quarta-feira, abril 08, 2009

RUY CASTRO

Choque de ordem

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/09

RIO DE JANEIRO - Já se tornou uma expressão nas ruas do Rio. O sujeito chega atrasado a um compromisso e se explica: "Foi o choque de ordem". Ou: "Parei num choque de ordem". Todo mundo entende e aprova. Significa um engarrafamento provocado por uma boa causa -era a prefeitura rebocando 20 carros estacionados em lugar proibido ou dando uma prensa num caminhão que descarregava cerveja ou cocos fora de hora.
Outro uso benigno da expressão é quando se passa por alguém que, à luz do dia e de costas para nós, urina descaradamente num poste ou árvore, como se estivesse no sacrossanto recesso. Grita-se "Choque de ordem!", e o cidadão leva um susto que o faz sacudir-se e, com sorte, urinar-se.
Choque de ordem tornou-se sinônimo da presença da equipe do novo prefeito Eduardo Paes nas ruas do Rio, nesses primeiros cem dias da sua administração. E é uma presença palpável. Revela-se na redução da população de rua, no estouro dos depósitos de muamba, nos túneis de novo iluminados, na contenção dos flanelinhas e dos ambulantes, na demolição de construções irregulares e no combate à poluição publicitária.
Tudo isso está levando a população a tentar reeducar-se. Já não é tão avassaladora a certeza de impunidade, em que cada um fazia da rua o seu quintal. Hoje, o sujeito pensa duas vezes antes de parar numa fila dupla -nem que seja pelo medo da multa ou do reboque. E a consciência de que é importante reprimir por igual o grande e o pequeno delito começa a tomar corpo junto à maioria dos cariocas.
Não votei em Eduardo Paes e nem sempre admirei seu estilo de campanha. Mas nunca tive dúvida de que, se se dedicasse a executar o programa com que pretendia eleger-se, faria uma grande administração. Pois já começou. Neste momento, no Rio, temos um prefeito.

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