quarta-feira, abril 08, 2009

CLÓVIS ROSSI

Com quantos G se fará o mundo?

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/09


SÃO PAULO - Lembra-se da cúpula do G20, aquela em que Barack Obama acarinhou Luiz Inácio Lula da Silva, e a parte deslumbrada do Brasil viu no gesto o surgimento de uma nova liderança planetária?
Pois é, Timothy Garton Ash, um dos mais respeitados acadêmicos europeus, viu outra coisa: para ele, a cúpula do G20 foi o momento em que "a China surgiu definitivamente como potência do século 21", conforme escreveu para "El País", da Espanha.
Com isso, o que contaria no mundo não seria nem o G20, nem o G8, nem nada parecido, mas apenas o G2 (China e Estados Unidos).
Nesta 
Folha, ontem mesmo, Marcos Nobre preferia falar de um G4 (Estados Unidos, China, Japão e Alemanha) como comandantes de "um novo arranjo econômico informal" a emergir com a recuperação da economia mundial.
Em todas essas análises, perfeitamente lógicas, o que não quer dizer que venham a se comprovar na prática, no todo ou em parte, o pressuposto essencial é de um certo declínio norte-americano. Qualquer G com mais de um só faz sentido se se lembrar que, hoje, vale o G1, os Estados Unidos como única superpotência remanescente.
Lembro-me de, faz 20 anos, ter feito uma viagem de estudos, patrocinada pelo governo norte-americano, exatamente para tentar entender o que então se chamava "declinismo", ou seja, a suposição de que os Estados Unidos caminhavam para um declínio irreversível. A bola da vez, como sucessor, era o Japão.
Deu no que todos sabemos: quem declinou foi o Japão. Por isso, sem desprezar qualquer hipótese futura de G-algum-número, fico com José Luís Fiori (UFRJ) em "O mito do colapso do poder americano": "Esse declínio relativo dos Estados Unidos não significa um colapso do seu poder econômico nem o fim de sua supremacia mundial".

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