segunda-feira, outubro 19, 2009

GEORGE VIDOR

Batalha longa

O GLOBO - 19/10/09

Um dos rescaldos da crise internacional é a inflação continuar a ser vista como um dos maiores problemas da economia brasileira. Enquanto os índices de preços chegaram a ficar negativos pelo mundo afora, aqui resistiram bravamente acima de 4%, em média, para os consumidores, embora no atacado a Fundação Getulio Vargas tenha apurado deflação em suas pesquisas.

Não existe risco de escassez de alimentos ou de outros bens de consumo capaz de acelerar a inflação no atual horizonte. Tais produtos podem sofrer concorrência de importações e, além disso, são beneficiados por reduções de custos decorrentes de inovações tecnológicas ou ganhos de produtividade. Como no Brasil ainda há tantos obstáculos para se produzir, quaisquer burocracia que desaparece do caminho, melhora na infraestrutura ou redução de juros e tributos acabam tendo um tremendo impacto na cadeia produtiva.

Nos serviços não há a mesma concorrência externa e a remoção de obstáculos causa menos efeito positivo do que na indústria ou na agropecuária. O setor de serviços é também muito pressionado por aumento de salários.

Como os salários no Brasil ainda estão longe de alcançar um patamar que esteja próximo da estabilização (as negociações entre patrões e empregados já não ocorrem a partir de percentuais irrealistas, mas a queda de braço sempre gira em torno de aumentos reais, bem acima da inflação), a corrida entre eles e os preços se mantém, e se realimenta via indexação.

Indexação que, por sinal, está presente também nos contratos de aluguéis, nas tarifas de serviços públicos concedidos, tendo como vantagem, em relação aos tempos de inflação galopante, o fato de as revisões serem anuais. Diga-se de passagem que, por lei, os salários são hoje negociados livremente (com exceção do mínimo), geralmente com base em acordos coletivos de trabalho.

Os dirigentes do Banco Central acreditavam que quando a inflação caísse para menos de 5% ao ano essas pressões sobre os preços diminuiriam significativamente e a barreira psicológica, que põe todos de pé atrás diante desse tema, perderia força. No início do ano que vem a inflação, medida pelo IPCA, deve recuar para 3,9%. Mesmo assim, no mercado financeiro há quase um consenso entre os analistas sobre uma possível alta nos índices de preços, impulsionados pelo aquecimento da economia, em 2011, o que obrigaria o BC a elevar os juros básicos novamente para dois dígitos (a previsão chega a 11,25%).

É pena. Somente a própria trajetória da inflação nos próximos meses será capaz de desarmar essa expectativa negativa para 2011. Ao menos por enquanto, o Banco Central (que reúne esta semana o Comitê de Política Monetária) não se mostra ainda sensibilizado por tal temor.

A batalha contra a inflação ainda será longa.

Em 1995, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) definiu como meta, baseado em estudos iniciados três anos antes, transformar o gás natural na terceira fonte da matriz energética brasileira. Na época, o objetivo traçado (reafirmado posteriormente no Plangás, da Petrobras) era ampliar de 3% para 12% a participação do gás na matriz, perdendo apenas para o petróleo e para a energia gerada em usinas hidráulicas.

No ano que vem essa percentual provavelmente estará em 11%, a um passo da meta. Como o gás tem contribuído para substituir outros combustíveis mais poluentes ou que levem ao desmatamento, esse será mais um trunfo que o Brasil poderá apresentar na conferência de cúpula sobre mudanças climáticas em Copenhague (Cop-15)

Por conta dos Jogos Olímpicos de 2016, o Rio receberá R$7,4 bilhões de investimentos além dos que precisariam ser feitos se o evento não viesse a ser realizado na cidade. Com ou sem os Jogos, o Rio necessitaria de pelo menos R$15 bilhões em investimentos nesse período para melhoria de sua infraestrutura e segurança.

Os cálculos são da secretaria estadual de Fazenda. Pelo orçamento do Comitê Olímpico, as despesas operacionais dos Jogos em si serão da ordem de R$5,6 bilhões, dos quais R$3,6 bilhões desembolsados no próprio ano de 2016. Governo federal, Estado e Prefeitura do Rio entrarão, cada qual, com R$461 milhões, se as receitas com patrocínio, licenciamentos e venda de ingressos não superarem o que está orçado. O Comitê Olímpico Internacional entrará com R$1,2 bilhão.

A crise pode estar chegando ao fim na economia mundial (já não há quem esteja à espera de nova hecatombe), mas, como gatos escaldados, os chamados países emergentes não param de acumular reservas cambiais. Na recente reunião de Istambul, a cúpula do Fundo Monetário Internacional propôs aos bancos centrais que o FMI assuma esse papel, preparando-se para financiar desequilíbrios temporários nas contas externas de economias que percam o acesso a mercados. A proposta não deve prosperar. Brasil e China, por exemplo, continuarão a acumular reservas em moeda estrangeira, para evitar que o real e o yuan se valorizem excessivamente. No caso brasileiro, as reservas provavelmente atingirão o patamar de US$250 bilhões no início de 2010.

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