quarta-feira, julho 24, 2019

Se Jesus der certo no Fla, incomodará críticos de Sampaoli - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 24/07

Técnico do Santos é o que melhor une desempenho e resultado


Uma correção: na última coluna, citei Ziraldo como o criador do personagem Ubaldo, o paranoico. Não é dele. É de Henfil.

No futebol brasileiro, aumentaram as bem-vindas discussões sobre desempenho e resultado e sobre as estratégias usadas pelos treinadores, algumas, modernas e eficientes, e outras, obsoletas, viciadas.

Não podemos perder o senso crítico nem o bom senso. Uma situação é a desconexão, esporádica ou em poucas seguidas partidas, entre o desempenho e o resultado. Outra é a falada desvinculação, mesmo a médio e longo prazo, às vezes, em todo o campeonato, entre jogar bem e ganhar. Isso não existe. Times que conseguem grandes resultados, por um tempo maior, possuem também ótimo desempenho.

O Palmeiras, por ter ficado 33 jogos sem perder no Brasileiro, teve, obrigatoriamente, na média, um ótimo desempenho, de acordo com suas características, que podemos gostar ou não. Prefiro outro estilo. Nas vitórias, tão ou mais importante que o conceito e as características de jogo é a capacidade de os jogadores executarem bem o que foi planejado.

Mesmo que o Palmeiras tenha perdido nesta terça (23), na Argentina, para o Godoy Cruz, pela Libertadores, as duras críticas de torcedores e de parte da imprensa por causa de duas derrotas são incompreensíveis após a longa invencibilidade no Brasileiro, além de ter sido o primeiro colocado geral da fase de grupos da Libertadores.

Já o Fluminense, dirigido por Fernando Diniz, independentemente do jogo de terça, contra o Peñarol, pela Copa Sul-Americana, assim como era o Athletico, comandado pelo mesmo treinador, tem resultados ruins, por um bom tempo, porque, ao contrário do que ouço todos os dias, o desempenho é também fraco. Jogar bem não é apenas trocar passes e ter muita posse de bola. Falta equilíbrio, melhor marcação, pois os defensores, raramente, são protegidos por três ou quatro do meio-campo, e ataques eficientes, pelo pouco número de infiltrações na área.

Evidentemente, desempenho e resultado têm a ver com qualidade individual. O Fluminense tem um elenco mediano, porém, superior a várias equipes que estão à sua frente no Brasileiro. Poucos times têm uma dupla, como Ganso e Pedro.

No futebol e em todas as atividades, muitas pessoas, para mostrar sua indignação com determinados conceitos e preconceitos, agem de maneira oposta, radical, como se tivesse de ser uma coisa ou outra. Ao criticar a estratégia de muitos treinadores brasileiros —faço isso há mais de 20 anos—, alguns comentaristas e torcedores passam a exaltar, exageradamente, o que é diferente. Fernando Diniz, uma promessa ainda inconsistente, é tratado como se fosse um revolucionário.

No Brasileiro, Sampaoli é, até o momento, o técnico que melhor une desempenho e resultado e que joga futebol de uma maneira prazerosa, com muitas variações táticas, mesmo com um elenco pequeno e inferior ao de vários outros grandes do Brasil. Sampaoli não é um bom técnico porque é estrangeiro. Ele é bom, porque é criativo, ousado e inquieto, embora sua agitação, às vezes, prejudique o desempenho do time.

Alguns treinadores brasileiros estão incomodados com Sampaoli. Ficarão ainda mais se Jorge Jesus der certo no Flamengo. É uma mistura de ambição com inveja, dois sentimentos habituais e compreensíveis, desde que não prejudiquem ninguém e não atinjam níveis inaceitáveis e antiéticos. Parafraseando Caetano Veloso, "de perto, ninguém é santo".

Tostão
Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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