O novo tom adotado pelo vice-presidente Hamilton Mourão no artigo escrito ao Estadão no qual classificou de “delinquentes” manifestantes contra o governo e repreendeu o ministro Celso de Mello, do STF, por sua carta aberta apontando semelhanças entre o momento político atual e a Alemanha de Hitler se deve a um fato muito específico: passou a ser considerada grande no governo a possibilidade de que avance um processo na Justiça Eleitoral para cassar a chapa Bolsonaro-Mourão.
É por isso que o inquérito das fake news, que corre no Supremo, mas deve abastecer com provas as ações no TSE, tira o sono da família Bolsonaro.
E é por isso que Mourão fez uma guinada “bolsonarista” em seu último texto: uma coisa é ficar olímpico e falar em nome da democracia quando o risco maior é de impeachment, processo que leva o vice-presidente a assumir. Outra é ser colocado no mesmo balaio num processo de cassação por financiamento ilegal de campanha por empresários para comprar disparos de fake news — linha que pode ser seguida pela Justiça Eleitoral.
Mourão vinha tentando se mostrar leal a Bolsonaro, mas diferente. Daí porque seus artigos, entrevistas e caras e bocas em reuniões públicas sempre denotassem certa ironia ou condescendência diante dos arroubos do presidente. Daí também por que ele insistisse em dar declarações dissociando as Forças Armadas do governo e afastando o risco de intervenção militar ou autogolpe — iniciativa que ele defendeu como possível durante a campanha de 2018, é sempre importante lembrar.
Setores civis do governo e expoentes de diversos partidos do Congresso, além de ministros do Supremo, avaliam que, caso as investigações no STF (são várias) e no TSE avancem e convirjam para o afastamento da chapa e novas eleições, Mourão se unirá a Bolsonaro, aí sim com a participação dos militares, para defender o governo. E os protestos de rua podem ser a desculpa ideal para uma ação nesse sentido.
Acertou em cheio,só pode ser isso.
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