Entrevistão! Wallim abre os cofres do Flamengo e aponta caminho sem volta:"Dinheiro não vai faltar"
Vice de finanças garante que clube não gastou acima do orçamento com reforços, detalha planos financeiros e sonha alto para o futuro: "Um dia vamos chegar ao patamar de trazer o Neymar"
Por Marcelo Baltar e Thiago Lima — Rio de Janeiro
06/06/2019 06h00 Atualizado há 2 horas
Marcelo Cortes / Flamengo
Primeiro nome lançado pela "Chapa Azul" em 2012 (quando teve a candidatura impugnada); vice de futebol entre 2013 e 2014, vice de patrimônio e candidato da oposição em 2015, Wallim Vasconcellos esteve em evidência na política do Flamengo nos últimos anos. De volta ao poder nesta temporada, como um dos pares do presidente Rodolfo Landim, o ex-economista do BNDES hoje está afastado dos holofotes. Tem voz ativa, participa de decisões importantes, mas não está na linha de frente no futebol.
Atualmente, no dia a dia, cuida do dinheiro do clube. Ao contrário do mar agitado e turbulento que enfrentou na pasta do futebol em sua primeira passagem, na vice-presidência de finanças encontrou céu de brigadeiro, com cofres cheios para investir. E assim fez. O Flamengo saiu às compras em janeiro, agitou o mercado nacional e mostrou força. Foram mais de R$ 100 milhões gastos em aquisições de jogadores nos primeiros meses.
As contratações de nomes caros e badalados inflamaram os rubro-negros, mas levantaram questionamentos sobre as finanças do clube. Wallim, no entanto, garante que não houve gasto acima do previsto e que a saúde financeira vai de vento em popa. Além disso, disse que o Flamengo não vai parar por aí. Cada vez haverá mais recursos, o que faz o dirigente até mesmo sonhar com Neymar em um futuro próximo.
Durante quase uma hora e meia de bate-papo com o GloboEsporte.com na última quarta-feira, em seu gabinete na Gávea, o dirigente falou sobre a saúde financeira do Flamengo, mostrou a redução da dívida total rubro-negra, garantiu recursos à disposição do futebol para o segundo semestre, comentou os planos para o Maracanã, justificou o aumento nos preços do sócio-torcedor e assegurou que hoje o clube não precisa vender atletas para fechar o balanço no azul..
Confira a entrevista na íntegra:
GloboEsporte.com: O Flamengo vem há alguns anos arrumando a casa na parte financeira, mas à cada contratação de impacto surge a pergunta dos torcedores rivais: de onde o clube tira tanto dinheiro?
Wallim: – Isso é um processo que vem desde 2013, quando tivemos que resgatar a credibilidade perante a fornecedores, jogadores... Com credibilidade, você começa ter o interesse de patrocinadores, a torcida passou a acreditar. Tudo o que foi prometido foi cumprido. Nosso objetivo sempre foi o Flamengo liderar todos os processos, financeiro e no futebol. Eu vou ganhando, melhorando, todos querem se associar à marca do Flamengo. É um círculo virtuoso.
– Claro que foi um grande trabalho de quem renegociou toda dívida, trouxe patrocinadores, aumentou a receita, e trouxe nosso torcedor, que é o nosso maior ativo. Isso propiciou que o Flamengo crescesse, revelasse novos talentos, outros estão sendo revelados. Infelizmente hoje ainda temos essa dificuldade no Brasil de competir com a Europa, o mundo árabe, o mercado asiático. Mas a venda desses talentos contribuiu para a saúde financeira do Flamengo, que hoje é muito boa. Na área financeira, tivemos o Rodrigo Tostes, depois o Cláudio Pracownik, e agora eu estou aqui. Mas óbvio que todos no clube contribuíram.
Quando o clube começou a se reestruturar?
– Em 2013 tomamos a decisão. Não vamos gastar mais do que ganhamos e vamos pagar tudo. Seja o que Deus quiser. Corremos o risco de ter problemas no campeonato, rondamos a zona de rebaixamento, que tentamos evitar ao máximo e conseguimos. Esse foi o ponto positivo. Montamos um time que deu conta do recado naquela época, foi campeão da Copa do Brasil, do Carioca, trouxemos um pouquinho de alegria para a torcida. Foram altos e baixos e não tinha como ser diferente. Trouxemos jogadores que podíamos pagar naquela época, mas obviamente não era o que gostaríamos de ter.
– A torcida teve a maior paciência do mundo. Entendeu que era aquilo ou o caos total. Nos apoiou, melhoramos a situação, mas ainda não estamos onde queremos. Sempre podemos melhorar e temos que ganhar um título importante.
– É um processo natural. O Marcos Braz é um cara que tem estrela, o Landim é um presidente firme, que cobra, é duro, mas que dá todo apoio para o futebol ganhar.
Foi falado no fim do ano passado que o Flamengo teria R$ 100 milhões para reforços em 2019. Mas nas contratações de Arrascaeta, Bruno Henrique e Rodrigo Caio se gastou mais do que isso, não?
– Não gastamos mais do que estava previsto no orçamento. Esse é outro ponto fundamental, não dá para perder um jogo, contratar o Neymar e que se dane. Se não estiver no orçamento, o presidente e eu deverão responder por seus atos. Então não passa nada que não esteja no orçamento.
– Não ultrapassamos o valor do orçamento previsto para novas aquisições. Posso te garantir. Gastamos entre R$ 100 milhões a R$ 110 milhões nesse ano, que é o que estava previsto. Pode ter alguma outra parcela, como no caso do Arrascaeta, que será paga no próximo ano. Mas não estouramos o orçamento.
– Podemos até levar para o Conselho de Administração, alegar que precisamos de mais recursos e readequar o orçamento. Gastamos no início do ano porque achamos que tínhamos que começar a temporada com um time base, pelo menos. Se montarmos em julho, como foi nos últimos anos, até o jogador começar a jogar já era. Pode até ganhar uma Copa do Brasil, mas não o Brasileiro. Gastamos no início do ano e agora vamos fazer ajustes para essa reta final. Não basta ter um time, tem que ter um elenco.
Há recursos para novas aquisições de direitos federativos neste ano?
– Recursos há. Mas terei que mudar o orçamento, se for o caso. Teríamos que levar ao conselho e mostrar de onde vem o dinheiro. Se for só luvas e salários, tem que saber se cabe dentro das despesas. Se não couber, será necessário fazer uma readequação orçamentária, levar e aprovar no Conselho de Administração e, aí sim, fazer essa despesa.
Então é possível uma readequação orçamentária para novas aquisições ainda em 2019?
– Com certeza. Aqui, nesse assunto de futebol e outras coisas importantes, não tem situação e oposição no Conselho de Administração. Eu, várias vezes, votei a favor nos últimos três anos para conseguir dinheiro para contratar e reforçar o time. O que importante é gastar bem, acertar nos jogadores. Você nunca consegue ter essa certeza. Só se você trouxer Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo. Aí terá 99% de chance de acertar.
– Nesse ano as contratações estão bem. Mas nem sempre é assim. Às vezes a camisa pesa. Cansamos de ver isso. Geralmente a aprovação é unânime. E já falei para o Marcos Braz: "Pereba eu não trago. Traga jogador bom. Para o bom a gente arruma dinheiro. Pereba não adianta que eu não vou assinar o cheque (risos)".
No próximo ano o Flamengo terá novamente um bom dinheiro para investir em reforços?
– Com certeza vamos ter. Não gosto de falar pelo futebol, mas eu converso com o Marcos Braz. Não gostaríamos de trazer quatro jogadores razoáveis. Preferimos gastar com um jogador muito bom. O cara que chegue para jogar e resolva o problema na posição. Hoje temos em elenco que permite isso. É muito mais fácil aproveitar os garotos da base e trazer grandes jogadores de acordo com as necessidades.
– Trazer um cara referência na posição não é gasto, sai barato. Atrai público, vende camisa, atrai patrocínio... Tudo isso é interligado. Dinheiro não vai faltar. Tudo depende. Temos que saber, por exemplo, se vamos comprar o Gabigol em janeiro...
O Flamengo terá dinheiro para comprar o Gabigol, se for uma opção do departamento de futebol?
– Cada vez mais vamos ter dinheiro. Mas tudo depende. Vai que o Gabigol recebe uma proposta da China para ganhar zilhões de dólares. Vou precisar contratar um novo centroavante, top de linha. Mas se a decisão for ele ficar, o Flamengo arruma dinheiro. Não tenho dúvida disso.
– Hoje a gente arruma o dinheiro que precisar. Não o que quiser, mas o necessário para montar um time top de linha nós arrumamos. O Flamengo tem crédito na praça.
– Temos cumprido tudo nos últimos seis anos. Entrei no Flamengo com seis meses de luvas atrasadas. No primeiro dia falamos que não atrasaríamos mais a partir daquele momento. O que ficou para traz negociaríamos. Não teve um compromisso que não foi cumprido e não terá compromisso que não será cumprido.
Se dinheiro não fosse problema, qual jogador você gostaria de ver no Flamengo?
– Neymar. Um dia vamos chegar ao patamar de trazer o Neymar. Até a Copa de 2022 (risos). Se ele não vier antes, na Copa de 2022 vou fazer questão de que ele venha jogar aqui.
– Se eu não estiver mais aqui, vou torcer muito. Falar para ele: "Neymar, já deu na Europa. Já ganhou muito dinheiro. Vem para o Flamengo ser feliz no Brasil (risos)". Se eu fosse ele vinha agora, depois da Copa América*. Também sou fã de carteirinha do Messi. Acho ele espetacular.
*Neymar não disputará mais a Copa América. O atacante sofreu uma lesão no ligamento do tornozelo direito na vitória sobre o Catar, nesta quarta, e foi cortado.
Boa parte do dinheiro para reforços vem da venda de revelações do clube, como Paquetá, Vinicius Jr, Vizeu, Jorge... O Flamengo ainda precisa vender esse ano? Casos de Reinier e Cuéllar, por exemplo?
– Mais do que o dinheiro, pesa o interesse do jogador. Nesse caso, paga a multa ou apresenta uma boa proposta. Se chegar no jogador e apresentar € 10 milhões não nos interessa. Não vou vender um cara diferenciado por esse valor, eu não preciso desse dinheiro. Agora se chegarem com € 30 milhões ou € 40 milhões (de euros), podemos sentar e avaliar. Essa é uma decisão do departamento de futebol. Se chegarem: "Olha, não queremos vender esse jogador, vamos valorizá-lo". Sentamos e fazemos junto com o departamento de marketing um projeto para ele.
– Eu diria hoje que o Flamengo não precisa vender jogador. O que não quer dizer que não vá. Até porque essa não é uma decisão minha, é uma decisão do futebol. Se precisasse vender eu avisaria o Marcos Braz. O que não é o caso. Longe disso.
Quando vocês eram oposição criticaram muito a venda do Paquetá para o Milan...
– A questão é que você não sabe alguns aspectos. Venderam o Paquetá por vender ou porque ele queria ir embora? Se ele queria ir embora, não adianta. Você pede tanto, o clube vem e paga tanto, ele vai. Tem outros aspectos que acabam influindo na negociação, não é somente o valor. Nós não sabíamos. Ele queria ir embora, contrato acabando, valor relevante, precisava de dinheiro para pagar o Vitinho... Ainda tem um dinheirão para pagar pelo passe do Vitinho.
O dinheiro da venda do Paquetá já está todo comprometido?
– O dinheiro entra no fluxo das contratações que fizemos. Arrascaeta, Bruno Henrique, Rodrigo Caio... Antecipamos uma parcela (em janeiro). Ainda tem uma no ano que vem (€ 5 milhões). Nesse ano ainda temos uma pequena parcela da venda do Vizeu a receber. Fazendo justiça à gestão passada, a área financeira estava muito bem organizada. Não tive problema nenhum.
Quantos sócios-torcedores atualmente? E qual impacto eles têm no orçamento do Flamengo?
– Estamos com cerca de 110 mil pagantes. Tem muito clube que espera dois, três, seis meses para dizer que parou de pagar. Contabiliza ainda o atrasado como sócio. Aqui não, parou de pagar sai da base na hora. 10% a 12% da receita recorrente, sem contar venda de jogador, dá uns R$ 50 a R$ 60 milhões.
Quase a contratação do Arrascaeta...
– Sim. Ou as luvas do Neymar (risos).
Houve reclamações por conta do aumento no valor do programa de sócio-torcedor. Por que decidiram reajustar o preço este ano?
– Isso é mais para o marketing falar, mas posso dizer o seguinte: primeiro que estava o preço fixo desde 2013, e segundo que estão sendo feitas modificações que serão apresentadas em breve. Mas é isso, para ter bons jogadores a gente tem que aumentar as receitas. O valor estava seis anos fixos, e nosso time melhorou bastante nesses seis anos. Temos os descontos para sócios, às vezes não só preço fixo, mas pacote de jogos, ou jogo que você pode levar acompanhante. E o estádio vive lotado, se vive lotado é porque o preço está adequado.
– Não sei se vão fazer ou não, mas se tirarem as cadeias atrás dos gols a gente vai conseguir também colocar mais gente e um preço mais barato, se é que é possível um preço de ingresso mais barato do que é hoje. Para ver um time qualificado e que a gente quer investir cada vez mais. Depois de seis anos acho que é justo reajustar um pouco, e não foi assim tão impactante. Saíram algumas pessoas, mas acho que vão voltar, porque o investimento vai continuar no time.
Já que você mencionou estádio lotado, como está sendo administrar o Maracanã?
– Não estou envolvido no Maracanã. A ideia nossa é fazer uma estrutura separada, e essa estrutura se pagar. Vai ter uma pessoa separada do Flamengo porque a gente não quer misturar as coisas. Dinheiro do Flamengo é do Flamengo, e do Maracanã é do Maracanã. (Redução de custos) Isso é um processo ainda. Primeiro prazo é outubro, segundo prazo é abril do ano que vem, quando a princípio terá a licitação. É um aprendizado, na realidade, que vai ser bastante importante na hora da decisão de participar da licitação definitiva.
Então não há essa decisão ainda?
– Olha, a gente quer muito, mas vai depender de como o Estado vai fazer. "Ah, vou colocar o preço mínimo de R$ 1 bilhão". Bom, só se o Flamengo entrar com alguém, porque R$ 1 bilhão não vamos pagar. A não ser que seja R$ 1 bilhão em 35 anos, aí já começa a pensar como é a conta. Então temos que ver como o Estado vai fazer, mas sinceramente não vejo o estádio sem o Flamengo. Qualquer um que ganhe essa licitação vai ter que bater aqui na porta, não tem outro jeito. O Flamengo hoje sustenta aquilo lá. Sem o Flamengo, não sei se fica em pé.
Mas o Maracanã é viável? Os últimos administradores do estádio alegaram prejuízo...
– Sim, eu acho que é completamente viável. Tem que ter ali um projeto abrangente. A gente vai poder usar o Célio de Barros e o Júlio Delamare, já no sentido de colocar outras coisas ali? E o Museu do Índio vai continuar ou não? Colocar o Maracanãzinho para fazer shows menores, o Maracanã com shows maiores. Tem que encher de eventos, se pudesse de segunda a segunda seria ótimo.
– Ontem mesmo (no jogo Flamengo x Corinthians) a gente estava comentando lá: "Pô, se tivesse um restaurante bom aqui, chegava mais cedo e jantava". Ou uma pizzaria. "Acabou o jogo, vamos comer um pizza aqui no Maracanã?". Fim de semana, pega o carro e vai almoçar no Maracanã. É um programa também para levar cliente. Isso tudo dá para fazer, mas tem que saber o que o Estado vai decidir do entorno.
Como terminou o imbróglio sobre a liberação do Maracanã para a Copa América? Houve um reajuste financeiro acima do R$ 1 milhão que ofereceram inicialmente?
– Foi tudo acordado. O Landim conversou diretamente com o presidente da CBF, que falou com a Conmebol. Eles estavam preocupados com o gramado, com toda razão, mas a gente garantiu que o gramado vai estar em perfeito estado para o primeiro jogo. (Financeiramente) Houve compreensão de parte a parte. Todas as duas partes estão dispostas a negociar de boa fé, cada um entende o problema situação do outro, se resolve. Tem que brigar por outras coisas, por isso sempre se chega a um acordo que é bom para todo mundo.
O Flamengo aprovou em janeiro a possibilidade de pegar empréstimos até R$ 125 milhões esse ano. Já precisaram pegaram parte desse valor?
– Não pegamos porque temos fluxo de caixa. O que estamos buscando agora é uma linha de crédito disponível, estamos negociando com três bancos. Se precisarmos, a gente pega. Estamos finalizando as negociações. Muito em breve vamos ter boas linhas de crédito que vão acabar com esse negócio de antecipar cota de TV, o que não fazemos há um ano e meio, antecipar o recebimento da venda de um jogador... Vamos ter tranquilidade. Por exemplo, se precisar de x milhões para trazer o Neymar, colocar na mão dele R$ 20 milhões, vamos ter... Isso vai nos dar agilidade e poder nas negociações. Será nosso próximo diferencial para concorrer por jogadores. Se estiver competindo com alguém, poderemos pegar e dizer: "Te dou o dinheiro segunda-feira".
Um gasto que não estava previsto foi com as indenizações da tragédia do Ninho. Comprometeu muito o orçamento?
– Não teve impacto relevante, não. As maiores indenizações foram dos meninos que faleceram. Tem algumas ainda em andamento, outras que a gente acha que vão para a Justiça. A maioria, contando todos que estavam lá, entrou em acordo. Algumas empresas que tinham me procurado interessadas em conversar colocaram o pé no freio, com toda razão, para ver como aquele episódio ia evoluir e depois voltaram a ter interesse. A "Vale" deve estar sofrendo, o Neymar agora, com os patrocinadores avaliando o que aconteceu. A associação da imagem a uma tragédia é um horror, por isso que é importante como o clube atuou naquele episódio.
Conseguiram resolver com o próprio fluxo de caixa?
Sim.
Quanto é a dívida do Flamengo hoje?
– A dívida grande é o Profut, que está em R$ 310 milhões. O Flamengo paga religiosamente em dia um milhão e pouco por mês, dá uns R$ 15 milhões por ano. De banco a gente não tem quase nada, são R$ 16 milhões. O total está em R$ 326 milhões.
A ideia é zerar?
– Então, essa é uma questão. Uma das perguntas que fiz em nossos grupos: vale a pena zerar a dívida, pegar dinheiro e deixar aqui? Pegar dinheiro e deixar aqui para comprar jogador eu não acho. Mas por exemplo: quero fazer uma ampliação do CT. Vale a pena eu pegar R$ 50, R$ 100 milhões para fazer um CT 2, ou um CT na Baixada? Como essa conta fecha? Vai depender do prazo, da taxa... Então essa é uma conta que a gente tem que fazer. Se eu não tiver nenhum investimento estrutural, zera a dívida e fica no capital de giro. Tem uma linha de crédito, pego R$ 50 milhões, em três meses eu pago e zero de novo. É só administração de fluxo de caixa.
Um dos criadores da "Chapa Azul", Wallim está envolvido na política do Flamengo desde 2013 — Foto: ANDRÉ DURÃO
O que levou o Flamengo a buscar a auditoria da "Ernst & Young"?
– É uma das quatro maiores empresas de auditoria do mundo, um fato inédito na história dos clubes da América Latina. Isso traz mais credibilidade, os bancos começam a nos procurar para oferecer linha de crédito... Coisa que ninguém acreditava há seis anos. Agora podemos optar pelo melhor crédito e não faço mais operação com garantia (bancária). A garantia é o Flamengo e as pessoas que estão no clube. Isso propicia que possamos investir no CT, na estrutura, trazer profissionais gabaritados, investir no time, no esporte olímpico... Foi uma forma também de valorizar o trabalho que foi feito pela diretoria anterior.
– A empresa que fazia auditoria antes fez um ótimo trabalho, mas já estava há seis anos. Geralmente uma empresa com ações em bolsa, que não é o caso do Flamengo, troca de auditoria a cada três ou cinco anos. É importante mudar para ter novos olhos, ver o que está certo e errado. Além disso, você ser auditado por uma das quatro maiores empresas de auditoria do mundo demonstra que você está em um nível de organização que faz com que ela aceite auditar suas contas. A "Ernst & Young" não aceita qualquer um. Tendo uma empresa desse porte auditando meu balanço, os bancos começam a nos procurar, patrocinadores...
Qual será o próximo passo financeiro do Flamengo?
– Cada área do clube tem seus projetos. Não toco no dia a dia, mas me envolvi diretamente em alguns que escolhi. O da "Ernst & Young" foi um deles, negociamos por três meses até convencê-los. O projeto de linha de crédito é outro importantíssimo para o Flamengo. Ainda tenho mais dois projetos: um é fazer um rating de crédito para o Flamengo. Vamos começar a conversar com agências de crédito. Por exemplo, se o Flamengo comprar um jogador a prazo, essa dívida de crédito do Flamengo vai valer um valor x. O clube que é credor do Flamengo vai poder vender isso com uma taxa melhor.
– O caso do Arrascaeta é um exemplo. Iríamos pagar uma parcela agora. O Cruzeiro pegou o título e vendeu para o "BMG". Não pediu qualquer garantia ao Flamengo. Ser credor do Flamengo é uma coisa boa hoje no mercado. Coisa que ninguém poderia imaginar há alguns anos.
– E o último projeto é conversar com seguradoras de crédito. São os quatro projetos que eu e o Landim elegemos para a área financeira neste ano.
Estruturalmente, o clube está do jeito que imaginavam em 2012, quando formaram a "Chapa Azul"?
– Eu imaginava que iria estar pior. Em 2015 o Flamengo já estava financeiramente equilibrado, coisa que a gente imaginava que ia levar uns cinco anos, pelo jeito que a gente encontrou. Óbvio que faltavam investimentos no CT, em sistemas e tudo, mas a questão de dívidas equacionadas foi em dois anos. Mas tem muita coisa para fazer ainda, coisas a serem aperfeiçoadas. Qualquer empresa nunca deve estar acomodada com o que se tem, sempre tem o que melhorar. Tem que perseguir o ótimo. O que a gente procurou para o Flamengo não é um "voo de galinha". A gente vai crescer, se estruturar, com fundamento, com base, não tem como voltar atrás.
É um caminho sem volta?
– Sem volta, porque o Estatuto proíbe de fazer besteira. A quantidade de sócios que entrou em 2013, quando a gente ganhou (eleição), que pensa primeiro no Flamengo... As votações aqui, quando são projetos para o bem do Flamengo, é quase unânime, independente de ser 200, 300 pessoas. Não tem mais cara que vai entrar aqui, fazer o que ele quer. Esquece, não vem mais. E diferente de alguns clubes, nossas receitas são estáveis, de parcerias de longo prazo, não é um patrocinador que vai entrar e daqui a dois, três anos dizer que não quer mais. A gente já viu que isso no passado não deu certo em vários clubes.
– Temos muita gente boa dentro do Flamengo, nos grupos políticos. Nos reunimos e passo um dever de casa. O que vocês querem para o Flamengo? É muito legal. Independentemente de ser situação ou oposição, são pessoas que têm o mesmo objetivo, ver o Flamengo maior. Essa interação é muito legal. São pessoas que não estão no dia a dia, cada um tem seu trabalho, mas é uma forma de ajudar. Temos essa força de trabalho qualificada que nos ajuda um pouco a pensar fora da caixa e engrandecer o Flamengo.
– Essa é a filosofia desde o início. Independentemente se a gente não estiver mais aqui daqui a três anos, quem entrar vai ter que ter a mesma filosofia. Senão não vai ser eleito, ou se fizer uma fraude eleitoral de prometer e não cumprir vai tomar pau no Conselho, não vai conseguir governar. Os quadros tem que ser renovados com pessoas com mesmo ponto de vista. Nessa administração não vejo ninguém que não seja ousado, que não pense grande, que não arrisque. Para ser dirigente do Flamengo tem que ser assim, senão não serve para estar aqui. Se pegar minhas entrevistas em 2013, falava que seríamos um dos maiores.
Do mundo?
– Temos primeiro que voltar a ser o maior vencedor do Brasil. Depois, da América do Sul, ganhar a Libertadores. No mundo a gente vai chegar um dia, quanto tivermos poder para lutar com o financeiro de lá. A Libertadores tem que ser uma nova Champions, para os clubes ganharem dinheiro e competir com a Europa. Se eu fosse presidente da Conmebol, essa seria minha prioridade 1: voltar a disputar Mundial com os clubes europeus.
– Vamos organizar isso aqui. Como vai ser? Liga independente? Imagina fazer uma Liga das Américas com Estados Unidos, olha a potência que seria com dinheiro americano entrando. Senta com Concacaf, MLS... Como vai fazer para viajar daqui pra lá eu não sei. Faz regional depois play-offs com todo mundo misturado, mas vamos pensar em um produto grande. Para a gente ganhar da Europa, tem que ter uma liga forte aqui.
Você agora está em um cargo longe dos holofotes. Bem diferente de quando entrou na direção como vice de futebol, em 2013. Também anda sumido das redes sociais...
– Bem diferente. Nossa Senhora... Ser vice de futebol é uma loucura. Nunca mais. Aliás, eu prometi. Sou muito criticado nas redes sociais porque o pessoal me marca e eu não falo nada. Me encheram o saco para eu não me meter no futebol, que eu não entendia p* nenhuma. Agora estou dando o troco (risos). Pode me encher o saco sobre futebol que eu não respondo. Só falo de finanças (risos).