terça-feira, junho 02, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE
SEÇÃO » Direto ao Ponto

Mãe do PAC protagoniza o parto mais demorado de todos os tempos

2 de junho de 2009

A Dilma Rousseff dona-de-casa talvez decida sem hesitações quando se reúne com a cozinheira para combinar o  cardápio da semana.  A Dilma Rousseff ministra talvez esbanje agilidade na hora de designar funcionários da Casa Civil para serviços complicados  ─ a montagem de um dossiê, por exemplo. A Dilma Rousseff mãe do PAC ameaça implodir a imagem de rápida no gatilho que amigos e companheiros tentam vender desde janeiro de 2003. Dois anos depois da gravidez anunciada pelo presidente Lula, permaneciam no ventre 97% das 10.914 obras agrupadas no Plano de Aceleração do Crescimento.  Só 319 filhotes choravam no berço ou já engatinhavam. 

Se é que será consumado, trata-se do parto mais demorado de todos os tempos: pelo balanço divulgado no fim de semana pelo jornal O Estado de S. Paulo, é mais fácil encontrar um entrevistado por institutos de pesquisa que um  trabalhador dando duro num canteiro de obras do PAC.  Dos R$ 646 bilhões separados para antecipar-se o futuro do colosso tropical, só R$ 47,7 bilhões foram liberados. Essa é a soma que tirou do papel os esquálidos 3%.

Em dezembro, 23% das obras estavam “em andamento”.  O restante continuava na linha impalpável que separa a ficção dea realidade. Ali se aglomeram boas intenções, promessas inviáveis e fantasias caça-votos ─ além de urgências sempre empurradas para o fim da fila ou irresponsavelmente omitidas. Nessa zona de sombra descansam, por exemplo, os aeroportos concebidos durante o apagão, o trem-bala entre o Rio e São Paulo, os presídios de segurança máxima que ficariam prontos até 2006, a ressurreição das ferrovias assassinadas, a reconstrução das malha rodoviária federal devastada pela inépcia ou a reinvenção do transporte fluvial.

Abstraídos os projetos patrocinados por empresas estatais, comprovou o Estadão, o que resta é quase nada. Tanto basta para que siga em frente, ao som da discurseira do padrinho, a candidatura da mãe do que não há.

DIA DAS PUTAS


 NO DIA INTERNACIONAL DAS PUTAS,  ESSE BLOG HOMENAGEIA TODAS AS SENADORAS, GOVERNADORAS E DEPUTADAS. ESPECIALMENTE AS PETISTAS. ESSAS SÃO AS PUTAS COM A MAIS ALTA QUALIFICAÇÃO NO PAÍS.

AS VERDADEIRAS PROFISSIONAIS
WILMA DE FARIAS-RN   E   MARTA SUPLICY-SP

UMA MENÇÃO MUITA ESPECIAL PARA A PUTA-MOR, MARTA SUPLICY

O FIM DA FARRA DAS LICENÇAS

EDITORIAL

O Estado de S. Paulo - 02/06/2009
 
A administração estadual conseguiu reduzir para metade as faltas do funcionalismo ao trabalho no primeiro ano de vigência da Lei Complementar nº 1041, que fixou novas normas para o absenteísmo no serviço público por motivo de consultas médicas, exames ou tratamento de saúde. Dados da Secretaria de Estado de Gestão Pública mostram que, entre abril de 2008 e março de 2009, houve 370.358 faltas nas Secretarias da Educação, Saúde, Administração Penitenciária e Fazenda, onde ocorrem mais de 90% das ausências no serviço público estadual. Nos 12 meses anteriores, foram registradas 743.625 faltas. 

As novas regras limitam a seis o número de faltas para consultas médicas que podem ser justificadas durante o ano, sem prejuízo dos vencimentos, e começam a conter em boa parte os abusos. Dados do governo estadual acusam um total de R$ 21,6 milhões em salários pagos aos faltantes, entre abril de 2008 e março deste ano. Nos 12 meses anteriores, o total chegou a R$ 50,5 milhões. 

Nos últimos 12 meses, a maior queda no número de faltas ocorreu na Secretaria da Educação (52%), seguida da Administração Penitenciária (41,15%), Saúde (32,5%) e Fazenda (19%). 

Em 2007, outro levantamento da Secretaria de Gestão Pública mostrava que todos os dias, em média, 29,4 mil dos 230 mil professores da rede estadual de ensino faltavam, deixando seus alunos sem aulas. Das 188,4 mil licenças requeridas naquele ano, 139 mil foram para servidores da Secretaria da Educação, que concentra 50% do funcionalismo do Executivo estadual. As regras que vigoravam então permitiam que o funcionário tivesse até 100 faltas, sendo que o ano letivo era de 200 dias.Também não havia um tratamento rigoroso para as ausências parciais - quando o servidor deixa o local de trabalho por algum motivo e retorna horas depois. 

Na exposição de motivos do projeto de lei, o governador José Serra dizia que "a inexistência de limites para ausências não previstas, notadamente as relacionadas a consultas e tratamentos médicos, possibilita ao servidor, no curso de um ano, mais faltar do que cumprir sua jornada de trabalho". 

Agora, o servidor pode se ausentar, sem prejuízo de seus vencimentos, no máximo seis dias por ano, limitados a um dia por mês. A lei fixa ainda em três horas a ausência parcial para consultas, exames e sessões de tratamento a todos os servidores da administração direta e autarquias, com jornada de trabalho de 40 horas semanais ou, no caso de professores, de, no mínimo, 35 horas-aula semanais. 

A lei manteve também a obrigatoriedade de o servidor apresentar atestado emitido pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe) ou órgãos e serviços vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS), laboratórios regularmente constituídos ou pelos profissionais especificados (médico, dentista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo e terapeuta ocupacional), desde que registrados nos respectivos conselhos de classe.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Isabel Azevedo Noronha, alega que a lei acaba punindo servidores portadores de doenças crônicas. A Apeoesp estaria impetrando mandados de segurança na Justiça para garantir a dispensa de professores que sofrem de câncer, por exemplo.

Mas, de acordo com a Secretaria de Gestão Pública, a lei prevê licença para tratamento de saúde, que permite aos servidores se afastarem do trabalho mediante perícia do Departamento de Perícias Médicas do Estado. Não há limite, nesses casos, para o número de faltas. Também é possível se ausentar por motivos de doença na família. 

O que se pretende, segundo o governo, é apenas coibir os excessos cometidos por uma parcela dos servidores. O fato é que os usuários dos serviços públicos, isto é, os contribuintes, só têm a ganhar com as novas regras.

ALI KAMEL

O TJ e as cotas raciais


O Globo - 02/06/2009
 

Finalmente alguma instância do Judiciário brasileiro manifestou-se sobre a constitucionalidade da racialização da nossa sociedade, cuja principal manifestação é a política de cotas raciais nas universidades. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro considerou liminarmente inconstitucional a lei 5.346, que reserva 45% das vagas para alunos "carentes" que sejam ou negros ou indígenas ou estudantes de escolas públicas ou deficientes físicos ou filhos de policiais civis, militares, bombeiros e agentes penitenciários mortos ou incapacitados em serviço. À primeira vista, parece uma lei razoável, porque beneficia apenas os pobres. 

Mas é pura ilusão. A lei deixou para as universidades decidirem quem é pobre, e elas decidiram: pobre é aquele com renda familiar per capita igual ou inferior a R$960 brutos. Consultei o IBGE: nesta condição, estão 75% da população do Rio de Janeiro, quase todo mundo, portanto. Os especialistas que adotam linhas de pobreza monetárias costumam estabelecer o corte de meio salário mínimo, R$232,50, para definir quem é pobre. Ou seja, o valor escolhido pelas universidades supera esse valor em mais de quatro vezes. Pense numa família de quatro pessoas, pai, mãe e um casal de filhos: se a renda da família for de R$3.840, eles terão direito a cotas, mesmo esse rendimento sendo típico de classe média. Quem se beneficiará das cotas, então? Aqueles que não precisam delas. Os pobres de qualquer cor, estes continuarão no último lugar da fila, porque, sendo menos preparados, disputarão as vagas com alunos de famílias com mais dinheiro e, portanto, com mais acesso à educação. 

Mesmo que a lei beneficiasse de fato os pobres, do jeito que foi elaborada, continuaria a ser uma confissão do fracasso do Estado brasileiro. Ao beneficiar alunos da escola pública, o Estado admite, com todas as letras, que é incompetente na obrigação de dar ensino de qualidade e, por isso, adota uma medida compensatória: "Eu sei que ensino mal a vocês, mas não se preocupem, porque eu vou ajudá-los a entrar mais facilmente na universidade." Ao beneficiar os filhos de agentes de segurança mortos ou incapacitados em serviço, "desde que carentes", está também confessando: "Eu pago muito mal a vocês, que mereciam salários dignos, mas não se preocupem, seus filhos, caso vocês morram, terão uma ajudinha para entrar numa boa faculdade." 

Isso é falta de pudor. 

Fez muito bem o Tribunal de Justiça ao declarar a inconstitucionalidade da lei (mesmo que, após um recurso ontem, tenha esclarecido que a medida não vale para o vestibular em andamento). Eu sei, os desembargadores se ativeram à Constituição Estadual, mas esta ecoa a Constituição Federal, e ela é claríssima em dois momentos. No artigo 3º, inciso IV, diz que é objetivo fundamental da República Federativa do Brasil "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". O inciso III do artigo 19º diz que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios "criar distinção entre brasileiros ou preferências entre si". A Constituição do Estado do Rio de Janeiro no seu artigo 9º, parágrafo primeiro, determina que "ninguém será discriminado, prejudicado ou privilegiado em razão de nascimento, idade, etnia, raça, cor, sexo, estado civil, trabalho rural ou urbano, religião, convicções políticas ou filosóficas, deficiência física ou mental, por ter cumprido pena nem por qualquer particularidade ou condição". 

Precisa ser mais claro? 

Precisa. Porque os arautos da racialização dizem que o artigo 145 em seu parágrafo 1º diz que "sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte". Para eles, a Constituição estaria, aqui, admitindo tratar os cidadãos de forma desigual, para beneficiar os mais pobres. Na busca pela igualdade, dizem, o Estado brasileiro estaria obrigado a tratar desigualmente os desiguais. E as cotas seriam expressão dessa necessidade. Da mesma forma, os racialistas sempre dizem que há várias leis protegendo os deficientes físicos, sem que ninguém diga que isso contraria o princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei. 

Fumaça para embaralhar os argumentos. 

Não sou jurista, mas vejo nos dois casos exemplos de previsões legais que favorecem, indistintamente, todos os cidadãos, ricos e pobres, deficientes ou não. Por quê? Porque ninguém está livre do futuro. Se um pobre ganhar dinheiro, pagará mais imposto. A lei não diz que a sua condição de pobre hoje o poupará para sempre de pagar impostos mais altos. O mesmo se dá, em sentido contrário, se o rico ficar pobre. Da mesma forma, nenhum cidadão está livre de se tornar deficiente, e, se isso vier a acontecer, estará protegido pela lei: sua condição, hoje, de homem sem problemas físicos, não o impedirá de se beneficiar da lei, caso venha a sofrer um acidente no futuro. 

Com a cor da pele, isso não se dá. Brancos, pardos, morenos, amarelos jamais se beneficiarão de cotas para negros, porque não podem mudar de cor. A cor da pele, algo imutável, dá aos negros um privilégio que a Constituição proíbe. Com o efeito colateral de fomentar o ódio racial naqueles que ficam de fora. 

Qual a solução? Uma lei bem simples, que beneficie os realmente pobres, de qualquer cor, filhos de quem quer que sejam, deficientes ou não. Fazendo isso, os negros serão os mais beneficiados, porque em sua maior parte são pobres, mas os brancos pobres, os amarelos pobres, os morenos pobres não ficarão a ver navios. 

CELSO MING

Consumir ou não consumir


O Estado de S. Paulo - 02/06/2009
 

 

Ontem, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner, advertiu os chineses em Pequim de que têm de mudar seu paradigma, passando a focar mais fortemente o consumo interno e não tanto as exportações.

Enquanto isso, em Nova York, a General Motors Corporation (GM) pediu concordata reconhecendo que tinha de fechar 14 fábricas, 3 centros de autopeças, 1,1 mil concessionárias e 21 mil postos de trabalho.

Os dois fatos (a advertência de Geithner e a concordata da GM) guardam entre si uma certa relação e alta dose de contradição entre os objetivos de política econômica, tal como prognosticados pelo secretário do Tesouro.

Nos últimos 15 anos, Estados Unidos e China viveram um arranjo baseado em forte simbiose. Os Estados Unidos puseram-se a consumir produtos manufaturados chineses e estes a aplicar seu resultado comercial largamente superavitário em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Ou seja, os chineses aplicaram-se a refinanciar o consumo americano que, naturalmente, continha alta proporção de produtos chineses.

Do ponto de vista macroeconômico, os dois megadéficits americanos, o orçamentário e o comercial, tiveram como contrapartida enormes superávits comerciais da China. É um jogo que até agora funcionou, mas que já não pode ser prolongado indefinidamente.

Não é mais sustentável para os Estados Unidos porque o rombo fiscal (diferença entre receitas e despesas do setor público federal) vai para US$ 1,8 trilhão neste ano. Como já aparecem sinais de que não há a mesma disposição global (e não só chinesa) de continuar a cobrir o déficit americano, os Estados Unidos vão ter de reequilibrar suas contas. Isso equivale a consumir menos, poupar mais e dispensar financiamento externo.

Do ponto de vista da China, esse arranjo não é sustentável, entre outros motivos porque não é possível seguir aumentando as reservas externas indefinidamente, que hoje estão perto dos US$ 2 trilhões. E se é para deixar de acumular reservas, a China precisa consumir mais e poupar menos, dando razão a Geithner.

A concordata da GM entra na história na medida em que está sendo feita para salvar a empresa no pressuposto de que, depois de quase US$ 50 bilhões em injeção de dinheiro público americano, redução do passivo e menos encargos sociais, possa voltar aos velhos tempos. O recorde de vendas do mercado americano de veículos, de 2007, é pouco superior a 17 milhões (hoje elas não passam de 10 milhões ao ano).

O presidente Obama está dizendo que, além de poupar mais, o americano deve rodar em veículos menores e menos beberrões. Se têm de conter mais e consumir menos, não é tão certo que o consumidor americano possa ajudar na recuperação da GM, mesmo que esta venha a dar ênfase aos carros compactos e mais econômicos.

O consumidor americano já está atolado em dívidas, vê-se obrigado a conformar-se com salário mais baixo, seu emprego está ameaçado, sua casa não para de perder preço e sua aposentadoria não será o que imaginava no início da carreira profissional.

Enfim, o apelo de Obama para que o consumidor aperte os cintos faz todo o sentido. Mas esse quadro não ajuda em nada a indústria americana (e não só as montadoras) a recuperar mercado e capacidade de vendas.

Confira

Número um - Os números confirmam que a China é o maior importador do Brasil. Nos primeiros cinco meses de 2008, importou 7,9% do total, e os Estados Unidos ficaram com 14,2%. Neste ano, os números são, respectivamente, 13,9% e 10,8%.

GOSTOSO- PELO SISTEMA DE COTAS DO BLOG


AÍ MULHERADA: UM GATO PARA VOCES

CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR

BENJAMIN STEINBRUCH

Oportunidade

Folha de S. Paulo - 02/06/2009
 


É preciso repelir a ideia de que eventos como a Copa trazem apenas gastos excessivos para um país como o Brasil

AMIGOS QUE assistiram àquela desastrosa final da Copa do Mundo de 1998, na França, contam que muitos torcedores tiveram de voltar de Saint-Denis ao centro de Paris de carona ou a pé.
Várias linhas do metrô mantiveram a rotina e fecharam à 1h, como se nada de anormal estivesse ocorrendo naquela noite na cidade. E os táxis sumiram em meio à balbúrdia das comemorações dos franceses.
Promover uma Copa é um enorme desafio. Mesmo em países como a França ocorrem imprevistos como esse. A Copa de 2014, porém, será uma rara oportunidade para o Brasil, que deve ser agarrada com as duas mãos.
No domingo, a Fifa escolheu as 12 cidades-sede do Mundial no Brasil.
Com isso, foi dada a largada para os investimentos da Copa. Ao contrário do que poderia indicar o senso comum, a atual crise econômica não complica a organização da Copa. O evento levará o país a fazer compulsoriamente investimentos que há muitos anos já deveriam ter sido feitos, mas que, na atual situação, vão ajudar a combater a crise. Não é razoável, só para citar dois exemplos, que não haja um trem-bala entre São Paulo e Rio ou um metrô do centro de São Paulo para o aeroporto de Cumbica.
Um evento como a Copa abre ampla possibilidade de investimentos em parcerias público-privadas. O Pan-Americano do Rio, em 2007, muito mais modesto que a Copa, gerou movimentação de recursos de R$ 10,2 bilhões na economia, segundo estudo da Fipe. Desse total, R$ 3,5 bilhões foram aportados pelos governos, e R$ 6,7 bilhões, por empresas. Ou seja, o setor privado investiu quase R$ 2 para cada real investido pela área pública.
O monumental Maracanã foi construído em apenas 23 meses, às vésperas da Copa de 1950, e é até hoje largamente utilizado. Mais importantes que os estádios, porém, são as demais obras que ficarão para o país, como rodovias, ferrovias, sistemas de comunicação, hotéis e até hospitais. Os próprios estádios podem contemplar empreendimentos integrados, com shopping centers, arenas para shows, hotéis e feiras, para que não virem elefantes brancos depois da Copa. E também para que se evite uma repetição do Pan, quando os custos finais dos estádios acabaram "no colo" do governo, cuja tarefa primordial é cuidar da infraestrutura.
Meio milhão de turistas e 20 mil jornalistas virão ao país em 2014 e visitarão as diversas regiões, com impacto incalculável para o futuro do turismo no país. O orçamento da Copa ainda não está definido. Mas, se os gastos forem semelhantes aos da Alemanha, em 2006, o país investirá R$ 21 bilhões. O sucesso dessa empreitada dependerá do trabalho de um tocador de obras que, com uma pequena equipe e muita vontade, terá de cobrar prazos e propor substituições em caso de atrasos ou desvios financeiros.
Esses exigem combate feroz, por meio de fiscalização independente e implacável. Além disso, terá de haver um ambicioso plano de segurança, que use a força policial, mas também o marketing. Nessa área, a experiência do Pan será útil.
Cumpre repelir, desde já, a ideia de que promoções internacionais de grande porte, como a Copa, trazem apenas gastos excessivos para um país como o Brasil. Desde que haja controle rigoroso, esses investimentos serão extremamente úteis. Vão gerar empregos em diversos setores nos próximos cinco anos, criar conforto para a sociedade e fortalecer a autoestima e a posição de potência do Brasil. Não apenas no futebol.

MERVAL PEREIRA

Lula faz a diferença


O Globo - 02/06/2009
 

As pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias, da CNT/Sensus e do Datafolha, têm boas notícias para todos, dependendo da leitura que se faça. O crescimento da candidatura da ministra Dilma Rousseff a coloca como uma candidata consolidada, não fossem os problemas de saúde, que continuam sendo uma barreira para que o PT e os partidos aliados do governo fechem acordos definitivos. 

Mas o fato de a candidata de Lula ainda estar abaixo do nível que se convencionou ser o patamar básico do petismo, de cerca de 30% do eleitorado, indica que ela é uma candidata difícil de carregar. A ministra Dilma, apesar de toda a exposição dos últimos dois anos, reforçada pelo clima de consternação popular em torno de sua doença, está em uma faixa entre 16% e 23%, dependendo do instituto e de sua metodologia. 

Os analistas da oposição não duvidam que ela chegue, porém, ao patamar de 30% até o fim do ano, começando a campanha eleitoral formal em 2010 em boa posição, a não ser que a doença a impeça de se empenhar numa campanha presidencial tão desgastante. 

Na verdade, a dianteira do governador de São Paulo, José Serra, se mantém mais ou menos inalterada, e ele ainda tem margem de manobra à frente, pois, segundo a pesquisa Sensus, ele é conhecido por 52% dos entrevistados, tendo ainda campo para crescer durante a campanha. 

Ciro Gomes e Dilma Rousseff são conhecidos por 36,1% e 32,8% respectivamente, o que demonstra primeiro que ambos têm chance de ampliar seu nível de conhecimento, e que a ministra Dilma, embora nunca tenha sido candidata a nada, está mais popular que Ciro e que o governador de Minas, Aécio Neves, que tem o menor nível de conhecimento de todos, 26,1%. 

Dilma está com 16% na pesquisa Datafolha. Cresceu cinco pontos de março para cá. A diferença entre ela e José Serra (PSDB) diminuiu de 30 para 22 pontos. Serra ficou com os mesmos 38% que tinha em março de 2008, e Dilma não passava de 3%. No Sensus, Serra tem 40,4% das intenções de voto, contra 23,5% de Dilma. 

A oposição espera que as viagens de seus dois presidenciáveis, os governadores de José Serra e Aécio Neves, possam neutralizar a exposição da ministra Dilma Rousseff. 

Na sexta-feira, eles vão juntos a Foz do Iguaçu para uma reunião sobre agricultura. Serra vai a Belo Horizonte para conversar antes com o governador Aécio. Mais adiante, os dois vão a Fortaleza, e a Belém do Pará, em novos encontros regionais. 

É majoritária a opinião no PSDB de que o partido tem que usar essas movimentações para marcar presença, mas o governador Serra continua achando que não tem que fazer nada, e reafirma a estratégia de se dedicar ao governo de São Paulo para só pensar no assunto no próximo ano. 

Ao mesmo tempo em que aparece à frente nas pesquisas para a Presidência, Serra também melhora sua avaliação junto ao seu eleitorado primário, o de São Paulo, onde as pesquisas mostram uma aprovação ascendente. 

A oposição admite que sua margem de ação, de exposição, é mais restrita que a do governo. Assim como os partidos aliados do governo, também a oposição acompanha o processo de tratamento de Dilma, aguardando sinais sobre sua real capacidade de recuperação para uma campanha política acirrada a que não está acostumada. 

O fato é que a doença no mínimo atrasou o processo, na direção contrária do que Lula queria, que era chegar agora ao meio do ano com a candidatura dela consolidada, sem contestação no PT e entre os aliados, já montando chapas regionais. 

Agora, está todo mundo com pé atrás. O processo ficou congelado, e os aliados estão em estado de alerta, enviando sinais para todos os lados. 

O presidente Lula tem dito que só se preocupa com a união efetiva de Serra com Aécio, mas, até o momento, não há sinais de que haja mudança na disposição do governador de Minas de fazer parte da chapa dos tucanos como candidato a vice-presidente. Mas essa hipótese já foi mais inviável do que é hoje. 

O PMDB tem enviado sinais para a oposição, e há três situações regionais que, bem resolvidas, podem jogar o partido na oposição. 

Na Bahia, o ministro Geddel Vieira Lima precisa do apoio do PSDB contra o governador petista Jaques Wagner. O problema que existe lá é Paulo Souto, que é o único democrata que tem chances de se eleger governador. 

No Paraná, o atual governador, Roberto Requião, pode compor uma chapa para o Senado com a oposição. Em Minas, há que se resolver a situação do ministro Hélio Costa, que quer disputar o governo do estado, mas se defronta com forças políticas importantes no PT - como o ex-prefeito Fernando Pimentel e o ministro Patrus Ananias -, mas também não tem grandes chances no PSDB, onde o governador Aécio Neves quer fazer seu vice, Antonio Anastasia, seu sucessor. 

Esse conjunto de fatores, junto com as pesquisas, vai ser colocado na mesa em setembro, quando o PSDB deve definir seu candidato. 

O único dado novo que atrapalha a análise da oposição é a popularidade de Lula se manter em patamar tão elevado durante uma crise tão severa quanto a que o mundo está atravessando. 

Na última rodada, divulgada em março, 76,2% dos brasileiros aprovavam o desempenho dele, contra 19,9% que desaprovavam. Agora, a aprovação subiu para 81,5% contra 15,7%. O recorde de aprovação de Lula foi em janeiro deste ano, quando alcançou 84%. 

O fato de Lula continuar tendo uma popularidade em torno de 80%, e ser o nome preferido quando colocado em uma lista de candidatos junto com Serra e Dilma, indica sua força eleitoral e coloca uma incógnita para a oposição. 

Como atuar em uma campanha para substituir um presidente tão popular e com um governo tão bem avaliado pela grande maioria do eleitorado?

BRASÍLIA - DF

Loucos por dinheiro


Correio Braziliense - 02/06/2009
 

Depois de quedas sucessivas na arrecadação pública, o governo passou a ver com bons olhos e quer votar em breve o projeto do deputado José Mentor (PT-SP), que concede incentivos a brasileiros dispostos a legalizar e repatriar dinheiro guardado no exterior e não declarado à Receita Federal. A proposta extingue as punições previstas para os crimes de remessa ilegal de divisas e ainda fixa alíquotas de Imposto de Renda bem camaradas: 6% para quem quiser apenas legalizar os recursos e deixar lá fora e 3% para a repatriação. Essas alíquotas podem mudar. 

***
O interesse do governo nessa camaradagem toda é mudar o perfil do capital que se investe aqui. Com a queda dos juros, tem gente na área econômica com muito medo de que o Brasil se torne berço do capital apenas especulativo. E, com o projeto, o que for repatriado terá que ficar pelo menos dois anos investido no Brasil. Calcula-se em R$ 150 bilhões o total mantido por brasileiros lá fora. Não é nada, não é nada, dizem os técnicos do governo, só o imposto cobrado dessa fortuna será alguma coisa a mais para turbinar o PAC em 2010.


Continhas

Ao analisar os números da pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem, os governistas concluíram que a vida da candidata Dilma Rousseff não será tão fácil assim. Ela tem consolidado quase o mesmo número de votos de José Serra, no quesito “único em quem votaria”. Mas o percentual daqueles que dizem não votar nela, ou seja, a rejeição, é mais alto do que o de Serra ou o de Aécio Neves: 32,4% dizem não votar em Dilma, enquanto 35,1% afirmam que poderiam votar. No caso dos governadores de São Paulo e Minas Gerais, essa rejeição está, respectivamente, em 25,9% e 28,9%, ou seja, abaixo dos 30%. E aqueles que dizem poder votar num ou noutro são 43%. Esse foi o ponto da pesquisa que o tucanato mais comemorou. Tanto em Minas quanto em São Paulo. 

Fogo amigo

Saiu da lavra de Virgílio Guimarães (PT-MG) um pedido para que o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, a secretária da Receita Federal, Lina Vieira, e um representante do Conselho de Fazenda (Confaz) compareçam à Comissão de Finanças e Tributação para responder sobre a gestão da empresa e a engenharia que permitiu à companhia pagar menos impostos. O requerimento foi retirado de pauta na semana passada e volta à baila nesta quarta-feira por ordem do presidente da comissão, deputado Cláudio Vignatti (SC), também do PT. 

O favorito

Em pé de guerra com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, a bancada ruralista tentará hoje convocá-lo à Comissão de Agricultura da Câmara para justificar suas declarações da semana passada contra os produtores rurais. Como os reis do gado têm folgada maioria nesse plenário, a aprovação do pedido é dado como pule de dez. 

Lupa

O Tribunal de Contas da União (TCU) vai passar um pente-fino sobre a concessão de certificados a entidades filantrópicas pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Entre os alvos da investigação estão cerca de 7 mil certificações que haviam sido dadas a organizações beneficentes em dívida com a Previdência. 

No cafezinho

 
 

Telemarketing/ Autor da emenda do terceiro mandato, o deputado Jackson Barreto (foto), do PMDB de Sergipe, montou ontem uma espécie de central telefônica em seu gabinete. Em plena segunda-feira, seus assessores passaram o dia tentando encontrar parlamentares que se dispusessem a assinar a sua proposta. Nem os oposicionistas, proibidos de assinar o texto, escaparam do assédio. 

In memorian I/ A Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília faz hoje uma apresentação especial em homenagem ao maestro Sílvio Barbato e à cantora Juliana de Aquino, ambos passageiros do voo 447 da Air France, que desapareceu no Oceano Atlântico rumo a Paris. 

In memorian II/ O presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, vai reunir todo o alto comando tucano amanhã, em Brasília, para lançar a Medalha Professora Ruth Cardoso, dentro das comemorações dos 10 anos do PSDB Mulher. A comenda será entregue a partir de 2010 a homens e mulheres que se destacarem na erradicação da pobreza e nas conquistas do gênero feminino. Está prevista a presença de governadores tucanos, o do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), que foi líder do governo FHC no Congresso. No dia 24, completa um ano o falecimento de Ruth Cardoso. 

Uruca/ O senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO) avisou que não estará na abertura da CPI da Petrobras, da qual é titular. Ele está em São Paulo, no estaleiro, por conta de uma hérnia de disco. Não sabe sequer quando volta. Tem gente dizendo que foi olho grande de outros interessados na vaga. Eu, hein. 

LUIZ GARCIA

Solução preguiçosa


O Globo - 02/06/2009
 

Existe uma quase unanimidade no Brasil a favor das cotas. Elas seriam o melhor remédio para compensar as desigualdades sociais. Surgiram para abrir as portas das universidades a jovens negros. 

É solução curiosa: pula por cima do problema real das deficiências do sistema público de ensino básico e procura compensá-las abrindo as portas do ensino superior para o grupo mais numeroso das vítimas dessas deficiências. Concentrar esforços na melhoria do sistema, nem pensar: dá muito trabalho, demora muito. 

Assim, desde que o sistema foi instituído, não se tem notícia de qualquer campanha ou ação oficial para melhorar as escolas públicas municipais e estaduais. As cotas resolvem aparentemente o problema; melhor, ignoram que ele exista. E parece haver, entre políticos, educadores e cientistas sociais, uma quase unanimidade em favor dessa solução preguiçosa. 

Por tudo isso, é, com perdão da má palavra, instigante ler a entrevista da antropóloga Yvonne Maggie no GLOBO de domingo. A propósito de decisão recente do Tribunal de Justiça, revogando lei estadual que criava a reserva de vagas nas universidades estaduais, ela defende precisamente o investimento na qualidade do ensino. E denuncia que estamos agravando a desigualdade, "escolhendo um punhadinho entre os pobres". 

Não poderia deixar de ser uma entrevista pessimista: "É muito difícil ir contra grupos que se apresentam como o povo organizado. Temos que lutar pelo povo desorganizado... que não está o tempo todo pensando de que cor é você, de que cor eu sou." 

Não muitos intelectuais brasileiros têm essa visão - ou, talvez, essa coragem. À qual não falta um tanto de ingenuidade: a antropóloga acha que as leis raciais não vingarão no Brasil, porque "os congressistas têm mais juízo". 

Na verdade, é preciso reconhecer que a ideia das cotas tem o encanto da simplicidade e da rapidez. Dispensa qualquer preocupação séria e de longo prazo com a qualidade do ensino médio. Basta abrir as portas das universidades para mais candidatos. Não apenas pelo critério da cor da pele. No Rio, como foi lembrado na entrevista de Yvonne, já há cotas para pessoas com deficiências físicas, para filhos de policiais e bombeiros. É muito mais fácil escancarar as portas do ensino superior do que oferecer a toda a população um ensino médio gratuito e de boa qualidade.

O Ministério da Educação tem o projeto de financiar a qualidade do ensino básico nos municípios mais pobres. Uma bela ideia, mas não depende apenas da existência de recursos. Sem fiscalização, boa parte do dinheiro acaba indo para fontes luminosas ou poltronas novas para o gabinete do prefeito.

GOSTOSA


CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

ARI CUNHA

Brasil feliz


Correio Braziliense - 02/06/2009
 

Copa do Mundo fez melhorar a presença do Brasil. Esporte dominante renasce ante o anúncio das cidades que vão sediar os jogos. Brasil se alegra com as oportunidades. As obras impulsionarão não só as cidades escolhidas, como o turismo. O problema levantado será o transporte dos visitantes aos estádios. Chegar à área turística e de lá alcançar os locais dos jogos é o entrave à vida no Brasil. Os dólares que virão do exterior encontrarão nos estados a força de um povo alegre por novamente sediar a Copa do Mundo, o que aconteceu pela última vez em 1950. Foi triste para nosso povo a despedida com a vitória do Uruguai. País desperta para a realidade. Jovens frequentarão escolas de esportes. Vislumbra-se a possibilidade do aparecimento de craques feitos em nosso chão. A seleção tem sido formada por “estrangeiros”, jogadores brasileiros em atividade no exterior. O futebol ficou técnico e universal. O despertar da nova geração trará de volta o futebol arte. Surgirá o esporte dança, ballet e habilidade nas fintas usadas com inteligência. Tempos novos estão chegando. O desejo é o de que as coisas mudem para melhor. Que ressurja a bola manejada mais com o coração do que com os pés. Aplausos de pé na alegria da novidade que se reforma.


A frase que não foi pronunciada

“Yaiá me deixa subir esta ladeira. Eu sou do bloco, mas não pego na chaleira.”
Deputado Jackson Barreto, relembrando carnaval do século passado para justificar seu pedido de nova reeleição do presidente Lula da Silva.


Febre 
O ministro José Gomes Temporão, da Saúde, explica que o ministério está atento aos casos de febre suína. A denominação é um vírus de influenza, o H1N1. Os casos estão sob controle, sendo que estão vindo de outros países, porém controlados no Brasil. Temporão recomenda evitar a compra de remédios, visto que não são úteis para debelar a influenza. 

Academia 
A cidade de São José do Calçado, no Espírito Santo, viveu dia de festas. A Academia de Letras recebeu o nome do ministro José Carlos da Fonseca. Trata-se de homenagem da cidade ao grande cidadão que honrou o Espírito Santo em todas as atividades que exerceu, dentro ou fora do país. O dia foi de alegria em São José do Calçado, que se orgulha do nome pela excelência do carinho dado à produção de calçados. 

Saúde no DF 
Augusto Carvalho, secretário da Saúde de Brasília, vai chamar 262 clínicos médicos, 73 ginecologistas obstétricos e mais auxiliares. É que a secretaria está trabalhando com sugestões do ministro da Saúde, José Gomes Temporão. 

Prainha 
Boa, a ideia de Humberto Leda oferecendo conforto aos usuários da Prainha. Na Península Norte, há área para descanso dos moradores. Reclamações fecharam o parque. Há um cais e muitas churrasqueiras. Tudo para confraternização. Maneira simpática seria moradores oferecerem babás às crianças dos pais que vão pescar. 

Casamento 
Lyana Azevedo, jornalista e chefe de cerimonial, envia texto a editores e jornalistas, com 3.168 caracteres, sobre ocorrências de casamentos. As festas tomaram tal crescimento que os noivos ficam ilhados. A coluna pode ter sido excessiva. Mas que os casamentos estão sem solenidade familiar, é uma triste verdade. 

Greve 
Nota diz que os trabalhadores da Embrapa vão entrar em greve. O movimento é liderado pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisas e Desenvolvimento Agropecuário, em reação à mudança de cálculo do adicional de insalubridade. Com o país em crise econômica, não parece patriótico. A Embrapa é do governo, e este se baseia em decisão do STF. 

Otimismo 
Contrariando declarações do presidente Lula da Silva, a vida sindical no Brasil vive eterna ameaça. Todas as semanas são programadas greves em vários setores. Pelo que se vê, os sindicatos que elegeram Lula da Silva são eternos insatisfeitos, conforme demonstram tantas paralisações programadas.

História de Brasília

Os motoristas da CMTC, da capital paulista, já se acostumaram às campanhas do sr. Jânio Quadros, nas quais ele sempre usava o boné de um cobrador. Ontem, para a posse, eles trouxeram uma miniatura de um boné, como sendo do motorista nº 1, mas não conseguiram entregá-lo. Ficou mesmo com o sr. Emílio Carlos, patrono da viagem da caravana. (Publicado em 1/2/1961).

MÍRIAM LEITÃO

Dia difícil

Panorama Econômico 
O Globo - 02/06/2009
 

A segunda-feira, primeiro dia de junho, começou com as notícias do desaparecimento de um avião e da maior concordata da história da indústria no mundo. Duas tragédias, uma delas anunciada. A crise econômica não produziu a quebra da General Motors, apenas a revelou. No voo, com passageiros do mundo inteiro, a dificuldade era contactar todas as famílias antes da lista final. 

Uma segunda difícil, com tragédias humana e econômica. O presidente Barack Obama disse que será um "doloroso renascimento" para a GM. Mesmo sendo uma notícia com dia marcado, a concordata impressiona. A GM sempre foi um símbolo do capitalismo americano. De 1931 a 2007, foi a maior produtora de automóveis do mundo. Só no ano passado perdeu o posto para a Toyota.

No Brasil, comemorou-se o fato de que a produção industrial subiu 1,1% em abril, na comparação com março; mas o que espanta é a queda de 14,8% frente a abril do ano passado. O país produziu neste mês 15% menos do que em setembro de 2008. 

Nos Estados Unidos, o que se falou oficialmente é que a concordata será uma grande oportunidade para a empresa se recuperar, e que todos - governo, agora dono, e setor privado - acham que será uma recuperação rápida. A verdade é diferente da esperança. Os processos de concordata são imprevisíveis, podem durar anos, a recuperação pode acontecer ou não. Afinal, o dinheiro do contribuinte não pode fazer tudo. As vendas da empresa precisam aumentar, e os consumidores têm várias opções de concorrentes, que, neste momento, estão fazendo de tudo para sobreviver à crise. 

A GM, que fez parte da formação da elite operária americana, os blue-collars, vai demitir 20 mil trabalhadores. Mas isso não é tudo. Cada emprego no chão de fábrica representa vários outros empregos na cadeia movimentada pela indústria. Por isso, é que a especialista Tereza Fernandes, da MB Associados, calcula que pelo menos 60 mil pessoas podem perder o emprego nos Estados Unidos em função desse processo de concordata e que pelo menos 1.000 concessionárias fecharão as portas. 

- Isso mexe com toda a cadeia produtiva, inclusive para trás. O setor de autopeças, por exemplo, perderá demanda de um grande comprador. Com a crise, o setor já está tendo dificuldades de antecipar recebíveis. Agora, ficará ainda mais difícil - afirmou. 

Tereza nos disse aqui na coluna, há mais de um mês, que nem o super-homem teria poderes para impedir a concordata da GM. Obama jogou todo o poder que tem para mantê-la viva. Depois dos US$20 bilhões que já foram postos na empresa, o governo fará novo aporte de US$30 bilhões. Da concordata, ela sairá "mais magra e mais forte", disse ele. Mais magra certamente; mais forte, só o futuro dirá. 

Para o coordenador do Centro de Estudos Automotivos (CEA) Luiz Carlos Mello, a quebra da GM aconteceu por um problema de gestão. A empresa investiu tempo demais em carros caros e pouco econômicos, enquanto os europeus e japoneses já tinham visto que o mundo havia mudado: 

- O que estamos vendo é resultado de uma certa arrogância que vinha de sua liderança incontestável desde o início do século passado. A empresa tinha muitas marcas, produtos que competiam entre si. Além disso, apostou em veículos caros e pouco econômicos. A Toyota já vendeu 1 milhão de carros híbridos nos EUA, que usam gasolina e energia elétrica. 

A GM do Brasil faz parte da empresa boa, mesmo assim, enfrenta um problema: a tecnologia utilizada na fabricação dos carros brasileiros vinha da Opel, uma subsidiária da GM na Europa, e que foi vendida para a Magna. Na prática, é como se a GM do Brasil tivesse perdido sua fonte de tecnologia. Agora, as duas empresas terão que descobrir o futuro dessa parceria. 

Inúmeros países do mundo são afetados pelo que acontece na GM. Luiz Carlos Mello acha que o Brasil está preparado para fornecer novos modelos, menores e mais econômicos. Para o professor José Goldemberg, da USP, Obama pode utilizar a GM para implementar um novo modelo de fabricação de carros, que tenham melhor desempenho e menor consumo. Uma das medidas que podem ser tomadas é aumentar a mistura de álcool na gasolina. Hoje, o mercado americano mistura cerca de 10%, enquanto o mercado brasileiro mistura 25%. 

- Os produtores americanos não conseguirão atender à demanda. Isso pode significar uma abertura de mercado para o álcool brasileiro nos EUA - apontou. 

Se houver brechas pelas quais possamos entrar, ótimo. Mas a concordata da GM vai derrubar um pouco mais o emprego, a renda, e a produção industrial americana. A Bolsa americana que subiu ontem, puxada por outros indicadores, perdeu dois símbolos no mesmo dia: a GM saiu do índice das 30 blue chips - na qual estava desde 1925 - e o Citibank deixou de constar do índice Dow Jones. 

Por mais dura que seja a tragédia econômica, ela foi ao longo do dia sendo vista como a solução que evitou o pior, que seria a falência da GM. Já na tragédia do voo 447, a tênue esperança do começo do dia desapareceu do radar. Dia difícil.

PANORAMA POLÍTICO

Sem acordo

Ilimar Franco
O Globo - 02/06/2009
 

Apesar da pressão do PMDB, o PT não vai fechar qualquer aliança estadual antes de março de 2010. Os petistas dizem que o quadro eleitoral não está maduro. Citam como exemplo Minas Gerais, onde argumentam que nenhuma pesquisa terá validade antes que o governador assuma claramente que seu candidato é o vice, Antonio Anastasia. Os petistas perguntam: o Anastasia vai tirar votos de quem, de nós ou do ministro Hélio Costa? 

Esperando Lula 

O PT está em compasso de espera, aguardando apenas que o presidente Lula libere ou não Gilberto Carvalho para disputar a presidência do partido. Por ora, Lula concorda apenas que ele integre a Executiva e quer que o primeiro time seja escalado para jogar na direção partidária. Já manifesto assinado por 54 dos 78 deputados federais do PT ressalta a importância da unidade interna para eleger Dilma Rousseff presidente da República. O texto diz que é preciso evitar uma disputa interna "fratricida". "Estamos defendendo a construção de um consenso em relação à presidência nacional do PT", diz o documento. 

Essa mulher (Dilma Rousseff) vai ser presidente. Pode escrever" - José Múcio, ministro das Relações Institucionais, sobre as pesquisas Datafolha e CNT/Sensus. 

ACORDOU. Em seu ex-blog, Cesar Maia registrou ontem que está "em processo de reavaliação" sua sentença, de fevereiro, de que o presidente Lula não conseguiria transferir votos para a ministra Dilma Rousseff. Maia ontem: "A campanha que Lula faz todos os dias aumenta a sua capacidade de transferir votos". E em fevereiro: "Entende-se também pela admiração que Lula tem por si mesmo e a certeza de que transferirá os votos. Ilusão treda!". 

Holofote 

Na CPI da Petrobras, que será instalada hoje, 72% dos titulares e suplentes terminam seus mandatos no ano que vem. Eles devem disputar a próxima eleição e vão usar a comissão de inquérito para ter visibilidade. Sai de baixo.

 

Último esforço 

O Exército definiu ontem o grupo de trabalho que vai tentar localizar os corpos dos mortos na guerrilha do Araguaia. Na coordenação, o comandante da 23 ª Brigada de Infantaria da Selva, general de Brigada Mario Lucio Alves de Araújo. 


Estratégia de sobrevivência 

Para driblar a maioria acachapante do governo na CPI da Petrobras, a oposição pretende encaminhar representações ao Ministério Público durante as investigações. Elas serão feitas pelos partidos. Em reunião ontem com o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, disse que isso é tecnicamente viável. Mas ele rechaçou a proposta de ceder um integrante do MP para as investigações. A instituição terá apenas observador. 

A popularidade, a crise e os candidatos 

O presidente do PSDB, senador Sergio Guerra (PE), atribuiu o aumento da popularidade do presidente Lula ao arrefecimento da crise econômica internacional. "Coitada da oposição, não sabe o que dizer", ironiza o líder do PT, deputado Candido Vaccarezza (SP). Os governistas destacam na pesquisa CNT/Sensus a redução da diferença entre José Serra e Dilma Rousseff: 9,7% no Nordeste; 8,2% entre os que ganham até um salário mínimo; 9,8% entre os que têm curso superior. 

DEVER DE CASA. A CPI é no Senado, mas os deputados do PT se reúnem quinta-feira com o diretor de Exploração da Petrobras, Guilherme Estrella, para afiar o discurso de defesa da empresa. 

O TUCANO Otávio Leite (RJ) pediu informações para a Casa Civil sobre os gastos da Presidência com a festa de lançamento das 56 casas no Complexo do Alemão. Acha que a festa custou mais que as casas. 

O PRESIDENTE do PPS, Roberto Freire, esclarece: "Não sou conselheiro da Sabesp, mas da São Paulo Turismo e da Empresa Municipal de Urbanização". 

ARNALDO JABOR

Nada prova mais nada

O GLOBO - 02/06/09


-Não.

- Como "não"? Eu ainda não lhe perguntei nada...

- Mas, é "não" mesmo.

- O senhor não reconhece sua assinatura neste cheque de 20 milhões, enviado para a conta do governador?

- Não. A assinatura parece minha, sei que o teste grafológico em Campinas prova que esta assinatura é minha, mas... não é. Quem me garante que o grafólogo não é comprado por meus concorrentes? Minha empresa constrói os viadutos, aeroportos, represas do estado do meu querido governador, mas se ele me delega as obras, é por amizade... Ele é meu amigo! O senhor é um frio jornalista... não sabe o que é o amor...

- Tudo bem, mas o cheque é de sua empresa... Está aqui o nome, número do banco...

- Não é da minha empresa...

- O senhor não é dono da CAG (Construtores Associados Gurupi)?

- Não me lembro...

- Mas, o senhor esqueceu o nome de sua empresa?

- Esta é apenas uma subsidiária que já fez parte da "holding" e não faz mais; ela só existe em nome de D. Silvaneide, viúva de meu ex-sócio que já tinha saído do grupo quando, em circunstâncias misteriosas, apareceu assassinado no Motel Crazy Love e, mesmo antes de morrer, que Deus o tenha, ele tinha transformado a CAG em duas sub-ramificações com sede em Miami, a ASS & HOLE Inc. e a COCK & DICK participações. Por isso, dizer se este cheque é meu...é tão difícil quanto decifrar um código genético....

- Como o senhor passou de uma casinha alugada e um Volks há nove anos, para ser dono desse império de negócios? Sua súbita riqueza coincide com a eleição e a re-eleição do seu amigo governador. Como explica o aumento de 37.000 por cento em seu patrimônio?

- Trabalho duro e sorte, meu filho...

- Um operário teria de trabalhar 3.300 anos, sem comer e sem gastar, para ganhar o que o senhor acumulou em 9 anos. Como é possível?

- Sei lá... por que tenho de lhe dar satisfações?

- Imprensa... o senhor está sendo acusado...

- Estou me lixando para a Imprensa, dane-se a opinião publica. Mas, afinal de contas, você quer provar o quê, rapaz?

- A verdade!

- Mas, o que é a "verdade"? Ah..quer saber? Tudo bem, porra, vou desabafar...Vou lhe dizer, senhor jornalista. Vocês pensam que vivem no mundo da "verdade", essa abstração moral, jurídica?... Pois saiba que "o fabuloso está no comércio", como escreveu Paul Valery. Pensa o quê, porra? Sou culto... Olhe bem para mim. A verdade sou eu! Eu estou no lugar da verdade, entre o poder e o comércio! Este país foi feito assim, na vala entre o público e o privado. Não foi feito com frases feitas, não... Há uma dialética fina entre dinheiro público e a cobiça privada, há uma grandeza insuspeitada na apropriação indébita, florescem ricos cogumelos na lama das maracutaias, qualquer canalzinho de esgoto tem grande poder fertilizador. A bosta não produz flores magníficas? O que vocês chamam de "roubalheira", eu chamo de "progresso", um progresso português, nada da frieza anglo-saxônica; trata-se do excremento como motor da história... São Paulo foi construída com esse combustível, os prédios repousam sobre estes fundamentos... Brasília foi feita de lindas ladroagens... Tudo que é belo e bom nasceu da merda... Essa é a verdade do Brasil, que vocês querem condenar, falando estas bobagens sobre moralidade. O resto é ilusão.

- Mas... e o interesse público, o império da lei?

- Corta esses resíduos iluministas.... Os que vocês chamam de corruptos, são os melhores homens do país... Empreendedores, grandes "espadas" imaginosos, poetas dos trambiques, carunchos da lei vivendo nas brechas dos códigos, homens que produzem o novo, contra a pasmaceira do bom-mocismo nacional....

- O senhor acha normal um banqueiro dar dinheiro para o mensalão e ser o xodó dos tribunais?

- Vocês não entendem que comprar deputado é uma obrigação empresarial? É a mercadoria mais barata...Acusam a mim e outros e não percebem que um golpe isolado só serve para dissimular um roubo muito mais geral, que é justamente o crime da "normalidade". A ingenuidade de vossas denúncias apenas dá uma sensação de "transparência" ao povo... Mas, no fundo, vocês absolvem as grandes quadrilhas; o roubo legal, normal, permitido em lei, ninguém denúncia.... Quanto mais vocês criticam a exceção, mais legitimam a regra....Veja: só de INSS nós empresários devemos cerca de 100 bilhões... A indústria das liminares nos protege... o FGTS, quem recolhe?... E o imposto de renda? Metade dos bancos não paga... E vocês, românticos, bobos, atacando uma malandragenzinha isolada...

- Mas, doutor... (o repórter já hesitava, varado de dúvidas, trêmulo) há provas concretas contra o senhor... O vídeo em que o senhor compra aquele senador... com diálogos, gargalhadas, entregando uma mala preta... Tudo filmado... Foi ao ar na TV! Como o senhor explica aquela cena gravada?...

- Já expliquei. Ensaio. Eu estava ensaiando uma peça de teatro para meus funcionários na festa de fim de ano... Aquele senador que conversa comigo, quer ser ator... Acho ele até meio veado... Mas é teatro... Quando ele diz: "Aqui está a grana, na mala preta!" e eu respondo: "Ôba, oh admirável mundo novo, o dinheiro é a mola da vida!" - eu estou citando Shakespeare... É arte, entende? (falando baixo para evitar o gravador: "Tudo pode ser negado... ah ah... é só dizer "não" ".)

- Então, o senhor não fez nada?

- Não.

- E essas provas cabais, definitivas?...

- Olha, meu filho, provas não provam mais nada. Sabe por quê? Eis a minha mais profunda verdade: Eu não sou eu! Eu é um outro....

- E como é seu nome então?

- Não me lembro.

- E como é então o nome do "outro"?

- Não sei. Meu filho, desista; nós não existimos. "A vida é a ilusão dos sentidos", como disse...

- Quem?

- Um filosofo do Maranhão...um com bigode..

- Qual é o nome dele?

- Não me lembro...ele já morreu há muito tempo, mas não sabe ainda...