segunda-feira, setembro 12, 2011

ROBERTO ZENTGRAF - Aparências enganam... manifestações também!


Aparências enganam... manifestações também!
ROBERTO ZENTGRAF
O Globo - 12/09/2011

Em épocas de passeatas aqui e manifestações acolá, o sujeito tem que ser muito cuidadoso para não aderir a causas contra seus próprios interesses, ingenuamente ajudando aqueles que, na verdade, estão em campo oposto ao seu. E, mesmo quando o assunto não acirra ânimos a ponto de gerar protestos calorosos, é preciso estar atento para a correta interpretação dos fatos. Claro que aqui em nosso espaço, o foco fica nas finanças pessoais e não na política, ainda que o Movimento Contra a Corrupção (decerto o meu bom e nobre leitor não se opõe a ele!) aproxime os dois conceitos: por exemplo, com verbas que deveriam sustentar hospitais públicos indo parar em bolsos particulares, já se fala na CPMF, o que aumentará a despesa, não é mesmo? Mas voltemos às finanças apenas, e aqui o convido a três reflexões:

(1) Em agosto, a intenção de consumo das famílias brasileiras apresentou alta de 2,5% em relação ao mês de julho, e de 1,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior, como revela a pesquisa nacional de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Você tem reagido positivamente a isso, ou seja, tem engrossado a lista dos que estão consumindo mais às custas da própria poupança? Ou ainda acredita que é preciso guardar para o futuro? Lá venho eu de novo, para frustração dos mais gastadores, que tal?

(2) Com o recente cavalo-de-pau dado pelo Banco Central na trajetória da taxa básica de juros - caiu para 12% ao ano -, houve muita comemoração, claro (você ficou feliz?), mesmo que a queda só tenha sido sentida na ponta dos investimentos, pois, para os empréstimos, em alguns casos a taxa chegou mesmo a subir, de acordo com a pesquisa da Fundação Procon-SP, divulgada sexta-feira, 9 (taxa média do cheque especial registrou uma pequena alta em função de um dos bancos pesquisados ter aumentado o percentual de juros). A grande ironia é que, se antes a Selic era maior diante de uma inflação menor, agora o cenário se inverteu, reduzindo a taxa real de juros. Se você é poupador, cuidado ao comemorar: antes poupava-se a 4% ao ano, além da correção pela inflação, e agora não se consegue fazê-lo por mais de 2%, considerando o mesmo nível de risco. Qual é o problema? Para manter o seu projeto de parar de trabalhar honestamente (!) daqui a tantos anos, você precisará aumentar a sua poupança atual, sabia?

(3) Brasileiros e brasileiras ganharam três anos a mais em sua expectativa de vida entre 1999 e 2009, de acordo com pesquisa divulgada pelo IBGE. Que bom, ficaremos mais tempo por aqui! Mas aviso logo: a julgar pelos amigos que tenho encontrado por aí, o acréscimo de vida está vindo acompanhado de qualidade de vida, o que nos coloca diante de novas pressões consumistas. Qual é o impacto? Veja a seguir!

Adiando o início da poupança (o consumo cresceu), vivendo mais, e diante de uma taxa de juros que cai, R$1.000 de complemento mensal de aposentadoria a partir dos 60 anos ficará bem mais caro hoje, pois passará de R$143,02 mensais (início aos 20 anos, vida até os 80 e taxa de 4% ao ano) para R$921,76 (início aos 40 anos, vida até os 90 e taxa de 2% ao ano). E então, já decidiu em qual manifestação você vai?

Um grande abraço e até a próxima!

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