sexta-feira, dezembro 04, 2009

PAINEL DA FOLHA

A ficha que cai

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/12/09

Os mais próximos percebem os primeiros sinais de mudança na disposição de José Roberto Arruda. Colhido em cheio pela revelação do propinoduto no Distrito Federal, o governador agora alterna momentos de resistência com outros em que se mostra deprimido e choroso. "Eu perdi. O Paulo Octávio conseguiu me derrubar dentro do partido", admitiu ontem a um colaborador. Em seguida, acrescentou que, mesmo com a opção preferencial do DEM pela preservação do vice, vai brigar para permanecer no cargo.
O movimento de Arruda para tentar postergar a decisão do partido, marcada para quinta, divide os "demos". Os mais temerosos de represália contemporizam. Outra ala defende expulsão sem mais demora.


Rede. Quem acompanha os bastidores da política candanga conta que a aproximação do deputado Tadeu Filipelli (PMDB) com Arruda passa pela nomeação de Luiz Carlos Pietschmann para chefiar a Novacap, empresa que gerencia as obras do governo do DF.

Papel 1. Depoimentos do "homem-bomba" Durval Barbosa e a transcrição das escutas da PF indicam que pequenos jornais podem ter sido utilizados para "lavar" dinheiro de empresas que irrigaram o mensalão no Distrito Federal. Um deles é a "Tribuna do Brasil", cujo dono, Alcyr Collaço, aparece em vídeo guardando dinheiro na cueca.

Papel 2. Segundo Durval, a empresa de informática TBA usou o "Jornal da Comunidade" e o "Coletivo" para "justificar contabilmente" doação de R$ 1 milhão à campanha de Arruda a governador. Este repasse não consta na Justiça Eleitoral. A TBA nega ter repassado dinheiro para a campanha de Arruda em 2006.

Categoria ficção. Manchete da "Tribuna do Brasil" ontem: "Obras a todo vapor". Chamada sobre a crise no DF: "Câmara vive badernaço". Já o "Jornal da Comunidade" dizia que o "13º salário injetará R$ 3,3 bilhões no DF" e que o Banco de Brasília experimentou "lucro recorde".

"A coisa". O senador "demo" Demóstenes Torres (GO) tomou um susto ao abrir a torneira no seu gabinete: foi lama, mesmo, o que escorreu.

Pois é 1. Antes de proferir seu voto, desfavorável ao acolhimento da denúncia contra o tucano Eduardo Azeredo no caso valerioduto mineiro, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, mencionou a escalada de gastos nas campanhas eleitorais no Brasil.

Pois é 2. O ministro Marco Aurélio Mello, que votou com a maioria pelo recebimento da denúncia, pegou carona no comentário do colega e brincou: "Antes não tinha um Durval Barbosa...".

Outro lado. A despeito de relatos em contrário de outros participantes de jantar em Brasília, os ministros do STF Ricardo Lewandowski e José Antonio Toffoli negam ter afirmado que a situação jurídica de Arruda é crítica.

Puro sangue? Em meio à barafunda no DEM, o PSDB levou ontem ao ar um programa que mais parecia jogral entre seus governadores pré-candidatos, José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).

Correndo... Acompanhado de ministros e empresários brasileiros, Lula discutia o problema da bitributação com Angela Merkel, em almoço ontem em Berlim, quando a chanceler alemã disse ao presidente: "Soube que a Receita de vocês é muito autônoma, muito autoconfiante!".

...o mundo. Ainda traumatizado pelos ecos da era Lina Vieira, Guido Mantega (Fazenda) correu a corrigir a anfitriã: "Não é bem assim...".

Visita à Folha. Horacio Lafer Piva, presidente do conselho da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel), visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"O DEM, sempre tão crítico ao Bolsa Família, acabou por inventar o Bolsa Panetone."
Do deputado JOSÉ EDUARDO CARDOZO (PT-SP), ironizando a comida-símbolo do propinoduto comandado por José Roberto Arruda.

Contraponto

Prisão temporária


Horas antes da reunião em que o DEM resolveu dar uma semana de prazo a José Roberto Arruda, a cúpula do partido fez na casa do deputado Ronaldo Caiado um debate prévio sobre as denúncias contra o governador.
De repente, toca o telefone do deputado ACM Neto. Do outro lado da linha, José Agripino, que minutos antes estava sentado à mesa com os correligionários, implorou:
- Me salva! Estou preso no banheiro!
Os "demos" foram todos acudi-lo. Assim que conseguiram driblar a fechadura, o senador desabafou:
-Era só o que faltava: eu terminar preso nesta história!

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