quinta-feira, abril 02, 2009

DIOGO MAINARDI

PODCAST
Diogo Mainardi

2 de abril de 2009
  

Texto integral
Ipi, ipi, urra!

Acontece todos os dias. Saio da cama, ponho o chinelo, abro lentamente a porta de casa para pegar o jornal, olho para um lado, olho para o outro, e me pergunto estarrecido: onde está a fila de desesperados mendigando uma migalha de minha sabedoria? Onde está a turba de idólatras arrebatados homenageando-me com cantos e gestos de louvor?

É o mínimo que eu poderia esperar. No último ano, tudo girou em torno de um único fato: o tombo da economia. Um comentarista como eu tinha duas possibilidades: acertar ou errar. O que eu fiz? Acertei. Acertei em cheio. Ipi, ipi, urra. Diogo é um bom camarada. Em 12 de setembro de 2008, no Manhattan Connection, Lucas Mendes leu a carta de uma espectadora, pedindo um conselho sobre a melhor maneira de aplicar seu dinheiro. Tapei os olhos e respondi irrefletidamente: esconda debaixo do colchão. Resultado? Dois dias depois, o Lehman Brothers afundou e eu me consagrei como o George Soros da rua Itapiru, sede do canal GNT. Ipi, ipi, urra para mim. Mais uma vez.

Acompanhe os números e aplauda entusiasmadamente minha prodigiosa sagacidade. No domingo em que apareci na TV mandando a espectadora esconder seu dinheiro debaixo do colchão, o Ibovespa estava em 52.392 pontos. No dia seguinte, ele despencou 7,59%. E continuou despencando até o dia 27 de outubro, quando bateu em 29.435 pontos. Depois de patinar por algumas semanas, o Ibovespa, em 21 de novembro, ainda estava com 31.250 pontos. O que eu fiz? Numa coluna iluminada, premonitória, dei ordem para comprar, como num filme de Frank Capra: Compra! Compra! Compra! De lá para cá, o mercado acionário se recuperou razoavelmente. Agora está beirando os 44.000 pontos.

No dia em que eu, sozinho, salvei as economias da espectadora do Manhattan Connection (qual era o nome dela?), a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista com Jim O'Neill, do banco de investimentos Goldman Sachs. Jim O'Neill se tornou conhecido por ter criado o termo Bric, para designar as economias de Brasil, Rússia, Índia e China. Na entrevista, ele reafirmava que haveria um "genuíno descolamento nos grandes mercados emergentes", e que a crise financeira teria um impacto absolutamente irrelevante na taxa de crescimento do Brasil.

Naquele mesmo dia, a Votorantim Celulose anunciou a compra de uma parte da Aracruz por 2,7 bilhões de reais. Sabemos o que aconteceu depois disso. As duas empresas, penduradas, tiveram de negociar uma ajuda do governo. Uma ajuda nebulosa, em que os valores simplesmente não fechavam.

Está na hora de vender suas ações da Petrobras? Acho que sim. Que sei lá eu. Não entendo nada de dinheiro. Ipi, ipi, urra.

PARA...HIHIHI

BICHA EVANGÉLICA

A bichinha, recém convertida, está indo para a Igreja, nariz todo empinado, com a Bíblia debaixo do braço… Nisso, passa um caminhão cheio de homens, que gritam:
- Viaaaaado!!!
- Gaaaaayyy!!!
- Queima Roooooosca!!!
- Boiolaaaaaaaa!!!

De repente, o caminhão perde a direção, bate num poste e explode. Morre todo mundo!!!

A bicha pára, olha para o caminhão pegando fogo, coloca a Bíblia no chão, põe as mãos na cintura e diz:
- Jesus… Você aaaar-raaaa-soooou!!!

DEMÉTRIO MAGNOLI

O militante perfeito


O Estado de S. Paulo - 02/04/2009
 
Delúbio Soares, o famoso militante que quer retornar ao PT, é homem de Lula. Pelas mãos de Lula ele chegou à direção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e, pelas mesmas mãos, saltou da central sindical à tesouraria do partido. Depois que Lula entrou triunfante no Palácio do Planalto, Delúbio cumpriu duas missões sucessivas: operou o esquema do mensalão e, em seguida, imolou-se para salvar o núcleo duro da direção petista, enquanto José Dirceu se sacrificava na pira ardente da segurança presidencial. O seu pedido de reingresso no PT pode ser interpretado apenas como o gesto de alguém que almeja uma cadeira parlamentar a fim de cavar uma trincheira diante da ameaça posta pelos tribunais. Mesmo se assim for, Delúbio cumpre, agora inadvertidamente, uma terceira missão estratégica.

Lulismo e petismo são fenômenos distintos, porém entrelaçados. Lula é um político conservador, salvacionista, de rara sagacidade. No ocaso da ditadura, o suposto mago Golbery do Couto e Silva o imaginou como o agente da destruição da esquerda no Brasil. O PT é um fruto estranho, mas cheio de vitalidade, do encontro tríplice, no outono do socialismo soviético, entre a velha esquerda castrista, a militância católica da "Igreja da libertação" e uma nova burocracia sindical. Lula precisa do partido enquanto não puder substituí-lo. O partido precisa do apelo popular e do simbolismo histórico de Lula.

O mensalão serviu a um propósito de Lula, muito mais que do PT: estabilizar a maioria governista no Congresso. A denúncia do mensalão partiu de um contrariado Roberto Jefferson, presidente do PTB e confidente pessoal do presidente, a quem Lula entregaria, nas suas palavras célebres, "um cheque em branco". Na hora do desastre Jefferson protegeu Lula, que, por sua vez, desviou traiçoeiramente o raio para a precária casamata do PT. Curiosidades abertas a especulações políticas ou tramas ficcionais: hoje, Jefferson continua a presidir o PTB, que segue firme na base lulista e conserva seus valiosos cargos no governo e em empresas estatais.

Lula sobreviveu à tempestade do mensalão graças às ações paralelas e desconectadas de José Dirceu e FHC. A pátria do primeiro é o PT, como burocracia política poderosa, de alcance nacional e influência internacional. Ele sabia que seu partido seria convertido num monte de ruínas se o presidente desabasse. A pátria do segundo é a ordem emanada da redemocratização. Ele temia que as instituições cedessem sob o impacto de um segundo impeachment, agora contra o símbolo da elevação da classe trabalhadora ao papel de protagonista da história brasileira.

A pátria de Lula é Lula mesmo. Anos antes de chegar à Presidência, ele declarou que o partido de seus sonhos não é o PT, mas uma agremiação mais ampla, obviamente organizada em torno de sua liderança. Fechado o capítulo do mensalão, ao alcançar o píncaro de seu prestígio, o presidente tentou moldar o futuro, articulando uma aliança com o PMDB e emitindo sinais de fumaça na direção de Aécio Neves, o governador de Minas Gerais, que contesta a pré-candidatura de José Serra. Contudo, a utopia lulista parece ter alcançado um paredão intransponível. A rede do PMDB não inspira a confiança mínima para que Aécio se decida a empreender o triplo mortal carpado rumo aos braços do presidente. A burocracia e a base do PT rejeitam a hipótese de diluir o partido num "novo PMDB", liderado por Lula e gerenciado por Aécio. A terceira missão de Delúbio se inscreve na teia desse impasse.

Dilma Rousseff, uma outsider no PT proveniente do brizolismo, representa um compromisso entre dois fracassos. Lula a impõe ao partido como peça de reposição de seu impossível candidato ideal, que abriria as portas do futuro partido lulista. A burocracia do PT a recebe apenas porque foi privada pelas crises recentes de seu próprio candidato ideal, que seria um representante da máquina partidária. Sem Dirceu, Palocci, Mercadante ou Marta, e excluindo-se um jamais domesticado Eduardo Suplicy, resta apenas a candidata de proveta do Planalto. Mas nem todo o aparato de propaganda governamental é capaz de subordinar por completo o partido ao edito imperial de Lula. Para isso, só mesmo o fator Delúbio.

"Reintegrar Delúbio será fornecer farta matéria-prima para os ataques da direita, ajudando a reavivar a ofensiva lançada contra nós durante a crise de 2005", gritou um alarmado Valter Pomar. "Direita", para o secretário de Relações Internacionais do PT, é qualquer cidadão indignado com a compra em massa de parlamentares operada por Delúbio. Mas, abstraindo-se a notória delinquência de linguagem, é inevitável admitir que ele expõe com nitidez o sentido da missão delubiana. O gesto do homem que personifica o mensalão desarma politicamente o PT, prostrando-o diante da vontade de Lula.

Nos próximos meses, o PT realizará seus encontros internos. Deles resultarão uma nova direção e a unção do candidato à Presidência. A intervenção de Delúbio funciona como prelúdio para o assalto de Lula ao partido que despreza. Em meio ao caos provocado pelo ex-tesoureiro, Lula não enfrentará resistência aos seus projetos de consagrar a candidatura da ministra e, de quebra, fazer do assessor pessoal Gilberto Carvalho o novo presidente do PT.

Delúbio tem argumentos explosivos para justificar sua reivindicação. O militante perfeito, que sustentou até o fim a omertà, o código siciliano de honra e silêncio, salvando a burocracia partidária, almeja apenas a reciprocidade. A direção que votará seu pedido terá de optar entre a honra que desmoraliza, ao aceitá-lo, ou a desonra que protege, ao recusá-lo. Do alto de sua torre em Brasília, Lula beneficia-se do luxo de assistir ao desenrolar do drama insinuando presidencialmente que nada deve ser deliberado antes da palavra do Judiciário. É que, sob o seu ponto de vista, tanto faz se Delúbio volta ou não: a missão já está cumprida.

BRASÍLIA - DF

Slogan pronto


Correio Braziliense - 02/04/2009
 

O governo fez bem em desistir, pelo menos por enquanto, de mexer na remuneração das cadernetas de poupança. Mas se em 2010 — ano eleitoral — não houver outra alternativa além de reduzir a correção da poupança, o presidente Lula terá de conviver com os adesivos que o DEM já bolou. São dois: “Lula, tira a mão da minha poupança”, e “Companheiro, na minha poupança não!” É a forma que os democratas acreditam ter encontrado para tentar retomar um assunto de apelo popular, como a campanha “Xô, CPMF!” contra o imposto do cheque, que terminou derrubado. 

Se a alteração da poupança não vier, restará à oposição fazer o contraponto ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e esperar o fim do ano para comparar as gestões dos governadores José Serra e de Aécio Neves com a de Lula, que teve anunciado há dois dias seu primeiro déficit em 12 anos de administração pública. Ou seja, se continuar assim, novos cortes virão.


Protógenes com o PDT

O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, aquele da Operação Satiagraha, teve um encontro ontem com o líder pedetista na Câmara, Brizola Neto, e com o deputado Paulo Pereira da Silva (SP). A iniciativa da conversa foi do delegado. A estratégia de Protógenes é aumentar o leque de opções partidárias para uma possível carreira política no futuro próximo. Por enquanto, as portas abertas são as do PSol, que, embora respeitado pelo delegado, pode deixar-lhe isolado na esquerda. 

A guerra do seguro-desemprego

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, chega de Roma com uma série de abacaxis para descascar. A ampliação do seguro-desemprego de cinco para sete meses é o pior deles. As centrais sindicais reclamam que trabalhadores de 11 estados não foram contemplados pela medida. Por exemplo, mineradores do Pará, dispensados por conta dos efeitos da crise econômica no setor, não terão direito ao benefício. E para completar, o deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC) pretende ampliar a duração do pagamento aos desempregados para até 12 meses. 

DEM ruma ao Piauí

Será no berço do governador Wellington Dias (PT) que o DEM vai bater bumbo na sexta-feira, como parte da caravana para fiscalizar as ações do governo federal. O alvo será o recém-lançado programa Minha Casa Minha Vida. É que, no Piauí, apenas dois — Teresina e Parnaíba — dos 224 municípios têm mais de 100 mil habitantes, portanto, qualificados a receber moradias pelo programa. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, garantiu presença na claque. 

Alivia, aí, PB!

“PB”, como é conhecido o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, recebeu ontem duas missões do vice-presidente José Alencar: a primeira, arrumar um alívio para as receitas das pequenas prefeituras que sofrem mais com a queda do Fundo de Participação dos Municípios (FPM); a segunda, desistir de mexer na remuneração da poupança. O ministro levará as alternativas para atender os municípios na semana que vem, quando Lula já estará no Brasil. Quanto à poupança, já estava na geladeira. 

No cafezinho
Gustavo Moreno/Esp. CB/D.A Press - 27/2/09
 
 

Jeitinho/ Na reunião da coordenação de governo, o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (foto), e os líderes partidários fizeram um apelo ao ministro Paulo Bernardo: “Por favor, não fale mais a palavra corte. Use contingenciamento. É mais suave”, pediu Múcio. Explica-se: uma verba contingenciada pode ser liberada mais tarde, se a arrecadação do governo voltar a crescer. A palavra corte dá a ideia de coisa definitiva, que não tem volta. 

Enquanto isso, na casa de Wilma.../ O deputado Fábio Faria (PMN-RN) segue hoje para Natal, para uma reunião em que a governadora Wilma de Faria (PSB). Ela fechará a mudança no seu secretariado, tirando todos aqueles que serão candidatos em 2010. Quem está feliz e contente é o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves. Seu melhor amigo, Damocles Trinta, assume a Secretaria de Infraestrutura. 

Padrinho/ Desde que foi anunciado como secretário de Educação de São Paulo, o deputado Paulo Renato Souza (PSDB) conta aos quatro ventos que quem lhe indicou para o cargo foi o “Mude”: o Movimento Unidade, Democracia e Ética, que se rebelou contra a recondução do líder José Aníbal ao posto. 

Verba disputada/ Integrante da diretoria da Beija-Flor, o deputado Simão Sessim (PP-RJ) se reuniu ontem com o secretário de Cultura do Distrito Federal, Silvestre Gorgulho, para apresentar a proposta da escola de samba para o enredo sobre os 50 anos de Brasília, que será comemorado em 2010. Sabe como é, como vai pingar um patrocínio do GDF para a escola que for escolhida, está chovendo interessados.

GOSTOSA


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INFORME JB

Anac pode ter seus atos contestados

Perigo no plano de voo da Anac

Jornal do Brasil - 02/04/2009
 

 

O mandato de um dos diretores da Agência Nacional de Aviação Civil, Ronaldo Serôa da Mona, venceu no dia 21 de março. Ele continua participando de reuniões da diretoria, o que torna contestável juridicamente os atos da Anac decididos em colegiado neste período

A Agência Nacional de Aviação entrou ontem num suspense que deve mudar seu plano de voo, por conta de um imbróglio envolvendo o cargo do diretor Ronaldo Serôa da Motta. Entrou na Anac em 2006 no lugar de Josef Barat, que teria mandato de três anos. Acontece que o mandato de Serôa, segundo interpretação do regimento da agência, venceu no último dia 21, o que invalida suas ações de lá para cá. Isso ocorre porque a data de início dos mandatos dos diretores é retroativa à posse do primeiro presidente, Milton Zuanazzi, que foi 21 de março de 2006. Para a assessoria da Anac, Serôa só deixaria o cargo em agosto. De olho, o PMDB do Rio se mobilizou. A turma carioca alega que, por acolher a futura sede da agência, tem direito à vaga. Para variar.

Adeus, mundo cruel

A presidente da Anac, Solange Vieira, arrumou uma agenda para esticar as férias de duas semanas que vai tirar. Segue em viagem oficial ao Chile e depois Austrália, para visitar aeroportos. De lá, curte a Oceania com a família.

Eu também

Quem vai de carona na excursão oficial de Solange é o diretor Marcelo Guaranys. E depois, evidente, entra de férias também. Por lá.

Óia eu aqui

Quem segura a Anac nesse período é, acredite, o chefe-de-gabinete Waldin Rosa de Lima. Um tucano. Foi ele o consultor financeiro da campanha de Geraldo Alckmin, atuando de dentro da... Nossa Caixa, onde tinha cargo de diretor "sem rendimentos".

SOS União

O PSDB fechou ontem acordo em torno da proposta a ser apresentada: que o Tesouro compense as cidades que tiveram perdas nos repasses federais e do Fundo de Participação Municipal. "É algo como a Lei Kandir", explica um deputado.

Terra da magia

PMDB e PT já têm suas pré-chapas para 2010, revelam reuniões recentes. O PMDB vai de Geddel Vieira Lima para o governo, com Cesar Borges (PR) e Paulo Souto (DEM) para o Senado. No PT, Jaques Wagner vai à reeleição, e para a Casa Alta tentam um candidato do PT (em aberto) e Otto Alencar (PP).

Terra da magia 2

A OAS comprou o falido Salvador Praia Hotel. Vai investir pesado ali com duas sócias.

Ciclo do Garoto

O ex-governador Anthony Garotinho (foto) quer mesmo voltar à política, não se sabe se ano que vem. Começou a encomendar pesquisas para saber a preferência de seu eleitorado no estado do Rio. Revelou a um amigo que fará isso mensalmente, de maio a setembro. E em outubro decide a que se candidatar, em que eleição, e onde.

Trio do PP

O senador Francisco Dornelles, presidente do PP, convidou para o conselho consultivo da nova gestão os veteranos Ernane Galvêas, Pedro Grossi e Esperidião Amin

Raios X

Em tempos de crise, vale ouvir o mercado de ponta a ponta. A Deloitte promove em toda a América Latina e Caribe uma pesquisa on-line junto às empresas sobre práticas, visões e preocupações sobre Sustentabilidade nas relações entre organizações, consumidores e o mercado em geral. O resultado será apresentado no Fórum Econômico Mundial na América Latina, no Rio.

De família

Um leitor lembrou a tempo. O avô do general Wellington Fonseca foi almirante-de-esquadra. Fonseca, que vai para a reserva, foi citado por ter sido comemorado no Planalto como primeiro general negro.

Data venia

A Embrapa Aves e Suínos informou que as normas técnicas internacionais adquiridas por R$ 4 mil não estão disponíveis na internet.

BRASIL S.A

Indústria fraqueja

Correio Braziliense - 02/04/2009
 

Produção cresce, mas em ritmo fraco e investimento em queda, o que é mau se o G-20 negar fogo


Variável-chave para a evolução corrente da economia, com impactos sobre o nível do emprego, a renda, a arrecadação tributária e, por consequência, o desfecho da sucessão do presidente Lula em 2010, o desempenho da produção industrial em fevereiro na métrica do IBGE foi menor que o esperado. Mas não sinaliza um desastre. Ainda. 

Não, pelo menos, no mesmo patamar de recessão tendendo a virar uma depressão, à falta de políticas anticíclicas eficazes e de um horizonte confiável para o capital, visto nas economias da Europa, EUA, Japão e na maioria dos emergentes, à exceção de China e Índia — enfim, o Grupo dos 20, G-20, dos países mais ricos do mundo. 

Os chefes de governo do G-20 se reúnem hoje em Londres para outra rodada anticrise, mas a expectativa é baixa. O que se espera de mais relevante é um pacote de US$ 250 bilhões de reforço às linhas de crédito disponíveis nas agências de promoção comercial, como o Eximbank dos EUA, que adicionaria US$ 100 bilhões, Japão (US$ 25 bilhões), Banco Mundial (US$ 50 bilhões) e até o brasileiro BNDES. 

O juízo é que a escassez de crédito, estimada em US$ 300 bilhões, agravou o colapso do intercâmbio comercial entre países. Na conta da Organização Mundial do Comércio, o fluxo comercial recuou 23% no primeiro trimestre sobre igual período de 2008. Sem reforço do crédito, tenderá a recuar 13% no ano, contra o aumento médio de 8% nos últimos anos. O problema é que tal análise não é consensual. 

No próprio Banco Mundial há economistas que relacionam a retração do comércio não à escassez de crédito, mas à recessão nas maiores economias, e isso devido à globalização das cadeias produtivas no mundo. Se a demanda interna em países de consumo voraz, como EUA e China, enfraqueceu, o comércio global também enfraquece. E só com estímulos fiscais para ativar a demanda doméstica a situação volta ao normal. Ainda assim, tal ação precisaria ser seletiva. 

O ativismo fiscal deveria ser mais forte em países ou blocos com superávits externos, sobretudo China e Japão, mas também a Europa, e menor nos EUA, que já está gastando mais do que pode, só que, se ficar isolado neste esforço, reiniciará o circuito importador e os seus enormes déficits comerciais. Está neles a origem primária do desbalanceamento global, expresso pela enorme propensão ao consumo dos EUA sem a contrapartida de importações equivalentes pelos seus parceiros superavitários, sobretudo China, Japão e a zona do euro. 

Um processo doentio 
As raízes da crise são profundas. Elas começam com a cornucópia dos dólares emitidos para financiar os déficits primeiro fiscais, depois, comerciais, dos EUA. Eles criaram o “capital de giro” para a expansão do comércio global, que impulsionou o modelo exportador de bens industriais baratos para o mercado americano, a volta dos superávits desses países para aplicação em papéis dos EUA, e por ai se foi semeando a crise atual. O superendividamento dos EUA, as bolhas de especulação nos últimos anos, o colapso do crédito, tudo vem daí: do processo doentio de acumulação de riqueza no mundo. A ambição do G-20 é livrar o mundo desses males, mas não será agora. 

Sabedoria em falta 
Falta tudo ao G-20, de visão consensual sobre as origens da crise à vontade sincera dos governos em assumir sua cota de sacrifício. O laxismo fiscal coordenado sugerido por Barack Obama não encontra respaldo entre os governos da Alemanha e França, mais preocupados em defender seus próprios mercados que em facilitar o comércio dos “outros”, embora esta seja uma política em que só há perdedor. Mas quem disse que a riqueza das nações traz sabedoria ao governante? 

Risco de estagnação 
É neste contexto de contradição e mesquinhez do mundo rico que se insere a economia brasileira e seu principal elemento, a produção industrial. Ela cresceu 1,8% em fevereiro sobre janeiro, abaixo da expectativa, e acumula expansão de 4% sobre dezembro – ritmo lento para recuperar o tombo de 20,1% de outubro a dezembro em relação a setembro. Por tais dados, o quadro não se agrava, mas torna remota a chance de o Produto Interno Bruto (PIB) fechar o ano com taxa de crescimento parruda. No cenário do Banco Central, crescerá 1,2%. 

A esperança de crescimento, ainda que modesto, se abate diante da forte queda do investimento. A produção de bens de capital recuou 6,3% sobre janeiro, revelando o pessimismo empresarial. Não é bom augúrio. Sem o mercado interno e o investimento, a estagnação é o melhor cenário, já que do mundo, por ora, não há o que esperar. 

Miopia globalizada 
Tal como aos EUA, onde está o centro da crise, no Brasil também a retomada exige a combinação de ações que reanimem o consumo com um projeto crível de expansão a longo prazo. Mas tanto lá como cá é o cenário corrente que merece atenção, o que se entende nos EUA, com a insolvência virtual da banca, mas não aqui. O governo se importa mais com indicadores correntes capazes de mexer com a popularidade presidencial que com o quadro econômico futuro, desprezando o fato de que é no presente que se constrói o que virá. Tipo o quê? Dando redução de imposto para máquinas e equipamentos, por exemplo, não só para carro e material de construção. A miopia não é só do G-20.

MÓNICA BÉRGAMO

É feia a crise


Folha de S. Paulo - 02/04/2009
 

A farinha é pouca, meu pirão primeiro: Luiz Carlos Barreto, um dos principais produtores de cinema do Brasil, está sendo processado por uma empresa, a CBMF, que investiu mais de R$ 1 milhão em um de seus filmes, "O Casamento de Romeu e Julieta", de 2005 - e que até agora não viu a cor do dinheiro de volta. A Justiça determinou a penhora de contas da Filmes do Equador, produtora de Barreto.

É FEIA A CRISE 2 
O produtor, que está realizando o filme "Lula, o Filho do Brasil", diz que seus advogados estão recorrendo e que o dono da CBMF, Wilson Borges, "quer aparecer". Barreto afirma que nada deve, já que fez um contrato "de risco": o investidor recuperaria o dinheiro com a renda do longa, que "está no prejuízo". "Esperávamos que o filme fizesse até 3 milhões de espectadores, e ele só atingiu 1 milhão", diz Barreto. "Ainda temos R$ 200 mil de débito com a Buena Vista [distribuidora]. O filme ficou no vermelho e o cara não se conforma."

VAI E VOLTA 
Já a CBMF sustenta que fez um empréstimo com data certa de devolução: 90 dias depois do lançamento do filme, estrelado por Luana Piovani.

DE ZERO A CEM 
O Ministério Público não tinha, até ontem, os extratos das contas no exterior em que estão depositados recursos que, de acordo com os promotores, seriam de Paulo Maluf e que a Prefeitura de São Paulo agora tenta repatriar. Os cálculos variavam de US$ 13 milhões a US$ 45 milhões. Os advogados de Maluf sustentam que ele não tem dinheiro fora do Brasil.

NA MESMA 
Apesar do pacote de habitação lançado por Lula, as indústrias produtoras de cimento, cujo imposto baixou de 4% para zero, não esperam a retomada dos altos índices de crescimento que o setor apresentou em 2007 (10%) e em 2008 (15%). José Otávio Carvalho, secretário-executivo do sindicato das empresas, afirma que as medidas do governo podem "pelo menos sustentar o nível de consumo e dar visibilidade maior do que vai acontecer até o fim do ano". A expectativa, na hipótese otimista, é de que as vendas empatem com as registradas no ano passado.

ROBERTO MACEDO

Lula e sua própria marola


O Estado de S. Paulo - 02/04/2009
 

 

Não sei o que o presidente Lula dirá hoje, em Londres, na reunião do G-20. Mas, bem ao seu estilo e lembrando recados anteriores, poderia começar assim: "Meus caros companheiros do G-20, no Brasil há uma marchinha de carnaval que diz: Marinheiro, marinheiro / Tenha cuidado com o mar / A vida é tão boa / Viaja na proa / Não faz marola / Pra canoa não virar. Assim, eu quero apelar a todos os companheiros marinheiros aqui presentes, em particular aos branquelos de olhos azuis, para que, por favor, parem com toda essa má onda econômica que criaram - e que eu achava que fosse marolinha, mas já é um vagalhão -, para não virar minha canoa lá no Brasil."

De fato, a crise econômica mundial se mostra como um vagalhão que veio dos países desenvolvidos, em particular dos EUA. Mas nós nunca reclamamos da enorme onda de prosperidade pela qual passou a economia mundial de 2003 até o terceiro trimestre de 2008, e que muito beneficiou o Brasil. Em particular livrando-nos de um velho problema, a chamada escassez de divisas, que por vezes trouxe crises econômicas ao Brasil, inclusive levando-nos a vários e humilhantes pedidos de socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Foi essa onda de prosperidade, acompanhada de forte expansão do crédito, que levou à enorme valorização de ativos e a movimentos especulativos que por fim sucumbiram. Isso ocorre quando os agentes econômicos percebem que tal valorização carece de fundamentos econômicos, com o que acaba explodindo como uma bolha. Nesse processo, a crise no mercado de hipotecas de segunda linha - as "subprimes" -, nos EUA, foi uma das dimensões desse fenômeno maior e atuou como uma agulha a penetrar a bolha.

Mas, recorrendo a outro conselho popular, não adianta chorar sobre o leite derramado. Cabe buscar maneiras de sair da crise e, sobretudo, não agravá-la a partir dos nossos próprios pecados. Nisso nosso presidente tem também sua culpa em cartório, pois com sua imprevidente gestão das finanças públicas criou sua própria marola, que já mostra suas consequências e o risco de sérios problemas à frente.

Refiro-me mais uma vez à questão fiscal do governo federal, cuja má situação ficou ainda mais clara com os resultados do primeiro bimestre deste ano, recém divulgados. Em síntese, a combinação de queda de receitas e de aumento de despesas fez com que o superávit primário do governo federal - aquilo que o governo procura reservar para pagar parte dos juros da dívida pública e evitar um déficit final maior - caísse 85,1% (!) nos dois primeiros meses de 2009. Em particular, no mês de fevereiro o governo federal registrou déficit primário de R$ 926,2 milhões, o primeiro nesse mês em 12 anos!

Na sua natureza, esse agravamento revela um sério problema. Segundo cálculos do economista José Roberto Afonso, conhecido especialista em questões fiscais, só 1% da deterioração do resultado primário federal foi devido ao aumento dos investimentos públicos, cuja expansão é recomendável em tempos de crise econômica. Os principais culpados foram a alta das despesas com servidores públicos, por conta da ampliação do número de funcionários e de reajustes salariais em cima de remunerações às vezes já exageradas, e a ampliação do déficit previdenciário.

A perspectiva é de piora desse quadro, pois as previsões são de queda da arrecadação, que depende muito de fontes mais afetadas pela crise, como a indústria e os lucros das empresas. Isso ao mesmo tempo que o governo imprevidentemente instituiu reajustes salariais para seus servidores a vigorar nos próximos dois anos, enquanto que mais um generoso aumento real do salário mínimo deverá agravar as contas da Previdência Social, cuja receita também poderá cair.

Ora, essa marola é tipicamente "made in Brazil", e não há como culpar os companheiros ricos do Hemisfério Norte. Com ela nosso país corre o risco de voltar a aumentar a sua dívida pública como proporção do PIB, revertendo um movimento que vinha contribuindo para a redução do risco país como devedor, inclusive com reflexos favoráveis sobre a situação cambial. E mais: com gastos predominantemente de custeio, e não com os investimentos públicos de que o País tanto carece.

Nesse contexto, e ainda vacilando em cancelar aumentos previstos na folha de salários do governo federal, o presidente Lula gerou manchetes na sexta-feira passada ao dizer, com razão, que "não é hora de trabalhador pedir aumento". Mencionando sua experiência como sindicalista, recomendou "que os trabalhadores contribuam para que as empresas possam recuperar as vendas, em vez de apresentar uma pauta de reivindicações que inclua aumento salarial".

Bem, ele pensou ainda como sindicalista e achou que não é hora de trabalhador pedir aumento. Mas, como presidente da República, patrão de seus funcionários e com a responsabilidade de cuidar dos interesses maiores do povo brasileiro, deveria assumir essa condição e dizer que não é hora de dar aumento, como o fez, comprometendo exercícios fiscais futuros.

Na sua estada em Londres, o presidente bem poderia aprender o significado do termo trade-off. Ele resume bem a situação de pessoas e instituições diante de escolhas nas quais é preciso sacrificar alguma coisa para obter um benefício. A situação atual é desse tipo, pois não é mais possível acreditar no crescimento da arrecadação para fazer benesses de cunho sindical e sócioeleitoral, ademais de ser preciso ampliar investimentos para fortalecer e reativar a economia.

São as crises que realmente testam os governantes, e este é o momento de o presidente realmente demonstrar a que veio e como concluirá seu governo.

CELSO MING

É agora ou nunca


O Estado de S. Paulo - 02/04/2009
 

O climão geral lembra a versão inglesa de O sole mio, na voz do falecido Elvis Presley: Tomorrow will be too late, it?s now or never, my love won?t wait (amanhã será tarde demais, é agora ou nunca, meu amor não irá esperar).


Parece tudo tão premente e inadiável a ponto de sugerir que bastará um comunicado algo desamarrado, como tantos que têm sido armados pelos senhores do mundo, para ser interpretado como senha para nova temporada de pânico nos mercados.

Mas quem acompanhou as manifestações ao longo dos preparativos desta reunião de chefes de Estado do Grupo dos 20 (G-20), que se realiza hoje em Londres, não pode esperar por sucesso absoluto pela simples razão de que cada canto do mundo quer uma coisa.

Não falta densidade para o G-20. Ele corresponde a 90% do PIB e 80% do comércio global. Mas as diferenças começam pelas divergências de foco.

Os americanos, por exemplo, entendem que não é hora de reconstruir a casa em ruínas, mas de continuar a apagar o incêndio. É por isso que advertem que, neste momento, os governos têm de despejar dinheiro para suprir a trombose do crédito.

Os europeus acham que já há dinheiro demais nas praças e que agora os esforços terão de se concentrar na regulamentação do mercado financeiro para que o desastre não se repita. Mas, nesse pleito, enfiam projetos que nada têm a ver com a crise, como a desativação dos paraísos fiscais ou o corte do salário dos executivos dos bancos.

Se não for por aí, disse há dois dias o presidente da França, Nicolas Sarkozy, melhor nem ir a Londres. Mas o fato é que ele vai beijar a cruz que lhe for apresentada. E alguns países emergentes querem mais recursos para o Fundo Monetário Internacional, desde que não venham acompanhados das exigências de praxe.

Também proliferam ataques de última hora a toda sorte de protecionismos. É o tipo do trololó oportunista que vai na contramão do "buy American", que viceja sob os auspícios do governo Obama, ou do "British jobs for British workers", que o primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, não faz questão de desestimular.

Também pouco sincera é a indignação contra o protecionismo financeiro que se espalha pela Europa e pretende impedir que bancos locais emprestem recursos para outros países ou empresas estrangeiras, especialmente se forem do Leste Europeu.

O principal comentarista econômico do mundo, Martin Wolf, do Financial Times, há semanas vem anunciando o fracasso desta reunião de cúpula. Para ele, o essencial não está sendo atacado e o essencial é o desequilíbrio estrutural do sistema global, que produz as bolhas financeiras e seu estouro. Trata-se do mesmo desequilíbrio que gerou a simbiose econômica ou a mútua dependência entre Estados Unidos e China, um como gastador de bens e importador de poupança; o outro como fornecedor de bens e exportador de poupança. Mas, convenhamos, conserto para esse nível de problema não poderá provir de um encontro de algumas horas entre chefes de Estado. É coisa que requer longa maturação.

A acolhida mais provável para o evento de hoje é uma saraivada de críticas. Mas daí a concluir que o efeito imediato inevitável será nova onda de pânico é ir longe demais. Até o amor pode esperar um pouco mais.

ILIMAR FRANCO

Lobby da banca

Panorama Político
O Globo - 02/04/2009
 

O Ministério da Fazenda já tem pronta uma medida provisória instituindo o cadastro positivo. Essa é uma das medidas do pacote para reduzir o spread bancário. O governo identificou um forte lobby dos grandes bancos para segurar a votação do projeto de lei do cadastro, que está no Congresso.

 

Um membro do governo explicou que os bancos não querem abrir sua carteira de clientes. A bancada dos bancos está levando a melhor.

 

Trabalho comunitário

 

O Ministério da Educação vai reformular o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). Em alguns cursos, como medicina, odontologia e licenciatura, carentes de profissionais, em vez de o estudante fazer o ressarcimento em dinheiro, fará por meio de prestação de serviço na área cursada. Pelo programa, o aluno pode financiar até 75% da mensalidade pela Caixa Econômica Federal. O projeto de lei, que terá que ser votado pelo Congresso, deve ficar pronto no fim de maio. Outra medida será a redução da taxa de juros cobrada no financiamento, atualmente de 3,5% ou 6,5%, dependendo do curso.

 

Roupa de campanha, cara de campanha, cabelo de campanha, discurso de campanha, e não é campanha?” — Sérgio Guerra, senador (PE) e presidente do PSDB, sobre a ministra Dilma Rousseff

 

UNIVERSIDADE DO LEGISLATIVO UNILEGIS

 

FARAÔNICO. O Senado pretende construir uma nova sede para a Universidade do Legislativo (Unilegis), que hoje funciona em um anexo da Casa. Ela ficará em um terreno de 32 mil m² cedido pela União, em Brasília. O projeto é de “um grande complexo educacional e cultural”, com museu, teatro, auditório, biblioteca, alojamentos e restaurante. A Unilegis oferece cursos de especialização para os servidores do Senado.

 

Que crise?

 

O governador José Roberto Arruda (DF) se queixava da queda de arrecadação, anteontem, quando foi interrompido pelo deputado Osório Adriano (DEM-DF), dono de uma revendedora de carros: “Mas eu nunca vendi tanto”, disse ele.

 

Reforço

 

O PPS criou o projeto Pé na Estrada para as eleições de 2010. Pretende organizar o partido e lançar candidatos a deputado federal e estadual nos 164 municípios com mais de 100 mil eleitores.

 

Eles são 46,35% dos eleitores do país.

 

Em campanha no Senado

 

O embaixador do Brasil na Venezuela, Antonio Simões, está em campanha no Senado para aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul. Simões já conversou com 65 senadores e usa argumentos econômicos para se contrapor à antipatia generalizada contra o presidente Hugo Chávez. O principal deles é o do superávit comercial, que no ano passado foi de US$ 4,6 bilhões.

 

Antes de votar, o Senado fará duas audiências públicas.

 

O movimento de Ciro Gomes

 

O PSB não pretende disputar as eleições presidenciais com uma candidatura isolada. Mesmo assim, o deputado Ciro Gomes (PSBCE) colocou holofotes sobre sua candidatura. Ele quis mantê-la viva, pois ela corre o risco de minguar com o crescimento de Dilma Rousseff. “É bom manter duas candidaturas do lado governista, ninguém sabe como vai ficar em 2010”, diz o senador Renato Casagrande (PSB-ES). Os socialistas querem marchar ao lado do presidente Lula.

 

O GOVERNO não tem uma fórmula para socorrer os municípios por causa da queda do repasse do Fundo de Participação dos Municípios. A dificuldade: o impacto é diferenciado na receita de cada município.

 

ALÉM DA 1ª Conferência de Comunicação, o governo também manterá a 2aConferência de Promoção da Igualdade Racial, em junho, apesar dos cortes orçamentários.

 

AGRADO. O presidente Lula vai aproveitar sua ida a Montes Claros (MG), segunda-feira, para visitar a fábrica da Coteminas, do vice José Alencar.

SOLANGE AMARAL

Rua da sucessão, número 171


O Globo - 02/04/2009
 

 

Em 2005, o presidente Lula anunciou investimentos no setor da habitação da ordem de R$ 4,5 bilhões. No ano seguinte, o governo acenou com R$ 18,7 bilhões para a construção de casas populares.

 

Já em 2007, incluiu no Plano de Aceleração do Crescimento mais R$ 9,7 bilhões para saneamento e moradia.

 

Menos de três semanas antes das eleições de 2008, o Planalto bradou um pacote para baratear o preço dos imóveis, abrindo linha de crédito de R$ 8,7 bilhões.

 

Agora, embalado no propósito de passar a faixa presidencial para a ministra Dilma Rousseff, eis que surge o maior pacote habitacional sob sua gestão, em torno de R$ 34 bilhões.

 

É curioso observar que o déficit habitacional, no período compreendido entre 2005 e 2008, manteve-se praticamente o mesmo, apesar da montanha de recursos supostamente investidos pelo governo federal para resolver esse problema. Se somarmos todo o dinheiro anunciado para fins de moradia, e dividirmos por sete milhões, número aproximado de casas que precisam ser construídas, chegaremos ao valor de R$ 108 mil por residência. É um valor modesto, em se tratando da classe média, que inclusive foi a maior beneficiada com esse novo pacotão. Mas para populações de baixa renda, é dinheiro suficiente para acomodar com conforto e dignidade milhares de famílias que vivem hoje em condições sub-humanas.

 

Das duas uma: ou o governo faz propaganda e não investe o que anuncia; ou está aplicando muito mal o dinheiro do contribuinte. Particularmente, acredito na combinação dessas duas hipóteses.

 

Não se enxerga no horizonte qualquer iniciativa que represente, de fato, um incremento na política habitacional brasileira. Ninguém fala, por exemplo, na adoção de projetos urbanísticos que são símbolos de modernidade no mundo. A palavra mágica do governo petista para resolver todos os problemas do país é bilhão. É bilhão para cá, é bilhão para lá, e ninguém percebe diferença na qualidade de vida do cidadão.

 

Como conduzir um programa habitacional legítimo e honesto em seus objetivos, sem incluir, ainda na planta, a infraestrutura necessária em transportes, educação e lazer, por exemplo? Conjuntos habitacionais, como os que deram origem à Cidade de Deus e o Nova Sepetiba, são aberrações arquitetônicas que aviltam a dignidade humana.

 

Mas não existe nenhuma cláusula contratual que exija de estados e municípios a contrapartida em serviços básicos para o atendimento da população.

 

Serão exigidos estudos ambientais que avaliem o impacto dessas construções sobre lençóis freáticos, rios e lagoas? Como se dará o processo de desapropriação e indenização dos titulares desses terrenos? O pacote deveria ser iniciado com um concurso nacional envolvendo arquitetos, urbanistas, ambientalistas, entre outros. Construtoras pensam apenas na relação custo-benefício. Para elas, é muito mais barato levantar edificações que comportem 50 famílias por andar, por onde passará um único encanamento de esgoto, por exemplo.

 

Se o presidente Lula não percebe que sua política habitacional está equivocada, posto que atrasada, talvez compreenda por metáforas o que pode acontecer com sua candidata em 2010.