quinta-feira, novembro 26, 2009

ELIANE CANTANHÊDE

Vai mal a coisa

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/11/09


BRASÍLIA - As relações do Brasil com o Irã vão de vento em popa, mas não se pode dizer o mesmo das relações do Brasil com os EUA.
Depois de o chanceler Amorim dizer à Folha que há "uma frustração" com os EUA e cobrar "maior franqueza" do governo Barack Obama, agora é o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, quem manifesta "decepção".
No meio disso, a carta de Obama para Lula soa como inventário dos pontos de discórdia. Alguns são antigos, como o fracasso da Rodada de Doha, a derradeira sacada brasileira na área de comércio, depois do enterro da Alca e do aborto de acordos bilaterais com os EUA.
Outros são bem mais recentes, como a saída para a crise de Honduras. O Brasil lidera o movimento para rejeitar o presidente eleito no próximo domingo, sem que Manuel Zelaya seja reconduzido antes. Já os EUA têm apoio de velhos aliados incondicionais, como a Colômbia, para acatar o resultado das urnas e ponto final.
Vai mal a coisa, e cedo. Obama acaba de ser empossado, tem enormes dificuldades internas, nem sequer obteve a aprovação de todos os assessores no Congresso (nem o embaixador no Brasil, aliás) e não consegue avançar no Oriente Médio, no Afeganistão, na aproximação com a América Latina. E o mais curioso é o desequilíbrio do comércio bilateral: superavit de US$ 4 bi para os EUA, um aumento de 284%. Perguntar não ofende: então o Brasil é comprador, em vez de vendedor para o maior e mais disputado mercado do planeta?
Segundo o embaixador Mauro Vieira (que assume em janeiro a embaixada em Washington), isso é sinal da importância que produtores e exportadores norte-americanos dão ao Brasil mesmo na crise. Ok, mas não seria melhor que os produtores e exportadores brasileiros é que se dessem bem? O próximo round será em Copenhague, com EUA e China de um lado, França e Brasil do outro.

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