domingo, junho 07, 2020

Falta ao capitão bom senso, não relatório da Abin - JOSIAS DE SOUZA

UOL 07/06


Jair Bolsonaro se queixa da má qualidade dos serviços de informação do governo. Na fatídica reunião de 22 de abril, ele insinuou que deseja dos agentes de inteligência comportamento análogo ao de um pai desconfiado —do tipo que encosta a orelha atrás da porta para não descobrir tarde demais que a filha engravidou ou que o filho "encheu os cornos de droga".

Trazidos à luz pelo Estadão, os relatórios da Agência Brasileira de Inteligência sobre a situação caótica que o coronavírus provocou nos cemitérios brasileiros mostram que há um problema mais grave do que a precariedade dos relatórios de inteligência. Precisos ou imprecisos, os dados sobre a realidade sempre serão inúteis quando manuseados por um governante que fez opção preferencial por negar a realidade.

Ironicamente, o negacionismo embutido na tese da "gripezinha" não trouxe nenhuma vantagem para Bolsonaro. Ao contrário. Até o suposto amigo Donald Trump, outro negacionista, escorou seu insucesso no Brasil. Na visão de Trump, o Brasil está "seguindo o exemplo da Suécia", país que passa "por um momento terrível". Trump declarou: "Se tivéssemos feito isso, teríamos perdido um milhão, um milhão e meio, talvez até dois milhões de vidas."

Bolsonaro, de fato, mencionou a Suécia em entrevistas como exemplo a ser seguido. Mas estados e municípios foram noutra direção. Por isso, a despeito de Bolsonaro, o Brasil lidou com a pandemia de forma menos precária que os Estados Unidos. Convive com um número menor de mortos —em números absolutos e também em termos proporcionais. Mas graças ao negacionismo de Bolsonaro, até Trump se anima a sapatear sobre a tragédia brasileira.

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