quinta-feira, agosto 13, 2009

MERVAL PEREIRA

Governo acuado


O Globo - 13/08/2009

Justiça seja feita, a oposição desta vez está conseguindo colocar o governo contra a parede. Para uma oposição que é acusada de não ter iniciativa, de deixar o governo dar as cartas, não está nada mau o saldo dos últimos acontecimentos. Caberá à base política do governo, especialmente ao PT, o ônus de manter o arquivamento das representações contra o presidente do Senado, José Sarney, na Comissão de Ética. Se o PT não der os três votos de que precisa a oposição para reabrir pelo menos um dos processos arquivados, terá que arcar com as consequências políticas do gesto

Há uma tendência da maioria da bancada petista para permitir investigação das nomeações por ato secreto, o que significa, em termos práticos, o afastamento do senador José Sarney da presidência do Senado, até que se encerre o processo na Comissão de Ética, de acordo com o regimento interno.

O retorno ao exercício pleno da presidência, que hoje ele não consegue, dependeria do que fosse revelado nesse período.

Por isso a decisão do PT é tão relevante do ponto de vista político, pois abrirá a porta do imponderável, podendo se transformar no gatilho que tirará de vez Sarney da presidência do Senado.

O Palácio do Planalto não está disposto a deixar seu mais importante aliado dentro do PMDB correr esse risco, e por isso é improvável que o PT cumpra o acordo que seu líder Aloizio Mercadante fechou com a oposição, mesmo arrostando a opinião pública.

Ontem mesmo o presidente Lula criticou o nível dos debates que vêm ocorrendo no Senado, como se nada tivesse a ver com o caso, tentando, como sempre, se aproveitar do enfraquecimento dos políticos.

Isso depois de ter interferido de todas as maneiras para manter Sarney no cargo e de ter comentado com diversos parlamentares que a atitude agressiva e grosseira do senador Renan Calheiros e da sua “tropa de choque” tinha razão de ser, pois a oposição era mesmo “minoria com complexo de maioria”.

O recuo já começou a ser organizado, e o PT tem desde ontem uma desculpa para agir dessa maneira, tentando mascarar a pressão. A convocação da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira para depor na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, sob o comando do DEM, driblando o veto que a base governista havia imposto à sua convocação na CPI da Petrobras, foi classificada pelo líder do governo, Romero Jucá, como uma manobra de traição da oposição.

Essa atitude do PT, se confirmada, será duplamente prejudicial à sua imagem diante da opinião pública: marcará o partido como um dos bastiões de suporte do senador Sarney, e aliado a uma “tropa de choque” de atitudes fascistas, e os eleitores petistas desencantados, especialmente os dos grandes centros urbanos, cada vez mais terão na senadora Marina Silva — que assinou o pedido de afastamento de Sarney — alternativa caso ela saia candidata à sucessão de Lula.

À medida que a discussão sobre a palavra da ministra Dilma Rousseff entra no centro do debate político, a candidata oficial perde substância política, e o surgimento da sombra “verde” de Marina cresce de importância.

Ela já se envolvera em outro episódio em que sua palavra foi colocada em dúvida, quando seus currículos oficiais informavam que tinha mestrado e doutorado — nunca concluídos.

Até na comunicação oficial à agência dos Estados Unidos que controla a Bolsa de Valores (SEC) essa informação inverídica foi colocada.

Mesmo que seja possível admitir que a ministra, como alegou, não tenha tido culpa direta na montagem do currículo, a imprecisão não poderia sair da cabeça de um assessor. Mas a nova questão é mais grave.

Para uma potencial candidata à Presidência da República, a possibilidade de ter mentido sobre assunto tão grave quanto a tentativa de intervenção em uma investigação da Receita Federal, para livrar das acusações o filho do senador Sarney, pode ser fatal.

Não é aceitável nem a tentativa da ex-secretária de amenizar as intenções da ministra, dizendo que considerou normal seu pedido, nem a explicação do secretário particular do presidente Lula, Gilberto Carvalho, que disse não haver nada de mais no fato de a chefe do Gabinete Civil ter pedido que a Receita “agilizasse” as investigações, pois o que se quer é uma administração “ágil”.

Além do fato de que o Gabinete Civil não deveria ter ingerência sobre a Receita Federal, subordinada ao Ministério da Fazenda, todos sabemos que, no jargão administrativo, pedir “agilização” de um processo qualquer quer dizer encerrá-lo o mais rápido possível.

A ministra Dilma Rousseff começou negando que tivesse tido qualquer encontro privado com a ex-secretária da Receita.

Depois, diante da confirmação firme, mudou sua versão para dizer que nunca tivera “esse tipo de conversa”.

Segundo Lina Vieira, existem algumas testemunhas do encontro, desde o motorista que a levou ao Palácio do Planalto até sua secretária, que viu quando a assessora de Dilma Rousseff esteve na Receita para marcar a audiência “sigilosa”.

Outros motoristas e caseiros já participaram ativamente da nossa história recente, e seus depoimentos foram fundamentais para a revelação da verdade.

O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante, ao saudar ontem o presidente deposto da Honduras, Manuel Zelaya, disse que seu partido e o governo brasileiro estão cobrando da Organização dos Estados Americanos (OEA) punição das atuais autoridades hondurenhas, por terem quebrado as regras da democracia do país ao derrubarem um presidente eleito pelo povo.

Além do fato de que esqueceramse todos os senadores de que foi o ex-presidente quem tentou dar golpe contra a Constituição na tentativa de forçar uma reeleição proibida na lei, o governo brasileiro cai em contradição quando exige que a cláusula democrática seja cobrada pela OEA.

Esse mesmo governo que luta para que a ditadura de Cuba seja recebida pela OEA, sem qualquer compromisso democrático.

E o mesmo governo que esquece a cláusula democrática exigida pelo Mercosul quando defende a entrada da Venezuela no grupo.

KENNETH MAXWELL

Águas turvas

Folha de S. Paulo - 13/08/2009

TRÊS DESDOBRAMENTOS recentes na América Latina revelam o perigo da continuada desatenção dos EUA à região.

O primeiro foi a conferência de cúpula anual entre os três líderes da América do Norte realizada em Guadalajara, México (Nafta). O segundo foi a reunião dos líderes sul-americanos em Quito, Equador (Unasul). O terceiro é a crise que continua em Honduras.
A conferência de cúpula anual entre o presidente Felipe Calderón, o presidente Barack Obama e o primeiro-ministro Stephen Harper não resultou em grandes novidades. Mas elas tampouco eram esperadas. No entanto, as questões em jogo continuam a ser muito contenciosas. Envolvem a disputa corrente sobre o acesso de caminhões mexicanos aos Estados Unidos, bloqueada devido à influência do sindicato dos caminhoneiros norte-americanos, o Teamsters.
E também envolvem a contenciosa questão da imigração, no momento um assunto quente entre o Canadá e o México. Novas leis de imigração são essenciais, concordou o presidente Obama, mas alertou que não se deveria esperar novidades quanto a isso neste ano.
A conferência de cúpula sul-americana no Equador foi mais contenciosa, ainda que o presidente colombiano, Álvaro Uribe, não tenha comparecido. A controvérsia, no caso, girava em torno do acordo entre Estados Unidos e Colômbia que concede às Forças Armadas norte-americanas acesso a sete bases militares na Colômbia.
O motivo original do arranjo foi o cancelamento de um tratado entre os EUA e o Equador, mas o presidente Hugo Chávez rompeu o protocolo e fez da questão uma séria queixa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiou a ideia de uma nova conferência em Buenos Aires, que daria ao presidente Obama a oportunidade de defender o acordo entre Estados Unidos e Colômbia, algo que é bastante improvável que ele faça.
Enquanto isso, a crise em Honduras continua. O presidente Obama declarou, na conferência de cúpula da Guadalajara, que "aqueles que argumentam em favor de maior envolvimento dos Estados Unidos em Honduras são os mesmos que se queixavam da intervenção norte-americana na América Latina".
Bem, não exatamente. Os latino-americanos são unânimes em seu apoio a Manuel Zelaya, o presidente hondurenho derrubado. A vacilação de Washington agravou a situação em Honduras e permitiu que a política interna norte-americana influenciasse fortemente na situação.
O governo dos Estados Unidos certamente enfrenta muitos problemas prementes, mas a falta de atenção à América Latina tem um preço.

GOSTOSA


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ELIANE CANTANHÊDE

Marina, o Cristovam de amanhã


Folha de S. Paulo - 13/08/2009

Em meio ao rame-rame da polarização Dilma-Serra e de tudo acontecendo e nada acontecendo na crise Sarney, a possível candidatura de Marina Silva à Presidência é uma lufada de novidade e animação. Mas vamos com calma.
Se Marina for mesmo para o PV, se decidir mesmo virar candidata, se for mesmo capaz de reativar o "animus concorrendis" de Ciro Gomes, se conseguir mesmo levantar a paixão do eleitorado de norte a sul... ela pode mudar tudo.
Mas são ressalvas demais, incompatíveis com o barulho. Por ora, a opção Marina só acende a luz amarela no campo governista e explode rojões no oposicionista, porque questiona o que parecia inquestionável: que a popularidade de Lula é igual a Dilma imbatível.
Bastou um sopro para balançar essa fantasia. E, assim, o que o nome de Marina traz são racionalidade ao debate e dados de reflexão:
1) O tema emergente no cenário internacional, a sustentabilidade, pode finalmente chegar à campanha e à pauta no Brasil.
2) Marina saiu do governo por bater de frente com Dilma (ambiente versus obras) e tira votos dela, do PT e do governo no eleitorado.
3) Pode tirar também no PT, que se ressente da mão pesada e do excesso de pragmatismo de Lula, da ação política na contramão da sua história (ou discurso). Quantos petistas, no Congresso e na militância, não se sentem como Marina?
4) A possibilidade de novas candidaturas cresce, arejando a campanha e amenizando a perspectiva de luta livre. Mas a polarização Dilma-Serra continua. Com Marina, o que se discute é como (não com quem) será o segundo turno.
Marina, do Acre, do PV, com a bandeira ambiental, tem tudo para repetir Cristovam Buarque, do DF, do PDT, com a bandeira da educação. Bonito, mas não para ganhar. É influir na rearrumação de forças, chegar com menos de 10% e garantir o segundo turno. Pouco? Não. Mas também não é tudo isso que andam dizendo por aí.

BRASÍLIA - DF

PMDB na moita


Correio Braziliense - 13/08/2009


A crise do Senado virou o centro das preocupações do PMDB na Câmara. De um lado, revelou que a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), está completamente refém do apoio da legenda; de outro, que o desgaste do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), começa a contaminar os demais integrantes da legenda, inclusive governadores.

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O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e o líder da bancada, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), querem pôr panos quentes no confronto entre os líderes do PMDB e do PSDB no Senado, Renan Calheiros (AL) e Arthur Virgílio Neto (AM), respectivamente. E pressionam a cúpula do PT para jogar uma pá de cal na crise. Quanto ao apoio à candidatura de Dilma, a legenda prefere ficar na moita e esperar o que ainda vai acontecer.

Barra// A ministra Dilma Rousseff começa hoje a última série do tratamento radiológico contra o linfoma, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Se tudo correr como planejado, terá sessões amanhã, sábado e domingo. E encerrará as aplicações na segunda-feira. Dilma manteve a agenda a meia-marcha, mas sentiu a barra do tratamento.

Mutirões



Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes (foto), pretende intensificar os mutirões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para agilizar a tramitação de milhares de processos pendentes em todo o país. Um apelo emocionado de uma serventuária de Valparaíso (GO), onde o CNJ fez uma grande reunião de juízes e
servidores do Judiciário do Entorno do Distrito Federal, na sexta-feira, deixou ainda mais motivado o presidente do STF. As comarcas da Justiça de Goiás na região funcionam precariamente.


Fria/ O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, passou um aperto ontem, durante um café da manhã com a bancada do Nordeste na Câmara dos Deputados. Bernardo não foi avisado de que a pauta do encontro previa dar respostas sobre a liberação de emendas parlamentares e foi duramente cobrado pelo deputado Júlio César (DEM-PI). O ministro adotou o silêncio.

Veto/ Apesar dos rumores sobre um iminente veto à indicação de Murilo Marques à presidência da Infraero, os funcionários da estatal permaneciam convidados à cerimônia de posse, prevista para hoje à tarde. O convite circulava na intranet da Infraero enquanto os empregados corriam atrás de informações sobre a confusão.

Dose dupla/ A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados aprovou ontem um convite para que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fale sobre se houve ou não ilegalidade na manobra tributária que rendeu R$ 1,1 bilhão em créditos tributários à Petrobras. Nem as superintendências da Receita Federal se entendem se a iniciativa atendeu às normas tributárias.

Cobertura


A Telefônica antecipou o programa de metas de expansão do Speedy definido com o Ministério das Comunicações e a Anatel para 488 cidades de São Paulo, o que corresponde a 95% da população, e deve chegar a 591 municípios até o fim do ano. Até junho de 2010, a meta é completar a cobertura de banda larga das 622 cidades paulistas.

Sertões


O Brasil meridional é mesmo o xis do problema da candidatura de oposição à Presidência da República, segundo pesquisas encomendadas pelos líderes tucanos. A Executiva do PSDB concluiu que o partido deve escolher seu candidato até dezembro e intensificar a ação no Nordeste, com a participação dos governadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), tese defendida pelo presidente da legenda, senador Sérgio Guerra (PE). Um seminário sobre cidades e desenvolvimento será realizado na próxima semana, em Aracaju.

Nó cego


Líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP) dá nó em pingo d’água para explicar que não é fiador da permanência no cargo do presidente do Senado, José Sarney. Pressionado pelo presidente Lula a manter o apoio do PT a Sarney, Mercadante insiste na análise criteriosa das denúncias pelo Conselho de Ética. Porém, com o arquivamento da representação contra Arthur Virgílio por Paulo Duque (PMDB-RJ), presidente do Conselho de Ética, ontem, a bancada petista deve endossar o mesmo procedimento em relação ao cacique maranhense.

Minuano



Pesquisa Vox Populi divulgada ontem no Rio Grande do Sul pela revista Voto mostra o resultado da crise no governo Yeda Crusius (PSDB), que aparece com 7% das intenções de voto. A tucana está atrás de Tarso Genro (PT), com 39%, de José Fogaça (PMDB), com 29%,
e empatada com Beto Albuquerque (PSB), com 7%. O efeito colateral foi a pesquisa para presidente. Dilma Rousseff (foto) aparece com 26%, à frente de José Serra, que tem 25%. Ciro Gomes (PSB) tem 16% e Heloísa Helena (PSol), 10%.

CLÓVIS ROSSI

Os "coronéis" estão no ar


Folha de S. Paulo - 13/08/2009

Um dia de 1986, aportei em Fortaleza, etapa de um périplo pelos dez principais Estados para acompanhar as eleições estaduais. A sensação da temporada chamava-se Tasso Jereissati, jovem empresário, dito "moderno", que entrara na política (no PMDB, então) para enfrentar os coronéis, essa praga "imexível" da política tapuia (e não apenas no Nordeste).
Pedi para acompanhar um comício do candidato no interior. Prometeram-me uma carona. De fato, na manhã seguinte, um carro de reportagem apareceu à porta do hotel. Era da principal organização jornalística do Ceará, hegemônica no papel, no rádio e na TV. Perguntei à repórter que viera me apanhar: "Vocês são do jornal ou da campanha?" A moça não titubeou: "Dos dois".
Conto essa historinha porque, no microdetalhe, ela é reveladora de porque é falsa a teoria, assumida até por gente pela qual tenho o maior respeito, de que o jornalismo perdeu capacidade de influenciar a política.
Não perdeu porque nunca teve, se estamos falando da mídia impressa. Não há espaço, aqui e agora, nem para listar os motivos.
Quem poderia de fato influenciar seriam rádio e TV. Mas como, se, a exemplo do que testemunhei ao vivo e a cores no Ceará, jornal, rádio, TV e comitê de campanha eram uma e a mesma coisa?
Nada mudou de 1986 para cá, como dá prova a concessão de uma rádio à família do senador Renan Calheiros no município de Água Branca, interior de Alagoas.
Para o eleitorado da família, a fonte de informação é a rádio da própria família, o que se repete em incontáveis casos de outros "coronéis", do Amapá ao Rio Grande do Sul.
O que significa dizer que os problemas do Senado, da Câmara, da política não se esgotam naqueles prédios de Brasília. Estão no ar, em todo o país.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Três meninas do Brasil


Folha de S. Paulo - 13/08/2009



Nos corredores, figuras do governo falam com frieza ou sarcasmo das agruras de Dilma com Lina e Marina


MARINA, LINA e Dilma, três meninas do Brasil, rendem uma rima toante algo imperfeita e mais conversas do que perguntas sobre projetos, reformas, leis, dinheiros e tecnicalidades na quarta-feira seca de Brasília, mais uma. Fica a impressão de que as políticas do governo até 2010 não passarão de um feijão com arroz frio, sem maiores pretensões, além de pechinchas nas discussões dos pleitos de empresários exportadores, parlamentares pedinchando emendas inúteis e ministros à cata de verba adicional e inexistente, os negócios de sempre.
Mas impressiona mesmo é a frieza de várias personalidades do governo em relação ao dilema Dilma-Lina. Ou, mais notável, manifestações de moderada "Schadenfreude", de alegria, embora não muito discreta, com a desgraça alheia: com os tropeços da ministra da Casa Civil de Lula, que vive um agosto aziago.
Parece que a incisiva Dilma Rousseff fez não poucos amigos da onça na Esplanada dos Ministérios.
Não bastasse a Marina, agora tem a Lina, "filhas do destempero da Dilma", diz uma personagem da Esplanada (referência a provável defecção e à candidatura presidencial da senadora Marina Silva, ora PT, amanhã talvez PV). Outra figura oficial pergunta se os jornalistas têm como obter "fitas" (que teriam gravado a visita de Lina a Dilma): "Aí, ela fica frita no petróleo" (caso aparecessem tais imagens). Uma terceira alta personagem (são todos do governo, sim) diz que Lina é a gripe suína de Dilma e ri. Outro, que Guido Mantega ficou com "déficit de credibilidade" com Lula por tirar Jorge Rachid, antecessor de Lina, da Receita.
Nenhuma novidade em nada disso -há maldades bem melhores sobre o caso. Interessa mais a nonchalance vingativa ou sarcasmo com que se fala da por ora ligeira desgraça de Dilma, em tese herdeira e conservadora da herança do petismo-lulismo. Além disso, faz-se de modo aberto o cálculo das novas probabilidades do sucesso da candidatura Dilma, dados a hipótese Marina, as peripécias da candidatura Ciro Gomes, ora de novo possível, o "timing" do lançamento (ou não?) da candidatura de José Serra. Para não falar de novos cálculos de recombinações políticas, "alianças", devidos aos estremecimentos recentes: Marina, Lina, Dilma, lama (no Senado) etc.
Uma depois de outra, personagens do governo dizem o que já corria à bocarra grande entre jornalistas e outros interessados em política: que Dilma corre o risco de cair na "armadilha do caseiro", lembrança do caso Palocci. Como se recorda, então ministro da Fazenda, Antonio Palocci negava frequentar a casa do lobby da República de Ribeirão Preto e agregados. O caseiro Francenildo Costa, na bandeirinha, diz que viu o ministro fazer o pênalti. O sigilo do caseiro vazou de algum escaninho do governo; Palocci foi acusado pelo conjunto da obra e caiu.
Lina Vieira, ex-secretária da Receita, disse o bastante para colocar Dilma Rousseff na berlinda, mas não o suficiente para ser acusada de caluniar a premiê de Lula. Ao negar o encontro com Lina, Dilma abriu, de graça, uma segunda frente de combate. Se aparecer um motorista, copeiro, motoboy, secretária etc. a dizer que Dilma viu a uva, ou a Lina, haverá encrenca, não importa o que tenham dito as duas.

MÍRIAM LEITÃO

Perto da virada?

GLOBO - 13/08/09

Como está a economia americana a esta altura? Ontem foi o dia de os economistas do mundo inteiro olharem com lupa a decisão do Fed para responder a essa pergunta. O que o Banco Central americano disse é que os juros vão ficar perto de zero por um longo tempo e que continuará injetando liquidez na economia. O PIB do terceiro trimestre já deve ser positivo, segundo economistas american

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, também acredita que o terceiro trimestre será sim de recuperação nos EUA. A leitura que ele fez do comunicado do Fed, e da decisão de manter os juros por um longo tempo, é que a situação econômica melhorou, mas as autoridades não querem correr o risco de perder um bom momento atuando prematuramente no aperto de liquidez.
— O que o Fed quis dizer ontem é que a economia está melhorando, há sinais de otimismo, mas são sinais ainda fracos, e, portanto, ele não vai arriscar perder as melhoras conquistadas com uma elevação dos juros — disse.

Isso derruba a ideia de que em breve o país iria começar a reduzir o excesso de liquidez injetado na economia.

O Fed disse também que vai continuar comprando títulos do Tesouro americano e vai continuar comprando ativos lastreados em hipotecas, ou seja, continuará provendo liquidez.

Em que momento essa montanha de dinheiro jogada na economia através da ampliação dos gastos públicos e da atuação do Fed vai trazer para a economia o risco de inflação? Ilan acha que demora um pouco: — Primeiro, será preciso aumentar a utilização da capacidade instalada, que está muito baixa, e recuperar o mercado de trabalho. Hoje, ainda se comemora a queda menor do nível de emprego, a cada vez, mas não a volta da criação de empregos.

Nada do que está acontecendo deixará de criar uma enorme ressaca mais adiante. A dívida pública vai aumentar exponencialmente.

Ilan acha que sai de 40% do PIB para mais de 80%: — Em algum momento eles terão que lidar com isso, mas agora o mais importante é colher os frutos da estratégia antirrecessão.

A Europa também começa a colher dados melhores em função de fortes programas governamentais como os incentivos alemães à compra de carros. Ilan avalia que Brasil e China, e outros países asiáticos, se recuperaram mais cedo e já demonstraram bons números no segundo trimestre. Bem atrás vêm os países do leste europeu que ainda estão mergulhados na recessão.
A Rússia teve uma queda de 10% do PIB no segundo tri. A Estônia, que a seleção derrotou ontem sem brilho, está também derrotada pela recessão de 16%.

Mesmo assim, está melhor que sua vizinha Letônia, que encolheu 20%. A Rússia enfrentou a queda do preço do petróleo e gás natural — e a alta desses preços ainda não permitiu sua recuperação, até porque a queda do preço do petróleo pegou suas empresas muito alavancadas.

A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, acha que o objetivo do Fed de manter a compra dos títulos é derrubar a curva de juros futuros. O mercado estava imaginando que a redução de liquidez começaria mais cedo para evitar os riscos inflacionários decorrentes da ampliação do déficit público.

— Os juros futuros é que têm mais impacto sobre os contratos firmados na economia real — explicou ela.

A economia americana já melhorou em função de programas como o “dinheiro por sucata” que recompra carros velhos. Começa a sair da recessão, mas o presidente do Fed, Ben Bernanke, não está interessado em entrar em nenhuma polêmica a curto prazo, nem correr o risco de ser acusado de abortar qualquer recuperação. Ele é candidato a permanecer no cargo, recebeu o apoio de inúmeros economistas, mas o presidente Barack Obama é que decidirá sobre isso no começo do ano que vem.

Portanto, entre um risco de médio prazo — que é a alta da inflação e o crescimento exponencial da dívida — e o risco de ser acusado de impedir a recuperação, Bernanke ontem deu o recado de que deixará o depois para depois. Sua primeira preocupação é manter o ritmo de recuperação da economia que pode resultar, segundo as previsões de economistas consultados pelo “Wall Street Journal”, em dois trimestres positivos neste final de ano.

PAINEL DA FOLHA

À espera de Lina

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/08/09

O governo pretende usar o tempo de que dispõe, até terça-feira, para tentar, no dizer de um ministro, ‘reverter’ o depoimento de Lina Maria Vieira à CCJ do Senado. Mas a oposição se preveniu: a sessão de ontem foi suspensa, e não encerrada, pelo presidente da comissão, Demóstenes Torres (DEM-GO). Isso significa que o quorum de terça estará garantido ainda que o governo tente esvaziar a audiência com a ex-secretária da Receita, que afirma ter recebido de Dilma Rousseff pedido para apressar investigação sobre empresas da família Sarney. Resta a tática de tentar desqualificar Lina. Ontem, o líder do governo, Romero Jucá, dizia que a audiência servirá para saber a ‘real razão’ de sua saída do cargo. A oposição usará como escudo seus 30 anos de serviço público.

Mudos - A governadora Wilma Faria (PMDB-RN) e o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) até agora não disseram palavra em defesa da ex da Receita Federal, que foi secretária da Fazenda de ambos, sempre elogiada.

Submundo - Enquanto o Conselho de Ética vai arquivando tudo, o PMDB continua a coletar informações contra adversários de Sarney, caso o acordão não vingue. Nessa frente opera o ex-senador Gilberto Miranda, que alega ter munição contra o tucano Sérgio Guerra e o petista Aloizio Mercadante, da época da CPI do Orçamento.

Bigodes - Parecia mais um discurso de Sarney, mas ontem quem estava sentado na Mesa Diretora do Senado prometendo lutar e resistir era o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya.

Chancela - Entre os atos secretos que a Mesa poderá validar hoje está o que deu ao braço direito de Sarney, Osvaldino Brito, cargo efetivo de secretário parlamentar. O caso é único. Dezenas de não-concursados já tentaram o mesmo na Justiça, sem sucesso.

Crônico 1 - A lista de ressalvas às contas de 2008 do Senado, contida no novo relatório de gestão, também aponta irregularidades cometidas na gestão Sarney (2009). O documento de 243 páginas está no TCU, que dará parecer final.

Crônico 2 - Foram analisados 679 casos de acúmulo de cargos, problemas ‘graves’ na folha de pagamento e estouro do limite anual de gastos com suprimento de fundos.

Fiadora - O novo foco de interesse do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul é o empréstimo de R$ 90 mil da assessora Walna Vilarins à governadora Yeda Crusius. A transação consta da declaração de IR de Vilarins, apontada pelos procuradores como suposta operadora de caixa-dois da campanha tucana.

Troco - Aliados de Yeda usaram reunião da Executiva Nacional tucana para reclamar da falta de apoio à governadora. Uma das próximas ações do PSDB gaúcho será procurar alguém que encampe pedido de afastamento do vice, Paulo Feijó (DEM), inimigo de Yeda, por suposta irregularidade em suas empresas.

Conforto - Mantida a greve na TV Cultura, o Sindicato dos Radialistas definiu que as assembleias continuarão a ser realizadas às 12h e às 16h, para que os participantes possam contornar o rodízio paulistano de veículos, classificado como ‘mais um atentado contra os trabalhadores’.

Portão - Na tarde de ontem, a Justiça concedeu liminar garantindo o acesso à sede da Cultura, que vinha sido bloqueado por piquetes. Manifestantes chegaram a riscar carros na frente da emissora.

Breu - O sinal da MTV no Amapá, domicílio eleitoral de Sarney, caiu anteontem durante a transmissão do Debate MTV, cujo teve foi a crise no Senado. A retransmissora, que pertence a um irmão do senador sarneysista Gilvam Borges, alegou queda de energia. Já a Companhia de Eletricidade do Amapá diz que não houve corte de luz na região.

Tiroteio

Estou ansioso para ver o Ministério Público Federal, no governo Lula, investigar as denúncias de Lina Vieira com o mesmo rigor demonstrado contra mim e Everardo Maciel.

De EDUARDO JORGE CALDAS sobre a investigação que enfrentou, quando secretário-geral da Presidência no governo FHC, por suspeita de ter pressionado a Receita a acelerar fiscalização em suas empresas.

Contraponto

Questão de perspectiva

Guido Mantega comandava ontem reunião do GAC (Grupo de Acompanhamento da Crise), que reúne ministros e empresários. Ao observar a composição da mesa, o titular da Fazenda brincou com os empresários:
- Às vezes a gente muda a configuração dos lugares. Quem está à direita num dia está à esquerda no outro.
- Viu, Mantega? Hoje eu estou à sua esquerda_ atalhou o presidente do Banco Central.
- Meirelles, isso é o que eu sempre quis. Veja só que paradoxo_ replicou Mantega.
Como o presidente do BC insistisse em dizer que estava à esquerda, o ministro da Fazenda concluiu:
- Daqui a pouco vão dizer que eu que sou ortodoxo!

COISAS DA POLÍTICA

A liberdade como um todo

Mauro Santayana

JORNAL DO BRASIL - 13/08/09

Em 1710, aos 13 anos, John Peter Zenger, nascido na Alemanha, emigrou para Nova York. Começou logo a trabalhar como aprendiz na única tipografia da cidade, que pertencia ao impressor William Bradford. Em 1726, graças a suas economias e competência técnica, montou a própria oficina. Em 1733, fundou o semanário New York Weekly Journal, associado aos cidadãos que se opunham ao novo governador geral da colônia, William Cosby, que, nomeado pelo rei George III, se empossara no ano anterior.

Cosby foi governante corrupto. Dobrou seus próprios vencimentos, pagos pelos cidadãos da colônia; fez acordos secretos que o beneficiavam, até mesmo com os índios; privilegiou ricos comerciantes, na administração tributária, em troca de propinas. Ao mesmo tempo foi tirânico contra os colonos nacionalistas, que já formavam o pequeno mas influente Country Party, e protetor escancarado do Court Party, da monarquia inglesa.

Eminentes intelectuais e políticos passaram a atacar o governador nas páginas do jornal de Zenger. Em novembro de 1734, o jornalista foi preso, por ordem do governador, e, acusado de sedição, ficou preso até agosto do ano seguinte, quando foi levado ao tribunal. Esse foi o primeiro processo promovido contra a liberdade de imprensa nos Estados Unidos. Seu advogado, Andrew Hamilton, de Filadélfia, era considerado um dos mais importantes profissionais de seu tempo. Ele defendeu a tese de que Zenger só seria réu do crime de sedição se fossem falsas as denúncias de que se fizera responsável como impressor do semanário. Foi o primeiro caso em que se invocou a exceção da verdade em defesa de um jornalista. O júri decidiu que Zenger não falseara os fatos e, portanto, não poderia ser incriminado.

Pouco antes de ser preso, e diante da perseguição que lhe movia o governador geral, o jornalista escreveu que “a supressão da liberdade de imprensa é seguida da perda da liberdade em geral. A liberdade de imprensa é parte essencial de todas as liberdades e preserva o seu todo”. Talvez nesse precedente se funde o respeito dos cidadãos por essa liberdade nos Estados Unidos.

A liberdade de imprensa não é a de uma ideologia, como supõem alguns bem intencionados militantes da esquerda, e outros, talvez não tão bem intencionados, militantes da direita. Ela não está só a serviço dos poderosos, nem apenas dos oprimidos. Ela é um instrumento da sociedade, composta de conservadores e empedernidos reacionários; de humanistas dispostos a morrer pelos homens de modo geral e pelos oprimidos, de forma particular. Ela é dos ricos e dos pobres, dos feios e dos belos, dos castos e dos devassos, dos trabalhadores#e dos vagabundos. É instrumento que se legitimará como bom ou mau, de acordo com os que o utilizem, ou os interesses que defenda. Assim como uma faca tanto serve para matar como para descascar laranjas, os meios de comunicação podem ser usados tanto em uma direção quanto na outra.

Os presidentes da Venezuela e do Equador – com suas razões respeitáveis – estão incomodados com os meios de comunicação que lhes são adversários, e falam em limitar a liberdade de imprensa. É certo que, na Venezuela, os senhores da mídia participaram diretamente de um golpe contra Chávez, eleito democraticamente, mas isso não o autoriza a limitar a liberdade. No Brasil, importante jornal está impedido de escrever sobre uma suspeita de atos de corrupção.

Como no caso de Zenger, aos acusados de cometer calúnia e difamação, deve caber a exceção da verdade. Se não puderem comprovar o que divulgarem, que enfrentem a lei penal, em todo o seu rigor. Não se pode, sob nenhum pretexto, admitir a censura prévia e, muito menos, criar legislação que venha a limitar a liberdade de informar e de opinar, consagrada em todas as constituições brasileiras.

Membros do governo Lula têm sussurrado ao presidente a intriga de que se arma contra ele o mesmo complô dos meios de comunicação que se articularam contra Vargas. Os tempos são outros e, mesmo que fossem os mesmos, há formas legais de resistência e de punição contra os eventuais caluniadores. Como disse, certa vez, Paulo Pinheiro Chagas, ao advertir Juscelino, a quem se pedia amordaçar Lacerda na televisão, é melhor o excesso do que a rolha. O excesso atinge um governo ou outro, uma pessoa ou outra; a rolha emudece a sociedade, desonra a nação e avilta a condição humana.

ANCELMO GÓIS

FATOR MARINA

O GLOBO - 13/08/09

A eventual candidatura de Marina Silva a presidente pelo PV parece animar católicos ligados ao PT. Frei Betto, por exemplo, diz que ainda não decidiu se vai apoiá-la. Mas acha positiva a candidatura:
– Ela vem politizar a campanha e obrigar os outros candidatos a debaterem a questão do desenvolvimento sustentável.
TAMBÉM...
O teólogo Leonardo Boff vai no mesmo tom:
– Marina me ligou e disse que a questão que quer suscitar é a da sustentabilidade e pôr no centro do debate a vida, a humanidade e a terra, o que nenhum dos partidos põe, nem o PT.
RODOVIARISMO SUJO
Veja como o País do transporte rodoviário polui. Estudo do Ministério do Meio Ambiente revela que a emissão de C0² por ônibus e caminhões pulou de 380 milhões de toneladas em 1994 para 580 milhões em 2007.
C0² é o gás que mais contribui para o aquecimento global.
DERIVATIVO ELEITORAL
Lula vai hoje a Goiás bater bumbo pela candidatura de Henrique Meirelles a governador. Mas um amigo diz ter ouvido do presidente do BC, em economês, a explicação de seus planos:
– Filiação não quer dizer candidatura. É uma opção (derivativo), pode ser exercida ou não...
Ah, bom!
PAREM AS MÁQUINAS
A Câmara de Caruaru, PE, aprovou moção do vereador Adolfo da Modinha para envio de pesar e condolências à família de... Michael Jackson.
CHAME O LADRÃO
Terça, um grupo de 50 delegados da Polícia Federal se reuniu num seminário no Hotel São Paulo Inn, no Centro da cidade, perto do Viaduto Santa Ifigênia.
No fim do evento, um dos delegados se deu conta de que tinham roubado seu laptop.
GOL NAS ALTURAS
A Gol atingiu ontem R$ 4,1 bilhões em valor de mercado e passou a concorrente TAM (R$ 3,9 bilhões).
A FORÇA DO FLA
Veja o poder econômico da marca Flamengo.
Desde que passou a fabricar as camisas oficiais do clube, o grupo Vulcabrás, dono da Olympikus, já precisou contratar, acredite, 1.080 novos funcionários, ampliou sua fábrica em 820m² e teve de comprar 250 equipamentos novos.
CRISE? QUE CRISE?
O lucro da SulAmérica no segundo trimestre cresceu mais de 50% em relação ao mesmo período de 2008.
O cofre cheio é decorrência de aumento nas vendas no período, quando a gigante ultrapassou a marca de 2 milhões de carros segurados e teve crescimento de 21,8% nas vendas de seguro saúde a pequenas e médias empresas.
PARREIRA E A COPA
Veja como Carlos Alberto Parreira ainda excede em prestígio lá fora.
O técnico vai trazer Brian McClair, diretor do Manchester United, o clubão tricampeão inglês, para a sexta edição do seu fórum internacional de futebol Footecon, dias 8 e 9 de dezembro, no Riocentro. O tema este ano será a Copa de 2014.

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Os que sabem

O GLOBO - 13/08/09

Já se disse que o mundo está nesse estado porque as únicas pessoas que sabem o que deve ser feito, os barbeiros e os motoristas de táxi, estão trabalhando em barbearias e dirigindo táxis em vez de nos governar. Barbeiros e motoristas de táxis têm a solução para tudo e é lamentável que não estejam em posições de comando, onde suas análises e receitas teriam consequências práticas. No Brasil, barbeiros e motoristas de táxis deveriam substituir governantes e políticos e decidirem os rumos da nação de acordo com as acuradas exposições que nos fazem da realidade nacional, mesmo sem serem solicitadas.

É claro que a substituição de políticos por barbeiros e motoristas de táxis poderia trazer uma contrapartida assustadora: a substituição de barbeiros e motoristas de táxi por políticos desempregados. Imagine-se num táxi dirigido pelo Sarney, espremido no banco de trás com toda a família dele, ou numa cadeira de barbeiro, sem possibilidade de fuga, obrigado a ouvir o Mão Santa falando sem parar enquanto corta seu cabelo – ou vendo o Collor se aproximar com aquele seu olhar furioso e uma navalha. Imagine-se numa corrida longa com o Suplicy na direção, cantando. Imagine a confusão no trânsito com a indecisão dos motoristas entre direita e esquerda, muitas vezes passando de um lado para o outro sem qualquer sinalização. Políticos substituindo motoristas de táxi e barbeiros aumentariam os engarrafamentos e os acidentes, inclusive os de orelhas cortadas sem querer. E no fim da corrida em táxi dirigido por políticos ainda haveria a questão do pagamento: o preço seria o que aparece no taxímetro mais um adicional por estresse, auxílio moradia, subsídio para alimentação, verba de representação, diária de viagem...

Apesar deste perigo, acho que vale a pena proporcionar aos barbeiros e motoristas de táxi a oportunidade de darem um jeito no Brasil e no mundo.

A teoria, e a certeza das suas convicções, eles já têm. E se a atual crise do sistema financeiro mundial nos ensinou alguma coisa é jamais confiar o que quer que seja nos profissionais da matéria. Os economistas falharam em tudo, das previsões às soluções. De agora em diante deve-se proibir os economistas de se meterem na economia. Deve-se dar vez aos amadores e aos palpiteiros. Que venham os leigos! Com os barbeiros e os motoristas de táxi à frente.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Tiraram o bode da sala”
ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB-AM), APÓS A REPRESENTAÇÃO CONTRA ELE SER ARQUIVADA NO SENADO

JOSÉ SERRA QUER MARINA SILVA COMO VICE
O governador tucano de São Paulo, José Serra, articula com o Partido Verde a possibilidade de a senadora Marina Silva (AC) compor sua chapa, como candidata a vice-presidente, caso ela se filie mesmo ao PV. A aliança PSDB-PV chegou a ser discutida há meses, com Fernando Gabeira de vice, mas o sonho de Serra era ter alguém como Marina: mulher, negra, de origem pobre e heroína da causa ambiental.
POR QUE MARINA
Dilma disse que quanto mais mulher, melhor. O PV e José Serra também acham isso, por isso buscam Marina Silva.
ESPETO
O governo do Acre finalmente tirou o nome da senadora Marina Silva da Biblioteca da Floresta. A lei proíbe vivos batizando prédios públicos.
ROYAL FLUSH
Consta que a ex-secretária da Receita, Lina Vieira, tem na manga uma prova irrefutável do encontro com a ministra Dilma, que nega.
DESEMPREGADO
Felizmente fica só na grande semelhança o presidente deposto Ze (laya), com o senador Zé (Sarney) jovem. Já imaginou se fosse filho?
MARINA NO PV DEVOLVE CIRO À DISPUTA FEDERAL
Com a provável candidatura da senadora Marina Silva à presidência pelo PV, ganha força no Planalto a ideia de recolocar Ciro Gomes (PSB) no tabuleiro federal. Ele, acreditam os petistas, poderia fazer estrago para a candidatura de José Serra (PSDB), a exemplo do que Marina fará no PT. Com Ciro fora da disputa pelo governo de São Paulo, o favorito pelo PT é o prefeito de Osasco, Emídio de Souza.
REENCONTRO
Na visita que fará a Lima, o presidente Lula vai reencontrar um velho amigo e entusiasta do governo: o embaixador do Brasil, Jorge Taunay.
VAMOS DANÇAR!
As más línguas da internet dizem que a cantora britânica de pop dance Lady GaGa já tem seu Mr.GaGa. É o senador Paulo Duque.
ABRINDO O CARTÃO
O Banco Central anuncia este mês mudanças nos cartões de crédito: estímulo à concorrência e diferenciação de preço no comércio.
GUSHI NO PEDAÇO
O ex-ministro Luiz Gushiken (Comunicação Social) reapareceu ontem em Brasília. Tomou café da manhã no hotel Meliá com o advogado Ari Bergher, o empresário Paulo Marinho, ex-diretor do Jornal do Brasil, e Carlos Daltro, funcionário da empreiteira OAS. A conversa foi longa.
PALANQUE POTIGUAR
Apesar da programação inclemente, a ministra Dilma Rousseff aprovou o trabalho do líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), como coordenador de sua campanha presidencial no Rio Grande do Norte
CABRAL SABOTA A ANAC...

O governador do Rio, Sérgio Cabral, continua sabotando decisões da Agencia Nacional de Aviação Civil sobre o aeroporto Santos Dumont – na ânsia de valorizar o Galeão, para estranhamente vendê-lo depois.
...E DESRESPEITA O CIDADÃO
Sérgio Cabral todo dia inventa algo. Proibiu voos sobre rotas usadas desde a construção do Santos Dumont, depois acusa a Infraero de não ter “licença ambiental”, ofendendo a Anac e desrespeitando o cidadão.
BESTEIROL NA CÂMARA
A Câmara fará “audiência pública” sobre a utilização de bases militares da Colômbia pelos EUA. Bobagem: trata-se de um ato de soberania e a tradição do Brasil é não se meter em assuntos de outros países.
TRANSFERÊNCIA DE ÔNUS
O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) confia na aprovação do projeto que fará o governo federal absorver 12 mil servidores, cuja tutela deveria ter assumido por dez anos após a transformação do Território em Estado de Rondônia. Atualmente custam R$ 30 milhões por mês.
FATO CONSUMADO
Rogério Abdalla tentou ser presidente da Infraero no grito, mas não tinha nem o apoio que alegava, no PMDB. Afinal, Murilo Marques Barboza, indicado de Nelson Jobim (Defesa), será empossado no cargo hoje, contra a vontade da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
DIÁLOGO INSTITUCIONAL
Apontado como dono da chave das soluções no Banco do Nordeste, o deputado José Guimarães (PT-CE) nega que tenha ingerência no BNB; apenas “dialogo institucional” como coordenador da bancada cearense.
QUASE, QUASE
Por pouco, muito pouco, pouco mesmo, esta sexta-feira não caiu num dia 13. E de agosto.

PODER SEM PUDOR
BRIOSO CACHACEIRO
No início dos anos 1960, o então tenente-coronel Paulo Cesar Castelo Branco tinha no batalhão um corneteiro, o “Brioso”, alcoólatra e pau-mandado de um oficial de tradicional família cearense, das que resolvia tudo a bala. Castelo escondia a garrafa de cachaça num dia, repunha no outro, até que o corneteiro, que jamais desafinou, reclamou que “suas coisas sumiam” no serviço do tenente. Castelo foi rápido no gatilho:
– Brioso, estou preocupado. Tem um “cabra” rondando minha casa.
– Meu tenente, onde o senhor quer que eu enterre?, respondeu de chofre o corneteiro, briosamente esquecido do sumiço da cachaça.

QUINTA NOS JORNAIS

- Globo: Ex-secretária que contesta Dilma vai depor no Senado

- Folha: BB passa Itaú e é maior banco do país

- Estadão: Líder tucano é poupado após acordo no Senado

- JB: Segurança particular é maior do que polícia

- Correio: Efeitos da gripe suína: Grávidas recebem licença/deputados pedem Tamiflu/risco em hospitais lotados

- Valor: Mudança contábil eleva patrimônio de empresas

- Estado de Minas: Perderam, bandidos...

- Jornal do Commercio: TCE manda baixar o preço da limpeza do Recife