado Tadeu Filipelli (PMDB) com Arruda passa pela nomeação de Luiz Carlos Pietschmann para chefiar a Novacap, empresa que gerencia as obras do governo do DF.

Papel 1. Depoimentos do "homem-bomba" Durval Barbosa e a transcrição das escutas da PF indicam que pequenos jornais podem ter sido utilizados para "lavar" dinheiro de empresas que irrigaram o mensalão no Distrito Federal. Um deles é a "Tribuna do Brasil", cujo dono, Alcyr Collaço, aparece em vídeo guardando dinheiro na cueca.

Papel 2. Segundo Durval, a empresa de informática TBA usou o "Jornal da Comunidade" e o "Coletivo" para "justificar contabilmente" doação de R$ 1 milhão à campanha de Arruda a governador. Este repasse não consta na Justiça Eleitoral. A TBA nega ter repassado dinheiro para a campanha de Arruda em 2006.

Categoria ficção. Manchete da "Tribuna do Brasil" ontem: "Obras a todo vapor". Chamada sobre a crise no DF: "Câmara vive badernaço". Já o "Jornal da Comunidade" dizia que o "13º salário injetará R$ 3,3 bilhões no DF" e que o Banco de Brasília experimentou "lucro recorde".

"A coisa". O senador "demo" Demóstenes Torres (GO) tomou um susto ao abrir a torneira no seu gabinete: foi lama, mesmo, o que escorreu.

Pois é 1. Antes de proferir seu voto, desfavorável ao acolhimento da denúncia contra o tucano Eduardo Azeredo no caso valerioduto mineiro, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, mencionou a escalada de gastos nas campanhas eleitorais no Brasil.

Pois é 2. O ministro Marco Aurélio Mello, que votou com a maioria pelo recebimento da denúncia, pegou carona no comentário do colega e brincou: "Antes não tinha um Durval Barbosa...".

Outro lado. A despeito de relatos em contrário de outros participantes de jantar em Brasília, os ministros do STF Ricardo Lewandowski e José Antonio Toffoli negam ter afirmado que a situação jurídica de Arruda é crítica.

Puro sangue? Em meio à barafunda no DEM, o PSDB levou ontem ao ar um programa que mais parecia jogral entre seus governadores pré-candidatos, José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).

Correndo... Acompanhado de ministros e empresários brasileiros, Lula discutia o problema da bitributação com Angela Merkel, em almoço ontem em Berlim, quando a chanceler alemã disse ao presidente: "Soube que a Receita de vocês é muito autônoma, muito autoconfiante!".

...o mundo. Ainda traumatizado pelos ecos da era Lina Vieira, Guido Mantega (Fazenda) correu a corrigir a anfitriã: "Não é bem assim...".

Visita à Folha. Horacio Lafer Piva, presidente do conselho da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel), visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"O DEM, sempre tão crítico ao Bolsa Família, acabou por inventar o Bolsa Panetone."
Do deputado JOSÉ EDUARDO CARDOZO (PT-SP), ironizando a comida-símbolo do propinoduto comandado por José Roberto Arruda.

Contraponto

Prisão temporária


Horas antes da reunião em que o DEM resolveu dar uma semana de prazo a José Roberto Arruda, a cúpula do partido fez na casa do deputado Ronaldo Caiado um debate prévio sobre as denúncias contra o governador.
De repente, toca o telefone do deputado ACM Neto. Do outro lado da linha, José Agripino, que minutos antes estava sentado à mesa com os correligionários, implorou:
- Me salva! Estou preso no banheiro!
Os "demos" foram todos acudi-lo. Assim que conseguiram driblar a fechadura, o senador desabafou:
-Era só o que faltava: eu terminar preso nesta história!

MÍRIAM LEITÃO

Ele não fala por mim

O GLOBO - 04/12/09


O presidente Lula defendeu ontem, de novo, o programa nuclear iraniano. A defesa do Irã é tão gratuita que causa espanto. Por que defender o indefensável? Ele disse que os Estados Unidos e a Rússia não têm autoridade para criticar o Irã. Não foram apenas esses dois países que condenaram o programa iraniano. O mundo o condenou porque ele não tem nenhuma cara de ser pacífico.

Parte do raciocínio faz sentido, parte não faz.

Quando defende o desarmamento nuclear de todos, Lula representa a maioria do povo brasileiro, a quem nunca interessou o desenvolvimento de armas nucleares.

Mas não faz sentido é a defesa, extemporânea e gratuita, de um governo que se isola da comunidade internacional, que escondeu parte das suas instalações nucleares, que mentiu para a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e que admite que está enriquecendo urânio além do percentual necessário para produzir energia.

O que o Brasil ganha defendendo um país que na semana passada foi condenado na Agência Internacional de Energia Atômica? China e Rússia votaram contra o aliado. O Brasil se absteve. Nada pior do que a abstenção num caso que merece uma posição clara.

Após sete anos de improvisos catastróficos em viagens internacionais, o presidente Lula ainda não entendeu que ele, quando está representando o Brasil, não fala por si, mas pela nação inteira. Portanto, tem que expressar o sentimento coletivo e não seus impulsos.

Não há qualquer clamor no Brasil de defesa do Irã, muito menos do governo Ahmadinejad. Pelo contrário.

A esdrúxula negativa de fatos históricos como o holocausto torna o governante iraniano definitivamente divorciado do pensamento da maioria dos brasileiros. Quando as urnas iranianas exalavam ainda o mau cheiro das fraudes, o Brasil foi o primeiro país a dizer que a eleição dele foi legítima. Até o Conselho de Guardiões do Irã admitiu que houve em cinquenta cidades do país mais votos que eleitores. A repressão ao movimento popular que pedia eleições limpas matou cidadãos nas ruas, como a jovem Neda.

Naquele momento de indignação em todo o mundo com o governo Ahmadinejad, o Brasil se apressou a dar o aval a eleições fraudulentas.

Com Honduras, ocorreu o oposto: o governo brasileiro condenou as eleições antes mesmo que elas tivessem acontecido. E já avisou que não reconheceria o novo governo.

No caso de Honduras e no caso do Irã, o que a política externa perde é o tom. Ser a favor do desarmamento nuclear o Brasil sempre foi. Mas sempre foi também contra a proliferação nuclear. E o Irã neste momento significa, na opinião das maiores autoridades no assunto reunidos na AIEA, o risco de proliferação nuclear. O mais estranho da declaração de Lula é que ela veio depois de ter sido divulgado um comunicado conjunto com a chanceler alemã Angela Merkel, admoestando o Irã a “responder positivamente” e “cooperar inteiramente” com a AIEA e a ONU. Isso sim é o correto e tira o Irã do isolamento.

No caso de Honduras, a posição defendida pelo presidente Lula, seu secretário de Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e seu ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tem a mesma dubiedade. No princípio, foi no tom exato, depois, desafinou. Numa região devastada por golpes de Estado, o Brasil condenou o golpe e a deportação de Manuel Zelaya, no que fez bem. A posição brasileira começou a sair do tom quando deixou de ser a defesa dos princípios democráticos para ser uma militância zelaysta.

O Brasil condenou uma eleição, a priori, e avalizou outra, quando a população ainda estava na rua indignada com as fraudes.

No mensalão do DEM em Brasília, o presidente Lula só encontrou a palavra “deplorável” no segundo dia.

No primeiro, disse: “as imagens não falam por si”. O presidente da República não pode préjulgar. Mas não condenar antecipadamente não é o mesmo que absolver.

Tudo fala por si no escândalo de Brasília: as imagens, os diálogos gravados, as conversas telefônicas, as desculpas improvisadas e mutantes e a hesitação do Democratas. “Aquela despesa mensal com político sua hoje está em quanto?”, disse o governador de Brasília, José Roberto Arruda.

Muita coisa está fora da ordem nessa frase além do pronome possessivo.

O presidente Lula poderia não ter se manifestado. Seria melhor. Mas sua forma de lidar com a imprensa é autoritária como nos governos militares. Naquela época os generais não davam entrevistas coletivas. Eles falavam quando eram abordados em viagens internacionais.

Ao seguir esse modelo, Lula acaba se aborrecendo quando perguntado por essa “coisinha”. Preferia que perguntassem sobre grandes questões internacionais.

Mas, no dia seguinte, brindou seus interlocutores com a defesa dispensável do programa nuclear iraniano.

No Brasil, nunca se viu um movimento de opinião pública a favor do programa nuclear iraniano. Isso não é uma questão por aqui. O que incomoda, machuca, confunde o país neste momento são estas “coisinhas” deploráveis.

Lula quando fala certas coisas deveria esclarecer que fala por si.

ARI CUNHA

Bem público


Correio Braziliense - 04/12/2009

A reação dos cidadãos que pagam impostos, orientados por sindicalistas, foi invadir a Câmara Legislativa. A revolta começou com violência. Vidros foram quebrados, plenário invadido. Daí por diante foi ataque direto ao bem comum pago com os impostos. O povo pode ter adotado providência moralizadora. Incorreu no mesmo erro. Prejuízo no próprio bolso. A revolta pode ser aceita. A destruição, não. Autoridades de Brasília estão pagando pelo mal que prestaram ao dinheiro público. Distribuído em favor de sonegadores e maus controladores do dinheiro público. A revolta continua, o povo não se satisfaz com o que existe na cidade. Tranquilidade não se espera. Está na hora de usar a lei que não foi feita por juizes. É difícil punir. O povo espera.

A frase que não foi pronunciada


“Duvidem até das próprias dúvidas.”
Pompeu de Souza, de onde estiver, sobre o escandalone.


Telefones
Reclamações que usuários levam ao Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor atingem diretamente telefones do Brasil. Considerados os piores, quem sofre é o povo. A Voz do Brasil confirmou que operadoras como Telecon, Itaú, Unibanco, Claro, Tim, Sonny, e Ericsson preferem indenizar os reclamantes. Renovar equipamento e prestar serviços corretos é obrigação de quem trata de comunicação no Brasil.

Condenação
Justiça de São Paulo condenou Estevam e Sonia Hernandes, fundadores da Igreja Renascer em Cristo. Pena americana foi mais forte. Multa de US$ 105 mil, mais confisco dos US$ 56 mil transportados de forma irregular. Não podiam sair depois das 17h. No tornozelo, um chip que, se retirado, seria declarada prisão imediata.

Táxi
Há quem discorde, mas quem pega táxi todo dia é quem ouve as reclamações. Tereza Cardoso informa à coluna sobre a situação dos taxistas quanto à padronização adotada pelo GDF. A faixa com as cores do governo estraga a pintura do carro e impede os motoristas de passearem com a família.

Armas
Ser bandido nunca foi melhor que ser honesto. Com exceção da hora de usar arma. Quem paga impostos e não conhece o Fernandinho Beira-Mar tem que enfrentar uma burocracia de papeladas, recadastramentos e comprovantes para ter o direito de se defender.

Câmera
Um Nissan Frontier da Polícia Civil estava estacionado no Wall Mart em 2/11, às 16h52, ocupando duas vagas.

Leitura
Pedro Braga encanta a juventude com o texto fluente. James Joyce em Brasília é o livro que retrata um romance passado na capital federal. Pessoas comuns de diferentes culturas compõem o cenário da capital federal ao som de uma linguagem hábil e criativa.

Convite
Patrícia Frajmund convida a todos para visitar o Natal Mercado de Criação. Fica no Espaço Dez, na comercial da 102 Norte. Para quem quiser oferecer presentes únicos no natal, essa é uma opção. Hoje, sábado e domingo, com direito a cafezinho.

Fria
Votada a PEC dos Precatórios. Engana-se quem pensa que agora vai receber o que o governo deve. Pelo contrário. A OAB vai apelar para instâncias judiciais contra a aprovação da proposta. Para Marcelo Lobo, além de ser instrumento para que o governo descumpra decisões da Justiça, a aprovação da PEC representa uma ofensa ao cidadão.

Rigor
Uma multa com o mesmo valor da tarifa paga. Assim o passageiro de transporte aéreo deverá ser indenizado em caso de overbooking. O projeto é da senadora Serys Slhessarenko, mas ainda depende de votação em turno suplementar.

Punição
Mais uma. A CCJ do Senado aprovou novas regras para quem vender combustível adulterado. Por enquanto, só aplicação de multa. O que vai mudar é que o estabelecimento deverá pagar a multa e ser suspenso provisoriamente.

História de Brasília


Cavalariços da GEB estão fazendo patrulhamento na Cidade Livre para evitar novas invasões. Enquanto isso, os fiscais não veem, por exemplo, que na Avenida Central estão levantando colunas de concreto para a nova sede de uma empresa que está chegando a Brasília. (Publicado em 18/2/1961)

MERVAL PEREIRA

Cada um na sua

O GLOBO - 04/12/09


Consumada a decisão do Supremo Tribunal Federal de abrir processo contra o senador Eduardo Azeredo, do PSDB mineiro, temos definido que cada um dos principais partidos políticos brasileiros carrega agora acusações do mesmo teor. Há o mensalão do PT, o do PSDB e, agora, o do DEM. Mesmo que as características de cada um sejam diferentes entre si — o do PT com caráter nacional e arquitetado de dentro do Palácio do Planalto, de acordo com a acusação acolhida pelo Supremo, e o do PSDB e do DEM de caráter regional em Minas e no Distrito Federal, o fato é que eles não se distinguem para a opinião pública e em termos políticos.

Suas consequências são arrasadoras não só para partidos que, cada um a seu tempo, quiseram assumir a bandeira da moralidade na política, mas também para o debate político.

Nivelando-se por baixo, nossos partidos ficam parecidos aos olhos dos eleitores, e o alívio que hoje sentem os petistas com a desdita de seus adversários oposicionistas é o sintoma mais evidente do desvio de conduta que tomou conta da política brasileira.

Há um raciocínio perverso que leva alguns a acusar os partidos oposicionistas que abandonaram o governo do Distrito Federal de traição a um correligionário, embutindo nesse raciocínio a ideia de que pelo menos os petistas não abandonam os seus.

Uma variante desse raciocínio político degradado leva alguns “democratas” a pensarem que, se o PT não puniu nenhum de seus mensaleiros, por que eles têm que punir os seus? Dizer que o falso moralismo derrotado pelos fatos é um bom indício de que a política agora se travará no debate real das realizações, e não no plano etéreo da moralidade, é aceitar que a corrupção é fator inerente à atividade política.

Esse excesso de pragmatismo é o responsável pela degradação da nossa vida política e se reflete na tentativa que todos os partidos, sem exceção, fizeram e fazem para reduzir a culpa de seus correligionários.

A começar pelo presidente da República, que, não contente de passar a mão na cabeça de todos os mensaleiros e aloprados petistas, ainda tentou relativizar as imagens escabrosas da farta distribuição de dinheiro nas salas do governo do Distrito Federal.

A recusa do DEM de expulsar sumariamente o governador José Roberto Arruda de seus quadros, adiando a decisão por dez dias, só demonstra a força que ele tem dentro do partido, contagiando toda a sua já reduzida estrutura partidária, que vem minguando a cada eleição.

Também o PSDB hesitou em punir o senador Eduardo Azeredo quando surgiu a denúncia do “mensalão mineiro”, que teria sido a origem do “mensalão petista”.

Da mesma maneira que o governador José Roberto Arruda emparedou seus companheiros de partido, ameaçando “radicalizar” no final se “radicalizassem” contra ele, também Azeredo, então presidente nacional do PSDB, mandou seu recado quando achou que seria abandonado pelos companheiros tucanos: “A campanha de 1998 não era só minha. Era de todo o partido, inclusive da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso no estado”, disse ele em entrevista em 2007.

O fato é que Azeredo continua no PSDB até hoje, e até bem pouco tinha planos de se candidatar à reeleição ao Senado. No momento, parece mais fácil ser candidato a deputado federal.

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que naquela eleição concorreu a deputado federal, já o avisou de que não há espaço para disputar uma das duas vagas de senador.

O governador Arruda, por sua vez, dificilmente continuará no DEM, perdendo assim a possibilidade de se candidatar em 2010; mas tentará se manter no governo do Distrito Federal até o último momento, para ser julgado em foro privilegiado pelo Superior Tribunal de Justiça.

E o PMDB é um injustiçado, não aparece em nenhum esquema dos mensalões? A explicação vem de um membro ilustre daquele aglomerado político, o senador Pedro Simon: “O PMDB está em todos eles”.

No mensalão petista, o acusado foi o deputado José Borba, do PMDB do Paraná.

No mensalão do DEM, aparece em uma conversa gravada, entre outros correligionários, o nome do presidente da Câmara, Michel Temer, cotado para ser o vice da chapa da ministra Dilma Rousseff.

Temer nega as acusações e, juntamente com a direção do partido, pretende processar na Justiça seus acusadores. As acusações de corrupção atingem de maneira direta ou indireta a sucessão do presidente Lula, e não apenas os partidos de oposição, embora estes sejam os mais obviamente afetados.

O governador de São Paulo, José Serra, tinha com o DEM uma clara parceria política, que levou Gilberto Kassab à prefeitura paulista. Já o governador de Minas, Aécio Neves, ganhou o apoio recente do presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia, na disputa interna pela candidatura à sucessão de Lula.

Além disso, o partido era o potencial parceiro para indicar o vice-presidente na chapa tucana, se não fosse possível formar uma chapa puro-sangue do PSDB.

A crise instalada pelos escândalos de corrupção no governo do Distrito Federal está abalando as relações interpartidárias, mas é pouco provável que o DEM se afaste da chapa oposicionista, embora seja praticamente certo que não dará mais o vice.

LUIZ GARCIA

Próximas batalhas

O GLOBO - 04/12/09

As mais recentes batalhas da guerra contra o tráfico de drogas no Rio, principalmente nas favelas Dona Marta e Cidade de Deus, foram relativamente incruentas. O que tem acontecido esta semana em Copacabana, depois da ocupação dos morros do Cantagalo e do PavãoPavãozinho, mostra como, daqui em diante, a campanha será longa e difícil.

A violência da reação dos traficantes está direta e obviamente associada a quanto eles têm a perder com o fim do seu domínio sobre as comunidades faveladas. Segundo fontes policiais, só no PavãoPavãozinho são vendidos por mês uns 40 quilos de crack, valendo cerca de R$ 1,2 milhão.

Isso explica por que, em seguida à ocupação e ao anúncio da instalação permanente nas comunidades da chamada Polícia Pacificadora (UPP), os traficantes reagiram como de costume: exigindo que comerciantes fechassem suas portas e incendiando um ônibus.

Nada parecido com isso aconteceu nos episódios anteriores.

Também nada sugere que as próximas batalhas da guerra sejam muito diferentes do que se viu esta semana.

Por exemplo, quando — ou se — a ocupação chegar ao Complexo do Alemão. São 12 favelas, espalhadas por três quilômetros quadrados. Lá moram cerca de 70 mil pessoas, em pouco menos de 20 mil casas ou casebres. O Alemão responde por perto de 40% dos crimes cometidos no Rio — e não é o único aglomerado de favelas batizado de “complexo” que temos.

Todos eles são refúgio e domínio de traficantes.

Só por esse exemplo pode-se fazer uma ideia da missão que a Polícia Pacificadora tem pela frente. Seus bravos integrantes — e são bravos mesmo — já devem estar com saudades do Dona Marta.

Faz sentido prever que em muitas de suas próximas missões eles precisarão de considerável ajuda federal. Brasília não pode esquecer que vêm aí — e vêm para o Rio — os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo.

JOSÉ SIMÃO

Assalto! Meias para baixo!

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/12/09



E esse é o único dado biográfico certo do Lombardi: ele também frequentava o Jassa!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Assaltante em Brasília não grita mais "Mãos ao alto"! Agora é "Meias pra baixo"! E em vez de "Levanta as mãos" é "Abaixa a cueca"!
E quem vai pra Brasília é melhor usar cartão de crédito. Já imaginou como estão as notas depois de passar por meia, cueca, sei lá o quê.
E o Lombardi, hein? Ontem foi a primeira vez que a maioria do Brasil viu a foto do Lombardi.
E de uma coisa eu tenho certeza: ele frequentava o Jassa! O cabelo é idêntico ao do Silvio Santos! A cor, o penteado, tudo. Esse é o único dado biográfico certo do Lombardi: ele frequentava o Jassa!
Aliás, o Lombardi era locutor do Silvio Santos, agora ele é locutor de Todos os Santos. E aí no céu são Pedro ouve: 12, 74, 69, 22, 88. E são Pedro: "O que é isso? Bingo no céu?". E o anjo: "Não, é o Lombardi dando o resultado da Telesena". Rarará!
E o chargista Frank diz que não é mais propina nem panetone, é PROPINETONE. Propinetone de Natal! Deus nos Acuda! Panetones Arruda!
E o Kassab, que é do DEM? Do Deu Em Merda! A situação do Kassab é essa: enquanto um careca lhe ajuda, outro careca lhe arruda! Rarará! E aqui na rua apareceu um mendigo novo de turbante. E aí todo mundo perguntou: "Por que você tá de turbante? Por que você tá de turbante". E a resposta: "É que eu sou de Dubai". Rarará!
E o repentista Cuíca da Asa Sul já escreveu um cordel "A Oração da Propina": "São Leonardo Imprudente/ Orai até não ter jeito/ entupa as roupas de notas/ o pé esquerdo e o pé direito/ e se não couber na meia/ peça a Santa Eurides Feia/ pra socar no MEIO DOS PEITO!". Rarará!
É isso. Queremos vídeo de corrupta escondendo dinheiro nos peitos. A Corrupta dos Peitos! É mole? É mole mas sobe! OU como disse aquele outro: é mole, mas chacoalha pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão! Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Santana do Ipanema, Alagoas, tem um motel chamado Ninguém Vai Ver! Aí quando menos se espera aparece no YouTube. Rarará! Mais direto impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro obvio lulante. "Consorte": companheira dona Marisa que casou com o Lula e ele virou presidente. O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre mas nóis goza! Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! E vai indo que eu não vou!