quinta-feira, novembro 12, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

A dupla que sumiu na escuridão reaparece fantasiada de verde

12 de novembro de 2009

Ainda não foram reparadas as avarias impostas pelo apagão à rede de neurônios de cada um, mas Lula e Dilma Rousseff já religaram a região cerebral que monitora a fala. Nesta quinta-feira, o presidente e a candidata voltaram ao palco para jurar que a índice de desmatamento da Amazônia nos últimos 12 meses foi o menor em 21 anos. Concluída a reconstrução do resto do Brasil, o maior dos governantes desde Tomé de Sousa agora está perto da perfeição num dos ítens do PAC: Remontagem da Grande Remontagem Floresta.

Mesmo para quem assassina a verdade com o desembaraço do mais experiente serial killer americano, parece arriscado contar mentiras sobre o apagão para uma plateia formada por 60 milhões de vítimas desconfiadas. Melhor entregar a missão a Edison Lobão e seus burocratas perplexos e guardar a dupla Lula e Dilma para fraudes menos perigosas. Não é difícil induzir o país que não conhece a Amazônia a enxergar as coisas pelo avesso. Reduzir a taxa de desmatamento equivale a retardar o avanço do câncer que vai matar o enfermo. O Brasil acaba de ouvir que a desaceleração leva à cura.

Confrontem a fantasia oficial, forjada para transformar em ambientalista desde criancinha a candidata que só conhece árvore de Natal, com o que diz Pedro Martinelli na seção Veja Entrevista. Um dos maiores fotógrafos do mundo, meu velho amigo tornou-se amigo íntimo da região com a qual convive desde 1970. Nos primeiros voos entre São Paulo e Manaus, a travessia da mata contínua durava quase duas horas. “Não se enxergava nenhum risco de estrada nem o brilho de um telhado de zinco”, conta. Hoje, esse tempo foi reduzido a 40 minutos.

Pedrão informa que a taxa de desmatamento é muito maior que a federal, que não inclui os estragos feitos por madeireiros e garimpeiros sob as copas das árvores. ”Os políticos deveriam falar menos e ouvir mais o que os caboclos têm a dizer sobre coisas como preservação ambiental e sustentabilidade”, recomenda. “Eles só aparecem de vez em quando, sempre com ideias prontas, fazem discursos e somem”.

Para reaparecerem em Brasília com outra fraude eleitoreira.

NA IMPRENSA EM 1921

UM INVENTO PARA DESANALPHABETIZAR
Publicado na Folha da Noite(FOLHA DE SÃO PAULO) em 1 de junho de 1921

Neste texto foi mantida a grafia original

O sr. Antonio da Silveira Salles, moço paulista, residente nesta capital, esteve em nossa redacção, fazendo demonstrações praticas do seu invento — um apparelho auto - instructivo, — que visa a desanalphabetisação de qualquer pessoa, independente de professor.

É realmente de grande alcance no momento, o invento que tivemos occasião de conhecer agora que o Governo do Estado se preoccupa, na reforma da Instrucção Publica, com desanalphabetisação do maior numero de crianças. É o caso até do sr. dr. Secretario do Interior procurar conhecer e adoptar o methodo em questão desde que julgue util, e praticavel.

O novo systema simplifica extraordinariamente a aprendizagem das primeiras letras, elementos de arithmetica, geometria e historia, dependendo, apenas, da sua adaptação.

Por meio delle será resolvido o problema do analphabetismo para o qual se voltam, ha tanto tempo, todos os que se interessam pelo futuro do Brasil, que são todos os bons patriotas. Pelo lado economico, o Governo do Estado, adoptando-o, veria immediatamente os seus excelentes resultados, segundo affirma o seu inventor.

Um exemplo basta para o demonstrar. Paga-se por um professor do interior do Estado, em lugar remoto a quantia de 300$000 mensaes ou sejam 3:600$000 annuaes. O sr. Silveira Salles affirma que se adquirindo 30 desses apparelhos, poderão ser desanalphabetisadas milhares de pessoas, com a decima parte da quantia despendida até então. E não pareça, diz elle, que o apparelho venha tirar a profissão ou diminuir os lucros do professor. Muito pelo contrario, o auxiliará no que ha de mais difficil, podendo com o seu uso desanalphabetisar em quinze dias, quem quer que seja.

O inventor dispõe-se a fazer demonstrações praticas a quem desejar conhecer o apparelho — auto - instructivo, — sendo encontrado diariamente á Rua 15 de Novembro n. 34, sobrado, sala 9 de 12 ás 16 horas.

* Será que ainda vamos encontrar esse tal apparelho? Preciso comprar um desse, com urgência, para enviar a um certo Presidente em Brasília.
Quem souber informe ao BLOG.

CLÁUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS

Deus é fiel


Folha de S. Paulo - 12/11/2009

Eis uma frase que vemos, atualmente, estampada por toda a parte. Mas, afinal, o que diabos significa dizer que Deus é fiel?


EIS UMA frase que vemos, atualmente, estampada por toda a parte: dos gigantescos outdoors aos vidros dos automóveis, sem falar dos templos, das traseiras de caminhões e das faixas ostentadas nas passeatas pop-evangélicas.
Num outro momento e lugar, esse fato talvez não merecesse maiores considerações. Afinal, fanatismo religioso e proselitismo exagerado sempre houve neste "mundo de meu Deus", e por sua causa já muito se matou e se morreu.
Todavia, não podemos esquecer que é de um "ungido" Brasil pré-eleitoral que estamos falando, ele mesmo situado numa América Latina "consagrada" a líderes messiânicos que se creem mais do que deuses.
E, se apenas alguns deles ousam ser tão blasfemos a ponto de se compararem ao próprio Cristo, todos eles, sem exceção, desejam ver os seus mandatos religiosamente prorrogados "até o final dos tempos". Ou, se tal não for possível, devido às manobras da "maligna" oposição, esperam ao menos passar a faixa presidencial para o discípulo ou a discípula mais amada, na esperança de que, em breve, possam voltar -ressuscitados- ao poder que idolatram de forma luciferina.
Cabe-nos, portanto, investigar, ainda que brevemente, o que diabos significa dizer que Deus é fiel. Em primeiro lugar, não deixa de ser notável que, num mundo onde a infidelidade sempre foi a regra dominante (se é que desejamos ser fiéis à verdade), se procure atribuir a Deus, com especial relevância, não a qualidade de ser bondoso ou justo, mas a de ser fiel. E isso precisamente numa época em que reina a publicidade -a "sacerdotisa-mor" da mentira, a "deusa-mãe" do engodo- e na qual amigo trai amigo, os sacerdotes traem os seus rebanhos, os políticos os seus eleitores, os comerciantes os seus clientes etc.
Não seria isso, talvez, algum tipo de "projeção compensadora", semelhante às discutidas por Freud, Marx, Nietzsche e Feuerbach, que visaria, ao jogar toda a luz sobre a divina perfeição, ocultar nas sombras a podridão humana?
Por outro lado, quando dizemos que Deus é fiel -supondo que saibamos, na teoria e na prática, o que é fidelidade-, na mesma hora nos vem à mente uma questão: a quem, nesse caso, seria Ele fiel?
Aos católicos que trucidaram protestantes ou aos protestantes que trucidaram católicos? Aos nazistas que assassinaram judeus nos campos de concentração ou aos israelenses que supliciam palestinos nos campos de refugiados? Aos muçulmanos que mataram "ocidentais" no 11 de Setembro ou aos "ocidentais" que massacram muçulmanos no Iraque e no Afeganistão? A Stálin, Pol Pot e Mao, que eliminaram dissidentes como matamos mosquitos, ou a Hitler, Mussolini e Franco, com suas terríveis atrocidades? Aos corintianos que esfolam palmeirenses (e vice-versa) ou aos cronistas esportivos que, por maldade ou ignorância, estimulam a violência nos estádios?
Infelizmente, se examinarmos as coisas como de fato se apresentam -tendo a história como suprema corte, como dizia Hegel- e não com os benevolentes olhos do "outro mundo", forçoso será concluir que o Pai Eterno se mostra bem mais fiel aos que esbanjam dinheiro nos shoppings de luxo do que às crianças que se acabam nos semáforos da Pauliceia; aos que erguem as odiosas barreiras transnacionais do que aos migrantes de todas as latitudes que não se cansam de tentar atravessá-las; aos malandros que vendem a salvação neste ou n'outro mundo do que aos crédulos que tolamente a compram; enfim, aos malvados, desonestos e egoístas do que aos bons, corretos e solidários.
Eu, que não sou teólogo, ouso crer, piedosamente, que Deus -se é que Ele existe- não é fiel a mortal algum, mas unicamente a Si mesmo, à Sua inextrincável complexidade, à Sua silenciosa incompreensibilidade, à Sua incognoscível natureza (incognoscível, quem sabe, até para Ele).
O que nos resta, a nós mortais, se formos lúcidos, é o enfrentamento cotidiano da terrível solidão desses espaços infinitos, que tanto assustavam Pascal, e dos quais provavelmente não virá resposta alguma, sobretudo se as perguntas forem feitas por pseudossacerdotes ou por políticos de ego inflado.
O que precisamos, no fim das contas, é ter coragem para lutar contra a tendência universal da humanidade a se curvar e a obedecer, que é muitíssimo maior do que qualquer eventual vontade de autonomia. Por causa dessa tendência, uns poucos "lobos" espertalhões são capazes de pastorear rebanhos gigantescos de "carneirinhos humanos", que se prostram agradecidos ao jugo do chicote, sempre contentes e -claro- fidelíssimos.

BRASÍLIA - DF

O Lula das Arábias


Correio Braziliense - 12/11/2009




O presidente Luiz Inácio Lula da Silva só se meteu no “grande jogo” do Oriente porque o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no primeiro encontro entre ambos, pediu que o ajudasse na aproximação diplomática com o presidente do Irã, o polêmico Mahmoud Ahmadinejad. “Grande jogo” é o eufemismo usado para descrever a intrincada malha de alianças diplomáticas e militares que as grandes potências europeias, principalmente a Inglaterra, a França e a Rússia, desenvolvem no Oriente desde o século 19. A dissolução do Império Otomano foi o ponto alto da empreitada, na qual pontificou Thomas Edward Lawrence, arqueólogo, militar e espião britânico, personagem eternizado no filme Lawrence da Arábia.

A anunciada chegada de Ahmadinejad — que defende a destruição de Israel, acredita que não houve o Holocausto e desenvolve um programa nuclear que o Ocidente suspeita que tem por objetivo a fabricação de uma bomba atômica — colocou o Brasil no epicentro do Oriente conflagrado. Obama acredita que não haverá solução para o problema do Iraque, nem para o Afeganistão, com os antigos persas armando xiitas e talibãs. A propósito, o que o Irã faz com os curdos (20% da população) não passa de limpeza étnica. Mas ninguém apoia a independência do Curdistão.

Palestina

Lula aproveitará a visita de Abbas para pedir que se candidate à reeleição, garantindo a continuidade das negociações de paz entre Israel e a Autoridade Palestina. O governo brasileiro teme que uma vitória dos guerrilheiros palestinos do Hamas provoque nova intervenção de Israel na Palestina, complicando ainda mais a situação na região, que tem fortes laços com o Brasil por causa das comunidades árabe e israelita aqui radicadas.

O cara

O presidente do Irã chegará ao Brasil no dia 23 e desta vez não adiará a viagem por causa dos protestos. O adiamento anterior ocorreu porque era candidato à reeleição e não porque o Brasil ou o Irã cederam ao forte lobby israelita. No encontro, Lula terá a missão diplomática mais importante de todo seu governo. Se for bem sucedido, confirmará a afirmação de Obama de que realmente é “o cara” na diplomacia internacional.

Israel



Quem desembarca no Brasil três dias antes de Ahmadinejad é o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, uma esperta manobra do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim (foto), para neutralizar as pressões de Israel. A visita do presidente israelita Shimon Peres teve quase que um único objetivo: advertir o governo brasileiro de que o Irã é uma ameaça à estabilidade no Oriente Médio e que Israel atacará primeiro diante de uma ameaça nuclear iraniana.

Educação

O Brasil é a nona economia do planeta, mas está em 78º na questão da educação. Os países desenvolvidos investem entre US$ 6 mil a US$ 11 mil em cada estudante. Segundo o presidente do Conselho Nacional de Educação, César Callegari , o Chile e o México investem o dobro do Brasil, que gasta com cada estudante US$ 1.077

Parede



Inconformados com a escassez de recursos no Orçamento de 2010, os 10 relatores setoriais encostaram na parede — literalmente —, o relator-geral da proposta, deputado Geraldo Magela (foto), do PT-DF. Exigiam que o petista retirasse de seu parecer preliminar os dispositivos que consideram conferir superpoderes ao relator como condição para votarem o texto.

Bondade

A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) aprovou ontem a tarifa social de telefonia para consumidores de baixa renda. Os deputados acataram, por unanimidade, o relatório favorável do deputado Luiz Carlos Busato (PTB-RS). Depois do celular de graça, pessoas de baixa renda cadastradas no programa Bolsa Família terão a taxa básica de telefonia fixa reduzida em 90% do valor atual. Vão pagar apenas R$ 4 por todas as ligações que efetuarem.


Sintonia/ Contrários ao pré-compromisso com o PT da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, peemedebistas do Paraná e de Santa Catarina marcaram encontro, dia 21, para avaliar os quadros estaduais. Até lá, tentarão encorpar o encontro com colegas de estados onde há resistentes à aliança com a candidatura petista.

Impactos/ A Comissão de Meio Ambiente da Câmara realiza audiência pública hoje para discutir os impactos ambientais decorrentes da exploração de petróleo na camada pré-sal com os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão; de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende; e de Meio Ambiente, Carlos Minc.

Lançamento/ A Sociedade de Psicanálise de Brasília (SPB) e o Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) lançam hoje, a partir das 20h, no restaurante Carpe Diem, o livro Fronteiras em psicanálise, organizado pelas psicanalistas Valeska Zanello, Cláudia Carneiro e Maria Nilza Mendes Campos.

Linhão

Enquanto o governo dedicava o dia a explicar o “apagão”, na Câmara dos Deputados, a discussão da MP 466 serviu de ensejo para a oposição jogar mais gasolina no debate. A medida provisória trata da integração do sistema isolado da Região Norte com o restante do país.

KENNETH MAXWELL

Más notícias


Folha de S. Paulo - 12/11/2009

NESTA SEMANA , o índice de desemprego e subemprego nos EUA atingiu 17,5%. Os números oficiais do Departamento do Trabalho registram tanto as pessoas que gostariam de um emprego em tempo integral quanto as que só conseguiram trabalho em tempo parcial.
Em outubro de 2000, o índice ficou em 6,6%. Apesar de só haver estatísticas comparáveis a partir de 1994, os economistas estimam que o atual resultado seja o pior desde a Grande Depressão, quando o índice excedeu os 30%. O desemprego básico em outubro foi de 10,2%, a primeira vez em 26 anos em que atingiu a marca dos dois dígitos.
Como resultado, o governo Obama, na sexta-feira, prolongou os benefícios desemprego, bem como os cortes de impostos para os compradores de casas, e o Federal Reserve anunciou que manteria em zero a taxa básica de juros.
Desde outubro de 2007, porém, 7 milhões de pessoas perderam o emprego. Há hoje quase 16 milhões de desempregados. Quando desempregados e subempregados são computados no mesmo total, um em cada seis trabalhadores norte-americanos não foi capaz de encontrar emprego no mês passado.
Os salários das pessoas empregadas cresceram, em média, entre 1,5% e 2,5% nos últimos 12 meses.
Esse é um fenômeno novo. Durante a recessão dos anos 70, os salários semanais reais caíram 7% e, durante a recessão dos anos 80, caíram 4%. O quadro geral, no entanto, é de fato muito sombrio. Para os homens, o desemprego é agora de 10,7% -e de 8,1% para as mulheres; para os negros, o índice chega a 15,7%; entre os hispânicos, a 13,1%; entre os adolescentes, a 27,6%. Para as pessoas sem trabalho, encontrar um novo emprego é virtualmente impossível.
Os gastos do governo para estimular a economia demoram a chegar ao cidadão médio. Os grandes resgates foram dirigidos às maiores instituições de Wall Street, o que significa que o argumento de "grande demais para falir" prevaleceu quanto a isso.
Com uma espantosa falta de sensibilidade, os banqueiros continuaram a se pagar imensas bonificações e nada parecem ter aprendido com as experiências dos 12 últimos meses. O índice industrial médio Dow Jones voltou a ultrapassar os 10 mil pontos, e Wall Street continua a interpretar os números do desemprego no mês passado como "menos ruins do que se esperava".
O ritmo de elevação do desemprego claramente se reduziu: 188 mil empregos perdidos no mês passado, ante a média mensal de 645 mil entre novembro de 2008 e abril deste ano. Representam algum alívio para as pessoas que estão procurando emprego desesperadamente, mas não apontam para uma recuperação econômica imediata ou rápida.

DIRETO DA FONTE

São Pedro não tem culpa

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/11/09


Diante da profusão de explicações sobre o motivo do apagão, que atingiu 12 Estados, pode-se tirar pelo menos uma conclusão. São Pedro, diferentemente do que ocorreu em 2001, fez sua parte, enchendo os reservatórios brasileiros de água.
Quem não fez a sua, mesmo diante das lições do passado, foi o governo.
Qual seria? Promover investimentos para criar um sistema de isolamento, a ser acionado quando ocorresse problemas na área de transmissão de energia. Principalmente em Furnas.
Teria evitado o efeito dominó da interligação de sistemas.

Concreto
Eike Batista conquistou mais uma empresa paulista.
Assinou ontem memorando de entendimento para instalação de uma fábrica da Cauê Cimentos em Porto Açu.

Sem risco
A segurança de Shimon Peres não brinca em serviço: na visita ao Senado, anteontem, exigiu que ele entrasse pela porta da chapelaria.
Onde o carro pode parar a dois metros da entrada.

Mascateando
Miguel Jorge desembarcou em Maputo, Moçambique, comandando pelotão de 90 empresários.
O périplo, que passou antes por Angola, tem a próxima parada na África do Sul.

Vitória do bem
Vencedor em 1ª Instância, Rubinho Barrichello já decidiu para onde vai o dinheiro - cerca de R$ 1 milhão - que deve receber de sua ação contra o Google.
A advogada, Carolina Ranieri Amorim, foi instruída a repassar o valor para o Instituto Barrichello Kanaan.

No polegar
Um perito que participou do resgate dos corpos do Airbus da Air France surpreendeu seus ouvintes, dias atrás, ao revelar que uma das tarefas mais difíceis da missão foi identificar os não-brasileiros.
É que, em alguns países europeus, a polícia não costuma tirar digitais ao emitir documentos. Foi preciso ir à casa de muitos deles procurar indícios em CDs, talheres e outros objetos.

We Are the World
Donna Summer foi mais que solidária na festa de 10 anos do Credicard Hall, terça à noite. Ao entrar no palco - o que só foi possível graças ao potente gerador da casa - resolveu desculpar-se pelo atraso. "Nós tivemos problemas técnicos", justificou a cantora.
Que é tudo menos responsável pelo apagão.

Palco e plateia
Os teatros paulistanos entram na cruzada pela recuperação do Teatro de Cultura Artística. A partir de janeiro, vão mostrar à plateia, antes das peças, vídeos em que grandes artistas pedirão apoio - ou seja, doações - para a Sociedade de Cultura Artística.
"Cinco ou seis vozes estão confirmadas e o filme será exibido por 40 teatros", diz Eric Klug, da SCA.

SS Ataca de RR
Está pronta a gravação, pela dupla Ronaldo e Ratinho, de institucional para o Grupo Silvio Santos.
O que se diz é que SS quer veicular - a preço de mercado - na Globo e na Record.

Famoso quem?
Selton Mello será garoto propaganda da Ancine na Semana do Filme Nacional, do dia 20 a 26. No spot, o ator liga para um fã e propõe ir ao cinema por apenas R$ 6. O rapaz acha que é trote e desliga na cara.

Na Frente

O grupo francês Plasticiens Volants precisou de 14 caixas para transportar 1.700 kg dos seus tradicionais bonecos infláveis. O espetáculo, hoje e amanhã, no Anhangabaú, tem parceria com osgemeos.
Mario Sergio Andrade Silva autografa, hoje, seu livro Corra. Na Livraria da Vila da Fradique Coutinho.

O livro Trinta Anos de Moda no Brasil será lançado e debatido hoje, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

Ana Carolina estreia amanhã no Credicard Hall. Com direção de Bia Lessa e cenário inspirado na Nouvelle Vague.
A cantora franco-israelita Yael Naim apresenta-se hoje e amanhã no Sesc Pinheiros.

Com direção de Caio de Andrade, a peça O Ano do Pensamento Mágico, de Joan Didion, reestreia amanhã, no Sérgio Cardoso.

Ruy Castro mostra gravações históricas no curso Chega de Saudade - a História da Bossa Nova. A partir de segunda, no Centro Cultural b_arco.

Saci e Zé Carioca disputam vaga de mascote para a Copa do Mundo do Brasil - não apenas do Rio de Janeiro.

A propósito: a torcida do Saci amplia sua cruzada e quer Iara, rainha das águas, como símbolo das Olimpíadas do Rio. Seria a primeira "mascota" da história dos Jogos.

JANIO DE FREITAS

Tudo pelos mesmos

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/09


A MAIOR BENEFICIADA PELO "BOLSA CELULAR" SERÁ A EMPRESA CELEBRIZADA PELO FECHAMENTO DE UM NEGÓCIO ENTÃO PROIBIDO

O "ACORDO" QUE o governo diz tentar com telefônicas, para que deem o crédito de R$ 7 a cada beneficiário do Bolsa Família que ganharia um celular tem explicação muito menos estapafúrdia do que a motivação da nova generosidade governamental.
Menos estapafúrdia, é claro, nas circunstâncias de um país cujo governo muda até leis para beneficiar empresários sem que, com isso, beneficie o próprio país ou alguma parte de sua população.
Com a mudança na lei que proibia a absorção da área de uma tele por detentores de outra área, o grupo da empreiteira Andrade Gutierrez (o sócio financiador de um filho de Lula) e o grupo Carlos Jereissati adquiriram o controle também da telefonia celular no Nordeste. No qual está a maior concentração de beneficiários dos atuais 12 milhões de filiados ao Bolsa Família, e dos futuros que começariam por mais 1 milhão já em 2010.
A maior beneficiada pelo já chamado Bolsa Celular será, portanto, a mesma empresa celebrizada pelo fechamento de um negócio bilionário então proibido, e só justificado pela certeza antecipada de que Lula mudaria a lei para torná-lo possível. Fruto dessa peculiaridade presidencial, a Oi (do negócio Oi/Telemar/ Brasil Telecom) continua muito aquém no número de usuários: para igualar-se a Vivo, por exemplo, precisa atrair cerca de 15 milhões deles para o seu cadastro. O Nordeste, o Bolsa Família, o ministro Hélio Costa e Lula sabem disso.
Com R$ 7 de crédito, o filiado ao Bolsa Família usará o celular de graça por uns minutinhos e pagará pelos outros telefonemas no sistema telefônico mais caro dentre os celulares do mundo. Faturamento da Oi, que Hélio Costa, em momento de algum tipo de modéstia, calculou em apenas R$ 5 por cabeça acima dos R$ 7. Mas não só o nordestino e os novos usuários de outras regiões estão na mira da generosidade lulista com as teles. Cada um de nós dará sua quota para compensar os bilhões, 2 já de saída, de que o governo promete dispensar as teles do esquema, isentando-as da taxa devida ao Fistel, Fundo de Fiscalização das Telecomunicações.
Se desejar, junte tudo ao ano de eleição que, na prática, já está em curso.

Mais apagão

O apagão deu a amostra do que virá dos meios de comunicação na campanha eleitoral. Já durante a escuridão, um comentário radiofônico explicava à população ansiosa que a redução do IPI de geladeiras, fogões, televisões, e demais produtos da chamada linha branca, levara a muitas compras, que provocaram excesso o consumo de energia. Logo, também o apagão.
Na manhã de ontem, desta vez pela TV, um outro dava o seu bom dia com a sugestão de que o apagão poderia dever-se a ato do MST ou de índios. Horas depois, outra vez pelo rádio, uma intervenção chamada de comentário político já começava com tudo: "Dilma não fica imune nesse apagão". Com o esclarecimento geométrico: "No centro da questão fica a capacidade de gestão da ministra".
Causa explicada, fontes do ato causador indicadas, responsabilidade pessoal apontada -para que tanta procura da origem do apagão pelos técnicos? E, sobretudo, para que tanta determinação, nas áreas oficiais, de não citar a Cesp entre os prováveis motivadores do apagão, o que seria dado como propósito de chutar a responsabilidade para o governo José Serra?
O apagão não foi só de luz.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

MENTIRAS NO RÁDIO DE PILHA

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/09


Governo se conduziu de modo negligente no apagão, mas rede de energia cresceu mais sob Lula do que sob FHC


QUEM TINHA um rádio de pilha na noite e madrugada do apagão pôde ouvir o que a princípio pareciam apenas informações desencontradas das autoridades federais a respeito das causas do problema. Como apagões deixam todo mundo nervoso, como a rede de energia brasileira é enorme, como 96,6% da produção de eletricidade entra no sistema nacional interligado e todo esse assunto é tecnicamente muito complicado, a confusão parecia a normal das primeiras reações a desastres.
O desencontro começou a parecer desorientação e então negligência quando se percebeu que não havia aparentemente controle da situação. Ninguém parecia centralizar informações, ninguém passava orientações sobre o que esperar ou não esperar sobre o retorno da luz. Hospitais, policiais, bombeiros, empresas de abastecimento de água e de transporte, serviços essenciais, precisam planejar emergências. Alguns telefonemas para vários desses serviços confirmaram a impressão da noite, de que não havia comunicação federal sobre a extensão do problema. Mas o que era confusão desencontrada e, a seguir, desorientação e negligência confirmou-se a politicagem desprezível de sempre. Autoridades chutavam causas disparatadas para o acidente e procuravam se eximir da responsabilidade.
Até o final da tarde de ontem, pelo menos, verificava-se que não havia autoridade a centralizar informações e orientações sobre o caso. Isso é desgoverno, coisa de esperar de uma administração que nomeia Edison Lobão como ministro da área e entrega as estatais de energia à bocarra do PMDB. Quando o dia já clareava, mas a escuridão politiqueira cobria o governo, a oposição acesa pelo oportunismo deu sua contribuição às trevas. Um senador tucano comparava o blecaute ao apagão de FHC. Um deputado "demo" dizia que estavam enterradas a imagem de gerente e da candidatura de Dilma Rousseff, ex-ministra da área e executiva-mor de Lula. Ninguém dessa oposição rastaquera foi procurar técnicos a fim de cobrar boas explicações do governo. Dilma, por sua vez, deu o vexame de fugir e sumir.
O apagão de FHC, na verdade um longo racionamento mesmo em período de baixo crescimento econômico, foi uma combinação extraordinária de descaso grosseiro, ideologia mercadista e azar climático. Hoje não falta energia no país, até um pouco por sorte -a crise deu tempo de recompor "reservas" de energia (como a de gás e de água nas hidrelétricas), choveu muito etc. E houve muito mais investimento, especial em transmissão de energia -a rede cresceu cerca de 29% nos anos Lula, expansão 60% maior que a dos anos FHC. Há mais gás, canos de gás, grandes hidrelétricas em construção. No atacado da eletricidade, ao menos, Lula tem desempenho muito melhor que o de FHC.
Ainda não se sabe a causa do apagão, nem ainda é possível acreditar no governo, que ontem não conseguia confirmar nem se houve garoa na região onde o tempo ruim teria estragado a linha de transmissão, no Paraná. Para piorar, falaram de novo em queda de raios, história suspeita desde o apagão de 1999, dos raios de Bauru. Não dá para dizer que houve inépcia técnica. Na política, a carga de mentiras é alta e ainda chocante.

TODA MÍDIA

Em Itaberá

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/09


Fim do dia e Fátima Bernardes anuncia que, "em Itaberá, moradores podem ajudar a entender o que aconteceu". Entra o repórter de Itaberá, da estrada, "Conversei com uma pessoa que mora numa chacará vizinha à estação aqui e houve uma descarga elétrica forte. Mas não ventania, tempestade fora do comum". E "aqui, por ironia, não houve blecaute".
Já na manchete do Terra, "Cidade do apagão teve chuva acima do normal, diz prefeito" de Itaberá. Nas suas palavras, "teve chuva de 40 minutos aqui, mas não tempestade nem raios nem apagão".
Ainda assim, para o governo, na escalada do "JN", foi "por causa do mau tempo" em Itaberá.

AO VIVO

Pela manhã, por quase dez minutos, em disputa por uma entrevista, "repórteres da Globo e da Record discutem no ar", informou a Folha Online. E logo caiu no YouTube.

BLECAUTE
As imagens tomaram os canais de notícias, como CNN e Al Jazeera, e os agregadores. No HuffPost, destaque para SP e Rio. Drudge gostou das "fotos extraordinárias".

DEU NO "NYT"
"The New York Times"
Zelaya na embaixada, recuo da Uniban e, embaixo, apagão

O "New York Times" destacou na home durante a madrugada, com AP, e conseguiu publicar uma nota ainda na edição de ontem.
No fim do dia, adiantou texto do correspondente, "Brasil procura respostas após grande blecaute". Citou o apagão de 2001 e o racionamento de FHC, "mas desde então o Brasil diversificou seu suprimento e evitou cortes maiores". Sublinhou o impacto de popularidade.

E OS JOGOS?
Também o "Wall Street Journal" correu e noticiou a "queda de energia no Brasil", à pág. A12 de ontem.
De resto, sites ao redor do mundo destacaram relatos de correspondentes ou agências. No fim do dia, da home da "Time" aos despachos de AP e Reuters, o foco era o "temor pelos Jogos", pelas "dúvidas sobre a infraestrutura".

AINDA HONDURAS
No "NYT", além do apagão, "EUA tentam salvar acordo em Honduras". Em suma, "sob fogo dos aliados na América Latina e Congresso, a administração Obama se move para resgatar o acordo que era apresentado como a saída pacífica para o golpe e, em vez disso, parece ter dado ao governo de fato um meio de ficar no poder".

ÓLEO AO NORTE
O "WSJ" destacou que a "Shell entra na outra corrida pelo mar da América do Sul", na Guiana Francesa, depois dos "bilhões de barris no pré-sal do Brasil".

CORTES PROFUNDOS
"Guardian", que prioriza meio ambiente, saudou o plano de "cortes profundos de emissão", como descreve a proposta que a ministra Dilma Rousseff vai levar para Copenhague _onde estará a ex-ministra Marina Silva, que recolocou o assunto na "agenda".
Ecoou no "WSJ", como "grande passo".

"CORRIDA DO OURO"
O Drudge Report deu manchete para a alta do ouro. E a revista "Caijing" ouviu autoridade chinesa dizer que China, Brasil e Rússia devem seguir a Índia e comprar ouro do FMI.

MAIS CONTROLE
Na manchete do "Financial Times" de papel,"Brasil abre discussão sobre ação para conter o real". Citando outros que enfrentam valorização da moeda, como Rússia, destaca que Guido Mantega estuda alternativas, para além da taxação das aplicações em dólar.

LUCIANA LOUREIRO OLIVEIRA

Crime permanente

O Globo - 12/11/2009


Nos tempos antigos , quando se fundava uma vila (que depois podia virar cidade), três prédios eram indispensáveis: uma igreja, uma sede de governo e a cadeia. Sobre esses três girava a vida da comunidade.

Prisões continuam a ser indispensáveis.

E podem dar a imagem de um país. O Brasil se orgulha de ter subido, ultimamente, alguns degraus no processo civilizatório. Mas, se entrar o quesito “prisões”, será irremediavelmente condenado.

O que acontece nas prisões brasileiras é, em si mesmo, um fato criminoso. Não se pode ter a ilusão de que todo condenado que ingressa numa prisão sairá de lá regenerado.

Mas, na situação de agora, a prisão se transforma numa fábrica de monstros.

Não por acaso, temos de assistir periodicamente às cenas de rebeliões em presídios, que podem desembocar em massacres, como na história famosa do Carandiru.

Nesse quadro, é triste constatar — como mostrou reportagem do GLOBO — que muito dinheiro destinado à melhoria do sistema penitenciário está encalhado, em projetos que não andam, em obras que não são executadas.

Chega a R$ 460 milhões o total de recursos empatados nesses desvios burocráticos. A Bahia encabeça essa lista, com R$ 44,7 milhões em recursos paralisados. E isso acontece num estado que tem um dos piores sistemas prisionais do país.

Triste: em segundo lugar vem o Rio de Janeiro, com R$ 40 milhões paralisados que deveriam estar financiando projetos de construção e reforma de presídios.

Projetos de prisões não são de fácil execução — a começar pela rejeição das populações limítrofes. Mas é impossível manter o quadro de agora.

Não é novidade que falhas no sistema carcerário potencializam a violência.

Pelos dados do Conselho Nacional de Política Criminal, 70% dos presos que deixam a cadeia voltam a cometer crimes — quando essa taxa, na Europa e nos EUA, gira em torno de 16%. Na Argentina, no Chile e no Uruguai, são inferiores a 25%. E, como se sabe, pelas regras de agora, criminosos não costumam ficar muito tempo atrás das grades.

LUCIANA LOUREIRO OLIVEIRA é procuradora da República no Distrito Federal.

FÁBIO TOFIC SIMANTOB

Populismo judicial


O Estado de S. Paulo - 12/11/2009
Num país onde está consagrada a máxima de que só pobre vai para a cadeia, é cada vez mais corrente ouvir das autoridades a promessa de solução do problema: começar a mandar para o xilindró alguns ricos também. Já que o sistema é injusto com alguns, melhor que seja com todos.

Há nesse raciocínio um dissimulado desejo de vindita social que não se resolve na Justiça penal. Luta de classes resolve-se com política socioeconômica, Justiça penal é outra coisa. Quem usa a tinta da caneta para reescrever a História do País, buscando consertar as injustiças sociais, além de pretensioso, é autoritário e não serve bem à função de juiz. O juiz reescreve apenas a história de um caso concreto e o faz balizado por princípios legais e constitucionais, que existem para que o homem ideológico não tome o lugar do juiz justo.

Sem embargo, a demagogia corre o risco de tomar conta das varas especializadas em crimes financeiros. À míngua de soluções para os problemas nacionais, as prisões espetaculosas de homens de negócios, ricos e famosos, funcionam como um analgésico para as feridas sociais.

Há um outro problema. A História está repleta de exemplos do que pode acontecer quando um homem é escalado para combater problemas tão específicos. É o que advertia Myra y Lopes sobre o perigo de se juntar num único homem dois gigantes da alma: o dever e a ira. Há o risco de se criarem funções só para justificar o cargo. O especialista sempre enxerga o mundo pela ótica da especialização. O Direito deve cuidar para que o homem público não se apaixone pelo cargo e pela função que exerce, de modo que não mais consiga enxergar trabalho, mas apenas missões; não lê notícias, recebe atribuições; não trabalha, milita. Sintoma disso no Brasil é a notória disputa de casos entre as varas financeiras de diferentes Estados. O juiz militante não espera o caso, sai correndo atrás dele. Torquemada via hereges por todos os lados, McCarthy via comunistas até debaixo da própria sombra. Outro dia, um corretor terceirizado vendeu título de capitalização oferecendo ao cliente gato por lebre. Típico problema de má venda ao consumidor. Não deu outra: a diretoria inteira do banco acabou processada por crime financeiro. O caso chegou ao STJ, onde os ministros da 6ª Turma decidiram que a vara obcecada por crime financeiro não era competente para julgar o caso.

Uma vara da Justiça penal especializada em processar ricos e famosos (uma Ilha de Caras da Justiça brasileira) dificilmente resiste à tentação do populismo judicial. Tão ou mais grave do que se corromper pelas mãos do acusado é bandear-se para o lado da opinião pública, sobretudo quando ela é formada por uma massa descontente. O populismo judicial é o que há de mais anacrônico na Justiça. É a justiça à moda Pôncio Pilatos. Um juiz populista abre as porteiras da lei e deixa entrar os acessos de ódio e paixão que infectam e aniquilam o julgamento justo. A lógica que se deve evitar no julgamento de crimes financeiros é mais ou menos a seguinte: se vivemos num país onde só pobre vai para a cadeia, o juiz que só julga ricos deve aproveitar cada sentença para resolver essa desigualdade; como o número de pobres presos ainda é astronomicamente maior que o de ricos, um caso financeiro sem condenação é uma enorme baixa na luta para reduzir o abismo sociopunitivo. Resultado: a regra é condenar. Se os tribunais superiores depois anulam a condenação por qualquer razão, viram o vilão da história; o juiz está de cara limpa, afinal, "fez a sua parte".

Combater o crime é importante, mas a função é da polícia e do Ministério Público, jamais do juiz. O juiz que veste a farda abandona a toga. O único paralelo que existe com as varas especializadas no combate ao crime financeiro é o tribunal do júri, especializado em crimes dolosos contra a vida. Há uma pequena diferença: o juiz no júri é o povo, que se renova a cada julgamento. O povo não se senta no conselho de sentença para combater o crime de homicídio (e há quem considere o homicídio um crime mais grave do que o crime financeiro), vai ao júri para julgar um semelhante, buscando compreender as circunstâncias do crime, os motivos que levaram o réu a praticá-lo, mas, antes de mais nada, investigando e refletindo se há prova para afirmar a autoria e materialidade daquele crime. Se os homicídios acabarem, o jurado não ficará desapontado, ele não vive daquilo, tampouco sentirá falta da glória, porque nunca a desfrutou. Ou alguém se lembra de quem foi o jurado deste ou daquele caso?

O jurado, juiz leigo, não precisa fundamentar sua decisão, tampouco revelar o conteúdo do voto. É certo que se sente confortável para julgar de acordo com sua própria convicção, sem se preocupar com o que vão dizer da sua decisão. Julga como juiz, não como líder social. Desejo popular por desejo popular, como às vezes se pretende invocar na Justiça especializada financeira, melhor seria ouvir diretamente o povo do que seus representantes togados. É mais ou menos como escolher ser julgado pelo vagabundo de Tempos Modernos ou pela máquina que ele opera. A máquina vai tocar sempre no mesmo diapasão, ao passo que o vagabundo, menos especializado, vai fazer a cada volta da engrenagem uma nova descoberta. Sem demanda, a máquina gira em falso; o vagabundo vai buscar outros ares. Entre o júri incauto e o juiz especialista, melhor ficar com o primeiro, que é quem normalmente está mais disposto a ouvir, porque está menos ensimesmado nas suas convicções pessoais. Falar e ouvir são até hoje as ferramentas mais preciosas que o homem encontrou na arte de fazer justiça.

Se o júri não for o melhor juiz para os crimes financeiros, é certo que acabar com as varas especializadas é um bom caminho para despersonificar o combate ao crime e desmecanizar um pouco a função de julgar o próximo.

CELSO MING

Os outros apagões


O Estado de S. Paulo - 12/11/2009

Todo apagão cria insegurança. O romano Catulo, no século 1º antes de Cristo, transmitiu assim esse sentimento: "Uma vez apagada a luz, some a confiança (sublata lucerna nulla est fides)."

O problema é que o apagão elétrico, que tanto exacerba o imaginário nacional, não é o maior que vive a sociedade brasileira. O Brasil é hoje um repositório de apagões que, no entanto, não mobilizam a energia nacional como mobiliza o elétrico. E isso é ruim porque mostra a inconsciência com que se lidam os problemas nacionais.

A questão educacional é um apagão à parte. O jovem não obtém preparo no sistema de educação e ensino nem para a vida profissional nem para o exercício de cidadania para o qual é chamado. E isso sobrecarrega as empresas brasileiras com programas de treinamento. O sistema judiciário é outro problema. Uma simples solução de conflito demora anos e anos, exige depósitos judiciais e cria ainda mais insegurança sobre as regras de jogo na economia. Quando lembra que "no Brasil até o passado é incerto", o ex-ministro Pedro Malan se refere não só à demora no cumprimento das decisões judiciais e aos esqueletos que se acumulam insepultos, mas também aos critérios ambíguos pelos quais se guiam os magistrados. E há os apagões do sistema meia-boca de saúde e dos dramas diários da nossa segurança pública.

Na área política, eles são incomensuráveis. Há anos se fala em reforma política, em voto distrital, em regras de fidelidade partidária e em financiamento racional de campanha eleitoral. São projetos que não são votados nunca. E, omissão após omissão, o patrimônio do Estado vai sendo apropriado por interesses privados. Mas, nesse âmbito, o apagão maior é o apagão da oposição, que não tem discurso, não tem projeto, não tem opinião formada sobre nenhum assunto relevante.

O setor de infraestrutura é, por si só, um concentrador de apagões. Os portos brasileiros, por exemplo, estão emperrados pelo atraso, pela burocracia e pela irracionalidade. Os quilômetros de filas de caminhões na rodovia que liga a cidade de Curitiba ao Porto de Paranaguá, a BR-277, são suficientes para dar uma ideia do que é isso. Há alguns meses, o País ficou à mercê dos controladores de voo, sem que, de lá para cá, nenhuma solução definitiva tenha sido implantada nos nossos aeroportos, há muito ultrapassados. A qualidade das estradas brasileiras é o que é. O sistema de telefonia não faz os investimentos necessários para dotar o Brasil de um serviço moderno de comunicações.

Qualquer um sabe o que são os juros na ponta do crédito. O que é difícil aí é distinguir o que é apagão financeiro e o que não passa de prática de agiotagem pura e simples. Afinal, juros a 240% ao ano, como são impostos pelas empresas administradoras de cartões de crédito, ou os 160% ao ano cobrados no cheque especial, o que são? E não é preciso dizer o que é a carga tributária no País, o que é a irracionalidade do sistema previdenciário, que hipoteca o futuro do trabalhador e do servidor público, o que são as regras do sistema sindical e trabalhista.

Um verso de William Shakespeare diz muita coisa sobre o que aconteceu aqui na noite de terça-feira: "Não há escuridão; há ignorância." Diante de tantos apagões que prevalecem no Brasil, talvez o maior deles seja o apagão da inconsciência.

Confira

Nada mau - A inflação de outubro medida pelo IPCA ficou dentro das previsões (0,28%) e vai afastando a ameaça de alta dos juros. Não há nenhum sinal de que o aumento da procura esteja puxando exageradamente os preços.

DEMÉTRIO MAGNOLI

Leviatã


O Estado de S. Paulo - 12/11/2009
Jornalismo se faz no calor da hora; História, só depois que os eventos adormeceram no leito do passado. No ano louco de 1989, Timothy G. Ash conseguiu a façanha de juntar os dois, no livro Nós, o Povo (Companhia das Letras, 1990). Escrevendo pouco antes da queda do Muro de Berlim, ele traduziu o sentido mais amplo das revoluções que destruíram o "socialismo real".

"Karl Marx jogou com a ambiguidade da expressão alemã burgeliche Gesellschaft, que tanto podia ser traduzida como sociedade civil quanto como sociedade burguesa. Marx (...) nivelou deliberadamente as duas "cidades" da modernidade, os frutos da Revolução Industrial e Francesa, o burguês e o cidadão. (...) O que a maior parte dos movimentos de oposição por toda a Europa central e grande parte do povo que os apoia está realmente dizendo é: Sim, Marx tem razão, as duas coisas estão intimamente ligadas - e nós queremos as duas! Direitos civis e direitos de propriedade, liberdade econômica e liberdade política, independência financeira e independência intelectual, cada um desses termos apoia o outro. De maneira que, sim, queremos ser cidadãos, mas também queremos ser de classe média, no mesmo sentido que a maioria dos cidadãos da metade mais afortunada da Europa é de classe média."

A vaga de triunfalismo que se seguiu à queda do Muro se exprimiu no discurso da "Nova Ordem Mundial", de George H. Bush, e no quase simultâneo, logo célebre, artigo de Francis Fukuyama. A tese do "fim da História" anunciava o "ponto final da evolução ideológica da humanidade" e a "universalização da democracia liberal ocidental". Fukuyama cometia um erro de diagnóstico. Hoje sabemos que também cometeu um erro de prognóstico.

O primeiro erro: o triunfo não foi do "capitalismo liberal", mas de um sistema mais complexo, que denominarei "capitalismo de mercado". No modelo liberal clássico, o Estado cumpre apenas as funções de sentinela da soberania externa, da ordem interna e da santidade da moeda. O capitalismo de mercado é algo bem diverso, que se desenvolveu sob os signos da democracia de massas e do Welfare State. Nos anos 1920, os gastos públicos sociais nos EUA não atingiam 5% do PIB. Hoje tais gastos superam a marca de 20% do PIB - e isso no país que é o ícone do "liberalismo". Como colar o rótulo do liberalismo sobre um sistema no qual os liberais não se reconhecem?

A modernidade é o fruto combinado dos princípios complementares, mas contraditórios, da liberdade e da igualdade. O capitalismo de mercado foi gestado pela concorrência entre o "partido dos liberais" e o "partido dos social-democratas", que se alternam no poder nas democracias de massas. Sob o impacto do movimento operário, os direitos políticos universalizaram-se e inventaram-se os direitos sociais. Tudo isso aconteceu do lado de cá da Cortina de Ferro, pois do outro lado da fronteira geopolítica o sistema soviético proibiu os partidos políticos e estatizou as organizações sindicais.

A fusão do modelo liberal com o programa social-democrata produziu um sistema original, expresso diferenciadamente nos países da Europa Ocidental e da América do Norte. No Manifesto Comunista, Karl Marx concitou à revolução os trabalhadores, que "nada têm a perder, exceto os seus grilhões". O capitalismo de mercado outorgou cidadania política e econômica aos trabalhadores, frustrando a conclamação revolucionária. Ele triunfou em 1989 porque não mais era "liberal" - e os trabalhadores tinham um mundo a perder.

O segundo erro: a História não terminou, pois o espectro do Leviatã se ergue mais uma vez, sob a forma do capitalismo de Estado, e desafia a hegemonia do capitalismo de mercado. A China do poder burocrático de partido único é a expressão mais insinuante do capitalismo de Estado, mas o modelo aparece nas distintas roupagens da Rússia autoritária pós-comunista, da autocracia teocrática do Irã e do regime caudilhista da Venezuela de Hugo Chávez. Em torno desse projeto regressivo se rearticula uma esquerda nostálgica do "socialismo real", mas despojada da bandeira da revolução.

No capitalismo de mercado, uma nítida linha divisória separa as esferas da economia e da política. O capitalismo de Estado reúne as duas esferas, subordinando a elite econômica à elite política e fazendo uma classe privilegiada de grandes empresários orbitar em torno de um Estado que tudo pode. Nada há de verdadeiramente novo nisso: o Japão Meiji, a Itália fascista, a Alemanha nazista e a África do Sul do apartheid estão entre os precursores dos sistemas atuais de capitalismo estatal.

Nacionalismo e autoritarismo são feições inerentes ao capitalismo de Estado. A elite política extrai sua legitimidade de um pacto imaginário com o destino grandioso da nação. A promessa de potência serve-lhe de ferramenta para calar ou eliminar a oposição, que é figurada como representação do interesse estrangeiro. A vida política impregna-se de um ácido corrosivo, que consiste na identificação da voz dissonante com a quinta-coluna. Como a liberdade não pode ser fracionada, o capitalismo de Estado opera pela restrição tanto dos direitos econômicos quanto dos direitos políticos.

Há pouco, nesta página, Fernando Henrique Cardoso ofereceu um esboço do bloco de poder organizado em torno do lulismo. No seu desenho, destaca-se o tripé constituído por um Estado esvaziado de sentido público, empresas estatais capturadas por uma máquina partidária e empresas semiprivadas geridas por alianças entre grandes empresários e fundos de pensão sob controle de sindicalistas. Eis aí o estágio embrionário de um capitalismo de Estado brasileiro.

Nas eleições de 2006 Geraldo Alckmin foi desafiado a defender o capitalismo de mercado. Ele se fez de desentendido e, no lugar do confronto de ideias, ofereceu uma rendição sem combate ao discurso do capitalismo de Estado. Lula e sua candidata reeditarão o desafio em 2010.

ROLF KUNTZ

Lula, Chávez e seus preciosos inimigos

O Estado de S. Paulo - 12/11/2009


Viva o mercado interno! Enquanto o presidente Hugo Chávez faz um discurso guerreiro para impressionar os basbaques, seu correligionário Luiz Inácio Lula da Silva continua inventando inimigos locais para valorizar sua política e somar apoio a seu projeto de poder. Ele já quase não escolhe audiência. Diante de uma plateia de empresários italianos e brasileiros, em São Paulo, ele falou sobre a inclusão dos pobres no mercado de consumo. Segundo Lula, "tem gente na cidade que acha que esses programas dão prejuízo". O Programa Luz para Todos, disse o presidente, permitiu vender 1,578 milhão de televisores, 1,447 milhão de geladeiras e 998 mil aparelhos de som, "sem contar os liquidificadores".

Mais notável que a precisão dos números é a vaguidão da referência àquela "gente" da "cidade". Afinal, quem se opôs à extensão dos serviços de eletricidade a famílias de áreas pobres? Quem classificou esse e outros programas sociais como fontes de "prejuízo"? Essa é uma diferença interessante entre Lula e seu aliado venezuelano. Chávez nomeia os inimigos: hoje, os principais são o governo colombiano chefiado por Álvaro Uribe e, naturalmente, o "Império". A lista pode incluir de vez em quando outros lacaios do imperialismo, como os senadores brasileiros, ou pelo menos alguns deles. Lula é quase sempre menos preciso, mas, como Chávez, faz da imagem do inimigo um componente essencial de sua retórica.

Segundo Lula, as "elites" querem os pobres e os negros fora das universidades. Que pessoas integram essas elites? Isso ele nunca explicou, assim como não esclareceu também por que essas elites são contrárias à educação dos pobres e negros. Serão os dirigentes de indústrias? Talvez sejam, mas essas mesmas pessoas se queixam da escassez de pessoal qualificado. Não só se queixam como também apontam a insuficiente educação da maioria dos brasileiros como um entrave à competitividade. Numa economia exposta à concorrência internacional, esse é um fator cada vez mais importante e pelo menos a elite empresarial sabe disso.

Talvez a elite dos fundões, a velha oligarquia cortejada por Lula, e por ele valorizada em suas alianças políticas, ainda pense à maneira antiga. Mas nada disso deve ter importância para ele quando encontra um auditório disposto a ouvir suas arengas. Fatos e argumentos não são essenciais, quando o discurso se dirige ao fígado e não à inteligência.

As "elites", afirma o presidente, são também contrárias aos programas de transferência de renda e, de modo geral, aos programas sociais. Mais uma vez: quem se opõe, de fato, a esses programas? Nesse caso, como nos debates sobre educação, Lula despreza a diferença entre argumentos sobre a qualidade das políticas e argumentos contrários aos objetivos das políticas. Quem chama seus programas sociais de assistencialistas não se opõe ao uso de recursos públicos para o combate à pobreza. Simplesmente condena um programa incompleto, de controle precário e sem uma clara estratégia de saída para os beneficiários.

Algumas famílias têm conseguido vencer a fase inicial e o governo as apresenta como provas de sucesso de seu programa. Tudo indica, no entanto, serem casos excepcionais. O objetivo realmente importante - ir além do socorro imediato e ajudar o assistido a se tornar produtivo e independente - continua distante e não parece prioritário. E por que seria, se a criação de uma clientela dependente é um trabalho mais fácil e politicamente mais cômodo?

Mas Lula não é só impreciso quando introduz a figura do inimigo em seus discursos de palanque. Ele comete um pecado mais grave que o da imprecisão quando se refere, por exemplo, a defensores da privatização do Banco do Brasil. Quem defendeu essa privatização? Qual de seus concorrentes políticos propôs a venda desse banco ou da Caixa Econômica Federal? Ele manifesta o mesmo desprezo aos fatos quando acusa seus adversários de haver defendido a implantação, no Brasil, do chamado Estado mínimo, ficção inventada por alguns ultraliberais do mundo rico.

Lula é menos brutal que seu correligionário Hugo Chávez na estratégia de acumulação de poder. Mas seus objetivos são essencialmente iguais, assim como a estrutura de sua retórica. Para ambos, é essencial a figura do inimigo, imaginária, naturalmente, mas útil para a fabricação de ódios e lealdades. As velhas fórmulas do racismo saíram de moda no Ocidente, mas não a mistura fácil de populismo com nacionalismo. Na América do Sul esse coquetel continua muito apreciado.

CLÓVIS ROSSI

Queimou também a palavra

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/09


MADRI - É inescapável lembrar que o apagão do governo Fernando Henrique Cardoso foi, talvez, a principal causa do desgaste do então presidente e, por extensão, da derrota de seu candidato, José Serra. Tanto que Serra, durante a campanha, nem fez lá muita questão de defender a herança do governo do qual fizera parte.
Quer dizer, então, que o apagão de anteontem/ontem vai derrotar o governo Lula, ainda mais que sua candidata "in pectore", Dilma Rousseff, foi justamente ministra de Minas e Energia, antes de assumir a Casa Civil? Não. Por enquanto, não quer dizer nada.
Mas que a lembrança que abre este texto sobrevoou Brasília não há a menor dúvida -sobrevoo, de resto, capturado com perfeição no belo texto de Eliane Cantanhêde para esta Folha.
Vamos situar os apagões nas suas respectivas perspectivas: o de FHC foi continuado, durou sei lá quantos meses, durante os quais tivemos que aprender a desligar aparelhos e a economizar luz de todas as maneiras. Só faltou mesmo a recomendação de banhos de apenas três minutos que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está fazendo agora a seus governados.
Fosse nos Estados Unidos, seria chamado de "serial black out".
O apagão de agora não tem essas características. Pode, portanto, durar muito pouco tempo na memória dos eleitores, a menos, claro, que se repita mais para a frente.
Como estou vendo a coisa de longe, não tenho como avaliar o grau de irritação provocado por ele. Mas o usual é que esse tipo de episódio cause um pico de ira quando ocorre, mas, depois, a vida volta ao normal, e a ira se dirige a outros alvos.
O outro apagão suscitava irritação cotidiana, porque cotidianas eram as restrições.
Colocados os devidos contextos, ainda assim o governo Lula será obrigado a pensar duas vezes antes de usar a palavra "apagão" na campanha eleitoral.