domingo, outubro 16, 2011

MAC MARGOLIS - A 'Era K' ainda longe de acabar



A 'Era K' ainda longe de acabar
MAC MARGOLIS
O Estado de S.Paulo - 16/10/11

Há pouco mais de um ano, a queda de Cristina Fernández de Kirchner parecia iminente. Em outubro de 2010, seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, sofreu um enfarte e morreu aos 60 anos. De um só golpe, ela perdia o companheiro, seu maior mentor de campanha e seu cúmplice na poderosa dinastia política mais comentada da região.

De luto e desgastada pela guerra prolongada com lobbies poderosos, a sempre estilosa e combativa presidente argentina parecia subitamente murcha e frágil.

Diplomatas, bisbilhotados pelo WikiLeaks, fofocavam sobre sua saúde mental. Analistas afoitos correram para redigir o obituário da "Era K". O bolo de apostas em Buenos Aires previa não se, mas quando, ela iria jogar a toalha Hermès e desistir da Casa Rosada. Todos se deram mal.

A julgar pelos institutos de pesquisas, Cristina está a caminho de uma vitória histórica, logo no primeiro turno das eleições do próximo domingo.

Os cronistas apressados bem poderiam se redimir, decifrando os motivos que levaram uma das sociedades mais esclarecidas do continente a abraçar a proposta de devolver ao poder um governo dos mais truculentos, arbitrários e descompromissados com as liberdades democráticas dos últimos tempos.

A volta espetacular de Cristina ao sol só é comparável ao breu da fossa que a tragou. Alçada repentinamente ao poder no fim de 2007, o caminho político de Cristina era um campo minado. O país até se recuperava da desastrosa moratória de 2001, mas a economia global começara a balançar, com governos de países ricos forçados a socorrer bancos e empresas.

Foi a deixa perfeita para a Casa Rosada. Com o pretexto de salvar o capitalismo argentino, Cristina encampou-o. Congelou preços, nacionalizou a previdência privada e estatizou a Aerolíneas Argentinas. Também decretou impostos pesados para as exportações agrícolas. Os fazendeiros se rebelaram, travando a distribuição de comida.

O motim chegou ao palácio onde o vice-presidente Julio Cobos desempatou o voto no Senado, garantindo a derrota do imposto rural. Até hoje, com a economia em alta, emprego farto e os shopping centers lotados, os excessos do regime CFK parecem não incomodar.

A política populista de subsídios e de juros frouxos que estimulam a inflação também fortalece o comércio, permitindo aumentos polpudos de salários no setor privado e público.

Até quando? Com o céu anuviado da economia internacional e tempos magros pela frente nos maiores parceiros do país, na China e no Brasil, as comparações futuras podem ser menos lisonjeiras.

"Você pode forçar os limites quando o país está crescendo e há pleno emprego, mesmo quando a economia está sendo mal administrada", diz Daniel Kerner, analista argentino do Eurasia Group. "Mas, em uma crise, tudo pode mudar e depressa." Nem as estatísticas mais amenas do mundo podem ajudar.

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