sábado, abril 25, 2020

Bolsonaro põe na Polícia Federal um "delegado de família". Da sua família! - REINALDO AZEVEDO

UOL - 25/04

O presidente Jair Bolsonaro pôs no comando da Polícia Federal o delegado Alexandre Ramagem Rodrigues, que comandou a sua segurança pessoal depois da facada. Ramagem estava na chefia da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) — subordinada ao Gabinete da Segurança Institucional (GSI), cujo titular é o general Augusto Heleno — desde maio do ano passado.

O delegado nunca foi homem de confiança do general. Sempre se reportou diretamente ao presidente e, atenção!, é também o escolhido dos... tchan, tchan, tchan!!! filhos do presidente!

No começo do governo, assumiu um cargo de assessor na Secretaria de Governo, então sob o comando do general Santos Cruz, que entrou na mira de Carlos Bolsonaro e da chamada "ala ideológica" do governo, sendo demitido no dia 13 de junho do ano passado.

Ramagem é delegado de carreira, mas nunca foi considerado um quadro da elite, pronto a chegar ao topo. Não precisa. Se o presidente e os filhos querem, então assim será...

O "Jornal Nacional" exibiu troca de mensagens entre o ex-ministro Sergio Moro e a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) em que esta pede a ele que aceite o nome de "Ramage" (sic). Ainda voltarei a essas mensagens.

Segundo as acusações de Moro, Bolsonaro estaria especialmente preocupado com duas investigações que estão no STF que apuram, respectivamente, a indústria de fake news contra o Supremo e a organização de atos em favor do fechamento do Congresso e do Supremo.

A segunda investigação, diga-se, foi aberta a pedido do procurador-geral da República. A petição só foi feita pela PGR e enviada ao STF porque envolve deputados federais, que têm foro especial por prerrogativa de função. Zambelli está entre os parlamentares que apoiaram os atos golpistas.

Não é preciso ser um especialista em juntar lé com lé e cré com cré para intuir que tanto Bolsonaro como a própria Zambelli querem ter no comando da Polícia Federal alguém, vamos dizer, "de confiança" — uma pessoa, como afirmou Bolsonaro em seu samba-do-presidente-doido, com quem ele possa "conversar".

De todo modo, o ministro Alexandre de Moraes, relator das duas investigações, já aplicou uma vacina, a título preventivo, para tentar impedir eventual interferência indevida na investigação. Voltarei ao tema em outro post.

O QUE VAI FAZER?

Não é fácil um delegado-geral interferir em investigações se o titular do inquérito não quiser. Sempre pode haver uma remoção, claro! Mas aí o jogo começa a ficar pesado demais. Vamos ver. Ramagem já era uma espécie de interventor da família Bolsonaro na Abin. A sua chegada marcou o que se considerou uma mudança de prática na agência.

Em vez de ações de inteligência em benefício da segurança do Estado — tanto as democracias como as ditaduras dispõem desse serviço; o que varia é o conteúdo ético das ações, né? —, a Abin passou a privilegiar apurações de curtíssimo prazo sobre boatarias que se espalham nas redes sociais e que têm como alvos os... Bolsonaros! Profissionais de Estado se tornaram uma espécie de fornecedores de relatórios para instruir o chamado Gabinete do Ódio.

Hoje, na Abin, "o Estado são os Bolsonaros". É o que o presidente quer também na PF. Praticamente confessou isso.

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