terça-feira, junho 02, 2009

BENJAMIN STEINBRUCH

Oportunidade

Folha de S. Paulo - 02/06/2009
 


É preciso repelir a ideia de que eventos como a Copa trazem apenas gastos excessivos para um país como o Brasil

AMIGOS QUE assistiram àquela desastrosa final da Copa do Mundo de 1998, na França, contam que muitos torcedores tiveram de voltar de Saint-Denis ao centro de Paris de carona ou a pé.
Várias linhas do metrô mantiveram a rotina e fecharam à 1h, como se nada de anormal estivesse ocorrendo naquela noite na cidade. E os táxis sumiram em meio à balbúrdia das comemorações dos franceses.
Promover uma Copa é um enorme desafio. Mesmo em países como a França ocorrem imprevistos como esse. A Copa de 2014, porém, será uma rara oportunidade para o Brasil, que deve ser agarrada com as duas mãos.
No domingo, a Fifa escolheu as 12 cidades-sede do Mundial no Brasil.
Com isso, foi dada a largada para os investimentos da Copa. Ao contrário do que poderia indicar o senso comum, a atual crise econômica não complica a organização da Copa. O evento levará o país a fazer compulsoriamente investimentos que há muitos anos já deveriam ter sido feitos, mas que, na atual situação, vão ajudar a combater a crise. Não é razoável, só para citar dois exemplos, que não haja um trem-bala entre São Paulo e Rio ou um metrô do centro de São Paulo para o aeroporto de Cumbica.
Um evento como a Copa abre ampla possibilidade de investimentos em parcerias público-privadas. O Pan-Americano do Rio, em 2007, muito mais modesto que a Copa, gerou movimentação de recursos de R$ 10,2 bilhões na economia, segundo estudo da Fipe. Desse total, R$ 3,5 bilhões foram aportados pelos governos, e R$ 6,7 bilhões, por empresas. Ou seja, o setor privado investiu quase R$ 2 para cada real investido pela área pública.
O monumental Maracanã foi construído em apenas 23 meses, às vésperas da Copa de 1950, e é até hoje largamente utilizado. Mais importantes que os estádios, porém, são as demais obras que ficarão para o país, como rodovias, ferrovias, sistemas de comunicação, hotéis e até hospitais. Os próprios estádios podem contemplar empreendimentos integrados, com shopping centers, arenas para shows, hotéis e feiras, para que não virem elefantes brancos depois da Copa. E também para que se evite uma repetição do Pan, quando os custos finais dos estádios acabaram "no colo" do governo, cuja tarefa primordial é cuidar da infraestrutura.
Meio milhão de turistas e 20 mil jornalistas virão ao país em 2014 e visitarão as diversas regiões, com impacto incalculável para o futuro do turismo no país. O orçamento da Copa ainda não está definido. Mas, se os gastos forem semelhantes aos da Alemanha, em 2006, o país investirá R$ 21 bilhões. O sucesso dessa empreitada dependerá do trabalho de um tocador de obras que, com uma pequena equipe e muita vontade, terá de cobrar prazos e propor substituições em caso de atrasos ou desvios financeiros.
Esses exigem combate feroz, por meio de fiscalização independente e implacável. Além disso, terá de haver um ambicioso plano de segurança, que use a força policial, mas também o marketing. Nessa área, a experiência do Pan será útil.
Cumpre repelir, desde já, a ideia de que promoções internacionais de grande porte, como a Copa, trazem apenas gastos excessivos para um país como o Brasil. Desde que haja controle rigoroso, esses investimentos serão extremamente úteis. Vão gerar empregos em diversos setores nos próximos cinco anos, criar conforto para a sociedade e fortalecer a autoestima e a posição de potência do Brasil. Não apenas no futebol.

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