segunda-feira, maio 20, 2019

Segurança para gastar - SAMY DANA

O GLOBO - 20/05

Estudo recente alerta: quem se sente de bem com a vida gasta mais e poupa menos para o futuro


RIO — Duas pessoas vão ao mesmo shopping e, por coincidência, acabam na mesma loja. Ambas escolhem peças bem parecidas, e caras. Mas só uma se decide pela compra; a outra prefere poupar. Qual delas é a mais segura, a que comprou ou a que desistiu? E qual a mais insegura?

Gastar ou poupar é um conflito básico da nossa vida econômica. Em princípio, todo mundo deveria poupar para o futuro, pensando em uma viagem, em uma emergência, na aposentadoria etc. Mas, como já apontei em outra coluna, só 4% dos brasileiros poupam para a aposentadoria. Aqui há o problema da crise, mas esse fenômeno não se restringe ao Brasil. Nos Estados Unidos, na Alemanha, França e Austrália, o comportamento é parecido.

Para os economistas que acreditam que nossas decisões são racionais, gastamos porque o benefício compensa, já que pesamos custos e ganhos. Mas, por décadas, psicólogos e outros economistas têm demonstrado que gastar pode ser consequência de diversos fatores, sem relação com a racionalidade econômica. Entre esses fatores, dois pesquisadores, Yael Steinhart, da Universidade de Tel-Aviv, e Yuwei Jiang, da Universidade Politécnica de Hong Kong, apontam a autoestima.

Eles fizeram sete experimentos, com 2.410 voluntários dos EUA e de Israel. E acessaram os dados de um pesquisa feita na Holanda com 1.240 pessoas. Os resultados saíram no Journal of Personality and Social Psychology.

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Em um dos experimentos, 200 estudantes jogaram no computador, sendo depois classificados em melhores, médios e piores. Em seguida, os pesquisadores colocaram a questão: “Imagine que você receba agora US$ 1.250. Quanto estaria disposto a guardar?”

Alguém que é apreciado por alguma coisa, sugere o trabalho, sente-se bem e por isso tende a ser mais otimista com o futuro, em todos os aspectos da vida. Ou seja, se nos sentimos bem, achamos que iremos bem em tudo. Com isso, caímos mais em tentações de consumo.

Já alguém com baixa autoestima fará o contrário. Imagina um futuro mais incerto. Assim, o grupo dos piores jogadores estava disposto a poupar 72% do valor, enquanto o dos melhores pretendia guardar 60%.

Essa pouca vontade de gastar entre as pessoas de baixa autoestima foi ainda menor em outro experimento, com 60 estudantes. Foi pedido a metade do grupo que se recordasse de algum fracasso; à outra metade, não. Depois, foi perguntado quanto guardariam se recebessem US$ 2,5 mil.



Se você ganhasse uma quantia inesperada, quanto guardaria?

Baixa autoestima

Maior autoestima

72%

Estudo 1

60%

65%

Estudo 2

50%

68%

Estudo 3

54%

Fonte: Securing the Future: Threat to Self-Image Spurs Financial Saving Intentions
Os participantes que se recordaram de um fracasso eram mais pessimistas sobre o futuro. Eles disseram que gastariam apenas 35%. O outro grupo pretendia gastar 50%.

O curioso é que os efeitos mudam se a percepção de segurança muda. Quando os pesquisadores testaram outros 188 voluntários, também pediram que metade se lembrasse de um fracasso do passado; a outra metade, não. Em seguida, perguntaram a todos quanto achavam que se deve economizar por mês para o futuro.

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Numa segunda fase, foi apresentado aos pessimistas um estudo que dizia que o futuro pode ser mais positivo. Os otimistas leram outro texto, de que o futuro pode ser pior. E repetiu-se a pergunta sobre a economia mensal. Desta vez, a resposta dos dois grupos foi quase igual.



Quanto do salário você pensa em guardar para o futuro?

Baixa autoestima

Maior autoestima

42%

Estudo 1

30%

35%

Estudo 2

37%

Fonte: Securing the Future: Threat to Self-Image Spurs Financial Saving Intentions
Todos nós queremos o máximo de bem-estar. Mas o estudo mostra que, de maneira contraditória, o bem-estar de agora pode nos levar a colocar o futuro em risco. Inseguro ou seguro, importante é não exagerar nos gastos.

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