domingo, abril 28, 2019

Corte no orçamento não afetará qualidade técnica do Censo 2020 - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 28/04

Setor público precisa se adaptar à escassez de recursos, e isso vale também para a pesquisa do IBGE


O anúncio feito pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que, em meio à crise fiscal, não há como o Tesouro arcar com o custo do Censo de 2020, estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em R$ 2,7 bilhões, teve ampla repercussão. Guedes pede um corte de 25% no orçamento da pesquisa, e chegou a sugerir que o instituto venda imóveis para financiá-la.

Há previsível preocupação com o corte, em especial na área acadêmica, e, de maneira geral, entre incontáveis usuários dos dados censitários. O Censo, realizado a cada dez anos, é de fato fonte essencial de dados para a administração pública, centro de pesquisas, empresas privadas, a depender do setor etc. Há ainda funções de governo que dependem desses números. Caso da repartição de royalties entre estados e municípios, que depende da contagem da população de cada ente federativo; o mesmo ocorre na redistribuição do que é arrecadado por impostos. Não se coloca em dúvida a importância do Censo. Mas também não se discute a escassez de dinheiro no Tesouro para pagar a conta da pesquisa. Os cofres públicos têm ostentado bilionários déficits, é preciso economizar.

Deve-se, portanto, redimensionar o Censo do ano que vem para adequá-lo à realidade do país, com a preocupação em preservar a coleta de informações fundamentais.

Em artigo no GLOBO, a presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, relacionou ações que garantirão a qualidade da sondagem, mesmo com a necessária redução do questionário. Há, portanto, alternativas.

Para definir os cortes nas perguntas aos recenseados, há uma comissão técnica coordenada pelo economista Ricardo Paes de Barros, conhecido especialista em pobreza, desigualdades e temas correlatos. Usuário pesado do Censo. Ele tem inclusive propostas para a retirada de assuntos do questionário: desemprego, mobilidade urbana, entre outros.

O economista também reconhece que o questionário básico do Censo do IBGE é grande em comparação com outros países. Não se trata, então, do fim do mundo. O setor público precisa de adequar à austeridade.


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