quinta-feira, dezembro 08, 2011

Um começo incolor - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 08/12/11


2012 será o ano da verdade, tanto para o PSD de Gilberto Kassab quanto para o governo Dilma Rousseff, que, em termos de desenvolvimento e infraestrutura, ainda deixou a desejar
Nem governo, nem oposição. Nem Corinthians, nem Palmeiras. Nem Vasco, nem Flamengo. Nem branco, nem preto. Assim é o PSD. O primeiro seminário do partido, realizado ontem num hotel em Brasília, mostra que ali cabe de tudo não só no que se refere a campo ideológico na política bem como no mérito de propostas. O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles aponta um Brasil cor-de-rosa em meio à crise econômica europeia. Aposta que nada irá abalar a economia nacional e que a situação atual é passageira. Enquanto isso, nos bastidores, integrantes da legenda preferiam traçar um cenário cinza chumbo, como se o país estivesse coberto de nuvens que indicam fortes tempestades por causa do PIB zero do último trimestre. 
Juntando tudo, o que se tem é um partido com uma pluralidade de pensamento que, de concreto, apresentou uma fidelidade ao governo nas votações importantes. Ajudou inclusive a reduzir o tamanho da oposição. Mas ainda não dá para perceber que cor tem o PSD, se será governo dia e noite, ou ficará no meio-termo, ao sabor dos ventos, adotando a cor que predominar na estação. 
Como a situação é incerta tanto do ponto de vista político quanto econômico, o PSD por enquanto está incolor. Assim como a água, que se adapta aos contornos do copo e preenche espaços vazios. Quando fez o primeiro ato do partido em São Paulo, em março deste ano, Kassab foi claro. Disse que a relação com o ex-governador paulista José Serra era “inquebrável”. E completou: “Onde ele (Serra) estiver, eu estarei ao seu lado”. Ou seja, a porta para alianças com os tucanos continuará aberta até que Kassab possa sentir mais firmeza no governo Dilma ou na oposição.

Por falar em governo...
O “começo incolor”, entretanto, não é privilégio do PSD. No quesito infraestrutura, o mesmo governo Dilma que pisou firme no acelerador da área social lançando uma série de programas, encerra esse primeiro ano deixando a desejar em vários setores, especialmente o de energia, sua especialidade. Chegou a ponto de a Frente Parlamentar de Infraestrutura lançar ontem manifesto cobrando projeto nacional de desenvolvimento, o que, avaliam os integrantes do grupo, ainda não ocorreu. 
Sabe-se que, no Brasil, um dos indutores do crescimento é poder público. Quando os investimentos dos governos despencam, o Produto Interno Bruto não se sustenta. Foi isso que ocorreu no último trimestre em que a economia nacional registrou PIB nulo, segundo a avaliação de muitos comensais sentados à mesa, na sede do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), em Brasília. 
A avaliação da frente é clara. Na área de transportes, os investimentos caíram assim como no setor do petróleo. As chamadas parcerias público-privadas (PPPs) simplesmente não deslancharam. “Temos que trabalhar para que as coisas aconteçam e esse PIB nulo não se repita”, comentava ontem o presidente da frente, Arnaldo Jardim (PPS-SP), que, embora da oposição, não é do tipo que aposta no quanto pior melhor para se dar bem na próxima eleição. Ele fez inclusive questão de bater firme no trabalho suprapartidário que realiza no grupo. 
E, dentro da Frente de Infraestrutura, começa a haver um consenso de que não dá para passar o tempo esperando o governo. Por isso, eles, por conta própria, reuniram especialistas e elaboraram um conjunto de projetos para deslanchar a regulamentação na área de energia. Cobram do governo ainda uma Lei Geral das Agências Reguladoras, que preserve a autonomia das agências na tomada de decisões e fiscalização. 
A intenção da frente é agir, em vez de ficar apenas observando o andar da carruagem, como faz o PSD. O problema, infelizmente, está longe de ser resolvido. É que, por mais que se diga que é preciso isso e aquilo, se o governo não decidir votar, dificilmente esses projetos emplacam. A não ser, é claro, que os presidentes da Câmara, no caso o petista Marco Maia, e o do Senado, José Sarney, do PMDB, decidam que é hora de “mudar de cor”, digamos assim. Por enquanto, a única proposta que Sarney admitiu colocar em votação — chamando o governo para o ringue — foi a regulamentação da Emenda 29, que aumenta os recursos para a saúde, em pauta no Senado. Na Câmara, os temas polêmicos se acumulam. 
2012, entretanto, vai chegar daqui a alguns dias, como o ano da verdade, tanto para o PSD de Gilberto Kassab quanto para o governo Dilma Rousseff, que, em termos de desenvolvimento e infraestrutura, ainda deixou a desejar. Afinal, enquanto o governo Dilma não deixar claro que evitou o ingresso do Brasil no redemoinho da crise, o PSD de Gilberto Kassab continuará no muro: ora aliado, ora oposição. 

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