quinta-feira, dezembro 08, 2011

Deu zero. E agora, José? - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 08/12/11


E deu PIB de 0%. A economia não cresceu no terceiro trimestre. Não é uma tragédia, mas é um alerta que já soou antes, não foi ouvido e talvez chegue atrasado. Em 12 meses ainda é positivo, 3,7%, mas o mercado não acredita que feche o ano em torno disso. Aumenta o número de previsões de 2,8%. Todos concordam que as medidas prudenciais vieram na hora certa, mas poderiam ter sido revertidas mais cedo quando os indicadores de atividade econômica do Banco Central e todas as análises do mercado já mostravam uma forte desaceleração do consumo. Ele simplesmente estagnou no terceiro trimestre, menos 0,1%, quando havia crescido 5,4% nos quatro trimestres anteriores. O governo acredita em alguma reação nos últimos três meses do ano, de forma a ter um PIB de 3% e uma retomada do crescimento em 2012. Os analistas concordam.

Efeito estático. O economista-chefe para a América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, concorda. "A projeção do BNP para 2012 prevê recuperação da economia e aceleração do crescimento ao longo do ano que vem". Entretanto, diz ele à coluna, "há um efeito estático que não parece estar sendo devidamente levado em conta nas projeções. Como a economia termina 2011 mais fraca do que começou o ano, ela começa o ano de 2012 em um patamar relativamente mais deprimido. Isso puxa para baixo a média de 2012 como um todo, embora na ponta a economia deva se aquecer ao longo do ano que vem. Ou seja, em 2011 a economia começou forte e acabou fraca. Em 2012 deve ser o contrário - a economia começa o ano fraca mas termina forte", diz Carvalho.

Não foi a crise externa! Uma análise do PIB do terceiro trimestre revela um fato surpreendente pouco comentado na mídia. Não foi a crise externa, a retração do mercado mundial, que derrubou o PIB. Ao contrário. Impediu o pior! É. Sem ele, estaríamos em recessão. Quem registra e confirma esse fato é o próprio IBGE. "A economia toda desacelerou com as medidas do governo e juros altos. Foi o comportamento do setor externo que contribuiu para que o setor externo não ficasse negativo. Exportações aumentando 1,8% e importações recuando 0,4%", afirma a gerente de Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. Então a tal crise externa não só não pesou mas até ajudou? Sim e não. Aqui, de novo, a grande distorção do comércio exterior brasileiro. O saldo comercial está sendo obtido unicamente pelo aumento das exportações de commodities como minério, alimentos e semimanufaturados.

O colega Rolf Kuntz, em artigo no Estado, mostra com extrema riqueza de dados e análise que a receita dessas exportações vem mais do aumento do volume do que dos preços. Desde soja e minérios, passando pelas carnes, até o algodão. E quase tudo para emergentes, principalmente para a China, onde o governo já admite crescimento menor e injeta mais liquidez num mercado interno que não reage. Os reflexos da desaceleração econômica mundial se refletem no mercado brasileiro sob duas formas: reduz as importações dos nossos principais parceiros e aumenta suas exportações que competem não só no mercado interno, mas no externo também.

Urgência atrasada. O comércio exterior salvou de um PIB negativo, sim, mas isso pode não se repetir nos próximos meses se não vierem com urgência medidas mais intensas de estimulo à demanda, à produção, ao consumo, aos investimentos privados e oficiais que praticamente sumiram com as crises ministeriais. O cenário externo pode se deteriorar nos próximos meses com a Europa entrando em recessão, mas o desafio é evitar a recessão no primeiro trimestre de 2012. E que não se conte novamente com o tubinho de ar das exportações. Vai faltar oxigênio lá fora.

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