quinta-feira, novembro 12, 2009

CLÓVIS ROSSI

Queimou também a palavra

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/09


MADRI - É inescapável lembrar que o apagão do governo Fernando Henrique Cardoso foi, talvez, a principal causa do desgaste do então presidente e, por extensão, da derrota de seu candidato, José Serra. Tanto que Serra, durante a campanha, nem fez lá muita questão de defender a herança do governo do qual fizera parte.
Quer dizer, então, que o apagão de anteontem/ontem vai derrotar o governo Lula, ainda mais que sua candidata "in pectore", Dilma Rousseff, foi justamente ministra de Minas e Energia, antes de assumir a Casa Civil? Não. Por enquanto, não quer dizer nada.
Mas que a lembrança que abre este texto sobrevoou Brasília não há a menor dúvida -sobrevoo, de resto, capturado com perfeição no belo texto de Eliane Cantanhêde para esta Folha.
Vamos situar os apagões nas suas respectivas perspectivas: o de FHC foi continuado, durou sei lá quantos meses, durante os quais tivemos que aprender a desligar aparelhos e a economizar luz de todas as maneiras. Só faltou mesmo a recomendação de banhos de apenas três minutos que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está fazendo agora a seus governados.
Fosse nos Estados Unidos, seria chamado de "serial black out".
O apagão de agora não tem essas características. Pode, portanto, durar muito pouco tempo na memória dos eleitores, a menos, claro, que se repita mais para a frente.
Como estou vendo a coisa de longe, não tenho como avaliar o grau de irritação provocado por ele. Mas o usual é que esse tipo de episódio cause um pico de ira quando ocorre, mas, depois, a vida volta ao normal, e a ira se dirige a outros alvos.
O outro apagão suscitava irritação cotidiana, porque cotidianas eram as restrições.
Colocados os devidos contextos, ainda assim o governo Lula será obrigado a pensar duas vezes antes de usar a palavra "apagão" na campanha eleitoral.

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