quarta-feira, fevereiro 04, 2015

A inevitável saída de Graça Foster - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 04/02

A disparada das ações da Petrobras à notícia da reunião em Brasília é fato a ser considerado. Não resolve tudo mudar a cúpula, mas, afinal, o governo resolveu agir



Oscilações bruscas em Bolsa sempre refletem a ação de especuladores, mas são termômetros dos humores dos mercados a se levar em conta. Não pode ser desconsiderado, portanto, que, impulsionada pela simples notícia de que Graça Foster se reuniria com a presidente Dilma Rousseff,a ação da Petrobras tenha subido mais de 10% e fechado com uma alta de 15%. O fato reflete o entendimento esmagador entre investidores, e até mesmo no governo e PT, de que o prazo de validade de Graça, técnica de carreira da estatal e amiga de Dilma, já venceu há algum tempo.

É sabido que o próprio ex-presidente Lula tem essa opinião, a mesma do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. A reunião de ontem em Brasília foi entendida como a fumaça branca da saída de Graça da estatal, daí o salto da ação.

Até o final da tarde, o governo se mantinha em silêncio, o mesmo comportamento de Graça ao embarcar em Brasília de volta ao Rio e ser abordada pelo GLOBO.

Mas os ponteiros estariam acertados para Graça sair em março, depois de assinar o polêmico balancete do terceiro trimestre de 2014, divulgado numa versão de baixa credibilidade, por não ter passado pelo crivo de auditoria independente, nem prever qualquer baixa patrimonial devido ao assalto de que a companhia foi vítima, praticado pelo esquema de corrupção montado na cúpula da estatal sob as bênçãos lulopetistas.

De mais a mais, seria muito difícil encontrar alguém para substituir Graça Foster que aceitasse colocar a assinatura neste balanço e, assim, poder ser arrolado nos processos que correm nos Estados Unidos contra a Petrobras, devido a empresa ter lesado investidores no mercado americano.

O desgaste de Graça Foster, da diretoria como um todo e do próprio Conselho Administrativo, presidido pelo ex-ministro Guido Mantega, ultrapassou os limites aceitáveis.


Consolidou-se o entendimento de que Dilma mantinha Graça não apenas devido aos laços de amizades, mas para lhe servir de anteparo, porque ela presidira o Conselho nos dois governos Lula. Se foi por isso, deixou de compensar o custo de manter a Petrobras à deriva, com as ações em queda quase livre e à espera dos difíceis desdobramentos judiciais e políticos do escândalo.

Mudar o presidente, toda a diretoria e fazer alterações no Conselho não resolve tudo, mas é, afinal, uma reação por parte do governo, acometido de uma crise de catatonia na explosão do escândalo.

Entende-se — afinal, as ondas de choque atingem mais uma vez o PT, como no mensalão, nas proximidade de Lula e agora da própria Dilma. Mas não é possível assistir impassível à demolição da Petrobras.

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