segunda-feira, fevereiro 22, 2010

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Por que Buffett gosta de seguros


O Estado de S. Paulo - 22/02/2010

Um dos homens mais ricos e admirados do mundo, Warren Buffett, fez boa parte de sua fortuna investindo em companhias de seguros. Sem nunca ter colocado um dólar sequer nos chamados novos negócios, ou nos negócios envolvendo informática e comunicações, o megainvestidor desde os anos 1960 aplica em ações de seguradoras e resseguradoras parte do dinheiro administrado por suas empresas e fundos.

Isso o faz, hoje, estar direta ou indiretamente envolvido com algumas das maiores resseguradoras americanas e europeias, para não falar das seguradoras que controla ou participa do capital.

Um homem como ele não coloca dinheiro onde não vê perspectivas de ganhar mais dinheiro. Então, a razão de ele investir em seguros e resseguros é simples: os dois negócios são rentáveis, dentro dos patamares de rentabilidade que fizeram de Warren Buffett um dos homens mais ricos do mundo e o transformaram em lenda viva em Wall Street.

Se empresas de seguros e resseguros não fossem sólidas e rentáveis, marcas como Munich Re, Swiss Re, Allianz, HDI, Axxa, Zurich, Generali, Met Life, Prudential, etc., não estariam entre as maiores empresas financeiras e entre os grandes investidores dos principais centros econômicos do planeta.

FLUXO LIVRE

Mas o que chamou a atenção de Warren Buffett e o fez investir no segmento foi uma particularidade muito interessante desse tipo de negócio: o floating.

O que o megainvestidor descobriu foi que o negócio de seguros tem a particularidade de receber na frente e nem sempre pagar depois. Além disso, o risco envolvido no negócio não é da companhia de seguros, mas dos segurados.

As seguradoras não assumem os riscos dos segurados. Os riscos são intransferíveis. O que as seguradoras assumem é a obrigação de indenizar determinadas perdas sofridas pelos segurados, em função da ocorrência de eventos previstos e limitados pelo clausulado de um contrato.

Para a atividade seguradora não há risco ruim, há seguro mal taxado. Partindo dessa verdade incontestável, Warren Buffet, ao investir em seguradoras e resseguradoras criteriosamente selecionadas pelo seu perfil de risco, teve acesso à massa de recursos necessária para transformá-lo num dos maiores investidores americanos.

Ao receber o prêmio na frente e pagar os sinistros depois, a seguradora cria um respeitável fluxo de dinheiro livre para ser aplicado, alavancando em muito a capacidade de investimento da empresa, já que, além do seu capital, pela tipicidade do negócio, ela gerencia e investe os recursos de um fundo muito maior do que seus recursos próprios, composto pela soma dos prêmios pagos pelos segurados para fazer frente aos sinistros.

É essa capacidade de investimento que permite às companhias de seguros realizar negócios que, em princípio, podem parecer deficitários.

Apenas a título de exemplo, a maioria das seguradoras brasileiras que operam com seguros de veículos tem um resultado industrial negativo e, no entanto, na linha do resultado operacional, apresenta lucro.

É que, com a aplicação do dinheiro resultante do floating entre a entrada e a saída dos recursos, ela consegue taxas de remuneração suficientes para arcar com o prejuízo direto da operação, remunerando os acionistas em patamares bastante razoáveis, pela soma da valorização dos ativos da companhia com os dividendos distribuídos.

BALANÇOS

Não é por outra razão que um profundo conhecedor da atividade, o ex-presidente da Itaú Seguros, Luiz de Campos Salles, há anos propõe mudanças na apresentação dos balanços das seguradoras.

Da forma como os balanços são publicados atualmente, não fica claro de onde vem o dinheiro, quanto sai da operação, quanto é fruto da remuneração da aplicação dos prêmios e quanto são recursos da própria empresa.

A adoção da metodologia proposta por ele serviria para deixar claro por que Warren Buffet gosta de seguros e resseguros e serviria também para mostrar com que competência as companhias são administradas.

Antonio Penteado Mendonça é advogado, sócio de Penteado Mendonça Advocacia, professor da FIA-FEA/USP e do PEC da Fundação Getúlio Vargas e comentarista da Rádio Eldorado.

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