Ainda está em aberto o destino de Bolsonaro, embora seja certo que o país vai acabar mal
Governos acabam, mas sobrevivem. O governo de Michel Temer acabou no “Joesley Day” e se arrastou até o fim do seu mandato. Mesmo o governo Dilma Rousseff 2, acabado em março de 2015 por falta de apoio popular, parlamentar e uma campanha de deposição, caminhou no passo do zumbi por um ano, até o impeachment.
Não é uma regra ou lei. É uma hipótese, uma história aberta, que pode até acabar em desgraça maior, no entanto.
Quanto ao governo de Jair Bolsonaro, nem se pode dizer que acabou, por não ter propriamente começado e porque, dados os últimos acontecimentos, o juízo sobre o seu primeiro fim estava em suspenso na sexta-feira. Assim pode ficar por um tempo.
O destino imediato da crise estava em suspenso porque, para começar, as próprias lideranças do Congresso deixaram como está para ver como é que fica –note-se o silêncio de Rodrigo Maia.
O bloquinho dos mensaleiros e petroleiros, sublegenda do centrão, ainda espera tirar um cascão de um governo que, antes de mais nada, procura se defender do impeachment e precisa arrebanhar uns 150 deputados extras.
Apesar das palavras de “pesar e profunda consternação” pelo passamento de Sergio Moro, os generais que procuravam governar o governo (sic) ainda estão longe de debandar e jogar a toalha. O noivado do governo militar com os mensaleiros continua.
Falta saber ainda como vai ser cozido outro ingrediente da receita habitual do impeachment, o prestígio popular. O efeito da queda de Moro pode ser lento ou talvez não chegue a ser decisivo. E se Bolsonaro mantiver, digamos, mais de 20% de popularidade?
Decerto do outro lado da trincheira há canhões apontados para Bolsonaro.
O morticínio da epidemia vai piorar até o fim da primeira semana de maio, na mais otimista das hipóteses. O aumento do desemprego de milhões, do corte dos salários de outros tantos e das falências não tem data para acabar.
O Supremo decidiu que parte da Polícia Federal permanecerá autônoma, investigando as “fake news” e os comícios da ditadura, inquéritos que ameaçam a filhocracia e o bolsonarismo parlamentar e empresarial.
Outro inquérito já no STF vai apurar as denúncias de Moro, que por sua vez insinua ter bala na agulha, talvez com uma reserva de dossiês, talvez com ações de apoio de seus amigos lavajatistas. Parte da PF pode escancarar o dossiê miliciano da familiocracia.
Nesta semana, o ministro-general Braga Netto parecia ter assumido a governança da terra arrasada. É outra incógnita maior. Os generais vão até o fim na dança do caixão de Bolsonaro? Por ora e sem outros escândalos, parecem dispostos a continuar.
É uma gente dada persistente, tenaz e, desculpem a obviedade, dada à guerra. Além do mais, estão de tal maneira identificados a Jair Bolsonaro que parecem sem alternativa que não seja o combate –não há espaço para a retirada e precisam de uma justificativa forte e honrosa para a rendição (um vexame, escândalo ou crime ainda mais indisfarçável dos Bolsonaro).
Note-se a disposição: não se vexaram de abalar Paulo Guedes e de negociar com o bloquinho mensaleiro.
A elite econômica, colaboracionista ou omissa, na maior parte, em parte também ora depende de socorros e favores do governo; não tem liderança ou articulação política para encontrar uma saída para este desastre que patrocinou, aplaudiu ou sobre o qual se calou. A oposição inexiste. Não há “ruas”.
Bolsonaro, ele mesmo, não tem limite. O jogo da morte continua.
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